• Nenhum resultado encontrado

Uso e Ocupação do Solo e Património Natural Biótico

Capítulo IV – Análise dos Dados Obtidos: Caracterização da Oferta e Procura

4.2. Principais Características Físicas

4.2.3. Uso e Ocupação do Solo e Património Natural Biótico

De acordo com o último inventário florestal regional (SRA e DRFCN, 2015), a ocupação do solo na ilha da Madeira está dividida em seis categorias distintas: a floresta e outras áreas arborizadas; os matos e herbáceas (incluindo pousios agrícolas, pastagens naturais e terrenos abandonados); os improdutivos (terrenos estéreis ou com fraca capacidade de desenvolvimento vegetal); a agricultura; o meio urbano; as águas interiores.

De acordo com o Programa de Desenvolvimento Rural para a RAM (PRODERAM) (Madeira Rural, 2015) existe entre 74% e 79% (cerca de 58 294 ha) do território regional com aptidão florestal. Contudo, somente 46% é ocupada pela floresta e outras áreas arborizadas. Os matos e herbáceas representam 33%, a agricultura 12%, as áreas urbanas 7%, as áreas improdutivas 2% e as águas interiores ocupam apenas 1%. A produção agrícola é condicionada pelo relevo especialmente acidentado da ilha pelo que se encontra apenas desenvolvida em áreas de declive baixo e médio (entre 16% e 25%), com recurso à construção e manutenção de muros de suporte e de socalcos (Neves, 2010; Madeira Rural, 2015). Este sector produtivo tem vindo a reduzir-se, resultando no abandono da actividade agrícola e na reconquista destas áreas por espécies indígenas (como o massaroco, o loureiro e o barbuzano), ou invasoras (como as acácias e as canas vieiras, principais nas áreas mais altas) (Figueiredo, 2008).

65 Da área com aptidão florestal ocupada por floresta e outras áreas arborizadas, 45 a 47% é floresta natural, 48 a 49% é floresta cultivada (eucalipto, pinheiro bravo, acácia, castanheiro e outras) e 5 a 6% são ‘outras áreas arborizadas’ (principalmente urzes arbóreas) e matos (urze-de-vassoura, silvado, carqueja e giesta). Note-se que 99% da floresta natural é representada pela floresta Laurissilva, enquanto somente 1% é floresta ripícola (floresta que se desenvolve ao longo dos cursos de água) (Madeira Rural, 2015; SRA e DRFCN, 2015). Infelizmente grande parte da vegetação endémica da região foi- se perdendo com o tempo, devido à má intervenção humana, principalmente nos locais de menor altitude (onde há uma maior concentração populacional). O pastoreio livre, a actividade agrícola e o abate de árvores para a produção de matéria-prima são alguns dos factores que contribuíram para a redução do coberto vegetal (Madeira Rural, 2015; Figueira, 2009). A vegetação endémica centra-se nas zonas de maior altitude, principalmente nos concelhos de Porto Moniz, São Vicente e Santana, mas também nas zonas mais a N dos concelhos da vertente SW, nomeadamente na Calheta, com destaque para toda a área do Rabaçal e Paul da Serra (Neves, 2010; Madeira Rural, 2015).

Devido a haver pouca vegetação autóctone na vertente S da ilha, introduziram-se espécies (a partir do séc. XX), como o pinheiro bravo e o eucalipto. A sua rápida propagação, a redução do uso de lenha e o abandono de espaços agrícolas, contribuíram para o desequilíbrio dos sistemas naturais. Mais recentemente, entre 2010 e 2012, os incêndios afectaram profundamente a superfície florestal (Madeira Rural, 2015; Neves, 2010; Figueira, 2009).

As características físicas da ilha da Madeira e a sua localização geográfica possibilitam a existência de uma grande variedade de ecossistemas, onde se integram inúmeros habitats a nível faunístico e florístico. A diversidade florística tem grande destaque, sendo um dos ecossistemas mais importantes o da floresta Laurissilva (Madeira Rural, 2015). A Laurissilva é considerada Reserva Biogenética na rede europeia sob a tutela do Conselho da Europa e foi classificada como Património Mundial da UNESCO (United Nations Educational, Scientific and Cultural

Organization), em 1999 (SRA, 2003). Abrange 15.868ha e está localizada

principalmente na área do PNM. É de características higrófilas, sub-tropical húmida e, durante o período Terciário, ocupava o S da Europa (PNM, 2016d; Madeira Rural, 2015; Figueira, 2009). Constitui um património riquíssimo a nível botânico e científico, denominado como floresta relíquia e floresta da Macaronésia. (PNM, 2016d; Madeira Rural, 2015). Actualmente a Laurissilva encontra-se principalmente na vertente N, entre 300 e 1300m de altitude, devido à posição geográfica e às condições climáticas favoráveis nesta parte da ilha, principalmente a nível da abundância de água (Neves, 2010; Prada, 2000). Na ilha, a vegetação tem um enorme papel na retenção de água, como também na ocorrência de precipitação oculta (Prada, 2000; Borges et al., 2008; Figueira, 2009) e, por isso, a floresta representa um enorme reservatório de água que ajuda a manutenção dos cursos de água e o combate à erosão nas encostas mais íngremes (Neves, 2010; Madeira Rural, 2015). É constituída por 3 estratos distintos: o arbóreo, o arbustivo e o herbáceo, sendo constituídos por espécies únicas9.

9

66 Em relação à fauna o arquipélago da Madeira apresenta uma grande variedade de fauna marinha, como a de macroinvertebrados de águas superficiais interiores (aproximadamente 240 espécies, sendo 30% endémica), moluscos (com uma das maiores diversidades a nível mundial, com 256 espécies), vertebrados de águas interiores (3 espécies de peixe e uma anfíbia). Destaca-se ainda o lobo-marinho (Monachus Monachus), espécie que se encontra em vias de extinção (Madeira Rural, 2015; SRA, 2003). A avifauna, com maior reconhecimento, apresenta 42 espécies, destacando-se a Freira da Madeira (Pterodroma Madeira), o Pombo Torcaz (Columba

Trocaz) e outras cujo habitat preferencial é a floresta Laurissilva, como o Bis-bis

(Regulus Ignicapillus Madeirensis), a Andorinha da Serra (Apus Unicolor) o Tentilhão (Fringilla Coclebs Madeirensis), a Lavandeira (Motocilla Cinerca Schmitzi) e a Manta (Buteo Buteo Harterti). No mesmo habitat existe também o Morcego-Arborícola-da- Madeira (Nyctalus Leisleri Verrucosus) e a Tarântula da Laurissilva (Lycosa

Blackwalii) (Madeira Rural, 2015; Faria, 2006; SRA, 2003; Figueiredo, 2008).

Devido a esta riqueza biótica, na RAM existem 11 espaços classificados como áreas protegidas, ocupando 30% do território, que pertencem à Rede Natura 2000 (Sítios de Interesse Comunitário), através da Directiva ‘Aves’ e a Directiva ‘Habitats’, que estão integrados na classificação regional descritos como Zonas Especiais de Conservação (ZEC) e/ou Zonas de Protecção Especial (ZPE) (PNM, 2016c). Na ilha da Madeira existem 3 espaços classificados a nível regional como áreas protegidas: o Parque Natural da Madeira (PNM), a Reserva Natural Parcial do Garajau e a Reserva Natural da Rocha do Navio. Porém, existem outros espaços classificados e integrados na Rede Natura 2000: o Maciço Montanhoso Central (ZEC, ZPE e integrado no PNM), a Laurissilva (ZEC, ZPE e maioritariamente integrada no PNM), a Ponta de São Lourenço (ZEC e parcialmente integrada no PNM), o Ilhéu da Viúva (ZEC e sobreposta com a Reserva Natural da Rocha do Navio), as Achadas da Cruz (ZEC), os Moledos (ZEC) e o Pináculo (ZEC) (PNM, 2016c)10.

O Parque Natural da Madeira foi criado em 1982 com o objectivo de preservar todo o património natural da ilha e abrange 67% da superfície, sendo menos representativo nas áreas urbanas, mas englobando um vasto património cultural (imaterial e material), visto incluir espaços humanizados, principalmente nas áreas rurais, que remontam ao início do povoamento da ilha (Madeira Rural, 2015; Neves, 2010)11.