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Complexos: uma possibilidade para organizar o trabalho pedagógico na dimensão da Educação Ambiental

PARTE III ELEMENTOS DE CONCLUSÂO 257 9 – CONCLUSÕES

TRANSCLASSISTA E MULTISETORIAL

7.4. Complexos: uma possibilidade para organizar o trabalho pedagógico na dimensão da Educação Ambiental

As bases legais de construção do trabalho pedagógico na formação de professores em EF com base no ensino, pesquisa, extensão e gestão são apresentadas e abrem possibilidades para pensar a dimensão da Educação Ambiental.

O sistema dos complexos é uma organização curricular que nos auxilia a pensar em propostas concretas na Formação em EF, eles são considerados relevantes, pois:

1 - Esta nas bases da LDB (Lei 9.394, de 20/12/1996), a organização de ensino por ciclos de escolarização. (Brasil, 1996). E entendemos os ciclos como parte do sistema dos complexos;

3 - Está nos princípios da Educação Ambiental entender a vida a partir da relação entre as partes e do todo, num sistema de complexidade histórica e material.

2 - O conceito de complexo tem sido utilizado amplamente por teóricos na educação como Edgar Morrin (1983), nos estudos sobre meio ambiente e ecologia como Capra (1996), nos estudos de biologia cognitiva com influencias dos estudos de Maturana e outras áreas109.

109 Este autor foi considerado, pois a publicação sobre este sistema é de 1924, antecedendo aos outros escritos sobre este mesmo tema e acompanha a coerência dos primeiros biólogos que explicam o desdobramento da vida por sistemas de complexos, entre eles estão o Jakob Von Uexküll (1909), Humboldt (1847 ), Darwin (1859), na física a noção de fluidez por Alfred North Whitehead (1920), estudiosos da Gestalt finais de sec XVIII e inicio de XIX, como analisados no Capítulos 3.3 e 4.3.

É um conceito amplo e que em áreas distintas assumem especificidades, mas que guarda definições fundamentais comuns. Destacaremos esse conceito no campo da pedagogia.

O trabalho de Pistrak (2000)110 é um dos pioneiros111, em termos cronológicos, que pensaram o funcionamento do ensino a partir da noção de complexos nos auxilia no entendimento de uma proposta pedagógica em Educação Física com aproximações a dimensão da Educação Ambiental.

O complexo é uma forma de organizar os conteúdos no ensino de modo que articula os objetivos do ensino a uma formação política, ou seja, busca a atuação na sociedade, tendo em conexão:

• Os objetivos do estado; • Os valores;

• A ética;

• A conduta, que em coletivo caracterizam uma determinada sociedade;

• Os objetivos da educação como um todo; • As preocupações cognitivas de formação; • Objetivos da instituição;

• O engajamento com as necessidades locais;

• Articulação de disciplinas aos objetivos de uma determinada disciplina.

Esta é uma base geral para organizar o processo pedagógico coerente com um processo de formação humana que interfere na ação de política em sociedade.

O tratamento de uma disciplina, como no caso de uma disciplina qualquer, ligada a dimensão da Educação Ambiental na Educação

110 O sistema dos Complexos de Blonsky, Pinkevich e Krupskaia estão em consonância com o trabalho de Pistrak (2000) e nos chama atenção, pois concentra os complexos em três eixos: a Natureza, o Trabalho Produtivo e as Relações Sociais.

Física, se conecta com o todo da instituição e com a proposta política assumida pelo programa de ensino. Ao mesmo tempo, todas as outras disciplinas estarão compondo juntamente um quadro de formação, onde cada parte contribui com o todo. As interações entre as partes proporcionam uma organização do processo pedagógico totalitário. Uma mudança pontual na estrutura curricular representa apenas uma mudança fragmentada e, por isso, quando se pensa em alterar um currículo com a adição ou supressão de uma disciplina, o todo estará envolvido nestas mudanças e uma reavaliação do processo de formação pode auxiliar em mudanças fundamentais, coerentes e não fragmentadas. Por isso, falar de complexos nas diretrizes pedagógicas para uma disciplina, baseada no ensino, pesquisa, extensão e gestão, é coerente, quando se quer um trabalho amplo e interdisciplinar. A produção científica, neste caso, assume um novo valor:

• A ciência é um meio de conhecer e transformar a realidade de acordo com os objetivos gerais da instituição.

• Há um reconhecimento que os laboratórios são partes artificiais da realidade, e que, por isso, o estímulo a experiência na realidade, fora dos muros das IES, é uma oportunidade para conhecer os conteúdos e sua inserção no mundo.

• A qualidade dos conhecimentos e não apenas a quantidade deve ser valorizada, oferecendo subsídios para apropriação de métodos científicos para análise das manifestações da vida moderna.

A ciência com outro valor redimensiona, também, as disciplinas, abrindo possibilidades de agrupamentos independentes em torno dos principais temas de estudo, organizando-se dentro da instituição para estudar o mesmo “conteúdo”, que é a realidade poliédrica112.

112 Objeto ou figura que tem mais de três faces.

Figura 3 – Uma representação de poliédrico

As mudanças estruturais envolvem a participação de professores, funcionários, estudantes. É uma reestruturação, também, de gestão institucional, como sugere as diretrizes para a dimensão da Educação Ambiental no Ensino Superior (RUPEA, 2007). Os sujeitos que organizam a instituição, e cada uma das disciplinas, constroem essa estrutura e por elas mesmas são alteradas. Portanto, é pelo processo de ressignificação da organização do trabalho pedagógico que as estruturas são alteradas. O não envolvimento de cada um dos sujeitos nestes processos desencadeia processos diversos de fragmentação do todo.

Essas mudanças de cada um dos sujeitos participantes estão atreladas, então, a uma unidade, a unidade teórico-metodológica, que não representa uma cartilha fechada a ser seguida. Por outro lado, também não é uma orientação completamente aberta às experiências contingentes que formam aleatoriamente um todo com uma unidade. Os processos se fazem na construção de organizações de principais fundamentos, conceitos, dos valores, objetivos comuns e finalidades. Delineando as ações pedagógicas livremente em torno de um propósito comum.

Para isso alguns passos são sugeridos com base nos estudos de PISTRAK (2000):

• Critério de seleção de disciplinas, que revisa as disciplinas e confirma a necessidade de cada uma delas;

• O caráter pedagógico de cada disciplina, valorizando e enfatizando o eixo central do processo pedagógico do curso; • A valorização da técnica e da tecnologia, a necessidade de estudar as ciências biológicas em relação à produção;

• Relações intersubjetivas, indispensáveis para a união de todo os participantes das disciplinas para os programas escolares.

O ensino é então um sistema que se organiza como a teoria dos sistemas (LORENZ apud CAPRA, 1996). A forma espacial é uma espiralidade aleatória, a relação entre as disciplinas vão compondo um arcabouço que amplia e ao mesmo tempo aprofunda os conhecimentos interligados entre si pela própria realidade. Essa realidade é a aproximação com a comunidade local. A instituição é um centro comunitário de produção e formação, que aproxima a teoria da prática pedagógica.

Cada disciplina avalia os seus objetivos, as formas de produção do conhecimento e elaboração de planos de trabalho. A unicidade pode ser mantida pelo oferecimento de programas de cursos e planos aplicáveis em todas as circunstâncias, ou seja, oferece as linhas gerais, as diretrizes essenciais, na qual cada parte adapta as condições gerais com as suas condições específicas.

Em relação aos programas gerais dos cursos de Educação Física são considerados os seguintes elementos:

• Conter a relação entre as disciplinas de ensino e as atividades no mundo, docência (FREITAS, 1996) em sua forma diversa, ou seja, incentivar as ações que transformam a realidade;

• Formulações programáticas que mantenham a harmonia e autonomia;

• Considerar a auto-organização do aluno;

• Organizar o processo pedagógico segundo um único determinado trabalho social, havendo uma relação entre os programas e o trabalho em espaços diversos como clubes, festas, concertos, reuniões;

• Indicar em que medida o programa, a prática pedagógica pode ser vinculados as mobilizações sociais;

• Englobar todas as atividades das comunidades, formando um feixe das diversas formas de atividade ligadas, entre si, pelos objetivos gerais da educação, passa então a ser um plano de vida. O processo de formação, nesta perspectiva, é um plano de vida que passa do ensino informativo para o processo de educação para emancipação. Que requer uma elaboração com antecedência, considerando as condições específicas de cada momento, de cada lugar. Integrando-a ao todo pelos objetivos gerais assumidos coletivamente. Este planejamento facilita a avaliação dos dados fornecidos por cada uma das disciplinas auxiliando na identificação, por exemplo, da sobrecarga de atividades, principalmente nos projetos de extensão. A vida extra-Universidade, também é uma atividade formativa e pode ser considerada como conteúdo, dentro de uma perspectiva mais ampla de Universidade, aproveitando atividades próprias da sua cultura. Como ocorre no caso que será analisado posteriormente da ACC.

Esta prática pode aproveitar as atividades próprias de cada estudante permitindo até, por vezes, subsumir algumas disciplinas e ampliar o tempo de outras atividades.

O conhecimento sobre a realidade, local e global, envolve todo o processo pedagógico em, uma dinâmica econômica e política da vida através de dupla ação: conhecer os programas e propostas de governos e buscar formas inovadoras para adaptar programas em cada parte disciplinar determinada.

Em geral toda essa proposta é esquematizada por Pistrak (2000) no chamado sistema dos Complexos, que não é um método, mas sim uma organização do programa geral de ensino. O método não se adéqua, pois ele oculta a linha de demarcação entre a antiga situação e a atual, ele engessa o presente, passado e futuro em técnicas previamente elaboradas e simplificadas113.

Dentro dos complexos, a organização do programa pressupõe uma dinâmica dialética. Há uma valorização das evidências de relações recíprocas existentes entre os aspectos diferentes das coisas, esclarecendo os fenômenos no tempo e espaço determinado. O sistema

de complexos consegue oferecer certa organização do processo pedagógico para a formação e a compreensão da realidade atual.

A organização do processo pedagógico, pelo sistema dos complexos, articula-se em torno da escolha do fenômeno, a forma de estudar cada tema de complexo, a organização do ensino, segundo o sistema dos complexos, e a organização do trabalho pedagógico, pode ser sintetizada nos seguintes passos:

Seleção de temas do Complexo que é realizada a partir das

tendências do esquema do programa geral, o objeto deve ser de grande importância e alto valor social. Ele é o meio de desenvolvimento da compreensão da realidade atual, incentivando a compreensão de todos os fenômenos como uma rede. O critério para seleção do tema deve ser procurado no plano social, conservando uma relação entre os temas de complexos sucessivos, formando uma série de elos, crescentes e decrescentes, contínuos e descontínuos, que conduz à compreensão da realidade atual. Os temas encadeiam-se, numa ordem determinada, possibilitando uma ampliação gradual no horizonte do estudante.

Cada complexo pode ser analisado de duas formas: como assunto preciso, delimitado, ou como um assunto principal, encadeado por múltiplas relações a toda uma série de outros fenômenos não menos importantes. Dessa forma, o próprio sistema dos complexos absorve toda uma série de fenômenos, e impede a subestimação das relações entre os complexos, obrigando a sua apresentação sob forma de uma espiralidade única que se desdobra gradualmente.

A organização do ensino, pelo sistema dos complexos, possibilita a

organização do processo educativo sob o prisma do movimento da vida, poliédrico, contraditório e histórico. A simples aplicação, sem consideração das condições fundamentais, da vida, relativas à seleção de temas, o torna vazio. Pois, a disciplina funciona independentemente, mas ao mesmo tempo absorve a subordinação de todas as disciplinas pelo sistema dos complexos, que deve fazer sentido e significado para todos os participantes.

O tempo dos complexos também pode variar, e não mais ser

preestabelecido por cargas horárias. Por exemplo, com temas que requerem maior profundidade e conhecimento, o tempo para atividades de maior complexidade pode ser desenvolvido em uma variação mais

ampla do que aqueles apropriados e resolvidos com simplicidade e superficialidade. Conforme o complexo se aprofunda, as generalizações ocupam cada vez mais a atenção e o fenômeno dado, assume cada vez mais o valor de ponto de parida, englobando cada vez mais partes amplas de uma realidade atual. O objetivo final está relacionado aos estudos do próprio fenômeno, na sua correlação interna, na lógica interna do seu desenvolvimento, para finalmente alcançar a síntese integral dos fenômenos que o relacionam.

Na organização da prática e da teoria na Formação em Educação Física na dimensão da Educação Ambiental, o tempo está associado às necessidades dos problemas ou temas identificados na realidade. Redimensionando a noção de tempo fragmentado para a construção de um tempo contínuo e significativo.

Pistrak (ibdem) explica que no início o complexo compreenderá um grupo contínuo de ensino em torno de temas precisos e depois se configura em um trabalho sobre questões diversas simplesmente subordinadas a uma idéia geral: ao tema selecionado como complexo. Assim, quanto mais se avança, mais complicado é o processo para garantir a atenção e desenvolver o trabalho em uma única fonte por mais tempo.

Nos complexos, o tempo pedagógico não está subordinado às disciplinas, mas às exigências dos fenômenos, temas estudados. Por isso, não é simplesmente adequar as diversas disciplinas, cada uma com seu objeto, tentando em cada parte específica contribuir com o conhecimento geral.

É indispensável cada disciplina identificar seu próprio objeto de estudo, e definir qual é a metodologia mais adequada para desenvolver um trabalho que alcance objetivos específicos. Sendo que, o objetivo específico das disciplinas é subordinado aos objetivos gerais do programa, e esses objetivos organizam a escolha e a distribuição das disciplinas, que influenciam todos os níveis da organização das disciplinas, reorganizando todos os eixos sucessivos dos complexos114.

Não há a idéia do curso sistemático em geral, e não são construídas soluções definitivas dos problemas, a ordem do curso deve ser definida

segundo os objetivos gerais definidos pela organização das disciplinas em complexos.

No processo de Formação em EF, o professor poderá então decidir sobre o lugar a ser ocupado e o papel a ser desempenhado por sua especialidade no tema geral e no coletivo. É indispensável uma forte solidariedade entre todos os educadores, a subordinação das necessidades gerais de cada especialidade aos objetivos gerais de ensino.

Neste coletivo, também, participam o estudante. Em coletividade é construída toda a proposta. Inicialmente por uma apresentação do sistema, de cada especialidade e do princípio da unidade, que incentiva a compreensão dos nexos entre o programa, seus conhecimento e a realidade, para posteriormente, proporcionar ao final do trabalho a captação do encadeamento interno de todo o complexo. Não somente os conteúdos, mas a forma. O balanço geral é feito com o objetivo de revisar os conhecimentos adquiridos e levá-lo a perceber os resultados do trabalho e as relações existentes entre os conhecimentos adquiridos.

A avaliação processual e também ao final do trabalho do complexo identifica o que foi construído, quais os pontos que foram conquistados, até o momento, e quais precisam ser avançados.

Veremos no próximo capítulo sobre a prática pedagógica como se organiza este sistema de complexos na Formação de professores de modo interdisciplinar partir do ensino, pesquisa, extensão e gestão.

Entender uma organização geral de um curso de Formação por sistema dos complexos se faz necessária, mesmo quando queremos analisar os processos pedagógicos apenas de uma disciplina articulada com a Dimensão da Educação Ambiental, pois como vimos anteriormente, inserir uma disciplina com este caráter implica pensar na articulação entre todas as formas de organização que envolve um curso superior. Veremos adiante como está organizada uma disciplina na Formação Profissional na dimensão da Educação Ambiental.

8 - A TEORIA E A PRÁTICA: ANÁLISES DA ACC