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Capítulo 2 – Juventude

2.3. Jovens na política: o movimento de rádios comunitárias

As interfaces entre juventude e política também dizem respeito a esta pesquisa na medida em que se empenha em analisar oàsig ifi adoàdaà elaç oàe t eàjo e sàeà o i e toà sociais (mais especificamente o movimento de rádios comunitárias) e seu reflexo na área dos valores constituintes das identidades sociais dos indivíduos.

Sendo assim, nos propomos a tecer algumas considerações sobre a participação de jovens no movimento de rádios comunitárias41 problematizando questões como: as demandas do movimento, o fascínio dos jovens pelo rádio, preferência por programas, usos políticos do rádio e as formas de atuação dentro do movimento.

Qualquer movimento reclama o exercício de algum direito político, social ou um melhoramento das condições de vida de seus participantes. A isto chamam de demanda. É a ação de procura; de busca por algo o qual se tem necessidade, precisão. A questão chave é: qual o tamanho da necessidade que se apresenta para cada indivíduo que compõe o movimento?

É claro que não há como medir isso em qualquer mobilização que seja, mas a resposta para esta pergunta revela o grau de envolvimento de cada um agrupado. Poderíamos dizer ainda que as demandas (de qualquer movimento) são como uma via de mão dupla: se por um lado o movimento requer do indivíduo uma participação, por outro, o indivíduo também tem sua demanda (ou interesse) pessoal, ou seja, aquilo que ele procura obter dentro do movimento. Mas, ainda é possível que ele esteja apenas transitando em busca de algo que lhe chame a atenção.

No movimento de rádios comunitárias as demanda são enormes, gigantescas. Conseguir a outorga em Brasília requer, além de tudo, muita paciência: a autorização federal para o funcionamento da emissora, dentro dos marcos da lei, pode levar alguns bons anos. Desta forma, se a demanda dos indivíduos não for maior que o esforço aplicado na demanda do movimento, este não poderá contar com o empenho necessário de suas partes constituintes para o seu bom funcionamento.

Nas três emissoras que conhecemos para a nossa pesquisa42, pudemos perceber um grande número de jovens participando na programação e envolvidos nas mobilizações do movimento de rádios comunitárias local. A explicação para a atração dos jovens pela rádio

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Relato que tem como base a observação na pesquisa de campo e textos lidos durante a pesquisa.

42 Rádio Diversidade, no Jardim Veneza; Rádio Independente, no Timbó e a Rádio Voz Popular, na comunidade

pode ter origem diversa: a oportunidade de se comunicar, de mandar uma mensagem; de se ia àu aàide tidadeàdoàtipoà euàsouà adialistaàouàoàap ese tado àdeàtalàp og a a ;àfaze à uso da rádio em prol do bairro ou até mesmo por status.

Os programas apresentados pelos jovens revelam suas preferências que ora podem se identificar com programas esportivos, programas religiosos, programas musicais e programa político. Há também os de caráter informativo que buscam discutir questões ligadas à cidadania, aos direitos do cidadão e que têm como objetivo tornar a comunidade mais bem informada de seus direitos e deveres.

São os programas que vão dar a característica peculiar da rádio. O nível de participação da população local na programação da emissora serve de medida para saber o quanto a emissora trabalha com a diversidade de expressões do bairro. Os programas são apresentados de forma espontânea, de maneira que os moradores/apresentadores utilizam a linguagem informal, fruto de seu repertório cultural que parece não distinguir a rua da rádio.

Os jovens apresentadores privilegiam as músicas de sua preferência, mesclando com as que são pedidas durante o programa. Fazem uso de gírias como forma de se comunicar com seus pares que estão lhe ouvido. Aqueles que ainda não se familiarizaram com a locução, podem fazer parte do quadro da emissora operando programas apresentados por outros locutores.

É possível se fazer uso político de qualquer meio de comunicação e com as rádios comunitárias não é diferente: reivindicações de melhorias para o bairro, campanhas de esclarecimento e até mesmo o uso político da rádio por políticos envolvidos com a emissora. No caso de observância deste último caso, a rádio passa a descumprir a lei 9. 612 de radiodifusão comunitária.

Por fim, podemos distinguir dois tipos de experiências com a rádio e que podem ser agrupadas a partir de duas categorias: 1) a experiência do engajamento; e 2) a experiência da prática radialística. Na experiência do engajamento, se agrupam aqueles que participam de manifestações, organizam eventos comemorativos e de protestos, estudam a legislação da comunicação, demonstram conhecimento das leis em suas falas etc.

Por outro lado, na experiência da prática radialística temos aqueles que apóiam a ideia e acham a rádio de extrema importância para a comunidade, mesmo assim mantêm uma certa distância das atividades que exigem um envolvimento político mais prático. Estes

se reservam a apresentar programas e a oàpa ti ipa àpo à o pleto,àaà oàseàe t ega àaoà movimento, seja por desconfiança, falta de tempo entre outros motivos. Suas ações no campo de atuação do movimento são mais limitadas. Retomaremos e aprofundaremos esta questão com mais detalhes no capítulo 4.

Esboçamos aqui, em linhas gerais, alguns pontos relativos à participação dos jovens no movimento de rádios comunitárias. Vale lembrar que o que relatamos pode variar de emissora para emissora, além, é claro, da política interna de cada uma delas.

No próximo capítulo, nos ocuparemos mais detalhadamente à atividade dos jovens junto a rádio do bairro Jardim Veneza. Com isso, queremos destacar a trajetória da emissora no bairro, suas lutas e as relações de sociabilidade que se entrelaçam no plano do cotidiano naquela localidade.