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Balões e Algodões Mágicos

No documento Wanju Duli - Salve o Senhor No Caos (páginas 34-40)

Zap cuspiu o refrigerante com a surpresa.

– Um servidor foi sequestrado? E o que essa merda deveria significar?

Ohlarac levantou os braços e balançou a cadeira para trás.

– Só estou te repassando as notícias, queridão! Sou o arauto das fofocas mágicas! Me pergunte o que comeu o cachorro da vizinha ontem e terei o maior prazer em descrever até a cor da caquinha.

Zap fez uma careta.

– Às vezes eu tenho medo de você – confessou Zap.

Ohlarac deu um sorrisão do tamanho do mundo. E depois fez beicinho.

– Não fala assim comigo que eu choro, Zap! E meu amor por ti não significa nada?

Ele enfiou a cara na mesa e começou a derramar um rio de lágrimas. As gotas viravam passarinhos quando encostavam no chão.

– Tá bom, me desculpa, falei sem pensar! – exclamou Zap e depois sussurrou – Não faça cena no meio da lanchonete.

No segundo seguinte, Ohlarac já estava sorrindo, com os olhos esbugalhados e brilhantes de prazer.

– Garçom, gostaria de um hambúrguer com 57 camadas, sim? – pediu Ohlarac – Ou quer que eu mesmo vá preparar na cozinha? O sorvete deve ser uma torre que vai até o teto com uma balinha em cima.

– Por que está com tanta fome? – perguntou Zap, surpreso – Você geralmente só pede 33 camadas. O que aconteceu hoje?

– Acabei de vir de uma suruba logo ali na esquina. Nós quatro ficamos oito dias e 12 horas trepando sem parar. Fiquei sem comer por todo esse tempo, então estou com fominha.

– Que bom – disse Zap, contente – isso significa que seus paus não vão levantar de repente enquanto estivermos conversando com alguém, para me fazer passar vergonha.

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– Talvez o terceiro levante, porque o usei menos. Obrigado pelo hambúrguer, garçom bondoso! Me deixa te dar um beijo.

E, após beijar o garçom, Ohlarac desatou a comer seu hambúrguer. – Sei fazer uma magia com hambúrgueres – disse Ohlarac, todo animado – Quer ver?

– Pensei que estivesse com fome.

– Com a magia consigo comer todo esse hambúrguer, vomitá-lo em outro formato e comer de novo.

– Não quero ver! – disse Zap – Eu ainda preciso te fazer algumas perguntas.

Ohlarac jogou suas comidas numa sacola, segurou na mão de Zap e saiu correndo de lá, enquanto ria sem parar.

– Não tenho dinheiro, vamos fugir, há, há, há! Como sou esperto. E continuou arrastando Zap até que os dois entraram num parque de diversões. Lá Ohlarac pegou algodão doce para ambos, mas não pagou.

– Você não está trabalhando, mestre? – perguntou Zap.

– Fui demitido de novo da vendinha de rabanetes porque eu enfiava tudo no cu! – gritou Ohlarac, com alegria.

– Mas você não tem cu – Zap revirou o olho – essa mania que os servidores têm de quererem ser iguais aos humanos...

– Era brincadeira. Fui demitido porque eu dava em cima dos clientes, mas sempre de forma educada. Eu nunca encostava neles, apenas levantava meu manto porque tenho orgulho do meu corpo e acredito que todos devem se orgulhar, não acha?

– Eu ainda acho que você devia pegar de volta o seu emprego no puteiro, porque é o que mais combina com você.

– Não posso, eu tive um caso com o porteiro e ele me trocou por aquela piranha! – e Ohlarac desatou a chorar outra vez – Não me faça lembrar disso, seu monstro! Oh, como meu coração dói!

E dessa vez as lágrimas viraram peixes quando tocaram no chão. Zap recolheu os peixes e atirou-os na fonte ali perto. Deu tapinhas nas costas de Ohlarac.

– Foi mal, cara. Não queria ferir teus sentimentos, mestre. Você sabe que te respeito pra caramba.

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– Eu já não disse para parar de me chamar de mestre? Seu único mestre está na Terra e foi a pessoa que te criou.

– Ele é meu mestre na Terra e você meu mestre em Quepar. Aprendi muito do que sei de magia contigo, então por que não posso te chamar dessa forma?

– Nem mesmo eu tenho a resposta para essa pergunta – e Ohlarac riu outra vez – Moço, quanto custam esses balões? Quero vinte! Quer ver uma magia com balões, Zap-zap?

Ohlarac segurou Zap pelo manto e fez com que os balões elevassem os dois por vários metros.

– Me larga, seu maluco! – berrou Zap.

– Agora vou estourar todos os balões porque será muito engraçado quando cairmos e nos esborracharmos no chão – disse Ohlarac.

– Nãããão!!

E despencaram de uma queda de cinquenta metros. Os dois foram colocados numa maca e a ambulância levou-os até o hospital. Zap teve que enfaixar o pescoço e as duas pernas.

– Será que além de caolho vou virar perneta?

– Não arranquei sua perna, bobinho – disse Ohlarac – foi apenas um gesto de amizade. E nem deu tempo de andarmos de roda gigante. Afinal, como foi que permitiu que seu olho fosse arrancado? Aigam é tão fraca...

– Fraca para você – disse Zap – eu não me considero nem um pouco fraco, mas costumo ter problemas duelando com ela. Brigamos desde a época do colégio.

– Esqueci que vocês dois tinham estudado na mesma escola de magia na época em que foram criados. E agora são colegas de trabalho, hã? A vida é tão divertida!

– O que quer dizer com isso? Eu sofro o dia inteiro! E agora Aigam não para de me importunar no trabalho porque Sodutse roubou o cajado dela e ela insiste que eu sei onde ele está.

– Sodutse também foi colega de vocês, não?

– Por pouco tempo. Ele largou o colégio para ser treinado por um mestre da montanha, à moda antiga. Mas logo largou o mestre também e se enfurnou nas suas bibliotecas.

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– Oãçome de Aserprus, que na época era Oãçome de Oirbíliuqe. Aliás, antes disso ela era Oãçome de Airodebas. Ela troca de manto como quem troca de roupa. Ou eu deveria dizer que ela troca de ordem como quem troca de roupa? Enfim, o senhor entendeu.

– Senhor, senhor... como você é formal, Zap. Que coisa mais desnecessária.

– Não me considero nem um pouco formal – defendeu-se Zap – eu somente pareço assim perto de você, que não é parâmetro de comparação para nada. Só sei que eu ia ser promovido no trabalho, para o cargo de professor titular, e Aigam deu um jeito de impedir que isso acontecesse porque anda zangada. E quem devia estar brabo sou eu, que perdeu um olho por causa dela!

– E por que você ficaria brabo por causa disso? – perguntou Ohlarac – O que você pretendia fazer com um olho?

– Não pensei muito nisso. Deve ser mero apego, já que tenho o outro olho ainda. E Aigam agora fica desfilando pela universidade sem seu braço e todos os alunos dela morrem de medo.

– Enfermeira, poderia me dar um chá com bolinhos? Sim, eu sei que a senhorita não é uma garçonete, mas meus dois braços não funcionam no momento. E você tem certeza de que não sabe onde está Sodutse, Zap? Já olhou em todas as bibliotecas?

– Procurei nas principais. Ele desapareceu completamente. Provavelmente só quer aborrecer Aigam porque levou uma cajadada no meio das pernas. Não acho que ele pretenda fazer algo com o cajado.

– Então Sodutse deve ter perdido seu emprego também, por ter desaparecido – comentou Ohlarac, esperançoso – será que me deixam pegar o emprego dele?

– Ele é copista. Duvido que vá perder o emprego, porque ninguém mais quer fazer isso e o salário é uma merda. Sodutse não faz questão de ganhar bem, já que mora nas bibliotecas e a única coisa na qual gasta são livros raros.

– Tem razão, não quero trabalhar nisso.

– Acho que vou voltar a ser cozinheiro, porque Aigam está sendo um pé no saco – disse Zap – ou isso ou me retiro para um bosque ou montanha para ser um mestre solitário, embora eu não ache que faz meu estilo. Oãçome ficou ranzinza fazendo isso.

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– Falando nela, ouvi dizer que ela enterrou Aigoloncet vivo esses dias – comentou Ohlarac, enquanto recortava o lençol do hospital com uma tesoura e costurava no próprio manto.

– Que besteira. Por que não esperam até o TEAMQ para começarem a se matar? A propósito, você recebeu um convite?

Ohlarac fez que não.

– Por que eu iria até o TEAMQ? Eles não fazem sexo lá. – Mas o que o senhor fez com o lençol?!

A enfermeira quase teve um chilique quando viu o lençol completamente recortado e costurado no manto de Ohlarac. Ele também havia feito furos no colchão e no travesseiro, espalhando plumas e algodão por todos os lados. Fez um cocar para si mesmo com as plumas.

Os dois foram expulsos do hospital.

– Por que fui expulso junto? – perguntou Zap, numa cadeira de rodas. – Porque eu disse que você era meu filho e precisava cuidar de seu pai senil – respondeu Ohlarac.

– Servidores não têm filhos!

– Mas você é como um filho adotivo para mim. Claro que eu gosto mais de te ver como amigo. Até porque servidores não envelhecem. Seria ótimo se ficássemos com a pele toda enrugada como os humanos. Acho bem bonito.

– Ter bolas, ter cabelos e respirar o ar da Terra – Zap suspirou – todas essas coisas só nos parecem ótimas porque vemos os humanos como deuses. Eu sirvo meu Senhor na Terra fielmente, mas acho meio exagerada toda essa veneração.

– Se te serve de consolo, sabemos fazer coisas que eles não conseguem. Nosso poder psíquico é maior.

– Até que ponto, eu me pergunto – disse Zap.

– Bem, foi ótimo conversar com você, lindo. Mas agora tenho outra suruba para ir e preciso me apressar.

– Você trepou por oito dias e seu corpo está todo quebrado. – Estarei lá, nem que seja para assistir. Não quero desapontar Anax. – As bocetas dela são de fogo, hã? Você me disse que ela ficou um mês transando sem parar uma vez?

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– Anax pega fogo por inteiro – Ohlarac lambeu os lábios – é impossível não se apaixonar por ela.

– Se até Sodutse se apaixonou, o que você diz é completamente verdadeiro.

– Mas onde raios anda esse menino?

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No documento Wanju Duli - Salve o Senhor No Caos (páginas 34-40)