• Nenhum resultado encontrado

2 A CRIAÇÃO DA LEI N º 10.639/003 E A MOTIVAÇÃO DOS KITS DE

4.4 Obras infantis de Mia Couto selecionadas para os KITs

4.4.2 O beijo da palavrinha

Sabendo do empenho de Mia Couto em explorar a língua de seu país, temos algumas estórias narradas por ele, classificadas pelo mercado editorial como literatura infantil, que mostram como a língua portuguesa é vivenciada pelo autor. Partindo desse pressuposto, podemos ver que a inclusão destas obras infantis nos kits é muito preciosa, pois pode permitir o conhecimento sobre a diversidade que um mesmo idioma assume em diferentes lugares do mundo. Ao mesmo tempo, livros escritos em português um pouco diferente do nosso podem motivar a formação de opinião, de busca de informação e construção de saberes sobre a história e cultura africana que a Lei nº 10.639/2003 propõe como ofertas aos alunos nas redes de ensino.

O livro de Mia Couto, O beijo da palavrinha22, que vamos analisar foi

publicado no Brasil em 2006, pela editora Língua Geral numa coleção denominada “Mama África”, cujo objetivo está descrito na contracapa:

[...] resgatar contos tradicionais africanos, recriados por alguns dos mais importantes escritores do continente, e ilustrados por nomes igualmente sonoros das artes plásticas. Livros, portanto, que juntam a arte à literatura, e a tradição à modernidade. Livros para as crianças, mas também para os seus pais. Livros para colecionar. (COUTO, 2006a, contracapa do livro).

O livro traz ilustrações do premiado artista moçambicano Malangatana Valente, recentemente falecido, e conta uma história que se passa em uma aldeia no interior da África, onde vive uma menina de origem muito pobre que adoece e morre. Nesta narrativa, a palavra mar vai beijar a menina no seu leito de morte. Essa pequena palavra e o seu singelo gesto vão nos guiar por um enredo de muita interação com os personagens Zeca Zonzo e Maria Poeirinha, irmãos na dor, amor e solidariedade.

As ilustrações são constructos que interagem intensamente com o enredo, são desenhos de figuras humanas com semblantes tristes e desconfiados que se opõem às conhecidas ilustrações de livros infantis, que apresentam tons suaves. Em seguida, as ilustrações ficam em tom vinho denotando o momento de aproximação

22

A história é apresentada sem paginação, houve a necessidade de numerá-la para fins de citação, iniciando-se o número um na primeira folha da história até a última folha ilustrada, perfazendo um total de 26 páginas.

com a morte; posteriormente, na passagem da menina para outro plano da vida, as ilustrações assumem os tons azuis.

Ainda sobre a forma textual em que se apresenta a narrativa, temos frases com caracteres bem pequenos misturadas a outras enormes, mesclando os momentos em que os personagens e suas ações são mínimas, com alguns fatos maiores que independem de suas forças. Além disso, há toda uma disposição textual que quer indicar o sentimento ou ação do que se quer narrar. Uma organização textual que remete à poesia:

Figura 3 – Forma textual do livro O beijo da palavrinha

Fonte: COUTO, Mia. O beijo da palavrinha. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2006a.

A motivação para que esta obra esteja no kit vai ao encontro de um primeiro critério para seleção de obras, que é a exigência de inclusão de autores de literaturas do continente africano, buscando com esta inclusão desconstruir uma série de inverdades sobre o continente. O fato de Mia Couto ser branco já contribui para desconstruir a visão de que todo africano é negro e para se afirmar sobre o perigo de se pensar identidades únicas.

O enfoque na desconstrução de estereótipos é uma característica marcante que merece atenção quando analisamos materiais pedagógicos das escolas, principalmente os livros didáticos. Embora o kit analisado neste estudo não seja composto de livros didáticos, ele, como material distribuído pela SMED/BH para fins de ensino em escola, adquire o peso de material de apoio às disciplinas que aplicarão a Lei nº 10.639/2003.

Quanto à importância da informação imparcial sobre as etnias, em materiais de ensino, Lopes (2014) nos alerta que:

O negro e o amarelo nunca são mostrados como elementos constituintes da cultura europeia, isto é, não existe o negro europeu ou amarelo europeu. Quando se diz africano quer dizer negro, ou asiático quer dizer amarelo; assim, elabora-se uma identidade única para cada etnia permanecendo seus estereótipos. No entanto, quando se narra a África e Ásia, o branco é mostrado por diversas etnias bem assinaladas para que fique bem delimitada a cultura de cada etnia. (LOPES, 2014, p. 65).

Mia Couto, um escritor moçambicano branco, sempre está a provocar o estranhamento dos que, como acentua Lopes (2014), acreditam que “quando se diz africano quer dizer negro”. Ainda, segundo Lopes (2014), as cores dos personagens não podem influenciar nas suas características psicológicas ou justificar seus atos. O poder dado à escrita como libertadora ou reforçadora de lugares construídos socialmente pode ser abordado em O beijo da palavrinha, pois o mar, conhecidamente imensurável, é, na história de Mia Couto, uma palavra no diminutivo, que vai realizar a passagem de Maria Poeirinha para o espaço da morte, não de forma passiva, mas sim de modo carinhoso, com um beijo.

A fábula/ poema começa como um conto de fadas: “Era uma vez uma menina que nunca vira o mar” (COUTO, 2006a, p. 2), porém, dos contos de fadas comuns, só temos a expressão “era uma vez”, pois o enredo traz uma menina de nome Maria Poeirinha, denotando que ela é frágil e comum. De princesa ela tinha apenas uma ideia, pois nem em seus sonhos eram permitidos castelos, como vemos no trecho a seguir:

Na miséria em que viviam, nada destoava. Até Poeirinha tinha sonhos pequenos, mais de areia do que castelos.

Às vezes sonhava que ela se convertia em rio e seguia com passo lento, como a princesa de um distante livro, arrastando um manto feito de remoinhos, remendos e retalhos.

Mas depressa ela saía do sonho, pois seus pés descalços escaldavam na areia quente. E o rio secava, engolido pelo chão. (COUTO, 2006a, p. 5)

Vemos que a menina está inserida em uma realidade de seca e miséria. Seus pés queimavam-se no chão escaldante que rasgava seus sonhos. Nem em sonhos sua vestimenta era esplendorosa, era de “remendos e retalhos.” Esta menina de nome Maria Poeirinha, com um prenome que remete a qualquer menina mais simples, conta ainda com recurso característico da escrita miacoutiana no que tange à escolha dos nomes de seus personagens. No primeiro nome da menina, Maria, está contido o mar, Mar/ia, indicando um jogo de palavras que nos permite inferir que ela se transportaria do mar para outro lugar (do mar ia...). Ao terminar a leitura, sabemos que ela partiria rumo à morte. O seu segundo nome nos remete à sua ligação com a terra, um elo frágil que nem chega a ser poeira, é apenas uma poeirinha. O recurso criativo nos remete a identidades frágeis, talvez como a de Moçambique ainda em reconstrução após a independência de Portugal e as guerras civis.

No início da história, vemos a construção de um espaço ficcional habitado pela pobreza e pela falta de possibilidades. Em sua aldeia, Maria Poeirinha vivia com a família num lugar muito longe, “tão interior”. Um espaço desprovido de esperanças, assim como muitos de Moçambique, que Mia Couto ficcionaliza por meio de dois personagens Zeca Zonzo e Tio Litorânio, por exemplo. O primeiro era o irmão de Maria Poeirinha que “era desprovido de juízo, cabeça sempre no ar, as ideias lhe voavam como balões em fim de festa” (COUTO, 2006a, p. 3) O segundo, o tio de Maria Poeirinha, que acreditava que “podia continuar pobre, mas havia, do outro lado do horizonte, uma luz que fazia a espera valer a pena” (COUTO, 2006a, p. 4)

Acrescentamos, ainda, ao espaço em que a narrativa nos remete, uma carência de sonho, de luz, pois era inundado apenas pela fome e solidão, onde a doença grave de uma criança é naturalmente fatal, cabendo a ela apenas respirar até ser beijada pela morte.

Maria Poeirinha é construída como uma pequena e fraca menina cuja morte não apaga a força do sonho. Seu Tio Litorânio acreditava que o sonho da liberdade não tinha acabado e que é preciso ter esperança de dias melhores: “há coisas que se podem fazer pela metade, mas enfrentar o mar pede a nossa alma toda inteira.” (COUTO, 2006a, p. 6)

Esse personagem vai guiar parte da história pela alegoria do mar, simbolizando um lugar onde se pode dar e tirar a vida, como um espectro da força

africana de continuar a luta pela igualdade de direitos e como reflexo da busca atormentada e vagueante da construção do novo país moçambicano.

A chegada do Tio Litorânio coincide com o surgimento da doença de Maria Poeirinha. Ele, cujo nome remete ao litoral, vê na ausência do mar a falta dos recursos exteriores, a mais grave carência dos seus familiares. Ao ver a menina adoentada, ele não vislumbra outra solução senão a vinda do mar para a menina. O tio representa a voz daqueles que acreditam que a África sempre precisa de ajuda humanitária para resolver seus problemas, sejam eles sociais ou políticos. Como oposição ao tio, temos o personagem Zeca Zonzo que acredita no poder da educação como ponte para melhorias no país. A leitura da palavra mar, na narrativa, expressa uma forma de libertação e de conseguir resolver os problemas cotidianos.

Figura 4 – O início do desenho da palavra mar

As águas do rio e, principalmente, as do mar funcionam, na narrativa, como uma alegoria, o que leva Ferreira (2013) a considerar que a água tem um significado simbólico que pode ser assim considerado:

Ontologicamente a água em sua essência é pura. Simboliza a vida e a morte. Traz o repouso e bem-estar ao sonhador de uma água tranquila. O ser humano, como as águas do rio, morre a cada instante. A transitoriedade da água é a mesma da entediante cotidianidade em que se vive. [...] A água dissolve mais completamente. Ajuda-nos a morrer totalmente (FERREIRA, 2013 p. 13)

Já na primeira página, vemos que a serenidade da vida tranquila do rio a família de Maria Poeirinha não possuía. Eles tinham a monotonia da miséria, e a menina não conhecia uma vida de movimentos como os das águas do mar. Ela é assim descrita: “era uma vez uma menina que nunca vira o mar. Chamava-se Maria Poeirinha. Ela e a sua família eram pobres, viviam numa aldeia tão interior que acreditavam que o rio que ali passava não tinha nem fim nem foz.” (COUTO, 2006a, p. 2, grifo nosso)

A vida desta pobre família, sem começo nem fim, faz-nos refletir sobre os infortúnios causados pela pobreza e pela exclusão e, certamente, pelas sequelas deixadas, em Moçambique, pelas guerras e pela colonização duradoura. Parece que, diferentemente do que se afirma sobre o tempo que corre como um rio, e sobre a impossibilidade de reversão de caminho porque a passagem do tempo é irreversível, a aldeia vivia um eterno sofrimento. A presença marcante da água nas ações de Maria Poeirinha pode ser entendida como uma busca de rio para conseguir partir daquele espaço de sofrimento. A menina “às vezes sonhava que ela se convertia em rio e seguia com passo lento, como a princesa de um distante livro, arrastando um manto feito de remoinhos, remendos e retalhos. “(COUTO, 2006a, p. 5)

A regularidade dos movimentos das águas do rio, aliada à fantasia de princesa de livro de faz de conta, faz-nos ver que o autor, estrategicamente, remete a história ao espaço da oralidade, assumida pelo sonho de Maria Poeirinha. A menina pobre buscava um alento nos sonhos povoados de princesas e na tranquilidade das águas. Ferreira (2013), ao associar estados de tranquilidade com a água, explicita:

Sonhando um pouco, vimos a saber que toda tranquilidade é água dormente. Existe uma água dormente no fundo de toda memória. E no universo a água dormente é uma massa de tranquilidade, uma massa de imobilidade. Na água dormente, o mundo repousa.

Diante da água dormente, o sonhador adere ao repouso do mundo. FERREIRA, 2013,p. 14)

Maria Poeirinha atribui ao rio uma realização almejada, embora até sua imagem de princesa fosse de um “distante livro”, o devaneio da paz por um instante era real: “mas depressa ela saía do sonho, pois seus pés descalços escaldavam na areia quente. E o rio secava engolido pelo chão” (COUTO, 2006a, p. 5)

Podemos perceber que a pureza da água simboliza o desejo de libertação da secura da terra. A grandeza do mar, com tantas águas, mas impróprias ao consumo humano, reitera a terra seca, e mostra que o mar pode oferecer alimentos e a serenidade com sua brisa fresca, mas também oferece perigos e mortes.

Mia Couto, como cidadão moçambicano, promove a defesa da moçambicanidade. Nesse sentido, podemos compará-lo ao Tio Litorânio, aquele que conhece o outro lado do mundo. Esta comparação nos mostra autor e personagem como aquele que viaja, como o narrador benjaminiano, mas retorna à terra para reafirmar a crença no sonho e na esperança. Na narrativa, é o tio que nos fala de seu aprendizado com o outro:

Que a ele o mar lhe havia aberto a porta para o infinito. Podia continuar pobre mas havia, do outro lado do horizonte, uma luz que fazia a espera valer a pena. Deste lado do mundo, faltava essa luz que nasce não do Sol mas das águas profundas. (COUTO, 2006a, p. 7)

Na afirmação da crença “no outro lado do horizonte”, vemos nas sutilezas do tio Litorânio, o desejo de mostrar aquilo que vem do mar, de fora, como solução para todos da aldeia. Mas é ao falar do que está fora que demonstra saber das tristezas, das mortes envolvidas no além-mar: “- Quem nunca viu o mar não sabe o que é chorar!” (COUTO, 2006a, p. 8-9)

Apesar de reconhecer os sofrimentos neste contato com o que vem de fora da terra, ele acredita que a construção do sentido da vida, o conhecimento do eu interior, pode ser melhor compreendido vendo o mar, sua imensidão, suas infinitas possibilidades, e assim compreendendo a pequenez do ser humano diante do eterno ir e vir do mar. O que melhor ilustra esta comparação pode ser visto no trecho seguinte:

O tio não teve dúvida: teriam que a levar à costa. - Para que se cure, disse ele.

Para que ela renascesse tomando conta daquelas praias de areia e onda. E descobrisse outras praias dentro dela.

- Mas o mar cura assim tão de verdade? - Vocês não entendem?, respondia ele.

Não há tempo a perder. Metam a menina no barco que a corrente a leva em salvadora viagem. (COUTO, 2006a, p. 10)

Dada a fragilidade da menina, ela não consegue a solução para sua doença que estaria em viajar para fora de sua aldeia, o seu irmão, com suas ideias voadoras, é que vai salvá-la. Destacamos que, nesse momento, o livro se distancia dos contos ocidentais tradicionais, porque a morte não se mostra como um final triste. Em O beijo da palavrinha, a morte é apenas passagem para uma nova vida. Conhecer as diferentes percepções culturais e o modo como a maioria dos povos moçambicanos veem a morte como inscrita num ciclo natural da vida, no qual o que morre vira antepassado e continua simbolicamente junto aos vivos, é importante para atenuar os sentidos de perda irreparável que transitam pela nossa cultura.

O irmão de Maria Poeirinha, com sua solidariedade e seu amor, dá uma esperança de renascimento a ela, pois ao desenhar o mar para ela, escreve a sua partida. Podemos realçar mais uma vez a importância dos próprios africanos traçarem sua própria história, nem que seja com movimentos defeituosos como a personagem que começa “tocando sombras, só sombras, só”. ’’ (COUTO, 2006a, p. 17).

O menino, apesar da vontade dos pais de impedi-lo, conduz os dedos da menina pelas letras da palavra mar: “a palavra inteira e por extenso”. Nessa palavra de três letras, conduz a irmã a ultrapassar a fronteira da vida com a serenidade com que a faz acompanhar os movimentos de mar que se mostram nas letras:

Pois a letra “m” é feita de quê? É feita de vagas, líquidas linhas que sobem e descem.

E Poeirinha passou o dedo a contornar as concavidades da letrinha.

-É isso, manito. Essa letra é feita por ondas. Eu já as vi no rio. (COUTO, 2006a, p. 18)

Maria Poeirinha não conhece o outro lado da vida, mas não é, para ela, algo desconhecido, pois ela, em sua aldeia, já viu as ondas do rio e estava partindo para as ondas do mar.

A alusão ao elemento do ar vem através da simbologia da ave que a libertará do plano da vida. A gaivota, ave do mar, é tomada como condutora da vida para morte:

Essa a seguir é um “a”. É uma ave, uma gaivota pousada nela própria, enrodilhada perante a brisa fria.

Em volta todos se haviam calado. Os dois em coro decidiram não tocar mais na letra para não espantar o pássaro que havia nela. (COUTO, 2006a, p. 18-21)

A morte da menina fará renascer em todos a esperança de uma nova vida. E assim, na última letra da palavra mar, vemos o elemento terra, que precisa ser assumido para que a gaivota conduza todos para o marulhar das águas repousantes da paz :

E os dedos da menina magoaram-se no “r” duro, rugoso, com suas ásperas arestas.

O Tio Jaime Litorânio, lágrima espreitando nos olhos, disse: - Calem-se todos:

já se escuta o marulhar! (COUTO, 2006a, p. 21-23)

Neste momento de dor, o real e o mágico se misturam para atingir o ponto mais alto da história da menina:

Então, do leito de Maria Poeirinha se ergueu a gaivota branca, como se fosse um lençol agitado pelo vento. Era Maria Poeira que se erguia?

era um simples remoinho de areia branca? Ou era ela seguindo no rio,

debaixo do manto feito de remoinhos,

remendos

e retalhos? (COUTO, 2006a, p. 23)

Ao encerrar o conto, Mia Couto ainda nos conta uma tradição moçambicana, que consiste em dedicar uma parede das casas às fotografias dos mortos. E como em toda fábula, a lembrança da menina fica resguardada pelo irmão Zeca Zonzo que nos conta que:

Ainda hoje, tantos anos passados, Zeca Zonzo, apontando o rosto da sua irmãzinha na fotografia, clama e reclama: -Eis minha mana Poeirinha

que foi beijada pelo mar. E se afogou numa

Nesse final surpreendente, vemos que saímos do tradicional “era uma vez” que inicia o conto para nos surpreendermos com a magia de outros recomeços. Assim, esperamos que mais esta obra analisada possa contribuir novos horizontes pedagógicos na aplicação da Lei nº 10.639/2003. Horizontes que possam ser atingidos com atividades literárias e pedagógicas, que podem ou não, já estarem sendo feitas. A análise literária realizada permite aplicar os elementos pertinentes Lei nº 10.639/2003 encontrados nos textos e, assim, explorar os livros de Mia Couto presentes nas salas de aula da rede de ensino da SMED/BH.

5 A APLICABILIDADE DA LEI Nº 10.639/2003 COM AS OBRAS DE MIA COUTO SELECIONADAS PARA OS KITS

Apresentaremos, neste capítulo, uma breve descrição das atividades pedagógicas na rede educacional da SMED/BH, incentivadas pela Lei 10.639/2003 ou desenvolvidas com o intuito de contemplá-la. As informações sobre atividades desenvolvidas para atender ao disposto na lei decorrem da leitura de artigos sobre o tema e de entrevistas realizadas no Núcleo de Relações Étnico-Raciais da SMED/BH, órgão responsável pela aplicação da Lei 10.639/2003 nas escolas da rede municipal de ensino de Belo horizonte.

Nessas obras incluídas no kit podemos ver mitos e crenças recriados com ironia, drama, além de crítica à política, aos desmandos da guerra civil e da independência moçambicana, a corrupção, e a relação entre portugueses e africanos.

A recomendação máxima da Lei 10.639/2003 é de que se trabalhe a “História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional”. Nesse sentido, podemos afirmar que os kits visam à formação dos educadores, servem de referência e apoio para o ensino da história dos negros, abordando aspectos, por vezes, ausentes da maioria dos livros didáticos.

O ideal é que a Lei 10.639/2003 seja trabalhada na escola de modo interdisciplinar e com uma constante discussão da construção do sujeito negro, do resgate de sua história, contribuindo para que este sujeito seja mais valorizado e sua cultura seja respeitada com todas suas especificidades.

As orientações de aplicação da Lei 10.639/2003 partem do MEC e podem ser acessadas no site deste Ministério através da disponibilização das Orientações e

Ações para a Educação das Relações Étnico-Raciais. Neste documento, são

disponibilizadas orientações gerais para tratar do tema desde o ensino infantil ao

Documentos relacionados