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Capítulo I – Natureza, Ruralidade, Bem-Estar e Turismo em Espaço Rural (TER)

1. Conceptualização de Turismo: Recursos Turísticos e Turismo de Nicho

1.2. O Turismo em Espaços Rurais (TER)

1.2.3. Benefícios e Preocupações

O turismo assume um grande papel nas áreas rurais, um papel revitalizante devido à perda de valor económico do sector primário (principal actividade e fonte de rendimento nestes espaços) que levou à sua desertificação (Robers e Hall, 2001; Rodrigues et al., 2010; Sousa, 2008; Lane, 2009).

Os benefícios do turismo para os meios rurais são variados, como: a diversificação da economia e das actividades já existentes; o aumento de divisas disponíveis para a preservação da cultura local; o acréscimo no investimento privado e público; mais emprego e melhoria de outras infraestruturas (Roberts e Hall, 2001; Eusébio e Figueiredo, 2014; Silva, 2009; Lane, 2009; UNWTO, 2004). Para Fons et al. (2010), o turismo rural tende a ser mais estável em termos de flutuações económicas, ao contrário do que ocorre no turismo de massas, para além do menor risco associado (devido ao investimento mais reduzido) e da realização mais rápida do investimento efectuado.

Esta estratégia tem sido dinamizada por diversos instrumentos de apoio, como os programas comunitários europeus, nomeadamente o LEADER e o FEADER e, mais recentemente, pelo Programa de Desenvolvimento Rural (PDR) 2014-2020. Estes programas referem que o turismo e outras actividades, principalmente a agricultura, podem trabalhar em uníssono. Além disso, os programas e vários autores salientam que o desenvolvimento sustentável é a única forma do turismo manifestar a sua capacidade revitalizadora nestas áreas rurais.

De facto, se este desenvolvimento não for controlado e bem planeado numa perspectiva plena, também pode trazer aspectos negativos, como a distorção ou destruição da identidade e da cultura local, a degradação do património ou a redução dos benefícios económicos, se o desenvolvimento não envolver a população local (Macleod, 2005; Novelli e Benson. 2005; Roberts e Hall, 2001).

Elementos culturais e identitários são, muitas vezes, remodelados para irem de encontro com o perfil dos turistas, provocando inúmeras consequências, como uma percepção errada da realidade em questão, afectando a memória social, que pode até afectar a própria memória dos locais (Urry 1995). A destruição da cultura da comunidade de acolhimento pode ser uma realidade, sobretudo nas regiões mais desfavorecidas (como as áreas rurais), devido à sua dependência em relação ao exterior (Meethan, 2001; Britton, 1999; Roberts e Hall, 2001; Ferraz, 2012).

É difícil, mas é necessário, encontrar um equilíbrio na utilização dos recursos, que acompanhe o desenvolvimento das sociedades (Eusébio e Figueiredo, 2014), pois segundo Covas (2005:84) “(…) os valores culturais, patrimoniais, naturais e paisagísticos do mundo rural são um bem público inestimável cuja fragilidade importa contrariar a todo o custo”. Para além disso, é necessário contar que nem todo o mundo rural tem a potencialidade de se desenvolver turisticamente (Roberts e Hall, 2001). Mesmo havendo potencialidades, é fundamental identificar as características do meio. Muitas até podem ser frágeis e desaconselháveis para o turismo, sendo necessária uma política de progresso consciente (Roberts e Hall, 2001; Lane, 2009), até porque o turismo não pode ser visto como a solução de todos os problemas (Walmsley, 2003;

33 Sousa, 2008), pois às vezes funciona somente como um “(…) revelador de fragilidades em termos da criatividade sobre os territórios (…)” (Sousa, 2008:11).

Para um desenvolvimento sustentável, segundo Eusébio e Figueiredo (2014:56), é necessário: (1) analisar as necessidades do destino turístico rural; (2) identificar as potencialidades, oportunidades, fraquezas e ameaças do desenvolvimento turístico na região; (3) identificar a forma de turismo mais adequada, indo de encontro, não só às necessidades da região, mas às dos turistas; (4) definir a capacidade de carga do destino; (5) desenvolver estudos de mercado e uma mensagem ou campanha de marketing eficaz; (6) acompanhar todo o desenvolvimento turístico, na óptica do turista e dos locais; (7) implementar medidas para o aumento da satisfação e fidelização dos turistas.

Estes princípios para o desenvolvimento turístico sustentável em espaços rurais vão de encontro ao que Covas (2006:108) define como “segredo da segunda modernidade”, ou seja, encontrar um “(…) ponto de equilíbrio entre produção, conservação e recreação, os três polos da nova economia do desenvolvimento rural (…)”, bem como as três dimensões de desenvolvimento sustentável apresentadas por Sousa (2008), Barros (2010) e Middleton e Hawkins (1998), correspondentes aos níveis económico, social e ambiental. Esta perspectiva sustentável é transposta para o turismo rural por Fons et al. (2010) e Carvalhinho et al. (2013) referindo que é necessário preservar os recursos, a diversidade natural e a autenticidade das culturas locais em todos os aspectos, bem como salvaguardar a viabilidade económica de longo prazo, com uma distribuição equitativa dos benefícios entre todos os stakeholders, aumentando (através do diálogo) a consciencialização de todos para a valorização destes espaços evitando a massificação dos mesmos (Covas, 2005).

O envolvimento da comunidade local torna-se também essencial no desenvolvimento do turismo em espaços rurais (Novelli e Benson, 2005), tanto mais que os seus modos de vida são objecto de apreciação por parte dos turistas (Roberts e Hall, 2001; Kastenholz et al., 2014; Eusébio e Figueiredo, 2014; Carvalho et al., 2011; Fons et al., 2010; Kastenholz e Lima, 2011; Sousa, 2008). A boa hospitalidade é uma característica realçada pelos turistas em meio rural, havendo também uma visão positiva entre as comunidades na recepção de turistas.

Além disso, é necessário uma promoção da oferta do meio rural adaptada às novas exigências dos turistas, através de uma estratégia de marketing forte e eficiente que possa aumentar o grau de satisfação dos turistas em espaços rurais (Loureiro, 2010). Todavia, Walmsley (2003) refere que há uma má promoção dos destinos rurais, sendo necessário não só o entendimento do turista, que visita estas áreas e as rápidas mudanças nos hábitos de consumo da sociedade, mas também das comunidades para que realmente sintam os benefícios que uma actividade como o turismo pode trazer. Nesta linha de pensamento Lane (2009) destaca que os empreendedores do turismo rural precisam de tirar o maior partido das ferramentas de marketing e de promoção turística, salientando que é necessário compreender o imaginário que o turista tem do mundo rural para que a sua actividade de empreendedores não traga malefícios.

No contexto nacional, a falta de associativismo é um factor importante a contrariar o desenvolvimento coeso e uma promoção coerente do turismo rural, apesar da

34 existência de algumas iniciativas como a TURIHAB (Associação do Turismo de Habitação), a PRIVETUR (Associação Portuguesa de Turismo de Habitação), a ATA (Aldeias de Portugal), a Solares de Portugal, a Madeira Rural (Associação do Turismo em Espaço Rural na Região Autónoma da Madeira), entre outras. Silva (2009) identifica a importância destas associações na criação, melhoramento e requalificação de unidades turísticas, na criação de linhas de comunicação entre vários proprietários, para combater a falta de qualificação profissional no ramo ou na promoção (focada em campanhas publicitárias na Internet ou em plataformas electrónicas), como é o caso da recente CENTER, Central Nacional do Turismo em Espaço Rural.

Na promoção de um destino turístico é necessário desenvolver uma mensagem correcta, tendo em conta segmentos turísticos particulares, ou seja, atendendo ao perfil e às motivações do turista. Logo, a motivação torna-se um conceito-chave no mundo turístico, pois os turistas são atraídos para determinados destinos ou consomem um produto turístico de acordo com as motivações pessoais (Moutinho, 2010; Roberts e Hall, 2001; Chen et al., 2008). Um destino é competitivo se conseguir atrair e satisfazer potenciais turistas (Enright e Newton, 2004); por isso, compreender o comportamento do consumidor é fundamental para a segmentação de mercado e para atingir o público- alvo, sendo um ponto destacado por Silva (2009) em relação à elaboração das campanhas publicitárias do TER em Portugal. Tendo em conta o que foi referido, irá ser abordada esta questão mais detalhadamente num ponto deste capítulo (motivação, comportamento e perfil dos turistas), que ajudará a fazer a ponte entre dois segmentos distintos, ou seja, o turismo em espaço rural (TER) e o turismo de bem-estar.

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Capítulo II – Do TER ao Turismo Rural de Bem-Estar