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Capítulo VI – Metodologia

6.3. Recolha de dados

A população eleita para esta investigação foram as pessoas com incapacidades sensoriais e motoras (permanentes) residentes nos distritos de Coimbra e da Guarda. Do universo das pessoas visadas, procedeu-se apenas à seleção dos indivíduos que são atualmente utentes e/ou institucionalizados em três entidades de solidariedade social no nosso país. Neste sentido, destaca-se a ARCIL (Associação de Recuperação de Cidadãos Inadaptados da Lousã), a Associação de Surdos da Guarda, bem como a delegação da ACAPO (Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal) em Coimbra.

A ARCIL, a Associação de Surdos da Guarda e a ACAPO em Coimbra foram as instituições selecionadas para esta investigação empírica, por duas razões. Primeiramente, deve-se destacar o prestígio e o bom nome que estas entidades apresentam no que concerne à defesa dos direitos das pessoas com incapacidades no nosso país. Em segundo lugar, estas instituições mostraram disponibilidade em colaborar no meu projeto, facultando-me, para o efeito, contactos de vários utentes com as incapacidades desejadas para o meu estudo. Assim, decorreram, nos meses de maio e de junho de 2018, entrevistas com dez pessoas portadoras de incapacidades motoras, nove pessoas invisuais e dez pessoas “surdas”, perfazendo um total de 29 pessoas que integraram a amostra desta investigação.

As técnicas de amostragem utilizadas neste projeto foram a amostragem por conveniência e a amostragem do tipo bola de neve, ambas amostragens não aleatórias. Em primeiro lugar, a amostragem por conveniência revelou-se útil neste contexto, devido à dificuldade que existiu na obtenção de dados e por causa da escassez de recursos (tempo e dinheiro) (Breiby, 2015; Chikuta et al., 2017; Fredman et al., 2012; Jakubec et al., 2014). A amostragem do tipo “bola de neve” foi igualmente utilizada nesta investigação, uma vez que, a partir de alguns dos entrevistados, foi possível contactar outros indivíduos com incapacidades motoras e sensoriais (visuais e auditivas) para integrarem a amostra deste estudo (Kastenholz et al., 2010).

A entrevista foi considerada o instrumento de recolha de dados mais adequado para esta investigação, por quatro razões. Primeiramente, o facto de estarmos perante a necessidade de analisar um conjunto de construtos relacionados com atividades na natureza, nomeadamente as motivações, os benefícios procurados, os constrangimentos, bem como os benefícios obtidos, fez da entrevista o método ideal para recolher dados com um elevado grau de detalhe e de profundidade (Quivy et al., 1998; Vanderstoep et al., 2009; Veal, 2006).

De entre os tipos de entrevista que existem atualmente, a utilização das entrevistas do tipo semiestruturado permitiu um contacto direto e mais personalizado entre o investigador deste projeto e os indivíduos que integraram a amostra (Quivy et al., 1998). Na verdade, o caráter relativamente flexível destas entrevistas permitiu que existisse um equilíbrio entre perguntas de resposta livre (onde se deu maior flexibilidade aos entrevistados para exprimir opiniões sobre as suas experiências turísticas, concretamente no âmbito do turismo de natureza) e perguntas de resposta mais direta (Quivy et al., 1998).

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No entanto, deve realçar-se que nem sempre as perguntas que constam do guião deste projeto foram colocadas com a ordem em que se apresentam neste documento, tendo cabido ao próprio investigador a função de apenas orientar os indivíduos, caso os mesmos se estivessem a afastar dos objetivos deste projeto (Quivy et al., 1998). Tudo isto reforça a natureza relativamente flexível das entrevistas semiestruturadas que foram efetivamente aplicadas.

O guião das entrevistas utilizado neste projeto procurou, conforme foi dito anteriormente, alcançar um equilíbrio entre perguntas de resposta mais direta e perguntas de resposta mais “aberta”/ livre. Assim, grande parte da estrutura e das perguntas que constam do guião desta investigação basearam-se nos estudos de Jakubec et al. (2014), Kastenholz et al. (2010), Moura (2014), bem como Zhang et al. (2017). O guião deste projeto apresentou quatro seções, nomeadamente uma seção com perguntas relacionadas com as práticas habituais em lazer e em turismo, seguida de uma seção com questões sobre as experiências na natureza das quais os entrevistados costumam usufruir (ver apêndice II). Posteriormente, na seção número três do guião desta investigação empírica, surgem perguntas relacionadas com as perceções dos elementos da amostra acerca da importância das atividades na natureza, referindo-se, neste sentido, as motivações, benefícios procurados, constrangimentos, benefícios obtidos, atividades praticadas, bem como as atividades mais desejadas em turismo de natureza por estas pessoas com incapacidades. Na quarta e última seção, estão incluídas perguntas de âmbito sociodemográfico, relacionadas, entre outros, com a idade, o género, o estado civil e o rendimento mensal líquido dos entrevistados, conforme ilustra o apêndice II deste projeto.

As entrevistas com os três grupos de incapacidades da amostra deste projeto tiveram lugar em locais diferentes. Assim sendo, em primeiro lugar, as sessões com cada uma das pessoas com incapacidade motora tiveram lugar no CAO (Centro de Atividades Ocupacionais) da ARCIL. A sua duração variou entre 37 minutos e 1h08, com uma média de 47 minutos. Em segundo lugar, as entrevistas com os indivíduos portadores de incapacidades visuais decorreram na delegação da ACAPO em Coimbra, com uma duração situada entre os 21 minutos e os 54 minutos, apresentando uma média de, aproximadamente, 40 minutos. Em terceiro lugar, as pessoas com incapacidades auditivas foram entrevistadas via Skype, com a ajuda de um intérprete de língua gestual portuguesa. A sua duração variou entre os 55 minutos e 1h25, com uma média de 1h08. Por último, é

importante salientar que a maior parte das entrevistas foram realizadas pouco tempo depois dos participantes deste estudo terem realizado atividades na natureza (até 1 mês após o término destas dinâmicas).