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Benefícios da realização de atividades na natureza para os turistas

Capítulo IV – As Atividades de Turismo de Natureza

4.7. Benefícios da realização de atividades na natureza para os turistas

A literatura que analisa os benefícios obtidos pelos turistas no âmbito da dinamização de atividades na natureza conta com o contributo importante de diversos investigadores conceituados (Kastenholz, Eusébio, Moura & Figueiredo, 2010; Keniger, Gaston, Irvine &

Fuller, 2013; Kweon, Sullivan & Wiley, 1998; Maas, Verheij, Groenewegen, de Vries & Spreeuwenberg; Ulrich et al., 1991).

Embora a sociedade se tenha consciencializado nos últimos anos para a importância da prática de exercício físico, na verdade, grande parte da população a nível mundial é ainda considerada obesa ou com excesso de peso (OMS, 2009). Assim, com o intuito de mudar esta realidade, a dinamização de atividades de turismo de natureza assume um papel fundamental, na medida em que contribui para a alteração gradual de um estilo de vida sedentário para um estilo de vida mais ativo.

Estudos realizados por vários autores comprovaram que as pessoas que vivem em zonas próximas de espaços verdes tendem, geralmente, a apresentar melhores condições de saúde (Maas et al., 2006). Na verdade, as atividades realizadas em harmonia com a natureza são especialmente importantes para os mais jovens e idosos, tendo em conta que estas pessoas normalmente estão mais limitadas para poderem viajar para fora dos seus ambientes habituais (Bell et al., 2007), sobretudo em termos financeiros.

De acordo com alguns investigadores, os benefícios obtidos através da prática de atividades na natureza podem ser agrupados em cinco categorias, nomeadamente a psicológica, a cognitiva, a fisiológica, a social e a espiritual (Keniger et al., 2013; Kweon et al., 1998; Ulrich et al., 1991; Zhang et al., 2017).

Assim, os benefícios psicológicos podem traduzir-se numa maior autoestima, na melhoria do estado de humor, na redução de sentimentos negativos, como a raiva e a frustração, bem como na diminuição da ansiedade (Keniger et al., 2013).

Por outro lado, alguns exemplos de benefícios cognitivos são o restauro dos índices de atenção/concentração, redução da fadiga mental, melhoria da performance e produtividade académicas, assim como uma maior capacidade para executar tarefas exigentes mentalmente, tudo isto com maior impacto nas crianças e nos adolescentes (Keniger et al., 2013).

Já nos benefícios fisiológicos, podemos encontrar a diminuição da pressão arterial, redução das tensões musculares e a diminuição da atividade cerebral do indivíduo (Keniger et al., 2013; Ulrich et al., 1991). Para além dos resultados referidos, devem destacar-se a redução dos níveis de cortisol (que é uma hormona responsável pelo stress), menos dores de cabeça, diminuição da probabilidade de vir a desenvolver doenças cardiovasculares, maior velocidade de recuperação perante substâncias aditivas como as drogas e o tabaco,

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redução de doenças do foro respiratório e de doenças crónicas (como são os casos das doenças de Parkinson e de Alzheimer), bem como diminuição da ocorrência futura de outras doenças (Keniger et al., 2013; Zhang et al., 2017).

Nos benefícios sociais, falamos de uma maior interação social, capaz de mitigar a sensação de isolamento e, consequentemente, a depressão (Kweon et al., 1998). Referem- se também a redução da probabilidade de fenómenos de violência e da ocorrência de crimes, bem como o facto de a natureza ser um meio promotor e facilitador da existência de uma maior multiculturalidade, com a interação entre pessoas de etnias, culturas e religiões diferentes (Keniger et al., 2013). Por último, realçam-se os benefícios espirituais, que se traduzem numa maior conexão, inspiração e bem-estar espirituais em cada participante (Keniger et al., 2013) (tabela 4.4).

Tabela 4.4. Benefícios obtidos pelos turistas em contacto com a natureza

Fonte: elaboração própria, com base em Keniger et al. (2013), Kweon et al. (1998), Ulrich et al. (1991) e Zhang et al. (2017)

Quando falamos dos benefícios obtidos pelo ser humano em contacto com a natureza, temos de referir, indubitavelmente, alguns fatores que influenciam as perceções pessoais formadas pelos turistas, no que toca aos benefícios a obter neste meio.

Desta forma, Zhang et al. (2017) argumentam que o grau de incapacidade que uma pessoa possui pode influenciar as suas perceções em relação aos benefícios na natureza, mais até do que fatores demográficos, como a idade. Ou seja, quanto mais profunda ou

Categorias Exemplos de benefícios

Psicológicos

Maior autoestima Melhoria do estado de humor

Redução de raiva e de

frustração Diminuição da ansiedade Cognitivos Restauro dos índices de

atenção/concentração Redução da fadiga mental

Melhoria da performance e produtividade académicas

Maior capacidade para executar tarefas exigentes

mentalmente Fisiológicos redução da pressão arterial;

redução das tensões musculares e da atividade cerebral do indivíduo diminuição dos níveis de cortisol (hormona responsável pelo stress); menos dores de cabeça maior velocidade de recuperação perante substâncias aditivas como as

drogas e o tabaco; redução de doenças do foro

respiratório e de doenças crónicas (doença de Parkinson,

doença de Alzheimer)

diminuição da ocorrência futura de outras doenças;

diminuição da probabilidade do desenvolvimento de doenças cardiovasculares

Sociais Maior interação social (menor probabilidade de

isolamento e depressão)

Menos violência e

crimes Maior multiculturalidade Espirituais Maior conexão espiritual Maior inspiração

avançada for a incapacidade, maior será a tendência de o indivíduo viver mais intensamente as experiências em contato com a natureza.

Por outro lado, Rodiek (2002) realça que existem elementos intrínsecos da própria natureza, muitos deles imprevisíveis e em constante mudança, que, ao atuarem em conjunto, podem influenciar positivamente as perceções que as pessoas formam a partir do seu contacto com a natureza, especificamente elementos sensoriais, como cheiros, sons e focos de luz.

Já outros investigadores como Chen e Patrick (2013) comprovaram que as expetativas em torno dos benefícios a obter nas atividades em turismo registaram uma evolução no sentido decrescente, com o passar do tempo (de Bloom et al., 2011; Nawijn, Marchand, Veenhoven & Vingerhoets). Isto é, de um estado inicial de euforia, de grande excitação, dando lugar, mais tarde, a um estado de espírito neutro, sem oscilações de humor. Concretamente, verificou-se que estes efeitos podem durar de poucos dias até mesmo um mês após a conclusão destas atividades (de Bloom et al., 2010; de Bloom et al., 2011; Etzion, 2003; Kühnel & Sonnentag, 2011; Westman & Eden, 1997).

Chen et al. (2013) constataram, igualmente, que a existência de eventos ou fenómenos negativos associados às viagens podem influenciar negativamente essas mesmas perceções pessoais formadas. Deste modo, salientam-se as diferenças de fuso horário, os problemas de saúde, bem como a temperatura do local onde a pessoa se encontra (Strauss-Blasche, Reithofer, Schobersberger, Ekmekcioglu & Marktl, 2005).

Em suma, as perceções pessoais formadas pelos turistas acerca dos benefícios a obter no âmbito das viagens em turismo podem, efetivamente, oscilar antes, durante e após a sua realização (de Bloom et al. 2009; Nawijn, 2011).

4.8. Conclusão

O turismo de natureza, com uma ascensão impressionante nas últimas décadas, é um tipo de turismo com grande importância socioeconómica para os destinos, prevendo-se que mantenha este crescimento no futuro (Aas et al., 2005; Baldin et al., 2003; Bell et al., 2007; Buckley et al., 2003; CREST, 2015; Hall et al., 2005; Hall et al., 2009; Kuenzi et al., 2008; Li, 2006; Mehmetoglu, 2007; PENT, 2013).

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Existe uma diversidade de atividades, com diferentes níveis de dificuldade, que podem ser realizadas em contacto com a natureza, permitindo assim aos participantes obter benefícios variados (Adventure Travel Trade Association et al., 2013; Kastenholz et al., 2010; Keniger et al., 2013; Kweon et al., 1998; Maas et al., 2006; Pena Aventura, 2018; State of Victoria, 2017; Ulrich et al., 1991).

Grande parte dos indivíduos com incapacidades almeja realizar atividades de natureza, mas, devido às suas limitações (físicas ou sensoriais), sentem o seu acesso restringido ou limitado (Kastenholz et al., 2010).

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Capítulo V – O Turismo de Natureza direcionado para as Pessoas com