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e I – Contraste A Natureza do Pensamento, da Linguagem, do Mundo

No documento Filosofia da linguagem : uma introdução (páginas 156-160)

«A imagem lógica dos factos é o pen- samento», Tractatus, 3.

ISOMORFISMO Pensamento / Mundo

Modelo CANÓNICO de linguagem O ‘purismo’ (modernista) da lingua- gem formal

«Pensar não é um processo incorporal que dá a falar vida e sentido, e que poderia separar-se daquele, tal como o diabo retirou do chão a sombra de Schle- miehl.», Investigações Filosóficas, P. 339

Pensamento: dar vida a sinais, capacidade de usar sinais de forma organizada, e não ‘representação mental’, num outro mundo interior

Pensar é uma ACTIVIDADE. Pensar não é algo que corre paralelamente à linguagem. Ora uma activi- dade é algo que se avalia antes de mais como útil ou inútil, apropriada ou não, e não como verdadeira ou falsa (P. 325. «Aquilo que os homens aceitam como justificação revela como pensam e como vivem») Uma determinada forma lógica, por exemplo, ‘é – para’ – não é ‘reflexo-de’. Não há isomorfismo pensamento / mundo.

Modelo pictórico

Lógica

Será esta uma concepção behaviorista de pensa- mento? Mas o que seria tal coisa, uma ‘concepção behaviorista de pensamento’? Se é não estabelecer distinção entre interior e expressão ou manifesta- ção, isso não é behaviorismo no sentido psicológico – não há aqui nenhuma rasura do interior, deixando apenas observações científicas em terceira pessoa. Pragmatismo.

Gramática (história natural) «O mundo é aquilo que acontece…..a

totalidade dos factos, não das coisas…. Os factos no espaço lógico são o mundo»

Diferentes Jogos de Linguagem perspectivam de forma diferente o MUNDO (Pluralismo, formas de vida. Proliferação das formas).

É interessante procurar obter, a partir deste quadro comparativo, uma caracterização da concepção wittgensteiniana de filosofia, e da evolução desta. Será, por exemplo, que a passagem (do Tractatus para as Investigações) de uma concepção de linguagem centrada na lógica para uma concepção de lingua- gem centrada na linguagem comum – correspondente ao pluralismo e prag- matismo defendidos nas Investigações – se reflecte na ideia de filosofia como actividade de análise da linguagem, que se mantém? De qualquer modo, aquilo que podemos constatar é que a concepção terapêutica de filosofia defendida por Wittgenstein nas Investigações não deixa de ser também, como o era a ideia de filosofia no Tractatus, uma actividade de análise da linguagem.

Para terminar, e uma vez que o Wittgenstein das Investigações Filosóficas, exemplifica neste curso a forma tem uma teoria do significado como uso, cabe discutir as ‘vantagens’ e ‘desvantagens’ de uma tal teoria. Obviamente estas ‘vantagens’ e ‘desvantagens’, quando explicitamente formuladas, darão lugar a argumentos a favor de e contra a teoria. Uma formulação clara de tais argu- mentos poderá ser um exercício de recapitulação das lições dedicadas às Inves-

tigações. Deixa-se aqui, de qualquer forma, um esboço.

Do lado das ‘vantagens’ encontramos o seguinte: i) a ideia segundo a qual a linguagem não é um conjunto de entidades abstractas mas sim uma activi- dade (não é necessário, assim, justificar o estatuto e natureza de tais supostas entidades abstractas, por exemplo ‘proposições’), ii) a ideia segundo a qual elocuções são acções de pessoas (uma ideia que passará para a teoria dos actos de fala e a pragmática), iii) a ideia segundo a qual o significado não envolve

essencialmente relações referenciais entre expressões linguísticas e coisas no mundo: palavras e expressões são em grande medida ‘dispositivos para fazer coisas’; iv) o facto de ser uma teoria naturalista, que faz apelo à forma como a linguagem funciona no mundo real, v) o facto de não dar como garantido o privilégio epistémico do sujeito.

Do lado das ‘desvantagens’ encontramos o seguinte: i) o facto de não ser simples explicar como é que o uso da linguagem difere de outras actividades regidas por regras mas que não geram significação, ii) o facto de ser difícil explicar como é que uma particular frase pode significar que tal-e-tal é o caso (i.e. a teoria não apresenta uma real alternativa para o que as teorias verocon- dicionais conseguem fazer), iii) o facto de não ser simples explicar a compo- sicionalidade, iv) o facto de ser difícil explicitar as regras de uso de Nomes Próprios, v) o facto de, se descrever o significado é descrever o uso actual de asserções, ser impossível distinguir o que é costumeiramente dito do que é justificadamente dito, vi) o facto de não lidar bem com caso do género Terra Gémea.

Depois de identificadas algumas das razões quer para a aceitação quer para a crítica das teses propostas, olhar-se-á um pouco para a (muito grande) influ- ência de Wittgenstein na filosofia posterior. Uma certa ‘veneração’ perante a linguagem comum é, reconhecidamente, um dos resultados possíveis do wit- tgensteinianismo. Ora, uma tal veneração pode ser bem negativa, se tivermos em conta que dela podem sair dois posicionamentos: o total relativismo e o conservadorismo rígido. Parecerá talvez paradoxal, mas ambos são resultados possíveis do que podemos chamar o método wittgensteiniano (das Investiga-

ções) em filosofia (caracterizado como ‘nada dizer, apenas curar e os problemas

desaparecerão’ – a isto chama-se por vezes o quietismo wittgensteiniano). Mas qual é a alternativa disponível em termos de método filosófico? Uma alterna- tiva concreta que será mais à frente neste curso introduzida é, por exemplo, a concepção quineana de epistemologia naturalizada. Esta alternativa pode ajudar-nos a esboçar os princípios da oposição ao método wittgensteiniano; cabe desde já notar, pensando na dita comparação entre um método filosófico inspirado por Wittgenstein e um método filosófico inspirado por Quine, que a observação atenta das nuances do uso real das palavras (marca da filosofia da linguagem comum de alguma forma proveniente de Wittgenstein) é para muitas pessoas um fraco substituto do pensamento sobre as coisas, que é o que fundamentalmente interessa alguém como Quine.

Lições 23e

24

A filosofia da linguagem depois

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