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Capítulo 3 – O bairro e a rádio

4.3. Repensando a(s) identidade(s)

4.3.2. Bauman e a identidade na modernidade líquida

Viver em uma época líquidomoderna implica, no mínimo, levar em conta uma de suas características fundamentais, ou seja, a fluidez. Para Bauman (2005) a metáfora da fluidez permite captar melhor a atual fase da modernidade.

Opondo o líquido ao sólido, o autor chama a atenção para algumas mudanças ao nível estrutural ocorridas na sociedade que lhe permite defender a ideia de que estaríamos i e doà u aà ode idadeà lí uida .à Oà lí uidoà p essup eà aà fluidez,à u aà deà suasà características principais, e este, quando submetido a alguma tensão, pode mudar e tomar outras formas. Assim, é de sua própria natureza estar sempre em fluxo, se reordenando em estruturas que não possuem mais a solidez de antes. O sólido, por sua vez, possui uma espécie de liga que mantém a coesão de suas partes; o líquido, com sua fluidez, pode se mover facilmente; eles, segundo Bauma à ,àp. ,à es o e ,à es ae -se ,à espi ga ,à

t a s o da ,à aza ...à .à

Bauman se questiona se essas características não são próprias da modernidade e se elasà oàest oàp ese tesàdesdeàoàseuà o eço;àpai a doà o oàu à espí itoà ode o ,à o oà algo que tomava a todos e os impelia a questionar os valores da tradição, por fim, a se e a ipa .àá uiàsu geà o a e teàaà et fo aàdosàs lidosàseàdesfaze do:à tudoà ueà às lidoà des a haà oà a .à áà dife e çaà – em relação a nossa modernidade líquida – era que no lugar dos antigos sólidos eram construídos outros sólidos; os quais se tinham a pretensão

que durassem para sempre porque seriam mais perfeitos e promoveriam a ordem e um maior controle social.

A metáfora procura traduzir de forma didática algumas das características de nossa época atual. O fluido e o líquido nos lembram a sua condição de mobilidade ou de uma estabilidade provisória que pode ser abalada facilmente. E assim Bauman afirma que

estamos passando agora daàfaseà s lida àdaà ode idadeàpa aàaàfaseà fluida .à ... à num ambiente fluido, não há como saber se o que nos espera é uma enchente ou uma seca – é melhor estar preparado para as duas possibilidades. Não se deve esperar que as estruturas, quando (se) disponíveis, durem muito tempo. Não serão capazes de agüentar o vazamento, a infiltração, o gotejar, o transbordamento – mais cedo do que se possa pensar, estarão encharcadas, amolecidas, deformadas e decompostas. (BAUMAN, 2005. pp. 57-58.)

Esta condição de provisório que se apresenta na vida líquidomoderna se estende para outros campos da vida cotidiana. No que diz respeito a identidade, Bauman (Idem, p.30) afirma que s à ua doàestaà pe deàasà o asàso iaisà ueàaàfazia àpa e e à atu al ,à predeterminada e inegociável, a identificação se torna cada vez mais importante para os i di íduosà ueà us a àdesespe ada e teàu à s àaà ueàpossa àpedi àa esso .à

Na sociedade de classes, a identidade estava intimamente ligada a uma biografia, ou seja, uma trajetória de vida do indivíduo; a soma de todos os seus atos durante toda a vida. Segundo Bauman (Idem, p.56) adaà lasseàti ha,àpode osàdize àasàsuasàt ilhasàdeà a ei a,à sua trajetória estabelecida de maneira clara, sinalizada ao longo de todo o percurso e pontuada por acontecimentos importantes que permitiam aos viajantes monitorar seu p og esso .àà

Na sociedade liquidomoderna, as relações pessoais assumem formas mais flexíveis, mais maleáveis. Portanto, há uma mobilidade maior das identidades; há também uma maior experimentação, uma vez que, o que antes se apresentava como um impedimento para o i di íduoàp esoàaàu aà iog afiaà oe e te ,àhojeàj à oàoài pedeà ais,àseà de eteu àdeàsuaà condição sólida. Esse processo de (eterna) busca de uma identidade, nos dias atuais, torna claro uma ambiguidade:

Embora possa parecer estimulante, no curto prazo, cheio de promessas e premonições vagas de uma experiência ainda não vivenciada, flutuar sem apoio u àespaçoàpou oàdefi ido,à u àluga àtei osa e te,àpe tu ado a e te,à e - um-nem-out o à to a-se a longo prazo uma condição enervante e produtora de ansiedade. Por outro lado, uma posição fixa dentro de uma infinidade de possibilidades também não é uma perspectiva atraente. (BAUMAN, 2005. p. 35.)

Para Bauman, o rápido processo de globalização que atinge o mundo tem um papel fundamental em toda essa configuração. Vista como algo inevitável, o problema, segundo o sociólogo, seria o de procurar formas que nos permitam um maior controle do avanço selvagem e das consequências de um mundo globalizado. Dessa forma, a sociedade atual (líquidamoderna) apresenta mudanças em suas estruturas que a distanciam do tipo de organização social das sociedades tradicionais.

Esseàfatoàfazàoàso i logoàseà uestio a àseàse iaàjustoà e o e àaosà paisàespi ituaisàdaà so iologia àso eàu àtema que surgiu com toda a sua força muito tempo depois deles terem morrido. Segundo Bauman, o grande legado dos autores clássicos foi o de terem investigado a fundo os problemas, tribulações e preocupações de seu tempo. A identidade, tema que hojeà est à a oda ,àai daà oàseàap ese ta aà o àu àp o le aàpa aàu aàpes uisa.

Hoje, viver na atual sociedade pressupõe uma certa desenvoltura do indivíduo (bem maior do que a do flâneur) para se adaptar a este nova ordenação social e os novos tipos de relações que emergem dela. A sociedade líquidomoderna não conseguiu abolir as contradições típicas da modernidade; pelo contrário, parece tê-las acentuadas mais ainda, principalmente no campo das experiências individuais.

Se ter uma identidade fixa não é algo atraente, mas, por outro lado ficar solto, flutua do à se à u à apoioà fi oà ausaà a siedade,à estaà ago aà aà possi ilidadeà deà experimentação ad infinitum das identidades disponíveis. Assim como as estruturas não duram muito tempo, pois, segundo Bauman (2005, p. 57), ela oà se oà apazesà deà ague ta àoà aza e to,àaài filt aç o,àoàgoteja ,àoàt a s o da e to ,àasàide tidadesàta à o.àJ à ue,à aàsuaà o diç oàp o is ia,àasàide tidades,àpa aàBau a à ,àp.à à s oàpa aà usa àeàe i i ,à oàpa aàa aze a àeà a te .

4.3.3 A experiência com a rádio comunitária foi relevante para a construção das