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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 ESCOPO DA PESQUISA

3.1.1 A base SIES e a seleção dos casos

A base de dados do Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária (base SIES) consiste em um banco de dados que reúne informações dos empreendimentos de economia solidária de todo o Brasil. O primeiro mapeamento para construção desse banco de dados foi realizado em 2005, registrando, em sua primeira etapa, aproximadamente 18 mil empreendimentos. Em 2007, a base de dados foi ampliada com um mapeamento complementar, chegando-se a quase 22 mil empreendimentos em todo o Brasil. O segundo mapeamento foi realizado entre 2010 e 2013 e abrangeu os Empreendimentos Econômicos Solidários (EES), as Entidades de Apoio e Fomento (EAF) e também Políticas Públicas voltadas à Economia Solidária (PPES) (PROJETO SIES, 2015).

No que concerne aos empreendimentos da economia solidária, que consiste no foco deste estudo, ressalta-se que, para o MTE (2015), os empreendimentos econômicos solidários referem-se a organizações que possuem as seguintes características:

a) coletivas e suprafamiliares (associações, cooperativas, empresas autogestionárias, grupos de produção, clubes de trocas etc.), cujos participantes são trabalhadores dos meios urbano e rural que exercem a autogestão das atividades e da alocação dos seus resultados;

b) permanentes (não são práticas eventuais). Além dos empreendimentos que já se encontram implantados, em operação, devem-se incluir aqueles em processo de implantação quando o grupo de participantes já estiver constituído definido sua atividade econômica;

c) que podem dispor ou não de registro legal, prevalecendo a existência real ou a vida regular da organização;

d) que realizam atividades econômicas de produção de bens, de prestação de serviços, de fundos de crédito (cooperativas de crédito e os fundos rotativos populares), de comercialização (compra, venda e troca de insumos, produtos e serviços) e de

consumo solidário. As atividades econômicas devem ser permanentes ou principais, ou seja, a razão de ser da organização;

e) são singulares ou complexas. Ou seja, deverão ser consideradas as organizações de diferentes graus ou níveis, desde que cumpridas as características acima identificadas. As organizações econômicas complexas são as centrais de associação ou de cooperativas, complexos cooperativos, redes de empreendimentos e similares.

A base SIES utilizada neste estudo refere-se aos dados do segundo mapeamento direcionado aos EES, que resultou da aplicação de um formulário (ver ANEXO A) composto por 171 questões organizadas nas seguintes seções: a) identificação e abrangência; b) características predominantes dos (as) sócios(as); c) características gerais do empreendimento; d) tipificação e dimensionamento da atividade econômica e situação de trabalho dos(as) sócios(as); e) situação do trabalho dos (as) não-sócios(as); f) investimentos, acesso a crédito e apoios; g) gestão do empreendimento; dimensão sociopolítica e ambiental; e h) apreciações subjetivas a respeito do EES (SENAES, 2013).

A base de dados do SIES é pública, sendo que a disponibilização dos microdados para entidades e instituições está prevista na Portaria Ministerial nº 30, de 20/03/2006, que trata do funcionamento do SIES.

A análise da consistência da base de dados dos EES do SIES é realizada no âmbito do Projeto SIES, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa em Economia Solidária e Cooperativa (Grupo Ecosol30), da Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), em convênio com a SENAES.

A base SIES do mapeamento 2010-2013 conta, ao todo, com 19.708 EES pesquisados e 898 variáveis geradas a partir das 171 questões do instrumento aplicado. Para adequá-la aos interesses desta pesquisa, foi realizado um trabalho preliminar de seleção de casos a serem mantidos no estudo.

Considerando que o estudo almeja focalizar cooperativas com DAP/PJ, para seleção dos casos a serem incluídos no estudo, primeiramente foi necessário identificar quais organizações da base SIES possuem DAP/PJ, ou seja, são da agricultura familiar.

30 O Grupo Ecosol da Unisinos foi criado em 1999, integrando o Programa de Pós-Graduação em Ciências

Para tanto, lançou-se mão de uma base de dados elaborada pelo então Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) denominada base DAP/PJ histórica31, onde consta o conjunto de organizações que obtiveram registro de DAP em algum momento no período compreendido entre os anos 2005 e 2015, totalizando 6.590 organizações. Entende-se que a identificação das organizações da agricultura familiar a partir da base DAP/PJ histórica torna- se adequada para os propósitos deste estudo, uma vez que, ao mesmo tempo em que contempla o período abrangido pelo segundo mapeamento do SIES, apresenta contemporaneidade e minimiza os efeitos da dinâmica de emissão dos registros DAP/PJ, que possui validade de três anos (BRASIL, 2014).

A partir do cruzamento da base DAP/PJ histórica (6.590 organizações) com a base SIES (19.708 organizações) foi possível identificar organizações da base SIES que possuem DAP jurídica. Este recorte nos dados resultou num conjunto de 946 organizações (CNPJs comuns em ambas as bases). Quanto à forma de organização, 588 (cerca de 62%) são associações, 352 (cerca de 37 %) são cooperativas e 06 organizações, ou seja, aproximadamente 1% estão definidas como sociedade mercantil.

A análise voltou-se para as 352 cooperativas da agricultura familiar vinculadas à economia solidária. A dispersão dos casos nas regiões administrativas brasileiras está apresentada na Tabela 1, que também ilustra a totalidade das cooperativas constantes na base DAP jurídica histórica do MDA.

Tabela 1 – Dispersão dos casos nas regiões brasileiras

Base SIES Base DAP/PJ histórica MDA

Região Nº cooperativas % Nº cooperativas %

Centro-oeste 42 11,9 156 8,5 Nordeste 67 19,0 460 25,1 Norte 39 11,1 209 11,4 Sudeste 21 6,0 307 16,7 Sul 183 52,0 701 38,2 Total 352 100,0 1833 100,0

Fonte: Base SIES 2010-2013. Base DAP/PJ - MDA (2015). Elaboração própria.

31 A base DAP/PJ histórica foi elaborada e disponibilizada pelo MDA em maio de 2015, no âmbito do projeto

“Rede de Universidades na Avaliação do Programa Mais Gestão”. Destaca-se que a medida provisória nº 726, de 12 de maio de 2016, extingue o Ministério de Desenvolvimento Agrário, transforma o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome em Ministério de Desenvolvimento Social e Agrário, transferindo as competências do MDA para este último. O decreto nº 8.780, de 27 de maio de 2016, transfere a Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (SEAD) para a Casa Civil da Presidência da República. Em novembro de 2016, as atividades do projeto Rede de Universidades são oficialmente canceladas por iniciativa da SEAD, sob justificativa de contingenciamento de recursos.

Os dados da base SIES revelam que há uma concentração de mais da metade das cooperativas da agricultura familiar na região Sul, seguida da região Nordeste, com participação menos expressiva (19%).

Analisando os dados relativos à base DAP, constata-se que em 2015 um total de 1.833 cooperativas havia obtido, em períodos distintos, Declaração de Aptidão ao Pronaf Jurídica (DAP/PJ), havendo uma distribuição relativamente menos concentrada dessas organizações nas regiões brasileiras, quando comparada aos dados provenientes da base SIES.

Ressalta-se que esse recorte apresenta uma primeira aproximação aos casos a serem estudados. A definição das variáveis do estudo conduzirá a seleção das cooperativas que irão compor a análise final, remanescendo no estudo apenas os casos que preencham os requisitos necessários no que concerne à presença e qualidade das informações disponíveis para compor os indicadores de recursos, de posicionamento de mercado e de desempenho.