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1. UMA BREVE HISTÓRIA DA DANÇA CLÁSSICA

1.4 O BALÉ CLÁSSICO EM CURITIBA

O balé clássico chegou ao Brasil através de companhias independentes formadas por bailarinos russos e poloneses, entre eles, Maria Olenewa e Tadeu Morozovicz, que visitaram o país no início do século XX.

Os europeus foram encarregados por suas companhias de origem a repassar seus ensinamentos técnicos em algumas cidades do país, após terem se apresentado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro O primeiro curso de dança foi fundado em 1927 no Rio23 por Maria Olenewa, bailarina polonesa que veio para o Brasil junto com Tadeu Morozovicz.

Alguns meses depois, Morozovicz iniciou seu próprio curso amador na Sociedade Thalia, em Curitiba. A escolha da capital paranaense se deu graças à

22 Fomento à Dança da Prefeitura Municipal de São Paulo

http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/fomentos/danca/ (Acesso em 25 de março de 2017).

23 De acordo com o site do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

http://www.theatromunicipal.rj.gov.br/corpos-artisticos/ballet/ (Acesso em 25 de março de 2017).

grande comunidade polonesa residente na região. O curso começou contando com apenas quatro alunas dessa comunidade.

“Não era um balé profissional, era um curso. Mas ali se estudava a arte, tinha-se noções de música, noções de história da dança e o que fazia-se nos finais de semana, encontros e coisas assim. Então, as meninas, no começo, e mais tarde os rapazes, recebiam noções de cultura geral. O que foi muito importante para a cidade de Curitiba e para o Paraná porque criou-se um gosto e um público.” (MOROZOVICZ, Milena. Em entrevista concedida para este trabalho. Curitiba, 14 de março de 2017. A entrevista encontra-se transcrita no Anexo III).

Após esse primeiro curso, outros foram surgindo. Vieram junto com imigrantes de várias origens e eram uma forma que os recém-chegados encontraram para manter as tradições de seus países de origem. As aulas ministradas pelos professores estrangeiros eram todas em suas línguas nativas.

Eles buscavam proporcionar não só a técnica folclórica, como também uma oportunidade de mergulhar na cultura de um outro país.

Tadeu Morozovicz também dava aulas de dança polonesa, a espanhola Barbara Gramdt ensinava a dança Flamenca no salão nobre da Sociedade Thalia, a inglesa Mary Schluegel era professora de balé inglês no Clube Concórdia.

No entanto, com o início do programa de nacionalização do governo Vargas, essas manifestações culturais em língua estrangeira passaram a ser consideradas perigosas para a identidade nacional e foram oficialmente proibidas até 1986.

Durante o Estado Novo, as pessoas que eram flagradas manifestando uma cultura estrangeira ou falando uma língua que não fosse o português poderiam até ser presas.

Os bailarinos imigrantes, proibidos de continuar com suas aulas culturais, tiveram que se contentar a ministrar o balé clássico e, em alguns casos, dar aulas de ginástica nas escolas e sociedades de Curitiba.

A grande maioria das aulas de dança ocorria dentro de associações como a Sociedade Thalia, o Clube Concórdia, o Clube Curitibano ou então em escolas particulares, como o Colégio Cajuru. Não é difícil compreender por que a dança clássica tem um status de elite até os dias de hoje.

“Chegou um momento na história antiga do Paraná que toda a menina que tivesse uma boa educação tinha que passar pelo balé do Tadeu Morozovicz. Porque ali ele ensinava tudo.” (MOROZOVICZ, 2017).

Em geral, essa visão ainda perdura na sociedade, porém, a popularização do balé na educação infantil e projetos como o Amigos do Bolshoi, que patrocina estudantes da escola russa em Joinville que não têm condições financeiras para custear seus estudos em dança clássica, estão, aos poucos, mudando esse cenário.

Existem também projetos de oficinas de dança clássica como atividade extracurricular na periferia de grandes cidades, como o projeto Abrindo Caminhos em Curitiba (PR). Esse projeto oferece cursos gratuitos de dança clássica para as crianças do bairro Tatuquara, um dos mais pobres da cidade, segundo o jornal Gazeta do Povo24, além de oficinas de música, teatro, informática e várias outras no contraturno escolar.

Durante 40 anos, Curitiba teve apenas cursos amadores de dança. Apenas em 1969, com a fundação do Balé Teatro Guaíra, surgiram os primeiros profissionais da dança no estado. Os primeiros professores do Guaíra eram alunos formados pelo curso de Tadeu Morozovicz, como as bailarinas Marlene Tourinho, Louracy Setrani e Ceci Chaves.

A escola de danças do Teatro Guaíra, uma das mais antigas do país, iniciou suas aulas em 1956 e, em 1969, contava com seis bailarinas e três bailarinos formados. Eles foram os primeiros profissionais a integrar a companhia de dança.

Durante seus 46 anos, o Balé Guaíra contribuiu para o avanço e reconhecimento da produção paranaense em dança. A marca da companhia é a inovação através do balé moderno/contemporâneo, sem perder suas raízes clássicas.

Eleonora Greca afirma que essa combinação permanece até hoje no Balé Teatro Guaíra. “Eu sempre considero o Balé Guaíra uma companhia eclética, nunca se restringiu só ao clássico, como o Teatro Municipal do Rio de Janeiro.” (GRECA, Eleonora. Em entrevista concedida para este trabalho. Curitiba, 2 de maio de 2016.

A entrevista encontra-se transcrita no Anexo I).

Suas coreografias e seus bailarinos já ganharam diversos prêmios nacionais e internacionais com espetáculos que marcaram tanto pela excelência técnica quanto pelas reflexões sociais que propõe.

24 Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/eleicoes/2016/qual-e-o-bairro-mais-rico-de-curitiba-e-o-que-tem-mais-mulheres-e-jovens-c26dptzkhyp6cn1aej9flz238. Acesso em 03 de Julho de 2017.

Uma das produções mais conhecidas da companhia é O Grande Circo Místico, com música de Chico Buarque e Edu Lobo, roteiro de Naum Alves de Souza e coreografias de Carlos Trincheiras. Trincheiras é, até hoje, o diretor da companhia que ficou por mais tempo no cargo (1979 – 1993).

O Grande Circo Místico é um balé inspirado em um poema de Jorge Lima25 de 1938 sobre um casal que funda a dinastia do Grande Circo Knieps, que será passado de geração em geração, levando alegria, fé e mistério por onde passar. Os personagens de O Grande Circo Místico vivem conflitos de geração, sofrem estupro, passam por provas de fé e contam uma história que encanta ao mesmo tempo em que escancara no palco realidades e problemas sociais que perduram na contemporaneidade.