• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2 – ANÁLISE CRÍTICA DAS PARCELAS NÃO INTEGRANTES DA

2.1 Benefícios da previdência social

A primeira parcela que a lei aborda como excluída da remuneração consiste dos benefícios da previdência social, ao dispor que, à exceção salário-maternidade, nos termos e limites legais, não integram a base de cálculo das contribuições previdenciárias.180

Dentre os benefícios e serviços elencados no art. 18 da Lei n.º 8.213, de 1991, que trata dos Planos de Benefícios da Previdência Social serão abordados os benefícios concedidos ao segurado em atividade (salário-família), ao segurados em situação de inatividade temporária (auxílio-doença) e ao segurado em atividade que sofreu sequela resultante de acidente sofrido (auxílio-acidente).181

A constituição assegura como direito dos trabalhadores, de baixa renda, o salário- família, pago em razão de seus dependentes. Trata-se de benefício destinado ao segurado empregado e trabalhador avulso de baixa renda na proporção do respectivo número de filhos ou equiparados, até 14 anos de idade ou inválido de qualquer idade. 182183184

O salário-família não possui fonte de custeio individualizada e também não se constitui base de cálculo das contribuições previdenciárias, sendo certo que perdeu expressão em

179 De acordo com o art. 111, II, do CTN, a legislação tributária que disponha sobre outorga de isenção deve ser

interpretada literalmente. Pretende o legislador atribuir prevalência ao elemento gramatical das leis pertinentes à outorga de isenção, por entender tratar-se de matéria excepcional.

180 Art. 28, § 9º, “a” da Lei nº 8.212, de 1991: “ § 9º Não integram o salário-de-contribuição para os fins desta Lei,

exclusivamente: (...) a) os benefícios da previdência social, nos termos e limites legais, salvo o salário- maternidade; (Redação dada pela Lei nº 9.528, de 10.12.97).”

181 Art. 18, da Lei nº 8.213, de 1991: “Art. 18. O Regime Geral de Previdência Social compreende as seguintes

prestações, devidas inclusive em razão de eventos decorrentes de acidente do trabalho, expressas em benefícios e serviços: I - quanto ao segurado: a) aposentadoria por invalidez; b) aposentadoria por idade; c) aposentadoria por tempo de serviço; c) aposentadoria por tempo de contribuição; (Redação dada pela Lei Complementar nº 123, de 2006) d) aposentadoria especial; e) auxílio-doença; f) salário-família; g) salário-maternidade; h) auxílio-acidente; i) (Revogada pela Lei nº 8.870, de 1994); II - quanto ao dependente: a) pensão por morte; b) auxílio-reclusão; III - quanto ao segurado e dependente: a) (Revogada pela Lei nº 9.032, de 1995) b) serviço social; c) reabilitação profissional.”

182 Art. 7º, XII da CRFB: “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à

melhoria de sua condição social: (...) XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)”

183 Art. 65 e art. 66, da Lei nº 8.213, de 1991.

184 A Portaria Interministerial MF/MPS nº 1, de 2016, fixou o salário-família: no valor de R$ 41,37 para o segurado

com remuneração mensal não superior a R$ 806,80; e R$ 26,20 para o segurado com remuneração mensal superior a R$ 806,80 e igual ou inferior a R$ 1.212,64.

decorrência do baixo valor do benefício. As cotas do salário-família são pagas pela empresa, mensalmente, junto com o salário, efetivando-se compensação quando do recolhimento das contribuições previdenciárias. 185 186

Apesar da denominação salário-família, o referido direito não possui natureza salarial. Em verdade, trata-se de prestação previdenciária destinada aos hipossuficientes, possuindo natureza especificamente previdenciária. Portanto, não integram a base de cálculo das contribuições previdenciárias as cotas do salário-família que são pagas pela empresa ou pelo empregador doméstico, mensalmente, junto com o salário, efetivando-se a compensação quando do recolhimento das contribuições.

Neste mesmo sentido posicionou-se o STJ:

TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. CONTRIBUIÇÃO

PREVIDENCIÁRIA A CARGO DA EMPRESA. REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. NÃO INCIDÊNCIA SOBRE AS SEGUINTES VERBAS: GRATIFICAÇÕES E PRÊMIOS PAGOS DE FORMA EVENTUAL E SOB O SALÁRIO FAMÍLIA. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO.

1. Cinge-se a controvérsia dos autos acerca da incidência de contribuição previdenciária sobre: gratificações, prêmios e salário família.

(...)

3. A doutrina nacional aponta que a natureza jurídica do salário-família não é de salário, em que pese o nome, na medida que não é pago em decorrência da contraprestação de serviços do empregado. Trata-se, de benefício previdenciário, pago pela Previdência Social. Analisando a legislação de regência (artigo 70 da Lei 8.213/1991 e artigo 28, § 9º, "a" da Lei 8.212/1991) verifica-se que sob o salário família não incide contribuição previdência, em razão do seu caráter previdenciário, e não salarial.187

O auxílio-doença é devido ao segurado do RGPS que, havendo cumprido, quando for o caso, o período de carência exigido, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos.188

Para o segurado empregado, o auxílio-doença será devido a contar do décimo sexto dia do afastamento da atividade. Para os demais, a contar da data do início da incapacidade. Durante

185 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de Direito Previdenciário. 5 ed. São Paulo: LTr, 2013, p. 892. 186 Art. 68 da Lei nº 8.213, de 1991, com redação dada pela Lei Complementar nº 150, de 2015.

187 STJ, 2ª Turma, REsp 1275695/ES, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, DJe 31/08/2015. 188 Art. 59 da Lei n.º 8.213, de 1991.

os primeiros quinze dias consecutivos ao do afastamento da atividade por motivo de doença, incumbirá à empresa pagar ao segurado empregado o seu salário integral.189190

Estas considerações se fazem necessárias para que não se confunda a parcela que é paga pela empresa ao empregado nos primeiros quinze dias de afastamento, que não se trata de benefício assumido pela previdência social, com o benefício previdenciário denominado auxílio-doença, que é devido pela previdência social a contar do décimo sexto dia do afastamento do empregado da atividade laboral.

A celeuma acerca da incidência ou não de contribuições previdenciárias sobre os valores pagos nos 15 primeiros dias de afastamento do empregado, por motivo de doença e acidente, foi superada pelo STJ, em julgamento processado nos termos do art. 543-C do CPC, de 1973, por considerar que tais verbas não possuem natureza salarial:

2.3 Importância paga nos quinze dias que antecedem o auxílio- doença. No que se refere ao segurado empregado, durante os primeiros quinze dias consecutivos ao do afastamento da atividade por motivo de doença, incumbe ao empregador efetuar o pagamento do seu salário integral (art. 60, § 3º, da Lei 8.213/91 com redação dada pela Lei 9.876/99). Não obstante nesse período haja o pagamento efetuado pelo empregador, a importância paga não é destinada a retribuir o trabalho, sobretudo porque no intervalo dos quinze dias consecutivos ocorre a interrupção do contrato de trabalho, ou seja, nenhum serviço é prestado pelo empregado. Nesse contexto, a orientação das Turmas que integram a Primeira Seção/STJ firmou-se no sentido de que sobre a importância paga pelo empregador ao empregado durante os primeiros quinze dias de afastamento por motivo de doença não incide a contribuição previdenciária, por não se enquadrar na hipótese de incidência da exação, que exige verba de natureza remuneratória.

Nesse sentido: AgRg no REsp 1.100.424/PR, 2ª Turma, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe 18.3.2010; AgRg no REsp 1074103/SP, 2ª Turma, Rel. Min. Castro Meira, DJe 16.4.2009; AgRg no REsp 957.719/SC, 1ª Turma, Rel. Min. Luiz Fux, DJe 2.12.2009; REsp 836.531/SC, 1ª Turma, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 17.8.2006. 191

Não há como discordar da conclusão pela não incidência de contribuição previdenciária sobre a parcela paga nos quinze dias que antecedem o auxílio-doença. Isso porque o artigo 60, § 3º, da Lei 8.213, de 1991, tem o objetivo de transferir o encargo da previdência social para o empregador e, nesses quinze dias, não há pagamento de salário, mas sim um auxílio que lhe foi transferido pela lei. Trata-se de política previdenciária, destinada a desonerar os cofres da

189 Art. 60 da Lei n.º 8.213, de 1991. 190 Art. 60, § 3º da Lei n.º 8.213, de 1991.

previdência social. Desse modo, a transferência do encargo referente aos primeiros quinze dias de incapacidade do empregado não transforma o auxílio pago pelo empregador em verba de natureza salarial.

O auxílio-acidente destina-se a compensar o segurado quando, após consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza, resultarem sequelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia.192

Saliente-se que auxílio-acidente, previsto no art. 86 da lei nº 8.213, de 1991, não tem, qualquer semelhança com o auxílio-doença, mesmo na hipótese de concessão em razão de acidente propriamente dito ou de doença ocupacional, pois ele pressupõe não o afastamento, mas o retorno do segurado às atividades laborais, embora com redução da produtividade em razão das sequelas.

A jurisprudência do STJ sedimentou-se no sentido de que o auxílio-acidente trata-se de verba indenizatória, razão pela qual estaria infenso à incidência da referida contribuição, consoante extrai-se dos seguintes precedentes:

TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA A CARGO DA EMPRESA. REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. NÃO INCIDÊNCIA SOBRE AUXÍLIO-ACIDENTE.

1. "O auxílio-acidente previsto no art. 86 da Lei n. 8.213/91 possui natureza indenizatória, porquanto se destina a compensar o segurado quando, após consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza, resultarem sequelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia, nos termos do § 2º. Nesse contexto, a jurisprudência desta Corte Superior sedimentou-se no sentido de que o auxílio-acidente se trata de verba indenizatória, razão pela qual não incide contribuição previdenciária sobre referida verba, haja vista que tal benefício é pago exclusivamente pela previdência social." (AgRg no REsp 1403607/SP, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 28/04/2015, DJe 06/05/2015) 2. Agravo regimental não provido.193

3. O auxílio-acidente ostenta natureza indenizatória, porquanto destina-se a compensar o segurado quando, após a consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza, resultarem sequelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia, consoante o disposto no § 2º do art. 86 da Lei n. 8.213/91, razão pela qual consubstancia verba infensa à incidência da contribuição previdenciária. Precedentes.194

192 Art. 86 da Lei nº 8.213, de 1991.

193 STJ, 2ª Turma, AgRg no REsp 1522426/PR, Relator: Ministro Mauro Campbell Marques, DJe 30/06/2015. 194 STJ, 1ª Turma, REsp 1098102/SC, Relator: Ministro Benedito Gonçalves, DJe 17/06/2009.

Igualmente, a doutrina considera que o auxílio acidente possui natureza indenizatória, concedido com o objetivo de recompor, o quanto possível, o padrão do rendimento do segurado tendo em vista o natural decréscimo remuneratório decorrente da redução de sua capacidade laborativa fruto de acidente sofrido.195

Note-se que, em evidente conflito com a pretendida tributação sobre os quinze primeiros dias de auxílio doença, em dispositivo apartado, o legislador houve por bem isentar da incidência de contribuições previdenciárias a importância paga ao empregado a título de complementação ao valor do auxílio-doença, desde que este direito seja extensivo à totalidade dos empregados da empresa. A referida complementação consiste do pagamento pela empresa da diferença entre a remuneração do empregado e o benefício de auxílio doença que se encontra gozando, tendo em vista que os benefícios do regime geral da previdência social sujeitam-se a um limite máximo, que muitas das vezes é inferior à remuneração percebida pelo trabalhador.196

O CARF tem afastada a isenção na hipótese de não extensão da complementação do benefício previdenciário a todos empregados:

COMPLEMENTAÇÃO DO AUXÍLIO DOENÇA. EXIGÊNCIA DE TEMPO MÍNIMO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. INCIDÊNCIA DE CONTRIBUIÇÕES.

Sofrem a incidência de contribuições sociais os valores repassados aos empregados a título de complemento do auxílio-doença, quando a empresa disponibiliza este benefício apenas a segurados que tenham, na data do requerimento, mais de um ano de contrato de trabalho, posto que tal situação contraria a norma que exclui a verba do salário-de-contribuição.197