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4. JORNALISMO DIGITAL

4.2 E-BOOKS

Dentro dessa ideia de que o jornalismo digital não é o jornalismo impresso transposto para o meio digital, temos que pensar que o mesmo se aplica para os livros. Um e-book não é apenas texto e imagem, ele oferece muito mais possibilidades, que veremos a seguir.

O primeiro e-book surgiu em 197135 com o Projeto Gutenberg, uma iniciativa do norte-americano Michael Hart que buscava democratizar o acesso aos livros através da internet da mesma maneira que a prensa de Gutenberg popularizou o livro tradicional no século XV.

O Projeto Gutenberg está em funcionamento até hoje e conta com um acervo de mais de 50 mil e-books, e todos já caíram na lei de domínio público dos Estados Unidos, podendo ser baixados gratuitamente por qualquer usuário ao redor do mundo.

Em 1994, a Biblioteca de Helsinki, na Finlândia, foi a primeira a disponibilizar digitalmente todo o seu acervo de livros. Outras bibliotecas, como a Biblioteca Nacional Britânica, onde logo seguiram. Além de terem colocado diversos documentos raros ao alcance de qualquer um com acesso à Internet, as bibliotecas digitais, segundo Lebert (2009, pág. 36), ajudavam o usuário a “navegar na web sem se afogar”, pois elas funcionavam como um site de busca de informações direto de livros, jornais, revistas e manuscritos em uma época em que as ferramentas de busca direto da web (como o Google) eram menos precisas.

Atualmente, a maioria das bibliotecas digitais só disponibilizam o conteúdo mediante assinatura paga, já o Projeto Gutenberg continua a atuar de forma gratuita, mesmo com o falecimento de seu fundador Michael Hart em 2011. Ele passou a ser administrado por um grande grupo de voluntários que transfere o conteúdo impresso para o meio digital através da digitação manual do conteúdo.

Por causa dessa série de iniciativas voluntárias, Lebert considera que a criação dos e-books deve ser atribuída ao Projeto Gutenberg, mesmo que ele não disponibilize os livros com fins comerciais.

“The non-commercial e-book is a full e-book, and not a ‘poor’ version, just as non-commercial electronic publishing is a fully fledged way of publishing, and is as valuable as commercial electronic publishing.36” (LEBERT, 2009, pág. 12).

35 O livro eletrônico nasceu antes da popularização da internet. Em 1971, Michael Hart recebeu uma conta de operador contendo o valor de 100 milhões de dólares em tempo de computação. Assim, ele começou a desenvolver o Projeto Gutenberg, que disponibiliza gratuitamente, em formato digital, livros que caíram em domínio público. O primeiro e-book foi a cópia da Declaração da Independência dos Estados Unidos da América. A história completa da criação do projeto Gutenberg está disponível em:

https://www.gutenberg.org/wiki/Gutenberg:The_History_and_Philosophy_of_Project_Gutenberg_by_M ichael_Hart Acesso em 4 de junho de 2017.

36 “O e-book não comercial é um e-book completo, e não uma versão ‘pobre’, assim como uma publicação eletrônica não comercial é uma maneira totalmente desenvolvida de publicação, tão valiosa quanto a publicação eletrônica comercial.” (Tradução da autora).

O primeiro termo utilizado por Hart para os livros disponíveis no site do projeto Gutenberg era e-texts, o termo e-book só apareceu após grandes empresas como Amazon e Barnes & Nobles iniciarem no ramo de venda de e-books online.

4.3. DESIGN DE INTERAÇÃO

O nome e-texts diz muito sobre como foram pensados os primeiros livros digitais. Eles eram meramente a transposição do texto de um livro tradicional para o meio digital. De fato, até hoje, a grande maioria dos e-books ainda mantém esse mesmo formato.

Se pegarmos como exemplo as primeiras versões do leitor eletrônico da Amazon, o Kindle, toda a sua tecnologia foi pensada para aproximar ao máximo o conteúdo exibido de um livro tradicional. O Kindle original não possuía placa de vídeo (atualmente, apenas a versão Kindle Fire possui), qualquer outro arquivo que não fosse de texto demorava muito para carregar (as imagens inclusive, quando carregavam, eram exibidas em preto e branco) e a conexão à Amazon Whispernet (equivalente a um 3G) era lenta e em fase experimental.

Ao contrário do iPad, da Apple, que também começou como um leitor eletrônico e acabou tendo essa função obscurecida por as diversas outras funcionalidades que ele oferece, o Kindle foi pensado como um suporte para leitura e, dessa forma, ele acabou limitando o conteúdo do e-book ao texto.

As versões mais recentes do Kindle, no entanto, já possuem imagens coloridas e uma capacidade muito maior para rodar vídeos e conteúdos da internet.

Porém, essas versões do aparelho ainda não estão disponíveis no Brasil e a maioria dos e-books disponíveis na loja da Amazon permanecem sendo exclusivamente de texto.

Por mais que o termo e-text tenha desaparecido, percebemos que os grandes e-books comerciais de hoje não aproveitam as tecnologias multimídias disponíveis para dar mais dinamismo às histórias. O e-book comercial ainda está muito preso à ideia de que, eventualmente, ele substituirá o livro de papel.

De acordo com uma série de entrevistas realizadas por Lebert (2009, pág.

66) com editores de livros e revistas da Europa e da América do Norte, as tendências de mercado apontam que as pessoas ainda estão muito apegadas ao livro de papel e que dificilmente os substituirão pelos e-books. Por isso, é necessário pensar no e-book como um novo meio de comunicação e leitura com características

próprias a serem exploradas.

Um e-book não deixa de ser um e-book se, ao invés de virar as páginas, o leitor puder deslizá-las horizontalmente, ou até em sentidos não convencionais para os livros, como o vertical, porém intuitivos em tablets e smartphones. O suporte escolhido para o e-book pode ajudar o autor a contar a história e pode também dar mais liberdade ao leitor para que ele possa selecionar o conteúdo que lerá.

“Uma preocupação central do design de interação é desenvolver produtos interativos que sejam utilizáveis, o que genericamente significa produtos fáceis de aprender, eficazes no uso, que proporcionem ao usuário uma experiência agradável.”

(WINOGRAD, Terry. O quê é Design de Interação? 1997, pág. 2).

Pensando nisso e tendo como base os conceitos de Winograd (1997) sobre Design de Interação, optou-se por construir um e-book com interface condizente ao meio em que ele será utilizado. Dessa forma, quando uma história é aprofundada, o leitor precisará rolar a página para baixo, como faria ao ler um texto nas redes sociais ou em portais de notícias. Quando uma história chega ao fim, o leitor deve levar ao pé da letra a expressão “virar a página” e clicar na seta lateral para passar ao próximo capítulo.

Durante a leitura, o leitor é presenteado com fotografias dos personagens e, ao final da história, o livro dá voz a eles por meio de vídeos curtos (1min a 1min 50).

Para que o livro Movimentar realizasse essas funções, foi escolhido o aplicativo Kotobee Author para o seu desenvolvimento.

O Kotobee Author permite a criação e exportação de e-books interativos nos formatos .epub, .epub2, .mobi, .pdf, .doc e também a criação de aplicativos próprios e exclusivos do livro. Além de uma interface acessível, o Kotobee permite que se adicione elementos interativos como fotografias que se ampliam com um toque, vídeos on e off-line, imagens em 3D, questionários e quaisquer outros plug-ins que possam ser inseridos através de códigos html, css ou javascript.

O aplicativo permite que o autor organize os capítulos em um índice que ficará disponível para facilitar a navegação do leitor.

IMAGEM 6 PÁGINA INICIAL DO APLICATIVO KOTOBEE AUTHOR.

FONTE: A AUTORA

No entanto, um empecilho encontrado para que o projeto original de design interativo se realizasse foram os próprios leitores eletrônicos. Apps, como o iBooks, configuram o arquivo automaticamente no sistema de “virar páginas”, o mesmo acontece em outros leitores eletrônicos que não são touchscreen e dependem que o usuário clique em um botão para virar a página.

Buscando contornar essa situação, o e-book Movimentar está disponível em aplicativos próprios para Windows e Mac. O usuário também pode optar por ler o e-book diretamente em seu navegador ou na biblioteca livre do Kotobee (necessário o download do app Kotobee Reader). Existe também uma extensão para o Google Chrome, porém, até o momento da finalização deste trabalho, ela estava indisponível para download, pois uma falha do software Kotobee impedia a reprodução de vídeos nesse formato. A previsão é que a extensão para Google Chrome e o app para o Chrome Books estejam disponíveis até julho de 2017.

Apesar de o software Kotobee oferecer a possibilidade de criação de apps off-line, optou-se por desenvolver versões apenas online (que necessitam de uma conexão com a internet para funcionar) devido a grande quantidade de vídeos e fotos em alta resolução. Se todo esse material interativo fosse armazenado na própria interface do livro, o produto final ficaria lento e pesado, o que prejudicaria a experiência do leitor.

As versões estão disponíveis no site http://www.movimentar.com.