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Entre Lactâncio, Eusébio e os vestígios arqueológicos

2.1. Basílicas constantinianas em Roma

As primeiras basílicas cristãs atribuídas a Constantino que estudaremos são aquelas que foram construídas na principal metrópole ocidental do Império. É importante desde já sinalizar, conforme observa Barbero, que “nem Eusébio nem seus sucessores dispõem de qualquer informação sobre basílicas construídas por Constantino em Roma ou mesmo no Ocidente de maneira geral.” (2016: 327) No máximo podemos considerar os amplos benefícios, dentre o quê estão incluídos templos que o imperador concedeu aos cristãos e que foram mencionados pelo bispo de Cesareia. Porém, este não faz qualquer referência direta aos locais de culto construídos na cidade de Roma.

Também não há referências diretas às basílicas constantinianas em Roma que tenham sido registradas por Lactâncio, o qual apenas faz poucas menções a templos cristãos de maneira muito genérica. Quando, por exemplo, descreve em De mortibus

persecutorum (MP) o sofrimento do imperador Galério, afirma que este, nos intervalos

entre os muitos momentos de dores causadas pela doença que o levaria à morte, chegara a declarar sua sincera intenção em restituir o templo dedicado a Deus para, por meio disso, reparar todos os seus equívocos praticados contra as pessoas que eram adeptas da ainda clandestina religião cristã: “Et haec facta sunt per annum perpetem, cum tandem malis domitus deum coactus est confiteri. Novi doloris urgentis per intervalla exclamat se restituturum dei templum satisque pro scelere facturum.” (MP 33, 11)12

12 “E isso aconteceu por um ano inteiro, quando finalmente, domado pelos males, ele foi obrigado a

confessar Deus. Durante as pausas antes do ataque de uma nova dor exclama que restaurará o templo de deus e fará o necessário para reparar a impiedade.” Tradução ainda não publicada de Antonio Marchionni.

Logo na sequência da mesma narrativa, Lactâncio informa que essa declaração se tornaria oficial quando, pouco antes de morrer, Galério promulgara seu Edito de Tolerância, o qual está preservado tanto na obra de Lactâncio (MP 34) como na História

Eclesiástica, de Eusébio (VIII, 17.3-10). Na Vita Constantini (I, 57.3) o documento é

apenas mencionado e não reproduzido na íntegra. De acordo com esse documento de Galério, também assinado por Licínio e Constantino, os cristãos poderiam reconstruir seus templos, desde que não fizessem nada que contrariasse o que a ordem imperial estabelecesse. Em troca, os cristãos deveriam rogar ao seu Deus em favor não apenas de si mesmos, mas também em favor da saúde do imperador e do bem estar do Império:

[34.4] Atque cum plurimi in proposito perseverarent ac videremus nec diis eosdem cultum ac religionem debitam exhibere nec Christianorum deum observare, contemplatione mitissimae nostrae clementiae intuentes et consuetudinem sempiternam, qua solemus cunctis hominibus veniam indulgere, promptissimam in his quoque indulgentiam nostram credidimus porrigendam. Ut denuo sint Chrsitiani et conventicula sua componant, ita ut ne quid contra disciplinam agant. [34.5] <Per> aliam autem epistolam iudicibus significaturi sumus quid debeant observare. Unde iuxta hanc indulgentiam nostram debebunt deum suum orare pro salute nostra et rei publicae ac sua, ut undique versum res publica praestetur incolumis et securi vivere in sedibus suis possint. (MP 34, 4 e 5)13

É importante destacar, inclusive, que a atuação política do imperador Galério enquanto membro da Tetrarquia se dava em território do Oriente. Portanto, a possibilidade de que ele estivesse se referindo a templos cristãos em Roma é quase nula. O mesmo ocorre, por exemplo, quando Lactâncio menciona a temporária paz acordada entre Licínio e Maximino. Este, após o acordo, empreendeu diversas medidas contra os cristãos do Oriente, dentre as quais estavam incluídas as proibições de que eles reconstruíssem seus templos e de que se reunissem, tanto de forma pública como privada, para cultuarem juntos ao seu Deus:

[36.2] Discordia inter ambos imperatores ac paene bellum. Diversas ripas armati tenebant, sed condicionibus certis pax et amicitia componitur et in ipso fretu foedus fit ac dexterae copulantur. [36.3] Redit ille securus et fit qualis in Syria et in Aegypto

13 “Mas, pelo fato de muitos perseverarem em seu propósito e constatarmos que eles nem praticavam o

culto e a religião devida aos deuses nem honravam o deus dos cristãos, visando pela meditação da nossa suavíssima clemência a prática perene, com o qual costumamos conceder o perdão a todos os homens, cremos que deve ser estendida também a eles a nossa reconhecida benevolência, para que eles sejam novamente cristãos e possam erguer suas humildes igrejas, de tal forma que nada façam contra a ordem. Em outra carta notificaremos aos juízes o que devem observar. Assim sendo, em proporção a esta nossa benevolência, deverão orar ao seu deus pela saúde nossa e da república, e da própria também, para que em todo lugar a república seja restabelecida intacta e eles possam viver seguros em suas sedes.” Tradução ainda não publicada de Antonio Marchionni.

fuit. Imprimis indulgentiam Christianis communi titulo datam tollit, subornatis legationibus civitatum quae peterent, ne intra civitates suas Christianis conventicula extruere liceret, ut suasu coactus et impulsus facere videretur quod erat sponte facturus. [36.4] Quibus annuens novo more sacerdotes maximos per singulas civitates singulos ex primoribus fecit, qui et sacrificia per omnes deos suos cotidie facerent et veterum sacerdotum ministerio subnixi darent operam, <ut> Christiani neque <conventicula> fabricarent neque publice aut privatim coirent, sed comprehensos suo iure ad sacrificia cogerent vel iudicibus offerrent. (MP 36, 2-4)14

Uma última menção que Lactânio faz aos templos cristãos está registrada no Edito de Milão15, documento por ele citado na íntegra em um dos capítulos conclusivos de sua De mortibus persecutorum (48.2-12)16. Segundo esse documento imperial, reproduzido também por Eusébio na História Eclesiástica (X, 5.2-14) e citado de maneira breve e superficial na Vita Constantini (I, 41.3)17, os dois imperadores ainda aliados – Licínio e Constantino – além de concederem liberdade de culto a todas as

14 “Houve discórdia entre os dois imperadores e quase guerra. Armados, dominavam as duas costas, mas a

paz e a amizade são recompostas e no próprio estreito é feito um pacto e as mãos direitas se apertam. Ele retorna seguro e se torna qual foi na Síria e no Egito. Como primeira coisa retira o indulto dado aos cristãos com decreto conjunto, após ter subornado as embaixadas das cidades para que estas pedissem de não permitir aos cristãos de construir igrejinhas dentro de suas cidades, a fim de parecer que fez coagido e impulsionado pela persuasão aquilo que iria fazer de própria vontade. Anuindo a elas, com novo costume escolheu entre os notáveis uns sacerdotes máximos, um em cada cidade, os quais todo dia fizessem sacrifícios a todos os seus deuses e, apoiados no serviço dos sacerdotes velhos, se mobilizassem para que os cristãos nem fabricassem igrejinhas nem se reunissem publicamente ou privadamente, mas obrigassem os situados sob o seu direito aos sacrifícios ou os entregassem aos juízes.” Tradução ainda não publicada de Antonio Marchionni.

15 A importante observação de Velasco-Delgado acerca deste documento oficial conhecido como Edito de

Milão destaca que há algumas diferenças entre a versão latina registrada por Lactâncio e a tradução grega registrada por Eusébio. Quanto ao mais, salienta que, “reunidos em Milão, em fevereiro de 313, Constantino e Licínio, para celebrar o casamento deste com a irmã daquele, firmaram um acordo para implantarem uma política homogênea que favoreceria os cristãos, já que nos territórios orientais, sobretudo naqueles que estavam sujeitos à autoridade de Maximino, a situação era muito diferente daquela de todo o resto do Império, onde já se havia aplicado o edito de Galério. O resultado não foi um edito, mas algumas linhas de política comum, que Licínio formulou no documento que chegou até nós como „Edito de Milão‟, endossado com a autoridade e o consenso de Constantino, e que, na realidade, não é mais que um reescrito baseado no edito de Galério do qual esclarece alguns conceitos duvidosos, suprimindo as condições restritivas para torná-lo mais eficaz em favor dos cristãos.” (2008: 625)

16 Essa passagem da obra de Lactâncio, de acordo com Teja, que corresponde ao longo período entre a

entrada de Licínio “em Nicomédia e a publicação da circular, em torno de um mês, tem sido considerada como mais uma prova de que ela não corresponde a um acordo prévio com Constantino durante o encontro de Milão. [...] Litteras: não se trata, portanto, de um Edito propriamente dito, como foi o de Galério, mas de uma circular dirigida ao governador da Bitínia e aos governadores das demais províncias que estavam sob a sua jurisdição.” (1982: 202)

17

Para Franco, tanto a versão grega do Edito de Milão registrada na História Eclesiástica, possivelmente publicada em Cesareia, cidade de Eusébio, como a versão latina de Lactâncio, registrada em De mortibus persecutorum, segundo a qual o referido texto correpondia muito mais a uma circular em favor dos cristãos promulgada por Licínio, em Nicomédia, e dirigida ao governador da Bitínia em 13 de junho de 313, fazem menção “ao encontro realizado em Milão entre Constantino e Licínio, após o qual a liberdade de religião foi sancionada a todos (não apenas para os cristãos) e o fim da perseguição. Sobre o chamado „Edito de Milão‟, que teria sido publicado por Constantino e Licínio em 313, na realidade não resta uma evidência clara nas fontes, e de acordo com alguns estudiosos a sua autenticidade é duvidosa, ou melhor, não se trataria de um único edito, mas seriam dois diferentes decretos favoráveis aos cristãos, publicados em tempos distintos por Constantino e por Licínio.” (2009: 134 e 135)

pessoas, inclusive aos cristãos, determinavam que a estes fossem restituídos os lugares que lhes pertenciam antes da perseguição iniciada em 303. O edito18 refere-se tanto aos lugares de culto como às propriedades particulares de alguns cristãos:

[48.7] Atque hoc insuper in persona Christianorum statuendum esse censuimus, quod, si eadem loca, ad quae antea convenire consuerant, de quibus etiam datis ad officium tuum litteris certa antehac forma fuerat comprehensa, priore tempore aliqui vel a fisco nostro vel ab alio quocumque videntur esse mercati, eadem Christianis sine pecunia et sine ulla pretii petitione, postposita omni frustratione atque ambiguitate restituant; qui etiam dono fuerunt consecuti, eadem similiter isdem Christianis quantocius reddant; [48.8] etiam vel hi qui emerunt vel qui dono fuerunt consecuti, si petiverint de nostra benivolentia aliquid, vicarium postulent, quo et ipsis per nostram clementiam consulatur. Quae omnia corpori Christianorum protinus per intercessionem tuam ac sine mora tradi oportebit. [48.9] Et quoniam idem Christiani non [in] ea loca tantum ad quae convenire consuerunt, sed alia etiam habuisse noscuntur ad ius corporis eorum id est ecclesiarum, non hominum singulorum, pertinentia, ea omnia lege quam superius comprehendimus, citra ullam prorsus ambiguitatem vel controversiam isdem Christianis id est corpori et conventiculis eorum reddi iubebis, supra dicta scilicet ratione servata, ut ii qui eadem sine pretio sicut diximus restituant, indemnitatem de nostra benivolentia sperent. (MP 48, 7-9)19

18 Gurruchaga destaca que desde os estudos desenvolvidos pelo historiador alemão Otto Seeck (1850-

1921) entre o final do século XIX e início do XX, tem sido repetido de uma maneira acrítica “que o Edito de Milão não foi um edito, mas uma cópia (rescriptum); que não é de Milão, mas de Nicomédia; que não é de Constantino, mas de Licínio; e que teria sido desnecessário, porque já havia tolerância no Ocidente desde 306. Por outro lado, Eusébio fala de uma „lei perfeitíssima‟ (História Eclesiástica IX, 9.12) enviada por Constantino e Licínio a Maximino, a qual é considerada o próprio Edito de Milão.” (1994: 192) Essa lei perfeitíssima em favor dos cristãos (λφκνλ ὑπὲξ Χξηζηηαλ῵λ ηειεψηαηνλ πιεξέζηαηαIδηαηππνῦληαη) é,

contudo, considerada um equívoco da narrativa eusebiana, pois estudiosos contemporâneos de Seeck como Aleksandr Ivanovich Brilliantov (1867-1933) já a problematizavam. Segundo a sua tese, sagaz e bastante válida na opinião de Gurruchaga, “a „lei perfeitíssima‟ enviada a Maximino foi um projeto de lei, enviado antes de sua publicação para sua corroboração. Fora pensada para a Ilíria, com o intuito de remover as condições impostas por Galério, mas foi enviada a Maximino, de passagem, para que fosse adaptada em seu contexto. Este a ignorou. Uma vez vencido, a „lei perfeitíssima‟ seria publicada por Licínio. A partir do Itinerarium Antonini se demonstra que a lei chegou a tempo até Maximino, o qual optou por seguir o calendário sírio (como já pensara Schwartz).” (Gurruchaga 1994: 193)

19 “Consideramos particularmente que em relação aos cristãos deve ser estabelecido que, se ocorreu que

algumas pessoas em tempo passado tenham comprado do nosso tesouro ou de qualquer outra pessoa aqueles lugares onde anteriormente os cristãos costumavam reunir-se, sobre os quais uma certa norma já fora incluída nas cartas anteriormente endereçadas ao seu ofício, restituam os mesmos lugares sem dinheiro e sem pedido de algum preço, abandonada qualquer frustração e fraude. Mesmo aqueles que os receberam em doação os devolvam igualmente quanto antes aos cristãos. E também, tanto aqueles que os compraram quanto aqueles que os ganharam em doação, caso venham a pedir à nossa benevolência algo em troca, procurem o substituto, para que também haja cura deles pela nossa benevolência. Será conveniente que todos esses lugares, por sua mediação, sejam entregues de imediato e sem demora à comunidade dos cristãos. E, sabendo-se que os cristãos possuíam não somente os lugares onde costumavam se reunir, mas também outros para uso de sua comunidade, ou seja, das igrejas, não pertencentes a homens privados, ordenarás que aqueles lugares todos, pela lei que acima expressamos, sem ambiguidade e controvérsia alguma, sejam devolvidos aos mesmos cristãos, ou seja, à sua comunidade e igrejinhas, observado, todavia, o entendimento acima exposto de que aqueles que os restituem sem preço, como dissemos, esperem da nossa benevolência uma indenização.” Tradução ainda não publicada de Antonio Marchionni.

Quando Eusébio escreve em sua História Eclesiástica (HE) acerca da restauração de lugares de culto cristão que tinham sido destruídos por ordem imperial durante a perseguição de Diocleciano, acerca das doações em dinheiro20 aos bispos e, sobretudo, acerca das consagrações públicas de novos templos, não há a mínima referência a igrejas e basílicas na cidade de Roma. Nem mesmo na Vita Constantini, (VC), obra mais tardia, o autor deixa claro que Constantino tenha determinado a construção de igrejas em Roma. O mesmo não acontece quando ele faz referências às basílicas construídas em outras regiões como, por exemplo, as igrejas da Palestina.

Para mencionarmos alguns casos, vejamos o que o escritor cristão afirma em sua História Eclesiástica a respeito da restauração e construção de lugares de culto:

Π᾵ζη κὲλ νὖλ ἀλζξψπνηο ηὰ ἐθ η῅ο η῵λ ηπξάλλσλ θαηαδπλαζηείαο ἐιεχζεξαIἤλ , θαὶ η῵λ πξνηέξσλ ἀπειιαγκέλνη θαθ῵λ, ἄιινο κφλνλ ἀιεζ῅ ζεὸλIηὸλ η῵λ εὐ ζεβ῵λ ὑπέξκαρνλ ὡκνιφγεη: κάιηζηα δ̓ ἟κ῔λ ην῔ο ἐπὶ ηὸλ ΧξηζηὸλIηνῦ ζενῦ ηὰο ἐιπίδαο ἀλεξηεκέλνηο ἄιεθηνο παξ῅λ εὐθξνζχλε θαί ηηο ἔλζενοIἅπαζηλ ἐπήλζ εη ραξὰ πάληα ηφπνλ ηὸλ πξὸ κηθξνῦ ηα῔ο η῵λ ηπξάλλσλIδπζζεβείαηο ἞ξηπσκέλ νλ ὥζπεξ ἐθ καθξ᾵ο θαὶ ζαλαηεθφξνπ ιχκεοIἀλαβηψζθνληα ζεσκέλνηο λεψο ηε αὖζηο ἐθ βάζξσλ εἰο ὕςνο ἄπεηξνλIἐγεηξνκέλνπο θαὶ πνιὺ θξείηηνλα ηὴλ ἀγι αΐαλ η῵λ πάιαη πεπνιηνξθεκέλσλ ἀπνιακβάλνληαο. (HE X, 2.1)

Além de mencionar que todos os homens (Π᾵ζη κὲλ νὖλ ἀλζξψπνηο), no que estão incluídos os romanos que não eram cristãos, tornaram-se livres da opressão dos tiranos (η῵λ ηπξάλλσλ θαηαδπλαζηείαο ἐιεχζεξα ἤλ), referindo-se à forma impiedosa (δπζζεβείαηο) de dominação imperial, possivelmente de Maxêncio que, havia pouco tempo, fora derrotado por Constantino na Batalha da Ponte Mílvia, Eusébio salienta a

20 Não podemos deixar de considerar a observação de Laura Franco a respeito das doações em dinheiro

que, segundo Eusébio, o imperador Constantino teria feito com o objetivo de financiar construções de templos cristãos. De acordo com a referida observação, “na História Eclesiástica (X, 6. 1-5) está citada uma carta imperial de 313, destinada ao bispo de Cartago, Ceciliano, com a qual Constantino colocava à disposição das igrejas locais uma soma de 3.000 follis, mas foi, sobretudo, em Roma que o imperador, a partir de 312, ordenou a construção e ampliação de um considerável número de igrejas entre as quais estão San Giovanni in Laterano, San Pietro, San Lorenzo na via Tiburtina, San’Agnese na via Nomentana e a Igreja dos Santi Marcellino e Pietro na via Labicana.” (Franco 2009: 136-137) Eis os dois primeiros parágrafos do texto da História Eclesiástica citado por Franco, nos quais o autor menciona doações em dinheiro:I[6.1]iΚσλζηαλη῔λνο Αὔγνπζηνο Καηθηιηαλῶ ἐπηζθφπῳ Χαξηαγέλεο. ἐπεηδήπεξiἢξεζελ θαηὰ πά ζαο ἐπαξρίαο, ηάο ηε Ἀθξηθὰο θαὶ ηὰο Ννπκηδίαο θαὶ ηὰοiΜαπξηηαλίαο, ῥεην῔ο ηηζη η῵λ ὑπεξεη῵λ η῅ο ἐλζέ ζκνπ θαὶ ἁγησηάηεοiθαζνιηθ῅ο ζξῃζθείαο εἰο ἀλαιψκαηα ἐπηρνξεγεζ῅λαί ηη, ἔδσθα γξάκκαηαiπξὸο Οὖξ ζνλ ηὸλ δηαζεκφηαηνλ θαζνιηθὸλ η῅ο Ἀθξηθ῅ο θαὶ ἐδήισζα αὐηῶIὅπσο ηξηζρηιίνπο θφιιεηο ηῆ ζῆ ζηεξξ φηεηη ἀπαξηζκ῅ζαη θξνληίζῃ.i[6.2]iζὺ ηνίλπλ, ἟λίθα ηὴλ πξνδεινπκέλελ πνζφηεηα η῵λ ρξεκάησλIὑπνδερ ζ῅λαη πνηήζεηο, ἅπαζη ην῔ο πξνεηξεκέλνηο θαηὰ ηὸ βξένπηνλ ηὸ πξὸο ζὲIπαξὰ Ὁζίνπ ἀπνζηαιὲλ ηαῦηα ηὰ ρξήκαηα δηαδνζ῅λαη θέιεπζνλ.

indescritível alegria (ἄιεθηνο παξ῅λ εὐθξνζχλε) dos cristãos em particular (κάιηζηα δ̓ ἟κ῔λ) devido à restauração de lugares de culto que tinham sido destruídos. A expressão πάληα ηφπνλ talvez seja suficiente para indicar que a cidade de Roma esteja entre todos os lugares nos quais foram restaurados os templos cristãos antes destruídos pela chamada impiedade dos tiranos (η῵λ ηπξάλλσλ δπζζεβείαηο).

No mesmo parágrafo, Eusébio é enfático ao informar que os antigos templos (λεψο), desde as suas ruínas, eram reconstruídos a uma altura indefinível (ὕςνο ἄπεηξνλ) que também pode ser traduzida como ilimitada. Tamanha era a beleza (πνιὺ θξείηηνλα ηὴλ ἀγιαΐαλ) dos novos templos que, conquanto não possamos definir os locais específicos referidos por Eusébio, já podemos ter uma primeira impressão do caráter estético que os lugares de culto cristão passavam a ter a partir daquele momento.

Nos parágrafos seguintes (HE X, 2.2; 3.1-4)21, Eusébio refere-se às honras e doações em dinheiro direcionadas aos bispos por parte do próprio imperador romano (πξφζσπνλ ἐπηζθφπνηο βαζηιέσο γξάκκαηα θαὶ ηηκαὶ θαὶ ρξεκάησλiδφζεηο:), além das consagrações de templos recém-construídos (λενπαγ῵λ πξνζεπθηεξίσλiἀθηεξψζεηο) e, em linhas gerais, à condução de um rito cerimonial (ἐληειε῔ο ζξῃζθε῔αη ἱεξνπξγίαη) de entrega e recebimento desses benefícios. O caráter estético acima citado pode ser observado na menção que Eusébio faz tanto às funções litúrgicas e ritos (ἱεξσκέλσλ) como aos sermões (ζεφζελ ἟κ῔λ παξαδνζεηζ῵λ θσλ῵λ ἀθξνάζεζηλ) que os sacerdotes presentes ministravam aos fiéis, além dos salmos (ςαικῳδίαηο) que todos recitavam.

A certeza de que o bispo de Cesareia não se referia a templos cristãos em Roma pode ser confirmada no parágrafo HE X, 4.122, que precede o discurso panegírico 21I[2.2] Ἀιιὰ θαὶ βαζηιε῔ο νἱ ἀλσηάησ ζπλερέζη ηα῔ο ὑπὲξ Χξηζηηαλ῵λ λνκνζεζίαηοηὰ η῅ο ἐθ ζενῦ κεγαιν δσξε᾵ο ἟κ῔λ εἰο καθξὸλ ἔηη θαὶ κε῔δνλ ἐθξάηπλνλ, ἐθνίηαδὲ θαὶ εἰο πξφζσπνλ ἐπηζθφπνηο βαζηιέσο γξάκ καηα θαὶ ηηκαὶ θαὶ ρξεκάησλδφζεηο: ὧλ νὐθ ἀπὸ ηξφπνπ γέλνηἠ ἂλ θαηὰ ηὸλ πξνζήθνληα θαηξὸλ ηνῦ ιφγν π, ὥζπεξ ἐλ ἱεξᾶ ζηήιῃ, ηῆδε ηῆ βίβιῳ ηὰο θσλὰο ἐθ η῅ο Ῥσκαίσλ ἐπὶ ηὴλ἗ιιάδα γι῵ζζαλ κεηαιεθζείζ αο ἐγραξάμαη, ὡο ἂλ θαὶ ην῔ο κεζ̓ ἟κ᾵ο ἅπαζηλθέξνηλην δηὰ κλήκεο.I[3.1]I἖πὶ δὴ ηνχηνηο ηὸ π᾵ζηλ εὐθηα῔ νλ ἟κ῔λ θαὶ πνζνχκελνλ ζπλεθξνηε῔ην ζέακα, ἐγθαηλίσλ ἑνξηαὶ θαηὰ πφιεηο θαὶ η῵λ ἄξηη λενπαγ῵λ πξνζ επθηεξίσλἀθηεξψζεηο, ἐπηζθφπσλ ἐπὶ ηαὐηὸλ ζπλειχζεηο, η῵λ πφξξσζελ ἐμ ἀιινδαπ῅οζπλδξνκαί, ια῵λ εἰο ιανὺο θηινθξνλήζεηο, η῵λ Χξηζηνῦ ζψκαηνο κει῵λ εἰο κίαλ ζπληφλησλ ἁξκνλίαλ ἕλσζηο.I[3.2]Iζπλήγ εην γνῦλ ἀθνινχζσο πξνξξήζεη πξνθεηηθῆ κπζηηθ῵ο ηὸ κέιινλπξνζεκαηλνχζῃ ὀζηένλ πξὸο ὀζηένλ θαὶ ἁξκνλία πξὸο ἁξκνλίαλ θαὶ ὅζαζεζπίδσλ ὁ ιφγνο δἰ αἰληγκάησλ ἀςεπδ῵ο πξναλεηείλαην,I[3.3]Iκία ηε ἤλ ζείνπ πλεχκαηνο δηὰ πάλησλ η῵λ κει῵λ ρσξνῦζα δχλακηο θαὶςπρὴ η῵λ πάλησλ κία θαὶ πξνζπκία πίζηεσ ο ἟ αὐηὴ θαὶ εἷο ἐμ ἁπάλησλζενινγίαο ὕκλνο, λαὶ κὴλ θαὶ η῵λ ἟γνπκέλσλ ἐληειε῔ο ζξῃζθε῔αη ἱεξνπξγίαη η εη῵λ ἱεξσκέλσλ θαὶ ζενπξεπε῔ο ἐθθιεζίαο ζεζκνί, ὧδε κὲλ ςαικῳδίαηο θαὶ ηα῔οινηπα῔ο η῵λ ζεφζελ ἟κ῔λ παξαδνζεηζ῵λ θσλ῵λ ἀθξνάζεζηλ, ὧδε δὲ ζείαηο θαὶκπζηηθα῔ο ἐπηηεινπκέλαηο δηαθνλίαηο, ζσηεξίνπ ηε ἤ λ πάζνπο ἀπφξξεηαIζχκβνια.I[3.4]Iὁκνῦ δὲ π᾵λ γέλνο ἟ιηθίαο ἄξξελφο ηε θαὶ ζήιενο θχζεσο ὅιῃ δηαλνί αοἰζρχτ δἰ εὐρ῵λ θαὶ εὐραξηζηίαο γεγεζφηη λῶ θαὶ ςπρῆ ηὸλ η῵λ ἀγαζ῵λπαξαίηηνλ ζεὸλ ἐγέξαηξνλ. ἖θίλεη δὲ θαὶ ιφγνπο ἅπαο η῵λ παξφλησλ ἀξρφλησλπαλεγπξηθνχο, ὡο ἑθάζηῳ παξ῅λ δπλάκεσο, ζεηάδσλ ηὴλ πα λήγπξηλ. 22 I[4.1]Iθαί ηηο ἐλ κέζῳ παξειζὼλ η῵λ κεηξίσο ἐπηεηθ῵λ, ιφγνπ ζχληαμηλ πεπνηεκέλνο, ὡο ἐλ ἐθθιεζίαο ἀ ζξνίζκαηη, πιείζησλ ἐπηπαξφλησλ πνηκέλσλ ἐλ ἟ζπρίᾳ θαὶθφζκῳ ηὴλ ἀθξφαζηλ παξερνκέλσλ, ἑλὸο εἰο πξ

dirigido a Paulino, bispo de Tiro, no qual o próprio Eusébio tratara da edificação de templos cristãos. Neste parágrafo podemos identificar a direta menção à construção de um templo na própria cidade de Tiro, caracterizando-o como o mais belo de todos os templos que tinham sido construídos até aquele momento na região da Fenícia (ὁ κάιηζηα η῵λ ἀκθὶ ηὸ Φνηλίθσλ ἔζλνοδηαπξέπσλ ἐλ Τχξῳ λεὼο θηινηίκσο ἐπεζθεχαζ ην, ηνηφλδε παξέζρε ιφγνλ). Entendemos, porém, que essa referência por si só não anula a hipótese de que basílicas constantinianas tenham sido construídas na cidade de Roma.

Em outra passagem citada, desta vez, em texto da obra Vita Constantini, que corresponde “ao período após a vitória sobre Maxêncio quando, portanto, Constantino ainda se encontrava no Ocidente, principalmente na Gália, Eusébio escreve que o imperador beneficiou abundantemente à Igreja.” (Barbero 2016: 327) Vejamos, porém, que no referido trecho, conforme já dito, o autor cristão não fez referência alguma a templos que tenham sido construídos na cidade de Roma sob o domínio de Constantino:

Ναὶ κὴλ θαὶ ηα῔ο ἐθθιεζίαηο ηνῦ ζενῦ πινπζίαο ηὰο παξ‟ ἑαπηνῦ παξε῔ρελ ἐπηθνπξίαο, ἐπαύμσλ κὲλ θαὶ εἰο ὕςνο αἴξσλ ηνὺο εὐθηεξίνπο νἴθνπο, πιείζηνηο δ‟ ἀλαζήκαζη ηὰ ζεκλὰ η῵λ η῅ο ἐθθιεζίαο θαζεγηαζκέλσλ θαηδξύλσλ. (VC I, 42.2)

Conforme Barbero observa, essa passagem “sequer parece ser uma formulação adaptável à edificação de grandes basílicas destinadas à transformação do panorama urbano” (2016: 327) da cidade de Roma. Quando o texto diz que o imperador fazia doações à Igreja de Deus (ἐθθιεζίαηο ηνῦ ζενῦ) a partir de seu patrimônio pessoal

φζσπνλ ηὰ πάληα ἀξίζηνπ θαὶζενθηινῦο ἐπηζθφπνπ, νὗ δηὰ ζπνπδ῅ο ὁ κάιηζηα η῵λ ἀκθὶ ηὸ Φνηλίθσλ ἔζλ νοδηαπξέπσλ ἐλ Τχξῳ λεὼο θηινηίκσο ἐπεζθεχαζην, ηνηφλδε παξέζρε ιφγνλ. Quando o texto diz que um homem preparado destacou-se entre todos, no meio da assembleia, ao proferir um discurso, concordamos com Velasco-Delgado que possa ser o próprio Eusébio: “todos os comentaristas concordam em afirmar que se trata de Eusébio, àquela altura já bispo de Cesareia, pois é quase evidente que o orador é um bispo. O difícil é determinar a data. Há, porém, alguns dados que podem nos servir. Como observa Schwartz, tal discurso não pode ser anterior a 313, quando Licínio venceu definitivamente a Maximino; por outro lado, o discurso (cf. §16 e 60) representa Constantino e Licínio nas melhores relações, o que não ocorrera de agosto a dezembro de 314, e no intervalo era impossível ser edificado um templo conforme as proporções descritas, tampouco após 319, quando Licínio renovou a perseguição. Caso contrário, imediatamente após a derrota de Licínio, ao final de 314, o orador não equivaleria no elogio, independentemente da retórica, aos dois imperadores; era preciso passar algum tempo. Por consequência, a data mais adequada parece ser em torno de 317-318. Se aceita, porém, a cronologia que, partindo da numismática, propõe Patrick Bruun (The Constantinian coinage of Arelate: Suomen muinaismuistoyhdistyksen Aikakauskirja 52,2 [Helsinki 1953] 15ss), como a guerra entre ambos os imperadores não teria irrompido até o outono de 316, a dedicação de Tiro poderia muito bem ter tido lugar desde os começos de 314 até o outono de 316.” (Velasco-Delgado 2008: 598) A derrota de Licínio, ao final de 314, citada por Velasco-Delgado, foi aquela sob Constantino na Batalha de Cíbalas (314 ou 316).

(πινπζίαο ηὰο παξ‟ ἑαπηνῦ παξε῔ρελ ἐπηθνπξίαο), o autor parece convergir ou mesmo