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Hipótese 3: Existem características gerais ligadas ao perfil socioeconómico e/ou estilo de

Capítulo IV – Análise dos Dados Obtidos: Caracterização da Oferta e Procura

4.6. Questionário aos Turistas: caracterização do turista em espaço rural

4.6.3. Hipótese 3: Existem características gerais ligadas ao perfil socioeconómico e/ou estilo de

as motivações associadas à procura do bem-estar em espaços

rurais ou à sua percepção de como estes espaços o podem

promover?

A análise da última hipótese colocada permitiu verificar que, de uma forma geral, existe uma aprovação da área rural calhetense como um local que poderá contribuir para promover o bem-estar num meio natural e simples. Contudo, será que essa aprovação pode ser distinta em função de aspectos-chave ligados ao perfil e ao estilo de vida dos turistas? Para analisar esta questão foram seleccionadas algumas variáveis, nomeadamente, o estilo de vida, a condição médica, a idade, o sexo, a nacionalidade, o nível de escolaridade e a residência.

De entre os inquiridos que consideraram o seu estilo de vida equilibrado, 79.47% concordou com as potencialidades do meio para a promoção do bem-estar, sendo de 74.19% a mesma opinião entre os não seguidores de um estilo de vida equilibrado. Dos inquiridos que consideraram o destino como um bom local para prosseguir um estilo de vida saudável, 24.02% confirmaram já ter um estilo de vida saudável e 21.39% acha que a região promove o bem-estar. Apenas 6.45% dos que afirmam ter um quotidiano não- saudável acha que a Calheta poderá promover o bem-estar. 81.59% da amostra que considerou ter um estilo de vida saudável concordou com a opção ‘sim’ relativamente ao meio promotor de bem-estar, embora esta percentagem seja um pouco inferior entre os indivíduos com um problema de saúde já diagnosticado (72.2%). É também entre os mais jovens que se manifesta uma maior concordância, dado que entre os inquiridos com idade até aos 39 anos a percentagem dos que consideram a região como promotora do bem-estar é superior a 85%. Os indivíduos com idades mais avançadas apresentam uma percentagem um pouco mais reduzida (abaixo dos 80%).

Tendo em conta o sexo dos inquiridos verifica-se que existe um equilíbrio quanto à opinião manifestada, havendo uma concordância com a promoção do bem-estar dos ambientes rurais da Calheta a rondar os 80%.

No que respeita ao país de origem dos turistas inquiridos as variações de opinião não são significativas. No geral admite-se as potencialidades do meio rural calhetense, mas destacam-se os indivíduos oriundos de certos países (com percentagem superior a 80%), nomeadamente os inquiridos dos Países Baixos e da Alemanha (tendo presente a importância destes mercados para a região).

A escolaridade/nível de formação não influi de maneira significativa nos valores obtidos (na ordem de 75%), havendo acréscimos na percentagem (para os 80%) à medida que o nível de escolaridade é superior, nomeadamente aqueles de entre os inquiridos que concluíram uma licenciatura ou um mestrado.

De acordo com o local de residência dos inquiridos há uma opinião mais positiva sobre os benefícios dos ambientes rurais (81.25%) entre os que vivem em áreas urbanas, sendo menor para quem já vive numa área rural (73.33%). É interessante apontar que,

101 para quem nunca viveu num meio rural, a opinião é mais positiva sobre as áreas rurais da Calheta terem a capacidade de promover o bem-estar (81.13%).

De uma forma geral, como visto anteriormente, 78% da amostra confirmou as potencialidades das áreas rurais calhetenses na promoção do bem-estar, não existindo valores muito díspares conforme as características do perfil socioeconómico ou do estilo de vida do turista. É de considerar que quem já pratica de estilo de vida saudável e é um pouco mais jovem tem maior propensão para considerar os benefícios da ruralidade.

Do ponto de vista motivacional existe uma opinião clara e consensual dos benefícios para o bem-estar que uma experiência em meio rural, em contacto directo com a natureza, pode trazer ao indivíduo. Assim, podemos concluir que não existem discrepâncias significativas entre inquiridos em função do estilo de vida, doença diagnosticada, residência (urbana ou rural) e níveis de stress, pelo que a hipótese em teste tem uma resposta negativa. Porém, tendo conta a média das classificativas das principais motivações (segundo as características individuais dos inquiridos) é de destacar:

 Entre os inquiridos que optam por um estilo de vida saudável, há uma opinião ligeiramente superior sobre os benefícios dos meios rurais no bem-estar, principalmente aqueles que são vítimas de stress;

 Os indivíduos com uma doença já diagnosticada destacam-se por ter mais em consideração os elementos promotores do bem-estar, procurando também condições ligadas a um melhor estilo de vida, mas revelam ser menos adeptos da realização de actividades físicas;

 Apesar de ser entre os inquiridos que residem em meio urbano que se encontra mais vincada a convicção dos benefícios que o meio rural calhetense pode oferecer para a promoção do bem-estar, são os residentes em meio rural que estão mais motivados na procura do bem-estar. Note-se que são, essencialmente, os residentes em meios urbanos que procuram consumir mais produtos frescos, pretendem descansar mais fisicamente e não desejam cumprir horários;

De uma forma geral, os inquiridos que admitem ser alvo de stress têm maior motivação na procura de elementos naturais ligados ao bem-estar.

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Quadro 15: Diferenças entre as motivações principais na busca do bem-estar, tendo em conta o estilo de

vida, estado de saúde, residência e incidência do stress.

Motivações Principais Estilo de Vida (Médias) Média Geral

Saudável Não Saudável

Apreciar a beleza das paisagens 8.85 ▼8.80 8.84 Explorar um novo lugar 8.43 ▼8.28 8.42 Experienciar um clima mais agradável e quente 8.60 ▼7.44 8.03 Estar em contacto com a natureza 8.03 ▼7.76 7.99 Poder desanuviar do stress e descansar psicologicamente ▼7.38 7.96 7.47 Escapar do quotidiano ▼7.14 8.00 7.26 Estar num ambiente amigável e seguro 7.48 ▼7.12 7.03 Oportunidade de descansar fisicamente 7.13 ▼6.56 7.02 A não obrigatoriedade de cumprir horários 6.99 ▼6.52 6.94 Possibilidade de se ‘desligar’ num lugar mais apetecível ▼6.69 7.28 6.83 Ter uma visita relaxante e rejuvenescedora 6.82 ▼6.52 6.77 Poder realizar actividades em contacto com a natureza 6.65 ▼6.00 6.56 Estar numa localidade mais despovoada e isolada 6.48 ▼6.40 6.47 Experimentar produtos frescos locais (ex. legumes, frutas, etc.) 6.37 ▼5.72 6.26 Oportunidade de estar numa área montanhosa ▼6.20 6.28 6.24 Oportunidade de se envolver nalguma actividade física 6.38 ▼4.60 6.13

Busca Directa pelo Bem-Estar Saudável Não Saudável Média Geral

Oportunidade de recuperar de alguma condição menos positiva a

nível do seu bem-estar ▼4.98 5.44 5.04 Iniciar um estilo de vida mais saudável 3.92 ▼3.88 3.91

Motivações Principais Doença Diagnosticada Média Geral

Sim Não

Apreciar a beleza das paisagens ▼8.84 8.89 8.84 Explorar um novo lugar 8.87 ▼8.41 8.42 Experienciar um clima mais agradável e quente 8.09 ▼8.02 8.03 Estar em contacto com a natureza 8.12 ▼8.11 7.99 Poder desanuviar do stress e descansar psicologicamente 7.52 ▼7.44 7.47 Escapar do quotidiano 8.03 ▼7.04 7.26 Estar num ambiente amigável e seguro 7.06 ▼7.04 7.03 Oportunidade de descansar fisicamente 6.79 ▼6.55 7.02 A não obrigatoriedade de cumprir horários ▼6.55 7.02 6.94 Possibilidade de se ‘desligar’ num lugar mais apetecível 6.85 ▼6.81 6.83 Ter uma visita relaxante e rejuvenescedora ▼6.66 6.81 6.77 Poder realizar actividades em contacto com a natureza ▼5.59 6.59 6.56 Estar numa localidade mais despovoada e isolada 6.82 ▼6.67 6.47 Experimentar produtos frescos locais (ex. legumes, frutas, etc.) ▼6.09 6.29 6.26 Oportunidade de estar numa área montanhosa 6.42 ▼6.28 6.24 Oportunidade de se envolver nalguma actividade física ▼5.33 6.36 6.13

Busca Directa pelo Bem-Estar Sim Não Média Geral

Oportunidade de recuperar de alguma condição menos positiva a

nível do seu bem-estar 5.45 ▼4.94 5.04 Iniciar um estilo de vida mais saudável 4.18 ▼3.81 3.91

Motivações Principais Residência Média Geral

Meio Urbano Rural

Apreciar a beleza das paisagens ▼8.84 9.30 8.84 Explorar um novo lugar ▼8.44 8.60 8.42 Experienciar um clima mais agradável e quente 8.09 ▼8.04 8.03 Estar em contacto com a natureza ▼8.06 8.66 7.99 Poder desanuviar do stress e descansar psicologicamente ▼7.47 7.48 7.47 Escapar do quotidiano ▼7.23 7.56 7.26 Estar num ambiente amigável e seguro ▼6.94 7.76 7.03 Oportunidade de descansar fisicamente 7.11 ▼6.22 7.02 A não obrigatoriedade de cumprir horários 7.35 ▼6.86 6.94 Possibilidade de se ‘desligar’ num lugar mais apetecível ▼6.79 7.00 6.83 Ter uma visita relaxante e rejuvenescedora ▼6.22 7.56 6.77 Poder realizar actividades em contacto com a natureza ▼6.67 7.44 6.56 Estar numa localidade mais despovoada e isolada ▼6.39 7.08 6.47 Experimentar produtos frescos locais (ex. legumes, frutas, etc.) 6.62 ▼6.56 6.26 Oportunidade de estar numa área montanhosa ▼6.18 6.52 6.24 Oportunidade de se envolver nalguma actividade física ▼6.0 6.92 6.13

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Oportunidade de recuperar de alguma condição menos positiva a

nível do seu bem-estar =5.44 =5.44 5.04 Iniciar um estilo de vida mais saudável ▼3.99 4.34 3.91

Motivações Principais Stress Média Geral

Sim Não

Apreciar a beleza das paisagens 9.08 ▼8.71 8.84 Explorar um novo lugar 8.64 ▼8.33 8.42 Experienciar um clima mais agradável e quente 8.28 ▼7.87 8.03 Estar em contacto com a natureza 8.33 ▼7.65 7.99 Poder desanuviar do stress e descansar psicologicamente 8.21 ▼6.69 7.47 Escapar do quotidiano 7.98 ▼6.47 7.26 Estar num ambiente amigável e seguro ▼6.96 7.04 7.03 Oportunidade de descansar fisicamente ▼6.34 6.84 7.02 A não obrigatoriedade de cumprir horários 7.10 ▼6.68 6.94 Possibilidade de se ‘desligar’ num lugar mais apetecível 7.20 ▼6.39 6.83 Ter uma visita relaxante e rejuvenescedora 6.96 ▼6.32 6.77 Poder realizar actividades em contacto com a natureza 6.94 ▼6.26 6.56 Estar numa localidade mais despovoada e isolada 6.53 ▼6.39 6.47 Experimentar produtos frescos locais (ex. legumes, frutas, etc.) ▼6.13 6.46 6.26 Oportunidade de estar numa área montanhosa 6.55 ▼5.98 6.24 Oportunidade de se envolver nalguma actividade física 6.73 ▼5.78 6.13

Busca Directa pelo Bem-Estar Sim Não Média Geral

Oportunidade de recuperar de alguma condição menos positiva a

nível do seu bem-estar 5.28 ▼4.79 5.04 Iniciar um estilo de vida mais saudável 4.05 ▼3.63 3.91

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Conclusão e Considerações Finais

O presente estudo propôs-se elaborar uma nova proposta para a promoção do turismo em espaço rural madeirense, através do desenvolvimento teórico-conceptual de um novo nicho turístico denominado de turismo rural de bem-estar. Este conceito consiste na promoção das áreas rurais como destinos de promoção do bem-estar com base nas suas características naturais e nos benefícios que poderão advir da interacção com um meio naturalmente mais rico e simples.

É necessário, cada vez mais, entender o fenómeno turístico como um todo; uma experiência com várias fases a ter em conta para que haja uma melhor compreensão das necessidades do turista. Só assim se torna possível o desenvolvimento de novos conceitos turísticos integradores e sustentáveis que possam dar resposta à procura (necessidades e motivações) actualmente apresentada pelo turista. A procura turística mostra uma progressiva complexidade e individualidade, pelo que é necessário ajustar a oferta de produtos turísticos flexíveis e diversificados às expectativas dos turistas.

As áreas rurais mostram um enorme potencial para o desenvolvimento de novos nichos turísticos devido à sua dimensão e à diversidade de recursos naturais e culturais que preservam, podendo dar resposta aos desafios que surgem em contraste com os meios urbanos. As áreas rurais podem contribuir para a desejada relação entre Homem e Natureza, com a promoção do bem-estar, onde o indivíduo tem o papel central na interacção com o meio. Esta crescente necessidade deve-se a mudanças nas sociedades modernas, implicando determinados estilos de vida que acabam por mudar os paradigmas ligados aos conceitos de saúde e bem-estar. Para o entendimento do bem- estar é necessário considerar que é uma realidade complexa, multidimensional e distinta para cada indivíduo. Salienta-se, por exemplo, a necessidade de compreender os factores externos às pessoas (como o meio laboral), mas presentes no seu quotidiano, resultando na adopção ou não de um estilo de vida saudável (a nível físico, psicológico, social e espiritual).

Tendo isto em conta, verificou-se que o potencial da natureza e da ruralidade na promoção da saúde e do bem-estar é fundamental, nomeadamente, devido: à preferência por espaços verdes para recuperação de uma condição menos positiva; à maior atractividade e crescente criatividade associada aos meios naturais e rurais (por exemplo, na prática livre de exercício físico); às actividades outdoor, adequadas a qualquer faixa etária ou condição física, enquanto meio para a promoção do bem-estar; aos aspectos sensoriais ligados à natureza (por exemplo, a cor como elemento relaxante); à importância da variedade paisagística e de uma elevada biodiversidade (com particular atenção para espécies endémicas), no rejuvenescimento físico e psicológico e na redução do stress; à perspectiva simbólica, histórica e espiritual da ligação entre o Homem e a Natureza; às vantagens da socialização em espaços verdes, com criação de laços e desenvolvimento de sentimentos altruístas; ao longínquo, como aspecto apreciado para a reconciliação pessoal e espiritual.

Todo este conjunto de características eleva o estatuto das áreas rurais como destinos de bem-estar, podendo ser transportadas para a área do turismo. Existem pontos identificadores em comum entre o turismo em espaço rural e o turismo de bem-estar, principalmente entre os constituintes da procura, onde prevalece a busca pelo descanso,

105 relaxamento, oportunidade de ‘desligar’ num meio isolado e estar em contacto com a natureza. É possível quebrar em parte a visão estereotipada de que os turistas sobrevalorizam a qualidade das infraestruturas no âmbito do turismo de bem-estar. Luxo não é só um bem material, mas sim a possibilidade de obter algo na sua plenitude, como o bem-estar, que poderá ser alcançado de uma forma mais completa nas áreas rurais, devido ao seu contexto natural. A valorização deste contexto e a interacção do turista faz com que seja possível a afirmação do turismo rural de bem-estar.

A Madeira apresenta um cenário ideal para o desenvolvimento de novos nichos turísticos que promovam o bem-estar e o contacto com meios naturais, nomeadamente o turismo rural de bem-estar, ainda não explorado, mas com potencialidades que poderão levar à sua concretização. O próprio desenvolvimento turístico da ilha começou pela promoção das propriedades terapêuticas de certas características físicas e naturais da ilha. Com o tempo essa perspectiva esmoreceu; porém, as áreas predominantemente rurais, como o concelho da Calheta, mantêm viva a riqueza de um património biótico e abiótico único, formando uma paisagem impar para a promoção do bem-estar. Neste contexto existe a possibilidade de realizar inúmeras actividades outdoor. A extensão e a diversidade presente no concelho calhetense são dignas representantes do meio ilhéu em âmbito rural. A serra está representada pelo Paul da Serra, o maior planalto da ilha e porta de acesso à floresta natural e endémica mais importante da ilha, a Laurissilva, sendo esta área comumente denominada no concelho como o Rabaçal. É aqui se encontram os principais percursos pedestres que dão acesso e permitem o contacto aberto com a natureza. Estes percursos dão também visibilidade às áreas humanizadas da paisagem, os lombos, onde a cultura tradicional madeirense ainda prevalece, marcada pela agricultura desenvolvida nos característicos socalcos e recortada pelas típicas levadas. Por fim, temos a área costeira pontuada pelas praias de calhau rolado, por entre as arribas, que permitem vislumbrar uma paisagem única em contacto com o mar.

Hoje, a Madeira afirma-se como destino turístico maduro e tem necessidade de diversificar e inovar a oferta disponível. Mesmo com o sector turístico em crescimento, a ilha apresenta fragilidades económicas que provocam dependências externas a esta actividade económica. Assim, é fundamental elaborar novos conteúdos e maximizá-los no tempo e no espaço, para além de apostar numa melhor estruturação, divulgação e promoção, que poderá passar pelo desenvolvimento do turismo rural de bem-estar, nomeadamente no município da Calheta. O desenvolvimento do turismo rural de bem- estar interliga-se bem com as estratégias definidas para o desenvolvimento do turismo regional, diversificando a experiência turística e contribuindo para a inovação da imagem do turismo rural madeirense. Para além de um património naturalmente rico, base das potencialidades para a promoção do bem-estar, encontram-se já elementos caracterizadores do turismo regional que poderão impulsionar o crescimento deste nicho. Os estudos dedicados à importância da natureza para a saúde e o bem-estar, realizados por autores oriundos de países incluídos nos mercados turísticos emissores do TER na Madeira, são um bom indicador das potencialidades de desenvolvimento. Adicionalmente, existe uma maior proximidade do turista TER na Madeira ao turista rural de bem-estar e ao turismo de bem-estar no geral, visto que os elementos associados ao perfil deste conjunto de turistas apresentam muitas semelhanças, por exemplo: a duração mais longa das estadias, os principais factores motivacionais

106 relacionados com a necessidade de escape, a realização de actividade física ligeira, o relaxamento e o descanso em sintonia com a natureza. Note-se que as características ligadas ao património natural têm maior destaque, de acordo com os turistas inquiridos, para promoção do bem-estar em espaços rurais do que elementos culturais, apesar de haver vontade dos turistas em conhecer a gastronomia e alguns pontos de interesse locais.

Os resultados obtidos através dos inquéritos por questionário realizados para a análise da procura turística no município da Calheta, permitiram comprovar alguns dos aspectos discutidos ao longo da dissertação. O principal resultado prende-se com a forte viabilidade do turismo rural de bem-estar na ilha. Entre os inquiridos, existe uma procura pelo relaxamento, o descanso e o isolamento em contacto com a natureza, que influencia a escolha da acomodação. Por isso, acabam também por ter interesse em actividades outdoor, comprovadas como meios excelentes para obtenção de um melhor bem-estar, existindo, concomitante, uma consciência por parte dos turistas das potencialidades do meio rural calhetense na promoção do bem-estar. Para este bem-estar os inquiridos destacam benefícios a nível psicológico, físico e espiritual. Mesmo com uma baixa representatividade das respostas fornecidas sobre considerações e recomendações do meio rural na promoção do bem-estar, existe uma referência coerente a elementos naturais (em concordância com os estudos referidos no primeiro capítulo da dissertação), ou seja, destaque da relação entre natureza, ruralidade, saúde e bem-estar. Apesar de não se terem verificado características individuais associadas ao perfil socioeconómico e/ou estilo de vida que possam influenciar as motivações, os inquiridos alvos de stress com residência em meio urbano e/ou um problema médico já diagnosticado têm uma maior motivação na procura de elementos naturais ligados ao bem-estar.

Em resumo, as áreas rurais madeirenses, nomeadamente o concelho da Calheta, apresentam excelentes características intrínsecas (quer da procura quer da oferta) para o desenvolvimento de um novo nicho turístico que promova o bem-estar em áreas rurais. O turismo rural de bem-estar poderá dar uma resposta efectiva à necessidade de desenvolvimento e requalificação das áreas rurais, desde que se diversifique, em simultâneo, a oferta turística de uma forma global e integradora.

Salienta-se, porém, algumas limitações do presente estudo. Devido a constrangimentos temporais e dimensionais, existem limitações que permitam a caracterização estruturada e mais aprofundada dos recursos encontrados, que constituem o levantamento da oferta no concelho da Calheta. Apesar de terem sido identificados, gostaríamos de ter podido completar as fichas-inventário dos recursos naturais, culturais e turísticos. Uma outra lacuna prende-se com o escasso material cartográfico inserido no trabalho, nomeadamente sobre as características mais relevantes do concelho e sobre a localização espacial dos recursos. Com a reduzida participação dos inquiridos nas perguntas de resposta aberta, a interligação entre os dados obtidos e a análise da oferta turística ficou menos rica. Para além disso, as taxas de resposta mais reduzidas obtidas em algumas questões levou a que as mesmas não se possam considerar representativas da amostra recolhida.

107 Todavia, estas limitações representam uma oportunidade para a realização de futuros estudos no âmbito da temática abordada. O recurso à inferência estatística permitirá uma melhor análise dos dados estatísticos, de forma a estabelecer uma melhor relação entre as variáveis presentes no questionário e, consequentemente, obter mais informação sobre o perfil do turista que visita as áreas rurais em busca do bem-estar. Para além disso, a utilização de sistemas de informação geográfica (SIG) teria sido uma importante ferramenta, não só para a cartografia de recursos e a sua análise espacial, pelo que terá de ser aplicada no futuro com vista ao correcto planeamento e gestão das actividades e infra-estruturas de turismo no concelho da Calheta (ou noutros predominantemente rurais, permitindo a extensão deste estudo na Ilha da Madeira). Simultaneamente, a utilização de ferramentas SIG permitirá a criação e monitorização de roteiros de bem-estar de carácter generalista ou temáticos, facilitando também a sua promoção. A criação de roteiros turísticos rurais ligados ao bem-estar será importante para o fortalecimento deste nicho turístico (podendo ter uma utilização generalizada para outros perfis de turistas) e para comprovar os benefícios do bem-estar em contexto rural madeirense.

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Bibliografia

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Associação Comercial e Industrial do Funchal – Câmara de Comércio e Indústria da Madeira (ACIF-CCIM) (2015) Documento Estratégico para o Turismo na RAM – Relatório Diagnóstico ao Actual Posicionamento da Madeira.