• Nenhum resultado encontrado

PARTE III ELEMENTOS DE CONCLUSÂO 257 9 – CONCLUSÕES

TRANSCLASSISTA E MULTISETORIAL

7.1. Bases legais para ensino, pesquisa, extensão

A dissociação e fragmentação entre ensino - pesquisa - extensão perpassam a história das IES brasileiras. Na história foram construídas várias propostas que consolidam programas de projetos de ensino, pesquisa e extensão de modo indissociável. Este capítulo busca, nas leis e nas propostas, possibilidades para pensar a dimensão da Educação Ambiental na Formação em Educação Física, já que apesar de muitas propostas e implementações positivas, o documento da RUPEA reconhece vários problemas e limites para desenvolver os programas de Educação Ambiental nas IES.

As iniciativas para associar a graduação a sua realidade, ou seja, aos campos de atuação profissional no mundo do trabalho existem desde a década de 1960. A União Nacional dos Estudantes/ UNE, o MEC, o CRUB, entre outros, estiveram envolvidos em ações comunitárias. Em 68, é divulgado pela Lei de Diretrizes e Bases para Educação a (lei nº 5540), a idéia de trabalhar o ensino, a pesquisa e a extensão, porém com caráter ainda tecnicista e fragmentado. Ao final da ditadura militar, abrem-se e fortalecem instituições democráticas como ANDES, UNE e FASUBRA, além do CRUB e ANDIFES, retornando ao debate sobre Projeto de Universidade e a extensão. Em 1987, o I Encontro Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras trazem a discussão para primeiro plano e garantem a construção do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Brasileiras. Inaugurando, assim, um processo de revisão do conceito da extensão e de construção coletiva de uma política de extensão para as universidades públicas, num nível diferenciado. O Fórum retoma as bases do debate sobre a extensão, recuperando e ressignificando as propostas do movimento estudantil da década de 60 e do Plano de Trabalho de Extensão Universitária de 1975, que defendia a indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão na formação acadêmica.

Nos currículos de Formação, a concepção de articulação entre ensino, pesquisa e extensão vem sendo implementadas, em momentos diversos na história das formulações de documentos e leis de diretrizes e

bases para a Formação em Educação Física. O currículo do curso de Educação Física da Universidade Federal de Santa Catarina, de acordo com as Diretrizes do Parecer 01/CNE/CES/2002 e, principalmente, a CNE/CES/07/2004, por exemplo, propõe “articular, de forma indissociável, as atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão” (UFSC, 2006 p. 10) estreitando as relações entre a Pró-reitoria de Extensão e o curso de graduação, já que todas as atividades de extensão passam pelo processo de inscrições e avaliações por esta Pró-reitoria.

Em 1998, o Plano Nacional de Extensão, elaborado no âmbito do Fórum de Pró-Reitores toma sua forma definitiva, é publicado e amplamente divulgado, com o reconhecimento e adesão da Secretaria do Ensino Superior (SESu/ MEC). Seus conceitos e diretrizes básicos ajudam a implementar, nas IES públicas, experiências inovadoras de extensão, que se assentam na busca da institucionalização e da indissociabilidade, bem como na articulação das funções acadêmicas com a sociedade.

Analisando os documentos da UFBA100, instituição relevante nesta

tese, por oferecer a comunidade as ACC´s, que serão analisadas no próximo capítulo, é possível entender a extensão pelos seguintes procedimentos:

“os processos educativos, culturais e científicos, que articulam o Ensino e Pesquisa de formas indissociáveis e viabiliza a relação transformadora entre Universidade e Sociedade. A Extensão é uma via de mão-dupla, com trânsito assegurado à comunidade acadêmica, que encontrará, na sociedade, a oportunidade de elaboração da práxis de um conhecimento acadêmico. No retorno à Universidade, docentes e discentes trarão um aprendizado que, submetido à reflexão teórica, será acrescido àquele conhecimento. Esse fluxo, que estabelece a troca de saberes sistematizado, acadêmico e popular, terá como conseqüências a produção do conhecimento resultante do confronto

100 Cito esta instituição, pois a disciplina analisada nesta tese, chamada Atividade Curricular em Comunidade Cultura Corporal e Meio Ambiente, está vinculada ao departamento de Educação Física e a Pró-reitoria de Extensão da UFBA.

com a realidade brasileira e regional, a democratização do conhecimento acadêmico e a participação efetiva da comunidade na atuação da Universidade. Além de instrumentalizadora deste processo dialético de teoria/ prática, a Extensão é um trabalho interdisciplinar que favorece a visão integrada do social” (UFBA, 2003, p. 6).

A Atividade Curricular em Comunidade - ACC é uma das propostas para trabalhar com a extensão, e constitui uma atividade do projeto piloto da UFBA de reconceptualização dos currículos, a partir do ensino, pesquisa e extensão com base nos seguintes princípios:

• A ciência, a arte e a tecnologia como alicerce nas prioridades do local, da região, do país;

• A sensibilidade aos problemas e apelos, quer através dos grupos sociais com os quais interage, ou através das questões que surgem de suas atividades próprias de ensino, pesquisa e extensão;

• Participação dos movimentos sociais, priorizando ações que visem à superação das atuais condições de desigualdade e exclusão existentes no Brasil;

• Entendimento sobre a população como objeto e sujeito de suas pesquisas, tendo ela, portanto, pleno direito de acesso às informações resultantes dessas pesquisas;

• Prestação de serviços que deve ser entendida como produto de interesse acadêmico, devendo ser encarada como um trabalho social, que se constitui a partir da realidade e sobre a realidade objetiva, produzindo conhecimentos que visa à transformação social;

• Atuação junto ao sistema de ensino público que se constitui em uma das diretrizes prioritárias para o fortalecimento da Educação Básica através de contribuições técnico-científicas e colaboração na construção e difusão dos valores da cidadania.

Também o Fórum de Pró-Reitores de Graduação das Universidades Brasileiras (FORGRAD), gerou o seu Plano Nacional de Graduação. Nesse Fórum, a atenção voltou-se para a definição de novas perspectivas

para as universidades e para os seus cursos de graduação. Um de seus textos propõe que o projeto pedagógico deve garantir uma formação global e crítica, capacitando os profissionais para a cidadania, capazes de transformar a realidade com formulações de respostas para os grandes problemas da contemporaneidade.

Neste sentido, no diagnóstico sobre o ensino superior no Brasil, apresentado no Plano Nacional de Educação destaca-se que a Universidade brasileira:

“... começa a perceber que, no que concerne à graduação, a liberdade acadêmica e a autonomia se traduzem concretamente na possibilidade de apresentar soluções próprias para os problemas da educação superior e não reproduzir fórmulas pré- determinadas. Essas soluções passam, necessariamente, por experimentar novas opções de cursos e currículos, ao mesmo tempo em que alternativas didáticas e pedagógicas são implementadas”(Ibidem, p. 7).

No entanto, em 1996, as formulações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (artigo 43, Lei 9394/ 96) não aproveitam completamente as contribuições contidas nos documentos gerados pelos Movimentos Sociais organizados como, por exemplo, os documentos resultantes dos Fóruns de Pró-Reitorias sobre o ensino, pesquisa e extensão. Mesmo assim, o PNE concretiza em seu documento algumas proposições que se voltam para a extensão, o ensino e a pesquisa como estratégias de formação, que exigem reflexão e ação das IES quanto à avaliação, currículos, temáticas curriculares e planejamento institucional da extensão.

No caso específico da UFBA, isto significou a criação de espaços para atividades curriculares que buscam na comunidade espaços pedagógicos para atuação e formação. Isso, também, significou o espaço aberto para a criação da ACC e de outras atividades de extensão nos projetos pedagógicos de seus cursos.

O Conselho Nacional de Educação (criado pela lei 9131, em seu Parecer 776/CES de 13.12.97), também estabelece orientações para a formulação de diretrizes curriculares, nas quais podem ser verificados

traços que constituem o pensamento atual sobre a configuração dos cursos de graduação, como: assegurar maior flexibilidade na organização de cursos e carreiras, atendendo à crescente heterogeneidade, tanto da formação prévia, como das expectativas e dos interesses dos estudantes, intensificando-se e aprofundando-se a revisão de toda a tradição que burocratiza os cursos e se revela contraditório com as tendências contemporâneas de considerar a boa formação no nível de graduação como uma etapa inicial da formação continuada.

O que pressupõe pensar em um currículo que proporcione ao estudante a capacitação intelectual, profissional, autônomo e permanente, desenvolvido nos espaços de iniciação científica, nos quais pode ser desenvolvida a criatividade e análise crítica.

A conjuntura favorece a oficialização e as condições objetivas para a organização da extensão universitária. Em termos de normatização encontramos:

“A Resolução 02/96 da Câmara de Extensão do Conselho de Coordenação da UFBA, Art. 1 º. Sobre a extensão universitária; A política de reestruturação dos Currículos dos Cursos de Graduação da UFBA, proposta pela Pró-Reitoria de Graduação e aprovada pela Câmara de Graduação em 7/10/99; A Resolução n º 02/00 do Conselho de Coordenação da UFBA, no § 7 º do Art. 8 º. Estabelece a obrigatoriedade de extensão em todos os currículos da UFBA” (Ibdem, p. 10).

O que expressa, para nós, elementos suficientes de legitimação sobre a implantação de atividades de extensão, como a Atividade Curricular em Comunidade. No entanto, segundo Domingues (2005) existem diversos tipos de resistências às transformações necessárias para a estruturação de uma nova “ordem” disciplinar na Universidade, já que a ACC é uma atividade que soma créditos no currículo do graduando.