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Possibilidades literário-pedagógicas a partir dos romances de Mia Couto

2 A CRIAÇÃO DA LEI N º 10.639/003 E A MOTIVAÇÃO DOS KITS DE

5.2 Possibilidades literário-pedagógicas a partir dos romances de Mia Couto

Os dois romances de Mia Couto são densos e exigem um leitor experiente26, portanto, antes de adotá-los como leitura a ser exigida dos alunos, o professor precisará realizar atividades de sondagens do nível de leitura deles, para que a leitura seja possível de ser realizada. Um trabalho de estudo da obra, por parte do professor, deve ter sido realizado antes do trabalho com o livro em sala de aula para que ele possa orientar os alunos, quanto a estratégias narrativas adotadas por Mia Couto nos romances O outro pé da sereia e O último voo do flamingo. Portanto, sugerirmos, após uma leitura profunda destas obras, uma imersão no universo em que Mia Couto ambientaliza o enredo da obra, contextualizando linguagem, personagens e espaço. Como sugestão, o professor poderia iniciar a aula sondando os estudantes sobre suas noções prévias a respeito do país em que se ambientaliza a história.

A relação do título da obra com a narrativa deve ser explorada promovendo indagações do que se espera do conteúdo de cada romance. Assim, pode-se realizar um trabalho conjunto com a disciplina de Artes explorando desenho e pintura das ideias surgidas pelo título.

O professor deve oferecer uma oportunidade de conversa sobre as obras a serem lidas e realizar a leitura compartilhada na sala de aula, deixando todos os dias

26 Segundo Kleiman (2004) o leitor experiente ou proficiente é flexível, lança mão de vários

procedimentos para a compreensão do texto, consegue fazer predições, utilizando seu conhecimento prévio – de mundo ou enciclopédico –sobre o assunto, o autor, o contexto social e cultural para entender o que lê. Enfim, o leitor experiente tem objetivos para o que lê e compreende o que foi lido.

um percentual do tempo da aula livre para que os alunos leiam os romances. Grupos de leitura de alunos podem ser formados, assim eles poderão realizar a leitura compartilhada como atividades extraclasse, assegurando que os alunos tenham tempo de ler estes densos romances. Cada grupo será motivado a escrever sobre um ou mais dos personagens da narrativa e apresentar para os demais colegas.

Vivemos em uma época de grande presença de recursos audiovisuais e das mídias sociais, então, os alunos podem procurar vídeos sobre os romances na internet como tarefa de casa e o professor pode exibir o filme baseado no livro O

último voo do flamingo após a leitura dos romances.

Nos dois romances há a presença de feiticeiros e curandeiros, os alunos podem realizar pesquisas sobre benzedores, benzedeiras com familiares mais velhos sobre a existência destas figuras na infância deles, ou ainda, verificar a existência de benzedeiras na comunidade em que vivem. Se houver, pode-se realizar uma visita e uma entrevista com o benzedor. Nesta temática do sincretismo religioso o professor precisa estar atento ao respeito da diversidade religiosa dos alunos e explorar os vários aspectos da religiosidade africana presentes no Brasil.

O outro ponto comum nos dois romances é a presença de personagens estrangeiras, em O outro pé da sereia, há os americanos, e O último voo do

flamingo, os soldados da ONU e o italiano investigador desta instituição. Pode-se

trabalhar com os alunos uma análise comparativa da recepção dos estrangeiros no romance lido e como os brasileiros recebem os estrangeiros, sejam turistas ou trabalhadores, no nosso país.

5.2.1O outro pé da sereia

A adoção do livro O outro pé da sereia, de Mia Couto, como obra a ser lida pelos alunos, requer que o professor se prepare para dedicar várias aulas a esta obra, por esta ter um conteúdo denso e ser extensa, iremos propor algumas atividades que poderão ser realizadas com os alunos, para que eles aproveitem melhor a leitura do romance.

O trecho seguinte poderá ser lido e em seguida pode ser usado para o professor questionar os alunos sobre a importância da leitura, o que ela pode trazer

para cada um ao se tornar um hábito. Pode-se, também, explorar a viagem imaginária que cada um pode fazer, incentivando os alunos para que leiam e pedir a eles que relatem sobre a importância da leitura no trecho e sua capacidade de “criar outros mundos”:

Nesses últimos dias, Mwadia fechava-se no sótão e espreitava a velha documentação colonial. Agora, ela sabia: um livro é uma canoa. Esse era o barco que lhe faltava em Antigamente. Tivesse livros e ela faria a travessia para o outro lado do mundo, para o outro lado de si mesma. (COUTO, 2013, p. 238).

A respeito do sincretismo religioso do padre Antunes, o professor pode mostrar para os alunos que no Brasil há uma mistura cultural muito grande, e que o processo de formação religioso foi muito complexo, mas, apesar do cristianismo ter sido imposto ao povo africano, ele é muito cultuado na realidade atual de toda a África. Pode-se discutir que apesar das diferenças é preciso que haja respeito aos símbolos de cada religião, que cada fé tem sua importância:

Aprendera a lançar os búzios e ler os desígnios dos antepassados. No terreiro, frente à casa, o português misturava rituais pagãos e cristãos. E procedia como nunca nenhum adivinho antes fizera: em cima de uma esteira colocava a pedra de ara que havia pertencido a Silveira. A seu lado se conservava um pedaço de madeira que, à primeira vista, surgia informe mas, depois, se configurava como um pé. (COUTO, 2013, p. 313-314) A frase “Matambira levantou-se e serviu uma rodada de cerveja pelos presentes, contornando a cadeira de Mwadia.” (COUTO, 2013, p. 132) pode ser usada pelo professor para discutir questões a respeito dos lugares ocupados pelo homem e pela mulher na sociedade. É uma boa oportunidade para se falar de gênero. Os alunos podem responder a questões como: aqui em nosso país as mulheres podem participar de uma reunião, onde há homens e mulheres sem receber tratamento diferente deles? Elas podem beber juntas as mesmas bebidas que eles? Os direitos delas são iguais, são respeitados? O professor pode levar dados estatísticos relacionados à situação da mulher no Brasil, pois sabemos que o preconceito aqui ainda é muito grande, e se faz presente de forma velada. O professor pode pedir que os alunos em grupos façam pesquisas, entrevistas a este respeito e em seguida exponham para a turma, para escola.

As questões religiosas existem há muito tempo, desde antes de Cristo já existiam conflitos religiosos, brigas por poder. No período colonial no Brasil e em

África, os portugueses queriam catequizar os colonizados impondo-lhes uma religião e condenando suas crenças. O excerto seguinte, um trecho da carta do papa Nicolau V ao rei de Portugal em 1452, que está na epigrafe do capítulo doze do romance O outro pé da sereia, poderá ser trabalhado pelo professor para ressaltar a violência com a qual os nativos eram tratados e explicar que, embora esta passagem se refira a Moçambique, no Brasil não foi diferente.

[...] nós lhe outorgamos pelos presentes documentos, com a nossa autoridade apostólica, pela livre permissão de invadir, capturar e subjugar os sarracenos e pagãos e qualquer outro incrédulo ou inimigo de Cristo, onde quer que seja, como também reduzir essas pessoas à escravidão perpétua. (COUTO, 2013, p. 196)

As questões de julgamento de outras raças pelos religiosos são muito antigas. No trecho seguinte podemos perceber o preconceito existente com o povo que não fazia parte do clero. Neste caso o professor pode explorar, por meio das palavras desconhecidas, o preconceito expresso, o papel da igreja católica no período citado:

D. Gonçalo fitou de alto a baixo o capitão e uma nuvem escura toldou o olhar. Aquele branco mal trajado, de pele mais tisada que um mouro, de modos mais grosseiros que um cafre, e de linguarejar mais tosco que Nsundi, aquele homem não merecia a cruz de Cristo que refulgia, gravada no seu imundo colete. E lhe pareceu que toda a nau se transfigurava num continente negro, naufragando num turbilhão de pecados. Olhou o sol como se imputasse ao astro os breves delírios e colocou ordem no pensamento e mando na conversa. (COUTO, 2013, p. 199)

A discussão sobre o sentimento de inferioridade dos negros é reconhecida no personagem do romance, Zeca Matambira. Sugerimos uma enquete para saber dos alunos se aqui é diferente do ambiente do romance, se os brasileiros negros ainda se sentem inferiorizados como o personagem. Podem ser feitas ações sobre como vencer o preconceito, através de projetos interdisciplinares, que envolvam toda a escola, se possível que envolva a comunidade, pois o problema do preconceito é amplo demais para ser tratado só na escola. O professor pode explicar as diferentes formas de combate ao preconceito, entre as duas histórias, a de 1560 e a de 2002, e os alunos podem pesquisar sobre a resistência dos negros nos dois momentos históricos, colonização e contemporâneo, mostrando que atualmente existem leis vigentes aqui no Brasil, pois em nosso país o racismo é crime inafiançável:

Nem todos entenderam, mas Zeca Matambira ganhara uma dolorosa certeza: ele só era capaz de bater num negro, num homem de igual raça. A sua cabeça tinha sido ensinada a não se defender de um branco. Nem de

um mulato. Matambira, o promissor pugilista de Tete, tinha sido derrotado no palco da vida antes de subir para o ringue do boxe. (COUTO, 2013, p. 219)

O professor pode mostrar que também existem vários tipos de preconceito, como podemos ver “– Traiçoeiro como é o mar não devia ser masculino. Devia era chamar-se a Mara” (COUTO, 2013, p. 249). Neste trecho o que vemos, no nosso contexto ocidental, é uma espécie de preconceito de gênero, o professor além de trabalhar esta questão, pode abordar as questões poéticas, fazendo comparação com outras obras. Uma vez que o mar é renomeado neste romance, a atividade pode se valer também do conto O reformador do mundo de Monteiro Lobato, que explora o mesmo processo. Após leitura deste conto, pode-se solicitar aos alunos que criem frases, textos, poemas renomeando elementos da natureza ou do seu cotidiano.

O professor pode usar o excerto a seguir como reflexão com os alunos sobre a disseminação da escravidão, pois se não houvesse a transformação do escravo em mercadoria rentável, a escravidão teria durado tanto tempo? Pode o homem, em nome da ambição, subjugar seus semelhantes?

O padre sorriu, incrédulo: escravos? Xilundo explicou-se: ele era escravo, mas a sua família era proprietária de escravos. Viviam disso: da captura e da venda de escravos, o pai enviara-o para Goa, na condição de servo, como punição de graves desobediências. O projecto do pai era simples: preparar o filho para herdar o negócio da venda de pessoas. No processo de ser escravo ele aprenderia a escravizar outros. (COUTO, 2013, p. 258)

O professor pode usar a tirinha da Mafalda para exemplificar aos alunos como o preconceito é negado pelas pessoas, mas ao mesmo tempo é explícito, ressaltando que reconhecer a existência do preconceito possibilita um combate a ele mais efetivo. Os alunos podem fazer uma comparação entre a tirinha e o trecho da questão anterior.

Figura 5 - Mafalda - Preconceito Racial

Fonte: Central das tiras

As propostas pedagógicas apresentadas são apenas sugestões de atividades para que o professor possa adotar o livro O outro pé da sereia e oferecer atividades que contemplem a Lei nº 10.639/2003, principalmente questões sobre preconceito em geral e a escravidão dos negros.

5.2.2 O último voo do Flamingo

A epígrafe “O mundo não é o que existe, mas o que acontece” — um dito de Tizangara que abre o capítulo inicial do romance – pode ser o ponto de partida para a apresentação desta obra da literatura moçambicana aos alunos.

Com o trecho a seguir o professor pode trabalhar com os alunos as diferenças/semelhanças da política de Tizangara com a do Brasil, fazendo questionamentos sobre a corrupção:

Eu sabia, como todos na vila: o administrador Jonas tinha desviado o gerador do hospital para seus mais privados serviços. Dona Ermelinda, sua esposa, tinha vazado os equipamentos públicos das enfermarias: geleiras, fogão, camas. Até saíra num jornal da capital que aquilo era abuso de poder. Jonas ria-se: ele não abusava; os outros é que não detinham poderes nenhuns. (COUTO, 2005, p. 18)

No próximo trecho o professor pode aproveitar para promover a discussão das diferenças culturais entre um país e outro, e fazer uma reflexão com os alunos a respeito das explosões dos soldados e sobre as explosões que acontecem na África devido às minas deixadas pela guerra. Pode explicar aos alunos o que é uma mina, quais as consequências causadas por sua explosão e que período a que se refere o romance estas minas causaram muitos problemas ao povo. Podemos ver a alusão a elas no seguinte trecho:

Não sei quem, nem sei o quê. Obra dos homens, ciumeiras deles que não querem ver mexidas as mulheres da terra. E eu, Excelência, eu até me sinto orgulhada nesses ciúmes deles. É que nunca eu fui de ninguém. Nunca. Haver homens que me disputam me faz sentir pertencida, faz conta que sou mulher de um só, exclusivo. Porém, foi assim. Isto que lhe conto não tem ouvido nem boca. Eu vi os pós, caindo como areia na cerveja do desgraçado. Vi tudo por inteiro. Quando esse zambiano me pegou na mão eu já sabia o destino dele. Lhe acompanhei sem pena... (COUTO, 2005, p. 85)

O professor, dependendo do nível da turma, pode explorar a temática do realismo na literatura e mostrar aos alunos como a realidade é narrada fazendo o leitor vivenciar a violência dos personagens e o jogo de interesses na política de Tizangara. Isto pode gerar uma discussão a respeito das políticas e corrupção aqui no Brasil, os alunos podem pesquisar atos feitos pelos políticos que prejudicam a população, tais como o desvio de verbas públicas.

Nas palavras do padre as congeminações pareciam tão claras quanto improváveis. Passava-se, afinal, o seguinte: parte das minas que se retiravam regressava, depois, ao mesmo chão. Em Tizangara tudo se misturava: a guerra dos negócios e os negócios da guerra. No final da guerra restavam minas, sim. Umas tantas. Todavia, não era coisa que fizesse prolongar tanto os projetos de desminagem. O dinheiro desviado desses projetos era uma fonte de receita que os senhores locais não podiam dispensar. Foi o enteado do administrador quem urdiu a ideia: e se aldrabassem os números, inventassem infindáveis ameaças? Valia a pena. Plantavam-se e desplantavam-se minas. Umas mortes à mistura até calhavam, para dar mais crédito ao plano. Mas era gente anônima, no interior de uma nação africana que mal sustenta seu nome no mundo. Quem se ocuparia disso? (COUTO, 2005 p. 196)

Na fala do personagem Ana Deusqueira: “– Morreram milhares de moçambicanos, nunca vos vimos cá. Agora, desaparecem cinco estrangeiros e já é o fim do mundo?” (COUTO, 2005, p. 32), professor e alunos podem discutir o que são as ajudas humanitárias enviadas aos países africanos, para que servem e podem debater sobre a indiferença do mundo com a violência sofrida pelo povo de Moçambique:

As lendas de surgimento da noite, presentes no livro O último voo do flamingo e A Lenda da criação da noite27, lenda indígena brasileira, oferecem oportunidades para o debate sobre as semelhanças e diferenças entre os textos. Veremos um trecho de O último voo do flamingo, contada pelo Tradutor e a Lenda da criação da

noite do Brasil. Segundo o enredo proposto por Mia Couto, antes, nestas terras, só

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havia dia, até que um flamingo disse que faria seu último voo e que iria para outra terra, a terra das estrelas. Quando ele partiu, o bater das asas mudou-se de cor, passando de várias tonalidades de azul para o lilás até se fundir com o horizonte. Quando o flamingo se extinguiu, a noite nasceu naquela terra. Quanto ao contexto brasileiro, A Lenda da criação da noite indica o entendimento mítico do assunto. Esta história pode ser contada de forma sintética assim: nas aldeias de todo o mundo, na terra dos índios, era sempre dia. Não havia noite, estava sempre claro. Os homens não paravam de caçar, nem as mulheres de limpar, tecer e cozinhar. O sol ia do este ao oeste e depois refazia o caminho, ia do oeste ao este, seguindo assim. Mas teve um dia que o caso mudou. Quando Tupã, aquele que controlava tudo, havia saído para caçar, um homem muito curioso tocou no frágil Sol para saber como funcionava. Então o Sol que dava luz e calor apagou-se e quebrou-se em mil pedacinhos. Então as trevas reinaram na aldeia. Tupã não se conformava com tal atitude do homem e transformou-o num novo animal que tinha as mãos douradas como o Sol e brilhava. E deu-se o nome àquele bicho de macaquinho-de-mãos- d'ouro. Tupã, então, tratou de refazer o Sol. Mas ele só ia ao oeste e não conseguia voltar. Então criou assim a Lua e as estrelas para iluminarem a noite. Assim, o Sol ia até ao poente e não voltava e então vinham a Lua e as estrelas. Acabava a noite e o Sol voltava. O Sol sempre sorrindo ia e vinha. Um dia viu a Lua e ficou orgulhoso do que tinha feito.

No trecho seguinte, o professor poderá ressaltar o empenho do autor em discutir os desmandos governamentais que ocorriam em Moçambique, e poderá perguntar aos alunos se no Brasil isto ocorre e o que pode ser feito para resolver este problema.

Uma perversa fabricação de ausência - a falta de uma terra toda inteira, um imenso rapto de esperança praticado pela ganância dos poderosos. O avanço desses comedores de nações obriga-nos a nós, escritores, a um crescente empenho moral. Contra a indecência dos que enriquecem à custa de tudo e de todos, contra os que têm as mãos manchadas de sangue, contra a mentira, o crime e o medo, contra tudo isso se deve erguer a palavra dos escritores. (COUTO, 2005, p. 224 )

5.3 O fio das missangas - Propostas literário-pedagógicas para o livro de contos

O livro de contos é um tipo de obra que facilita o trabalho da Literatura em sala de aula. A facilidade vem das principais características do conto: narrativa curta, apresenta poucos personagens e uma história central de fácil interpretação. Geralmente o conto traz um fato do cotidiano, elaborado de forma sensível, que pode propiciar um frutífero debate sobre temas profundos vivenciados na sociedade. Sendo assim, o livro O fio das missangas pode propiciar um projeto interdisciplinar entre os conteúdos curriculares que, preferencialmente, devem contemplar a Lei 10.639/2003, a saber: Literatura, Artes e História. Com a disciplina de Literatura pode-se fazer a leitura compartilhada de todos os contos em sala de aula, sendo possível ler e debater mais de um conto por aula. Pode-se ainda realizar a reescrita coletiva ou individual de cada conto, recontando-os a partir da perspectiva de outro personagem que não seja o protagonista escolhido pelo autor.

Proporemos atividades apenas para os dois contos de O fio das missangas analisados nesta dissertação que foram “O novo padre” e “Entrada no céu”.

5.3.1 O novo padre

Neste conto o racismo e preconceito são os temas principais do texto, o que gera a possibilidade de várias atividades para a aplicação da Lei 10.639/2003.

A visão de Ludmilo vai ao encontro desta afirmação, pois este não via resistência por parte da moça, para ele, a moça “fazia de conta que resistia, a malandra, qual pretita não quer ser... (...) possuída por um branco? (COUTO, 2009, p. 92).”Essa visão distorcida de servidão do negro pode ser trabalhada com os alunos para que eles construam versões do conto mostrando que as mulheres não podem ser obrigadas a ter relações sexuais com ninguém. Pode ser questionado perante a lei brasileira quais são os direitos da mulher num relacionamento amoroso? Quais são as leis que tratam da violência contra a mulher?

“Já no interior da capela, Ludmilo suspirou aliviado. Na igrejinha estavam só brancos. Não era que ele fosse racista, insistia ele. Mas era sensível aos cheiros”. (COUTO, 2009, p. 90, grifo nosso). Essa frase grifada pode ser o mote para a

discussão e realização de uma enquete na sala de aula para saber se algum aluno já ouviu depoimentos parecidos com este, nos quais os brasileiros se afirmam como não racistas. Pode-se pedir também uma pesquisa com pessoas negras que os alunos conheçam para que investiguem se, em alguma situação do cotidiano, os entrevistados já ficaram ofendidos com falas, ou brincadeiras feitas por colegas, amigos ou parentes sobre sua cor. Depois é possível produzir a tabulação dos dados colhidos, gerando gráficos e tabelas em softwares específicos, propiciando a interdisciplinaridade de conteúdos de Português, História, Matemática, Tecnologias.

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