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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.6 BEM-ESTAR FINANCEIRO

A capacidade de gerenciar efetivamente os recursos monetários, em prol de um equilíbrio financeiro capaz de proporcionar tranquilidade orçamentária é fator crítico para maioria das famílias, todavia quando se atinge essa estabilidade, alcança-se o bem-estar financeiro (PLAGNOL, 2011). Segundo Chan, Chan e Chau (2012), o bem-estar financeiro é o sentimento geral de cada pessoa referente a sua segurança financeira, tanto no presente quanto no futuro. Arber, Fenn e Meadows (2014) ratificam, salientando que o bem-estar financeiro é uma classificação auferida por cada indivíduo em relação a adequação de sua renda para satisfazer suas necessidades gerais.

Aprofundando o estudo em relação ao bem-estar financeiro, percebe-se que este não abarca apenas questões monetárias, mas também é constituído a partir de aspectos materiais e não-materiais, ou seja, é definido como um sentimento de estar financeiramente saudável, feliz e isento de preocupações, baseando-se em avaliações subjetivas ou percepções de sua situação financeira (JOO, 2008). Do mesmo modo, Delafrooz e Paim (2011) conceituam o bem-estar financeiro como um construto que inclui a satisfação com a situação financeira pessoal, percepção ou avaliação subjetiva dos recursos financeiros, estabilidade, adequação dos recursos financeiros, bem como o valor objetivo dos bens. Neste sentido, Schmeiser e Hogarth (2013) destacam que o bem-estar financeiro é influenciado por inúmeros fatores, tanto financeiros como não-financeiros.

A definição de bem-estar financeiro também abarca à percepção da situação financeira atual e futura. Dessa forma, Norvilitis, Szablicki e Wilson (2003) definem o bem-estar financeiro como sendo o nível de preocupação do indivíduo com a sua situação financeira atual e futura, sendo que a visão atual abrange os rendimentos mensais e o atendimento das necessidades momentâneas, já a situação futura corresponde as expectativas e aspirações de cada indivíduo para períodos posteriores. Neste âmbito surge outro aspecto relevante dentro dos bem-estar financeiro, a percepção de segurança tanto no presente quanto no futuro. Para Chan, Chan e Chau (2012), o equilíbrio e a estabilidade financeira subsidiam o sentimento de segurança para cumprir com os compromissos mensais e alcançar os sonhos futuros. Apropriando-se dessa perspectiva Xiao, Sorhaindo e Garman (2006) conceituam o bem-estar financeiro como a relação entre grau de segurança e a adequação financeira dos indivíduos.

Outra perspectiva enfatiza o bem-estar financeiro entre duas dimensões, primeiramente a satisfação financeira pessoal e posteriormente a transferência de recursos financeiros e rendas entre gerações nas famílias (CHUAN; KAI; KOK, 2011). Assim, o nível de satisfação financeira está positivamente relacionado com o nível de riqueza e de renda de um indivíduo, a qual deve possibilitar e ao mesmo tempo suprir as necessidades pessoais do presente e do futuro como também consolidar uma estrutura financeira capaz de subsidiar a família (nomeadamente, relacionado aos filhos, para os quais os pais desejam deixar bens que os assegurem no futuro).

Além do conceito, outro aspecto relevante do bem-estar financeiro é a sua mensuração. Nesse sentido, identificou-se que há diferentes configurações para se mensurar o nível de bem-estar financeiro de um indivíduo. Uma perspectiva proposta por Sumarwan (1990), ainda nos anos 1990, avaliou o bem-estar econômico levando em consideração eminentemente aspectos objetivos tais como: renda familiar, itens materiais (alimentação,

vestuário, habitação e transporte), recursos financeiros disponíveis para atender emergências e patrimônio líquido (diferença entre o ativo e todas as dívidas). De forma similar, Lown e Ju (1992) mensuram o bem-estar financeiro por meio dos seguintes aspectos: nível de renda, dinheiro para as necessidades da família, capacidade para lidar com emergências financeiras, o montante da dívida, o nível de poupança e dinheiro para necessidades futuras.

Ao passar do tempo, a conjuntura unicamente objetiva acerca do bem-estar financeiro deu espaço aos aspectos subjetivos, sendo esta uma grande evolução para a literatura. A questão passa, então, a ser analisada de forma mais global, abordando sentimentos, especificamente, em relação à segurança financeira em uma escala entre o extremamente seguro e o extremamente inseguro (LEACH; HAYHOE, 1999). A partir desse avanço, as investigações sobre o bem-estar financeiro passaram a ser pautadas em indicadores objetivos e subjetivos. No estudo de Kim (2000), por exemplo, os indicadores objetivos foram representados por meio de fundos de emergência, poupança mensal para a aposentadoria e percentual de poupança mensal; já os indicadores subjetivos incluíram bem-estar financeiro global, satisfação com as finanças pessoais e percepção das mudanças na situação financeira. Corroborando com esta perspectiva, Shim et al. (2009) também destacam a relevância de variáveis objetivas e subjetivas nas pesquisas de bem-estar financeiro.

Ressalta-se que os aspectos objetivos também podem ser analisados de forma subjetiva. A subjetividade da análise de bem-estar financeiro está intimamente relacionada com as características pessoais de cada indivíduo, ou seja, os valores, as experiências, as expectativas, as metas e a disposição refletem de forma significativa no sentido ou sensação global de bem-estar financeiro. Então, é a diretriz psicológica da vida de cada um, como a auto-realização, a autoestima, as crenças, os valores, os interesses, as capacidades e as ambições pessoais que determinam o bem-estar financeiro como um todo (SHIM et al., 2009). Sendo assim, seria um equívoco avaliar o bem-estar financeiro sem considerar os aspectos psicológicos como preponderantes ao estudo.

Diante desse contexto e com embasamentos teóricos, constata-se que as pessoas são mais felizes, ou seja, sentem-se satisfeitas financeiramente quando se encontram em boas condições, não só monetárias como também de saúde, educação e relacionamento (O' NEILL et al., 2005). Assim, o bem-estar financeiro é uma variável que pode ser afetada pelas diversas mudanças nas circunstâncias da vida pessoal, não sendo, portanto, um traço estável. Portanto, o bem-estar financeiro é uma abordagem dinâmica, que pode ser alterado em decorrência do ciclo de vida das pessoas, com relação não somente a idade, mas com outros fatos marcantes, como o nascimento de uma criança, o casamento ou a dissolução matrimonial (PLAGNOL,

2011; HAYHOE; WILHELM, 1998). Todos esses indicativos, levam a percepção de que o bem-estar financeiro está intimamente relacionado com a satisfação global de vida.