Capítulo V – O Turismo de Natureza direcionado para as Pessoas com Incapacidades
5.2. Motivações das pessoas com incapacidades em turismo de natureza
Existem, atualmente, diversos estudos desenvolvidos em torno das motivações que levam as pessoas com incapacidades permanentes (sensoriais e motoras) a usufruírem atividades em contacto com a natureza (Anderson et al., 1997; Chikuta et al., 2017; Figueiredo, Eusébio & Kastenholz, 2012; Jaquette, 2005; McAvoy, Schatz, Stutz, Schleien & Lais, 1989; McAvoy, Holman, Goldenberg & Klenosky, 2006; Robb & Ewert, 1987) (tabela 5.1).
Tabela 5.1. Investigadores e estudos sobre motivações em turismo de natureza
Autores Ano Título do artigo/capítulo Jornal/Revista Tipo de
incapacidade Anderson et al. 1997 Creating positive change
through an integrated outdoor adventure program
Therapeutic recreation journal
Auditiva, mental, motora e visual Chikuta et al. 2017 Nature-based travel motivations
for people with disabilities
African Journal of Hospitality, Tourism and Leisure Auditiva, motora e visual
Figueiredo et al. 2012 How Diverse are Tourists with Disabilities? A Pilot Study on Accessible Leisure Tourism Experiences in Portugal International jornal of Tourism Research Auditiva, mental, motora e visual
Jaquette 2005 Maimed away from the earth: disability and wilderness
The Ecotone Motora McAvoy et al. 1989 Integrated wilderness
adventure: effects on personal and lifestyle traits of persons with and without disabilities
Therapeutic Recreation Journal
Mental, motora e visual
McAvoy et al. 2006 Wilderness and persons with disabilities
International Journal of Wilderness
Motora
Robb et al. 1987 Risk recreation and persons with disabilities
Therapeutic recreation journal
Motora
Fonte: elaboração própria, com base em Anderson et al. (1997), Chikuta et al. (2017), Figueiredo et al. (2012), Jaquette (2005), McAvoy et al. (1989), McAvoy et al. (2006) e
Robb et al. (1987)
Chikuta et al. (2017), com o objetivo de conhecerem as motivações que levam as pessoas com incapacidades a realizar atividades em contacto com a natureza, conduziram uma investigação empírica que contou com a aplicação de um inquérito por questionário que reuniu 190 respostas válidas. Neste universo de pessoas, encontravam-se pessoas provenientes de vários países, nomeadamente África do Sul, Austrália, Estados Unidos da América, Reino Unido e Zimbabwe.
Deste modo, as motivações identificadas foram agrupadas em três categorias, designadamente o desejo de enriquecimento pessoal, a necessidade de fuga em relação às rotinas, bem como o entusiasmo pela aventura (Chikuta et al., 2017; Figueiredo et al., 2012).
Em primeiro lugar, o desejo de enriquecimento pessoal está associado ao querer desafiar-se a si próprio, à vontade de desenvolver a autoestima, de adquirir novos
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conhecimentos, bem como à celebração de feitos conquistados no âmbito das atividades na natureza (Chikuta et al., 2017; Figueiredo et al., 2012).
Por outro lado, quando falamos da fuga às rotinas, podemos encontrar o desejo de desfrutar de momentos passados em família, cuidar da saúde e bem-estar, bem como o desejo de relaxamento (Chikuta et al., 2017; Figueiredo et al., 2012). Efetivamente, esta categoria foi considerada a mais importante desta investigação, visto que foi a que apresentou uma média superior em relação às outras duas categorias (isto é, uma média de 3,75).
Por último, o entusiasmo pela aventura é outro dos motivos que conduzem as pessoas com incapacidades a usufruir de atividades na natureza (Chikuta et al., 2017). Na verdade, vários autores suportam este resultado (Anderson et al., 1997; Jaquette, 2005; McAvoy et al., 1989; Robb et al., 1987) (tabela 5.2).
Tabela 5.2. Motivações das pessoas com incapacidades em turismo de natureza
Motivações Descrição Autores
Desejo de enriquecimento pessoal
- Vontade de desafiar-se a si próprio - Desejo de desenvolver a sua própria autoestima
- Vontade de adquirir novos conhecimentos
- Celebração de feitos conquistados no âmbito das viagens e experiências em turismo de natureza
Chikuta et al. (2017) Figueiredo et al. (2012)
Necessidade de fuga em relação às rotinas
- Desejo de desfrutar de momentos passados em família
- Cuidar da própria saúde e bem-estar - Relaxamento
Chikuta et al. (2017) Figueiredo et al. (2012)
Entusiasmo pela aventura - O próprio sentimento de entusiasmo e excitação de se aventurar pelo desconhecido Anderson et al. (1997) Chikuta et al. (2017) Jaquette (2005) McAvoy et al. (1989) Robb et al. (1987)
Fonte: elaboração própria, com base em Anderson et al. (1997), Chikuta et al. (2017), Figueiredo et al. (2012), Jaquette (2005), McAvoy et al. (1989) e Robb et al. (1987)
Para cada uma das categorias, foram verificadas diferenças em termos de motivações entre os grupos de incapacidades analisados por Chikuta et al. (2017).
Constatou-se, efetivamente, que as pessoas com incapacidades auditivas tendiam a ser mais aventureiras (Chikuta et al., 2017; Figueiredo et al., 2012). Em oposição, as pessoas
com incapacidades motoras foram as menos predispostas a viver novas aventuras. Por último, é de realçar também que o grupo de pessoas com incapacidades auditivas tendia a valorizar muito mais a necessidade de fuga às rotinas (Chikuta et al., 2017; Figueiredo et al., 2012).
Por outro lado, Figueiredo et al. (2012) identificaram um conjunto mais diversificado de motivações de pessoas com incapacidades inerentes à participação em atividades na na natureza. Paralelamente, verificaram diferenças nesta variável, de acordo com o tipo de incapacidade.
Assim, constatou-se que o grupo de incapacidade auditivas possuiu uma maior propensão para se sentir motivado para viver novas experiências, para adquirir novos conhecimentos, sentir-se livre, bem como para relaxar (Figueiredo et al., 2012), resultados que corroboram Chikuta et al. (2017). Já o grupo de incapacidades motoras teve uma maior tendência para se sentir impulsionado para desenvolver as suas aptidões físicas e intelectuais, melhorar o seu estado de humor, bem como superar os seus próprios limites (físicos e intelectuais) (Chikuta et al., 2017; Figueiredo et al., 2012). No entanto, no estudo de Figueiredo et al. (2012), este grupo teve uma maior predisposição para viver novos desafios, o que contrasta com outros estudos (Chikuta et al., 2017).
Por outro lado, no estudo de Figueiredo et al. (2012), o grupo de incapacidades visuais encara as atividades em turismo de natureza como uma forma de ocupar o seu tempo livre, de ser aceite socialmente por outras pessoas, bem como de superar os seus próprios limites, à semelhança do que sucede com o grupo de incapacidades motoras.