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CAPÍTULO 1 A ABRANGÊNCIA DA BASE DE CÁLCULO DAS CONTRIBUIÇÕES

1.6 Parcelas integrantes da base de cálculo das contribuições previdenciárias

habitualidade pelo empregador ao trabalhador em decorrência do contrato de trabalho, seja pelo serviço efetivamente prestado por ele, seja pela sua disponibilidade. É composto de uma parcela fixa, que sempre é paga ao trabalhador pelo empregador, e, ainda, de outras parcelas de caráter remuneratório, que são devidas tão somente em determinadas situações previstas na legislação, conforme se depreende do texto legal contido na CLT.144

De acordo com o que preconiza o art. 28, § 7º, da Lei 8.212, de 1991, sobre o décimo terceiro salário, também denominado de gratificação natalina, incidem contribuições previdenciárias.145

Com o advento da Lei nº 4.090, de 1962, que instituiu a gratificação de natal para os trabalhadores, passou a haver compulsoriedade no pagamento desta gratificação, que o legislador – já naquela ocasião – qualificou como gratificação salarial. 146147

O STF assentou, na súmula nº 688, a possibilidade de incidência de contribuições previdenciárias sobre o décimo terceiro salário: “É legítima a incidência da contribuição previdenciária sobre o 13º salário.”

A contribuição previdenciária incidente sobre o décimo terceiro salário é calculada em separado da contribuição sobre o restante da remuneração do segurado. Se o cálculo da

144 Art. 457, § 1º da CLT: “Integram o salário, não só a importância fixa estipulada, como também as comissões,

percentagens, gratificações ajustadas, diárias para viagem e abonos pagos pelo empregador.”

145 Art. 28, § 7º da Lei 8.212, de 1991: “O décimo-terceiro salário (gratificação natalina) integra o salário-de-

contribuição, exceto para o cálculo de benefício, na forma estabelecida em regulamento.”

146 Art. 1º da Lei nº 4.090, de 1962: “No mês de dezembro de cada ano, a todo empregado será paga, pelo

empregador, uma gratificação salarial, independentemente da remuneração a que fizer jus.”

147 O art. 1º da Lei nº 4.749, de 1965, ao dispor sobre o pagamento da gratificação natalina, também, deixou

expresso o seu caráter salarial: “A gratificação salarial instituída pela Lei número 4.090, de 13 de julho de 1962, será paga pelo empregador até o dia 20 de dezembro de cada ano, compensada a importância que, a título de adiantamento, o empregado houver recebido na forma do artigo seguinte.”

contribuição não fosse em separado, ou seja, se o cálculo fosse realizado em conjunto, a soma da remuneração mensal com o décimo terceiro salário poderia superar o limite máximo do salário de contribuição, o que resultaria num recolhimento menor por parte do segurado. Assim sendo, com o cálculo em separado averígua-se um limite máximo para a contribuição mensal e outro para o décimo terceiro salário.148

A Primeira Seção do STJ, ao julgar o REsp 1.066.682/SP, processado nos termos do art. 543-C do CPC, de 1973, firmou a compreensão no sentido de que a Lei n.º 8.620, de 1993 autorizou expressamente a incidência da contribuição previdenciária sobre o valor bruto do 13.º salário, cuja base de cálculo deve ser calculada em separado:

TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART.

543-C, DO CPC. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SOBRE O DÉCIMO-TERCEIRO SALÁRIO. DECRETO Nº 612/92. LEI FEDERAL Nº 8.212/91. CÁLCULO EM SEPARADO. LEGALIDADE APÓS EDIÇÃO DA LEI FEDERAL Nº 8.620/93.

1. A Lei n.º 8.620/93, em seu art. 7.º, § 2.º autorizou expressamente a incidência da contribuição previdenciária sobre o valor bruto do 13.º salário, cuja base de cálculo deve ser calculada em separado do salário-de- remuneração do respectivo mês de dezembro (Precedentes: REsp 868.242/RN, DJe 12/06/2008; EREsp 442.781/PR, DJ 10/12/2007; REsp n.º 853.409/PE, DJU de 29.08.2006; REsp n.º 788.479/SC, DJU de 06.02.2006; REsp n.º 813.215/SC, DJU de 17.08.2006).

2. Sob a égide da Lei n.º 8.212/91, o E. STJ firmou o entendimento de ser ilegal o cálculo, em separado, da contribuição previdenciária sobre a gratificação natalina em relação ao salário do mês de dezembro, tese que restou superada com a edição da Lei n.º 8.620/93, que estabeleceu expressamente essa forma de cálculo em separado.

3. In casu, a discussão cinge-se à pretensão da repetição do indébito dos valores pagos separadamente a partir de 1994, quando vigente norma legal a respaldar a tributação em separado da gratificação natalina.

4. Recurso especial provido. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ 08/2008.149

No nosso entender, a incidência das contribuições previdenciárias justifica-se, também, porque esta parcela salarial será substituída pela gratificação natalina (abono anual) que é assegurada constitucionalmente e regulada pelo art. 40 da Lei nº 8.213, de 1991, que dispõe ser “devido abono anual ao segurado e ao dependente da previdência social que, durante o ano,

148 Art. 7º, § 2º da Lei 8.620, de 1991: “A contribuição de que trata este artigo incide sobre o valor bruto do décimo-

terceiro salário, mediante aplicação, em separado, das alíquotas estabelecidas nos arts. 20 e 22 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991.”

recebeu auxílio-doença, auxílio-acidente ou aposentadoria, pensão por morte ou auxílio- reclusão” e que o referido abono será calculado da mesma forma que a gratificação de natal dos trabalhadores.150

Portanto, por ser retribuição pelo trabalho, por ser pago com habitualidade, por integrar o patrimônio do trabalhador, e também, por haver benefício previdenciário substituidor desta parcela, entendemos que o décimo terceiro salário (gratificação natalina), por se tratar de parcela salarial, subsume-se ao conceito de remuneração, sujeitando-se à incidência de contribuições previdenciárias.

Como dito, o salário pode ser pago em pecúnia (dinheiro) ou em bens ou serviços (utilidades). Esse último é denominado salário utilidade ou in natura. Cumpre, mais uma vez, trazer à baila o art. 458 da CLT:

Art. 458 - Além do pagamento em dinheiro, compreende-se no salário, para todos os efeitos legais, a alimentação, habitação, vestuário ou outras prestações "in natura" que a empresa, por fôrça do contrato ou do costume, fornecer habitualmente ao empregado. Em caso algum será permitido o pagamento com bebidas alcoólicas ou drogas nocivas.

O rol traçado pelo dispositivo legal em tela é meramente exemplificativo, de modo que podem ser fornecidas outras utilidades, diversas daquelas mencionadas expressamente. Estas podem ser bens ou serviços, como por exemplo, passagens e hospedagem por ocasião de viagens anuais de férias do trabalhador, conta de telefone e condomínio da residência do trabalhador, entre outros.

Nem toda utilidade (bem ou serviço) fornecida pela empresa é salário, devendo estar presentes determinados requisitos. Sistematizando os elementos contidos no caput do art. 458 da CLT, extraem-se os seguintes requisitos configuradores do salário-utilidade: a) fundamento na relação de trabalho; b) caráter contraprestativo c) habitualidade; e d) integrar o patrimônio do trabalhador.

Fundamento na relação de trabalho: As utilidades auferidas pelo trabalhador deverão ter como fundamento a existência da relação de emprego mantida entre as partes, ou seja, o trabalhador não as recebe por laços de amizade, parentesco ou benevolência, mas em face do acordado no contrato de trabalho.

150 Art. 201, § 6º, da CRFB.

Caráter contraprestativo: a prestação in natura, para ser tida como salário, deve ser dada em contraprestação ao serviço prestado (pelo trabalho). Em razão disso, não configuram salário- utilidade os bens ou serviços fornecidos para viabilizar a prestação laboral (para o trabalho).

Habitualidade: O fornecimento do bem ou serviço há de se reiterar ao longo do contrato, podendo até mesmo ser semestral ou anual. Ocorre que não há nenhum dispositivo legal que delimite o que vem a ser habitual ou quando que ela se caracteriza. Entretanto, é certo que uma concessão meramente eventual não configura salário utilidade.

Integrar o patrimônio do trabalhador: Para ser considerada salário, a utilidade fornecida deve gerar, necessariamente, um ônus para o empregador que implique um ganho econômico para o trabalhador, inclusive, no sentido de que o trabalhador, em consequência da utilidade recebida, deixe de arcar com despesas que arcaria na hipótese de não serem concedidas as utilidades.

Ademais, para ser considerada como integrante da remuneração, para fins de incidência de contribuições previdenciárias, a utilidade deve compor o cálculo do benefício de prestação continuada que venha substituir a remuneração, no advento de algum infortúnio coberto pela previdência social.

Sobre o tema, salário utilidade, vale a pena mencionar julgado do Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS), no qual houve uma efetiva apreciação dos requisitos necessários para que uma parcela in natura esteja sujeita à incidência de contribuições previdenciárias, com uma abordagem doutrinária e jurisprudencial:

A questão posta nos presentes autos cinge-se, pois, a aferir a natureza salarial de cada uma das utilidades conferidas a trabalhadores contratados pela Recorrente na execução do contrato de trabalho.

Segundo Arnaldo Süssekind, "Para que determinado fornecimento seja considerado como salário utilidade faz-se mister que não tenha por fim a sua utilização no local de trabalho para prestação dos serviços contratados. É que, neste caso, a utilidade constitui um meio necessário ou conveniente para a execução dos serviços e não um rendimento do empregado proveniente do trabalho realizado" (in Instituições do Direito do Trabalho, Vol. I, 17ª Edição, pág. 363).

Esse critério é também adotado por Martins Catharino em seu Tratado Jurídico do Salário, no qual enuncia regra singela para a caracterização do salário utilidade: "Toda vez que ela seja meio necessário e indispensável para determinada prestação de trabalho subordinado a resposta será negativa; será afirmativa quando a utilidade é fornecida pelo serviço prestado, como típica contraprestação".

Analisemos, pois, a natureza das utilidades objeto do presente recurso. Sustenta a Recorrente que as despesas se deram em decorrência de serem indispensáveis ao exercício do labor. Não há como caracterizar as despesas com habitação na forma de pagamento de aluguéis ou na forma de pagamento de diárias em hotéis, no presente caso, como um “meio necessário ou conveniente para a execução dos serviços”, muito ao contrário, constitui, indubitavelmente, um rendimento do empregado proveniente do trabalho, ou seja, contraprestação salarial.

Doutrina e Jurisprudência são assentes em considerar tal utilidade como salário in natura, Arnaldo Sussekind, em seu livro Instituições do Direito do Trabalho, pág. 367, assim se manifesta: “Algumas empresas concedem ao empregado um abono para o aluguel de casa; mas tal remuneração nada mais representa do que salário em dinheiro”.

No mesmo sentido a posição da jurisprudência dos nossos tribunais:

“DESPESA DE ALUGUEL - REEMBOLSO PELA EMPREGADORA - SALÁRIO INDIRETO. Revela-se salário indireto a cobertura de despesa de aluguel do obreiro pela empregadora, representando um “plus” salarial, exatamente como se “in natura” fosse, descaracterizando a alegada ajuda de custo, de cunho indenizatório. (omissis)”(TRT-PR-RO-5431/91 - AC. 3ª t- 9144/92 - Rel. Juiz Alberto Manenti. DJPR, 27.11.92 - pág. 145)”

“AJUDA HABITACIONAL - NATUREZA JURÍDICA. A ajuda de custo habitacional tem nítido caráter salarial, constituindo salário indireto, o chamado “salário in natura”, que deve integrar a contraprestação do laborista para todos os efeitos legais. Inaplicável à espécie o disposto no parágrafo 2º do art. 458 da CLT. Revista desprovida. ” (TST-RR-68681/93.7 - Ac. 2ª T- 3405/93 - 1ª Região - Rel. Hylo Gurgel. DJU, 19.11.93, pág. 24754)” Quanto às despesas com telefone, TV a cabo e lavanderia, há de se salientar que representam a assunção de uma despesa pessoal de seus trabalhadores pela Recorrente, emergindo daí a sua natureza de salário-utilidade.

Oportuna a citação de dois arestos de nossos Tribunais que esclarecem, sem deixar margem de dúvida, a natureza salarial das utilidades em comento: “SALÁRIO-UTILIDADE - QUANDO SE CONFIGURA. 'Sempre que uma prestação in natura represente um ganho para o trabalhador, isto é, satisfaça total ou parcialmente um consumo que se ela não existisse o trabalhador só teria podido realizar às suas próprias expensas, deve ser considerado salário' (Justo Lopes)” (TST-RR-7.198/89.4 - Ac. 1ª T. 2.803/90 - 19.11.90. Rel. Min. Fernando Américo Veiga Damasceno, in LTr 55-8/972)”

“USO DO TELEFONE NA RESIDÊNCIA DO EMPREGADO - SALÁRIO 'IN NATURA' - Configura-se como utilidade salarial o uso do telefone na residência do empregado ainda que instalado pela empresa para atender serviços do interesse desta.” (TRT 20ª Região - 915/99 - Ac. Um da 3ª T. - Rel. Juíza Lourdes Cabral de Mello - DJPE, 14.11.92.)”

Incontestável, pois, o caráter salarial da parcela correspondente ao pagamento das despesas com habitação, bem como de outras despesas tais como telefone, TV a cabo e lavanderia.

“SALÁRIO IN NATURA - CONFIGURAÇÃO. O fornecimento habitual de moradia, transporte e telefone ou de qualquer outro bem jurídico, desde que não constitua meio necessário e indispensável à execução das atribuições do empregado, configura prestação in natura, integrante do salário do obreiro para todos os efeitos legais. Inteligência do art. 458, caput, e § 2º da CLT. Recurso patronal a que se nega provimento. ” (TRT 6ª Reg. - RO 2547/91 - - Rel. Juiz JOÃO BOSCO SANTANA DE MORAES - DJSE, 26.05.99.)” Entretanto, o fato de determinada utilidade ter sido paga em um único mês, como foi o caso do aluguel pago à Sra. (omitido), descaracteriza sua natureza de salário de contribuição, posto que deixa de ser cumprido um dos requisitos legalmente estabelecidos, o da habitualidade, conforme previsto tanto no art. 22, I como no art. 28, I da Lei n.º 8.212/91:

(...)

Portanto, a utilidade concedida, a título de aluguel à Sra. (omitido), no mês de setembro de 1999, constante na planilha de “aluguéis - salário indireto” (fls. 2006), por não configurar ganho habitual, não integra o salário de contribuição, devendo ser excluído do lançamento sob exame.151

Portanto, há de se realizar uma averiguação das características aqui mencionadas, para definir se determinada parcela fornecida ao trabalhador na forma de utilidade é integrante ou não do seu salário e, consequentemente, se integrante da base de cálculo das contribuições previdenciárias.

Assim, conclui-se este capítulo apreciando as parcelas que, normalmente, são integrantes da base de cálculo das contribuições previdenciárias, justamente porque enquadram- se no conceito aqui adotado para remuneração, como sendo o conjunto de retribuições habitualmente recebidas pelo trabalhador pela prestação de serviços, seja em dinheiro ou utilidades, provenientes do tomador dos serviços ou de terceiros, sempre decorrentes do contrato de trabalho e, ainda, por preencherem, cumulativamente, os requisitos de: i) serem retribuição pelo trabalho e não para o trabalho; ii) serem pagas ou concedidas com habitualidade; iii) integrarem o patrimônio do trabalhador; e iv) o benefício previdenciário deve substituir estas parcelas no advento de algum infortúnio amparado pelos benefícios de prestação continuada da previdência social.

Por outro lado, no próximo capítulo serão abordadas, as parcelas que são pagas aos trabalhadores pelos tomadores de serviços, que não integram a base de cálculo das contribuições previdenciárias e as controvérsias que versam sobre estas verbas.

151 CRPS, 2ª Câmara de Julgamento, Acórdão nº 666/2006, Relator: Conselheiro Elias Sampaio Freire, julgado em

CAPÍTULO 2 – ANÁLISE CRÍTICA DAS PARCELAS NÃO INTEGRANTES