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1.5 Novas tecnologias de armadilhas para mosquitos 1 MosquiTRAP ®

1.5.3 Biogents-Sentinel ®

A Biogents-Sentinel® (BG-Sentinel, BGS) é uma armadilha originalmente usada para o monitoramento de Ae. aegypti. A armadilha foi desenvolvida na Universidade de Regensburg e é comercializada pela Biogents SA (Regensburg, Alemanha), uma empresa spin-off do Instituto de Zoologia desta Instituição. A BGS atrai mosquitos por estímulos visuais, por meio da simulação de correntes de convecção de ar em torno de um corpo humano e por iscas

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olfativas dispersadas por um liberador (BG-Lure), no interior da armadilha (Kröckel et al. 2006).

O BG-Lure é constituído de amônia, ácido lático e ácido capróico, compostos naturalmente encontrados na pele (Bosch et al. 2000; Geier et al. 1999), em concentrações específicas que simulam o odor humano. A armadilha é constituída por um corpo cilíndrico branco (com 35 cm Ø e 40 cm de altura) que, em seu interior, possui um tubo de sucção com um ventilador de corrente contínua (12V e 0,3A), na parte inferior. Na extremidade superior do tubo de sucção, há um funil preto com coletor de insetos removível de cor preta (Figura 6a). O ventilador produz uma sucção através do funil, suficiente para aspirar os mosquitos para o interior do coletor de insetos, onde morrem em 1-2 dias por desidratação. Além da sucção, o ventilador produz uma corrente de convecção de ar, liberada pela área coberta com gaze tela na parte superior da armadilha. As BGSs não usam inseticidas ou atraem insetos benéficos, como borboletas ou abelhas, e os componentes do BG-Lure são atóxicos.

Figura 6. a) BG-Sentinel (Fonte: www.bg-sentinel.com). Setas amarelas indicam a sucção através do

funil preto e setas vermelhas indicam a liberação da corrente de convecção de ar b) BG-Mosquitito (Foto: Biogents SA).

Kröckel e colaboradores (2006) observou em testes de campo realizados em Belo Horizonte, que a BGS capturou significativamente mais Ae. aegypti fêmeas do que as armadilhas Mosquito Magnet Liberty (MML) e a Fay-Prince, ambas utilizadas com CO2, um

atrativo eficaz para mosquitos e de alto custo. Foi demonstrado ainda que a BGS pode ser usada como ferramenta de monitoramento confiável, substituindo capturas por atração humana, uma vez que a captura da BGS não foi significativamente menor. Vários outros experimentos de campo independentes, conduzidos no Brasil, Austrália e EUA, também comprovaram a alta eficácia da armadilha na captura de vetores da dengue (Maciel-de-Freitas et al. 2006; Meeraus et al. 2008; Schmaedick et al. 2008; Williams et al. 2006).

Recentemente, a Biogents desenvolveu uma versão compacta da BGS, a Biogents- Mosquitito (BG-Mosquitito, BGM) (Figura 6b), que opera com o mesmo princípio da BGS

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original. As principais diferenças são o exterior em formato cônico azul e a instalação de forma suspensa. Experimentos preliminares conduzidos na Itália, nas Ilhas Maurícias e no Brasil, demostraram que a BGM é tão eficiente quanto a BGS (Degener et al.; Englbrecht et al.; dados não publicados, Ázara et al. 2012). Porém, em um estudo realizado em duas ilhas do Pacífico Sul, a BGS capturou mais Aedes polynesiensis (Marks) que a BGM, e em uma das ilhas, a diferença foi significativa (Hapairai et al. 2013).

A primeira evidência em suporte da BGS, como uma ferramenta efetiva para o controle de vetores da dengue, foi observada em um experimento realizado em habitat artificial, uma estufa da Universidade de Regensburg (Obermayr 2006, Almeida et al. 2010). Inicialmente, uma colônia de Ae. aegypti foi estabelecida na estufa, com um repasto sanguíneo diário e criadouros adequados. Nestas condições, uma única BGS foi utilizada constantemente na estufa por seis semanas, e a população de Ae. aegypti foi completamente eliminada, após o término do experimento. Outro estudo de campo realizado em Cesena, Itália, mostrou que o uso constante da BGS pode influenciar a distribuição etária de populações de Ae. albopictus (Englbrecht 2009). As armadilhas foram instaladas em Cesena, no início da primavera, e permaneceram em funcionamento até o outono seguinte. Uma baixa taxa de fêmeas paridas foi observada nas áreas com coleta massal, durante todo o experimento. Entretanto, a taxa de paridas aumentou consideravelmente nas áreas controle (sem armadilhas). Uma taxa maior de fêmeas paridas implica que existe um número maior de mosquitos com o repasto sanguíneo já realizado, em uma área. Estes mosquitos são epidemiologicamente mais significativos, uma vez que tem sua probabilidade de veicular o DENV aumentada. Adicionalmente, a taxa de captura por isca humana foi reduzida nas áreas tratadas em até 90%, em comparação com as controle. Isso indica que a coleta massal resultou na diminuição da população de mosquitos adultos.

A BGS é atrativa para mosquitos do gênero Aedes, em diferentes fases do desenvolvimento ovariano. Além de atrair fêmeas na busca de um hospedeiro humano, grávidas, ingurgitadas e machos também são capturados (Englbrecht 2009; Maciel-de-Freitas et al. 2006). Ao capturar grávidas, a oviposição é impedida, acarretando em uma redução da população do vetor. É possível que a BGS possa interromper o ciclo de transmissão da dengue pela captura do vetor, antes da sua infecção, após um repasto sanguíneo em humanos virêmicos.

Para poder transmitir o vírus da dengue, o mosquito infectado tem que sobreviver por mais de cerca 10 dias, após o repasto sanguíneo, em função do período de incubação extrínseco (PIE) (Gubler 1998; Siler et al. 1925). Quando o mosquito é capturado por uma

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BGS nesse prazo, o ciclo de transmissão é interrompido. Mais ainda, o número de machos férteis diminui, exercendo também um efeito negativo sobre a população. Em síntese, pode-se esperar que, após a utilização da coleta massal em uma área por determinado período, a probabilidade de sobrevivência diária dos vetores da dengue diminuirá. A menor probabilidade de sobrevivência diária resultará em um declínio da capacidade vetorial (Cv).

A Cv é útil para avaliar os riscos de transmissão ou de variações deste parâmetro. A Cv descreve quantas pessoas podem se infectar por dia, por caso de doença de infecção e pode ser expressa pela seguinte fórmula (Garrett-Jones 1964):

A fórmula mostra que uma bissecção da população de mosquitos por pessoa (m) resultará em uma bissecção do valor de Cv. A probabilidade de sobrevivência diária tem uma maior magnitude de efeito sobre Cv. Para ser capaz de transmitir o DENV, o mosquito tem que sobreviver, pelo menos, o tempo entre a emergência e o primeiro repasto sanguíneo (geralmente, no máximo dois dias), mais o intervalo de tempo do período de incubação extrínseco. Isto explica porque os mosquitos com idades cronológicas avançadas oferecem maior risco potencial de transmissão da infecção. A fórmula da Cv mostra também muito claramente que a probabilidade de sobrevivência diária (P) tem um forte efeito sobre a capacidade vetorial, como é elevada à potência de n (período de incubação extrínseco em dias, n = 10) no numerador.

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m = população de mosquitos por pessoa. a = taxa de pessoas picadas por mosquito

P = probabilidade de sobrevivência diária n = período de incubação extrínseco em dias

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Justificativa

A dengue é um problema mundial de saúde pública. Cerca de 2,5 bilhões de pessoas vivem em países endêmicos e correm o risco de infecção por essa arbovirose (WHO 2009). O principal vetor da dengue no Brasil é o Ae. aegypti, um mosquito altamente antropofílico e endofílico, encontrado em áreas urbanas em todo o país (Forattini 2002).

A inexistência de vacinas restringe o controle da doença a maneiras alternativas. Telas mosquiteiras para camas e ambientes não fornecem proteção, uma vez que os mosquitos transmissores realizam repastos sanguíneos preferencialmente no período diurno. Os repelentes, devem ser aplicados regularmente, não podem ser utilizados em indivíduos alérgicos e são onerosos. Mesmo que o controle químico tenha eficácia limitada, seu uso é inaceitável para muitas pessoas e instituições, em função do seu caráter negativo do ponto de vista ambiental. Como apenas ferramentas de controle limitadas estão disponíveis, novas tecnologias promissoras devem ser avaliadas cientificamente, quanto à sua eficiência no combate da dengue.

No presente trabalho, três armadilhas, projetadas para capturar Ae. aegypti, foram avaliadas em experimentos de coleta massal. O primeiro experimento objetivou reduzir as populações adultas de vetores da dengue, com o uso das armadilhas BGSs, em um bairro de alta infestação por larvas de Ae. aegypti em Manaus (AM), detectada pelo LIRAa. O segundo trabalho avaliou o uso de MQTs para controle de Ae. aegypti, também em Manaus. No terceiro experimento, a coleta massal com BGM foi utilizada, em um bairro de alta infestação em Sete Lagoas (MG), identificado pelo sistema MI-D. Em todos os experimentos, as áreas apresentavam infestações de Ae. aegypti elevadas, apesar da prática regular de ações de controle preconizadas pelo PNCD. Todas as armadilhas utilizadas são atóxicas e ambientalmente corretas. O quarto trabalho comparou as armadilhas MQT e BGS como ferramentas de monitoramento e avaliou como as capturas foram influenciadas pelas variáveis meteorológicas, em Manaus.

Os estudos com ovitrampas letais (OLs) para a coleta massal demonstraram a tendência da redução da abundância de mosquitos Ae. aegypti, especialmente quando usado em combinação com a aplicação de larvicidas em criadouros (Perich et al. 2003; Sithiprasasna et al. 2003; Rapley et al. 2009). No entanto, é necessário um número muito elevado de armadilhas (10 por casa) para ter efeito da redução de adultos. Portanto, torna-se impraticável esta metodologia.

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A BGS mostrou a ser uma ferramenta potencialmente eficiente para o controle de vetores da dengue (Obermayr 2006; Englbrecht 2009). Considerando que as BGS capturam mosquitos adultos em todas as fases fisiológicas, ao invés de somente grávidas, é possível que a sua utilização para coleta massal alcance resultados ainda melhores do que os obtidos com OLs, para a mesma finalidade.

A MQT é uma armadilha adesiva que atrai fêmeas grávidas. A grande vantagem dessa armadilha, em relação às OLs, é a não utilização de inseticidas. Como estudos de coleta massal com OLs resultaram em uma redução da abundância do Ae. aegypti, é possível que a coleta massal com MQTs tenha também um efeito sobre a abundância destes mosquitos.

A avaliação preliminar do monitoramento MI-D indicou que o seu uso pode reduzir os casos de dengue em municípios, onde as medidas de controle são orientados de acordo com os resultados do MI-D (Eiras & Resende, 2009). Ainda mais, a associação temporal e espacial entre as capturas das MQTs e a ocorrência de casos da dengue foi confirmada (Melo et al. 2012). Neste sentido, a associação da coleta massal com BGMs com a tecnologia MI-D, que detecta os locais mais infestados da cidade, aumenta as chances do sucesso da coleta massal, fazendo a sua aplicação mais vantajosa. As armadilhas para coleta massal podem ser instaladas apenas em pontos críticos, onde as medidas de controle rotineiras não conseguem baixar os índices de infestação pelos vetores.

Estudos de campo são fundamentais para avaliar a eficácia da técnica da coleta massal e a aceitação do público de um método novo de controle de mosquitos. Também é essencial determinar como novas tecnologias podem ser usadas na rotina do programa de controle de mosquitos de um município.

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Objetivos