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Capítulo 1 – Das rádios livres às rádios comunitárias

1.4. Rádios comunitárias e movimentos sociais

Os movimentos sociais emergem - para usar a expressão de Berman (2007, p. 24-25) – doà tu ilh oà daà idaà ode a .à Esseà tu ilh oà ode o à p o eteà a e tu a,à pode ,à alegria, crescimento, autotransformação e transformação das coisas em redor – mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que temos, tudoà ueàsa e os,àtudoà ueàso os .ààásà promessas de felicidade e emancipação garantidas ao homem moderno13, não se concretizaram em sua totalidade e contrastam com a atual sociedade marcada por profundas desigualdades sociais e por um crescente número de marginalizados pela globalização.

Para Bauman (2005, p.47)

oà p ese teà est gioà pla et io,à oà p o le aà doà apitalis o ,à aà disfu ç oà aisà gritante e potencialmente mais explosiva da economia capitalista, está mudando da exploração para a exclusão. É esta exclusão, mais do que a exploração apontada por Marx um século e meio atrás, que hoje está na base dos casos mais evidentes de polarização do social [...].

É assim que, o aprofundamento das desigualdades sociais, o fechamento dos canais de participação política, as restrições das bases sociais do Estado e a exclusão – das camadas populares – dos processos de produção midiático tem sido (principalmente na América

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latina) alvo de críticas dos agentes sociais que, ao longo da história, estão à margem em relação à economia dominante.

Desta forma, é a partir do final dos anos 60 que os movimentos sociais invadem a esfera pública com suas mais diversas bandeiras de lutas. Laclau (1983) ao analisar os novos movimentos sociais na América Latina e as novas formas assumidas pelo conflito social neste continente, procura fazer uma reflexão a partir da nova configuração e dimensões que estes movimentos tomaram. Segundo este autor (1983, p. 04), há uma pluralidade do social em ueà aà p olife aç oà destasà o asà fo asà deà luta resulta da crescente autonomização das esfe asàso iaisà asàso iedadesà o te po eas .

A passagem de reivindicações centrada na esfera político-econômico para a esfera cultural ampliou as demandas dos novos movimentos. Em relação aos movimentos ligados ao campo da comunicação radiofônica, Matos (2006, p. 58) lembra que é a partir da década de 40 que vai haver uma reorientação do uso do rádio em que este passa a assumir novos contornos que não estão ligados apenas ao entretenimento. Novos atores sociais vão ei i di a à oà di eitoà sà o dasà eà e t aà e à e aà aà id iaà deà u i à o ilizaç oà eà a ti ulaç oà social com comunicação. Ao ser proposta esta articulação as posições receptor-emissor são

olo adasàe à uest o .à

Matos cita como exemplo algumas experiências com radiodifusão na América Latina a partir de 1947, como a Rádio Sutaneza fundada pela Igreja Católica e grupos de camponeses com o objetivo de trabalhar com a alfabetização à distância e o desenvolvimento rural. Outro exemplo são as rádios sindicais bolivianas ligadas ao sindicato de trabalhadores mineiros deste país.

Com o domínio de uma tecnologia simples, novos atores sociais passaram do anonimato ao movimento em prol da democratização das mais diversas vozes excluídas dos processos comunicativos. Segu doà Vize à ,à p.à à ... à oà pa adig aà e e ge teà doà século XXI vai demarcando novos modos de relação entre a militância, novas formas de ati is oàso ialàeàosà eiosàdeà o u i aç o .àÉàassi à ue,àdeà eadosàdosàa osà àeàdu a teà toda a década de 80, explode em todo o mundo, entre as camadas populares, o desejo de se comunicar via ondas de rádio.

No Brasil, neste mesmo período, o que em um primeiro momento era mera diversão, possibilitada pelo acesso fácil a tecnologia do rádio, vai se transformando em movimentos de protestos que levantaram a bandeira da democratização dos meios de comunicação.

Assim, o que antes era objeto de desejo, para uns, se transforma em objeto de medo, para outros:

O desejo de apropriar-se do instrumento material do poder simbólico da língua e das imagens, como o que se apropria de um campo de mentes e de subjetividades pa aà ulti a -lhe à o àasàpala as,àasàid iasàeàaài age à ueàaàp p iaàfa tasiaàdoà pode àdesejaài stala à oà Out o .àE,àpo àsuaà ez,àoà edoàdeà ueàesseài st u e toà de poder seja possuído por esse outro, pondo em evidência pública o que os poderosos desejam ocultar (VIZER, 2007. p. 24).

Éà esseà edoà doà out o à ueà te à fu da e tadoà asà aisà di e sasà fo asà deà repressão incentivadas por empresários da mídia comercial e amparadas pelo Estado. Por sua vez, entre alguns segmentos da sociedade civil, tem aumentado o sentimento de que a comunicação (através dos meios como o rádio) não é social, ou seja, não pertence a todos, não é pública e nem mesmo coletiva14. Esse sentimento, por sua vez, tem fornecido motivos para ações do tipo de desobediência civil e organização de forças contra-hegemônica no seio do Estado desafiando abertamente a ordem instituída.

A repressão cotidiana as radcom – tanto por parte do Estado, através da ANATEL e Polícia Federal; como por parte dos empresários do setor da mídia comercial, através da ABERT – tem mostrado a necessidade de uma maior organização do movimento de rádios comunitárias em todo o país. Este, por sua vez, é um tipo de movimento que, se não altera a lógica dominante, pode, a partir de suas ações no plano do cotidiano, obter pequenas conquistas – a Lei 9.612/98 é um exemplo.

Em relação à cidade de João Pessoa, a entidade representativa dos militantes em prol de uma comunicação plural é a ABRAÇO-PB. Coordenada por José Moreira, a entidade tem procurado agregar o maior número possível de membros na discussão e debate de suas demandas. Talvez o momento em que isso tenha se dado de forma mais intensa foi durante as reuniões do Fórum Metropolitano de Rádios Comunitárias que acontecia uma vez por mês no Sebo Cultural de João Pessoa.

Nas reuniões do fórum, vários militantes do movimento de Radcom local debatiam assuntos pertinentes ao universo da comunicação comunitária e tiravam dúvidas. As reuniões possibilitavam uma maior aproximação entre os radialistas comunitários e tornava comum o problema enfrentado por cada emissora em seu respectivo bairro. Com o fim das

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reuniões do fórum, perdeu-se também esse lado extremamente positivo dos encontros e debates, restando apenas alguns eventos pontuais que, vez por outra, são organizados pela entidade.

Os movimentos sociais são fenômenos históricos fruto de uma sociedade desigual que tem ao longo dos anos procurado meios que possam reduzir as diferenças políticas, e o i asà eà so iais.à Co oà le aà Goh à ,à p.à ,à e ua toà aà hu a idadeà oà resolver seus problemas básicos de desigualdades sociais, opressão e exclusão, haverá lutas, ha e à o i e tos .

1.5. Movimento de Radcom local – entidades representativas, formas de organização e