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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.7 SATISFAÇÃO GLOBAL DE VIDA

Os estudos inerentes ao bem-estar global com a vida ou satisfação global de vida tiveram como ponto de partida os anos 1960, época em que as pesquisas em psicologia focavam-se nas instâncias patológicas e avaliações psicológicas, surgindo à necessidade de investigar o crescimento, a saúde, o desenvolvimento saudável, ou seja, a felicidade global com a vida (TOMASI, 2013). O surgimento do interesse por essas investigações na época foi de grande valia, todavia, os resultados lá encontrados já não fazem tanto sentido atualmente, pois cada período da história possui suas peculiaridades, assim as investigações acerca da satisfação devem ser constantes. Na contemporaneidade, a relevância desse nicho de pesquisa é ainda maior, pois o desenvolvimento econômico e tecnológico, a melhora nas condições de vida e o acesso ao consumo não são garantias de satisfação, assim as pesquisas devem ser tanto no âmbito material quanto psicológico (SELIGMAN, 2009).

Essa visão mais global da satisfação com a vida vem ganhando maior notoriedade nos últimos vinte anos, quando descobertas importantes estão sendo relatadas em relação aos fatores que a influenciam (KUPPENS; REALO; DIENER, 2009). Nessa perspectiva, Hutz (2014, p. 43) clarifica que estar satisfeito de maneira global com a vida, engloba diversos aspectos, tanto materiais, quanto psicológicos, sendo a satisfação com a vida conceituada de maneira sucinta como o “contentamento que alguém percebe quando pensa sobre sua vida de modo geral”. De maneira mais detalhada, Teodoro (2009) esclarece que a satisfação com a vida é decorrência de como as pessoas percebem, definem e avaliam suas condições, baseadas em critérios como a satisfação com a vida, com a família, ausência de características indicadoras de depressão e ansiedade e os índices de emoções positivas.

A partir desses conceitos, compreende-se, portanto, que para um indivíduo estar satisfeito com sua vida, ele deve avaliar positivamente tanto suas relações afetivas quanto cognitivas. Isso significa ter experiências que desencadeiem emoções positivas, ao invés de situações desagradáveis, estar envolvido em atividades interessantes tanto no trabalho quanto com a família, estar sem problemas de saúde, ter boas condições financeiras e ser realizado (DIENER, 2000). Todavia, essa concepção de satisfação com a vida não descarta a importância dos problemas e imprevistos da vida. De acordo com Kuppens, Realo e Diener (2008), eventos negativos não podem ser considerados de todo ruim, pois são eles que

propiciam aprendizado, para que em situações de adversidade se saiba como se comportar, absorvendo apenas os ensinamentos e a felicidade de ultrapassar tal circunstância, o que proporciona sentimentos de autocrítica que impulsiona a busca pelos próprios ideais gerando harmonia interpessoal.

Outro aspecto importante, quando se discute a satisfação global é a percepção de cada indivíduo. Estar satisfeito com a vida, significa suprir as próprias necessidades, desejos e vontades, é contrastar as expectativas com as conquistas, mas cada pessoa tem suas ambições e percebe como primordial os seus interesses (JOIA, 2012). Dessa forma, percebe-se que o que satisfaz uma pessoa pode não satisfazer outra, pois os interesses e valores de cada um são distintos. Diener (2000) ratifica, elucidando que a satisfação de vida é um construto democrático, em que cada indivíduo tem o direito de decidir se sua vida vale a pena ou não, por meio de fatores subjetivos e objetivos, pelos quais se pode mensurar a satisfação pessoal.

Aqueles indivíduos que sentem-se satisfeitos com suas vidas são mais felizes, possuem uma melhor relação social, têm boas condições de saúde, infraestrutura e lazer. Corroborando Comis e Pinto (2014) com o objetivo de identificar quais variáveis teriam uma relação positiva com o estado de satisfação global de vida fizeram uma ampla revisão de literatura. Posterior à investigação, concluíram que indivíduos com uma percepção positiva de suas vidas melhoram em muitos aspectos, tais como: melhores relações sociais, boas condições financeiras, sentem-se mais bonitos, com elevada autoestima, são mais otimistas, proativas e flexíveis, aumentam as imunidades, têm maior facilidade de aprendizagem, melhoram as relações e conquistas profissionais e esquecem com facilidade os eventos negativos.

Em contrapartida, pessoas insatisfeitas com suas condições são mais propensas a apresentarem baixa autoestima, ansiedades, medos e frustrações (LIPOVETSKY, 2007), pois o mal-estar é responsável por desenvolver alterações psicossomáticas que acarretam disfunções tanto físicas quanto emocionais. Os problemas físicos são relacionados a maiores índices de obesidade ou anorexia, hipertensão, dores de cabeça, insônia e diminuição da imunidade, já os psicológicos desencadeiam maior irritabilidade, impaciência, apatia, distanciamento afetivo e perda de entusiasmo profissional (NUNES, MENEZES, 2014).

Por fim, pode-se constatar a importância das pesquisas inerentes a satisfação global de vida, pois ela é responsável por tornar a vida de uma pessoa mais amena ou mais árdua. Nesse sentido, Kuppens, Realo e Diener (2008) sugerem que as pessoas deem mais relevâncias aos acontecimentos positivos de suas vidas, busquem trabalhar no que gostam, relacionem-se com pessoas de alto-astral, superem os acontecimentos negativos, absorvendo deles ensinamentos

e tenham atividades que deem prazer, para assim, tornarem-se satisfeitos e desfrutarem de melhores condições de vida.

Relacionando esses aspectos ao cenário de pesquisa, justifica-se a inserção desse construto, pois um dos objetivos do Governo Federal com o PBF é ampliar o sentimento de bem-estar dessas famílias (MRD; SENARC, 2014a). Assim, avaliar a satisfação global de vida dos indivíduos pode ser uma maneira de verificar se um dos objetivos do Governo Federal está sendo atingido. Além disso, tem-se a relevância de investigar esse tema, já que os beneficiários do PBF vivem em condições financeiras precárias e já que muito se discute se o “dinheiro traz felicidade” (DIENER et al., 2010; BECCHETTI; ROSSETTI, 2009), mas poucas evidências são identificadas com brasileiros de baixa renda.

3 MÉTODO

Neste capítulo são apresentados os procedimentos metodológicos que foram adotados neste trabalho. Dessa maneira, discutem-se as estratégias e método da pesquisa, a população e a amostra investigada, os aspectos éticos contemplando os risco e benefícios, o instrumento de coleta de dados, a forma de coleta de dados e, por fim as técnicas de análise dos dados.