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Como a maioria das ferramentas de controle dos vetores da dengue disponíveis atualmente apresentam eficácia limitada, o Grupo de Trabalho Científico sobre a dengue (Scientific Work Group, SWG) do Programa Especial de Pesquisa e Treinamento em Doenças Tropicais da OMS (World Health Organization Special Programme in Research and Training in Tropical Diseases - WHO/TDR) apontou a necessidade do desenvolvimento e avaliação de novas estratégias de controle (TDR/WHO 2007). Tais estratégias devem ser ambientalmente corretas, seguras, eficazes, com boa relação custo-benefício e aceitas pela população, uma vez que dependem da sua participação ativa.

Com este objetivo, várias pesquisas vem sendo realizadas em diversas áreas de conhecimento, desde a geração de novos inseticidas com efeito residual até o desenvolvimento de estratégias biológicas e genéticas. Para controlar os vetores e, consequentemente, reduzir o número de casos da dengue, é improvável que uma dessas estratégias, empregada de forma isolada, resolverá o problema. Um programa sustentável e de longo prazo necessita da associação de várias formas de controle e da participação das comunidades (Gubler 2005; Gubler 2011a).

Em alguns casos, o controle biológico tem provado ser eficaz, como a aplicação de Copépoda ou peixes larvófagos, em tanques que servem como criadouros de mosquitos (Kay & Vu 2005; Kay et al. 2002; Nam et al. 2012; Pamplona et al. 2004; Seng et al. 2008). Essa estratégia funciona somente em locais onde os criadouros principais de Ae. aegypti são tanques com grandes volumes de água, necessários para estes peixes. O grande sucesso dos estudos realizados no Vietnã também foram atribuídos à grande participação da comunidade em projetos de reciclagem de pequenos recipientes, não adequados para o tratamento com Copépoda (Kay et al. 2002).

Uma abordagem mais recente do controle biológico é a introdução da Wolbachia, uma bactéria intracelular, em populações de Ae. aegypti. Quando infectados com essa bactéria, a vida dos mosquitos é reduzida à metade e a sua competência vetorial é prejudicada (McMeniman et al. 2009; Moreira et al. 2009). O primeiro estudo de campo foi realizado em Queensland na Austrália em 2011, onde a infecção com Wolbachia em mosquitos liberados se disseminou com sucesso em duas populações locais de Ae. aegypti (Hoffmann et al. 2011). Desta forma, foi possível estabelecer uma população de mosquitos com capacidade reduzida de infectar humanos com o vírus da dengue. O próximo passo dos estudos de controle biológico com Wolbachia é a verificação da eficácia da estratégia no combate de FD e FHD

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(Hoffmann et al. 2011). O projeto “Eliminar a Dengue – desafio Brasil”, uma cooperação internacional com participação da Fiocruz, se encontra em fase de preparação para a liberação de Ae. aegypti infectados com Wolbachia no Rio de Janeiro, planejada para meados de 2014. Para aplicação do método, o apoio da população é indispensável, considerando que em algumas regiões, os habitantes se mantém céticos e mesmo resistentes, quanto à liberação de mosquitos infectados, para diminuição da capacidade vetorial da população de mosquitos no local.

Outra estratégia é a técnica de insetos estéreis (SIT, do inglês: sterile insect technique), na qual machos estéreis são liberados para o acasalamento com fêmeas selvagens. Essa técnica tem sido utilizada com sucesso contra a mosca de miíase, Cochliomyia hominovorax, e contra a mosca-das-frutas-do-mediterrâneo, Caratitis capitata. Todavia, não houve ainda estudos em grande escala sobre esta técnica para o combate de mosquitos. Um dos problemas observados deste método foi uma redução drástica na capacidade de acasalamento dos machos esterilizados pela radiação. Estes machos apresentam uma desvantagem competitiva com os machos selvagens locais (Wilke & Marrelli 2012). Por esta razão, o SIT foi aperfeiçoado com o uso de alterações genéticas, em substituição à esterilização por radiação. A técnica é chamada “liberação de insetos portadores de (gene) letal dominante” (Release of Insects carrying a Dominant Lethal - RIDL) (Thomas et al. 2000).

A Oxitec, empresa spin-off da Universidade de Oxford no Reino Unido, desenvolveu duas cepas RIDL de Ae. aegypti, que vem sendo avaliadas para o uso em grande escala (Lacroix et al. 2012; Wise de Valdez et al. 2011). Uma cepa já foi testada em campo aberto na ilha Grande Caimã e na Malásia, onde a competição para acasalamento, a longevidade e dispersão dos machos foram analisadas. O resultado da competição de acasalamento no campo foi positivo. A longevidade dos mosquitos transgênicos liberados foi comparável com a dos selvagens porém, a sua dispersão foi menor (Harris et al. 2011; Lacroix et al. 2012). No Brasil, foi desenvolvido o Projeto Aedes Transgênico (PAT), uma colaboração entre a empresa Oxitec, a empresa brasileira Moscamed e a Universidade de São Paulo (USP). A partir desta colaboração, um estudo de campo com a participação da comunidade local, foi recentemente finalizado em Juazeiro, na Bahia. Neste experimento, as larvas de Ae. aegypti provenientes de gerações transgênicas apresentam fluorescência, de forma que sua paternidade pode ser evidenciada, com o uso de ovitrampas e a posterior eclosão dos ovos coletados. Com aumento de mosquitos liberados no campo em Bahia, a porcentagem de larvas fluorescentes e, por conseguinte, de mosquitos portadores do gene RIDL que não se tornaram adultos, aumentou em até 97%, resultando na supressão da população selvagem

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(Carvalho et al. 2012). Esse resultado é muito promissor porém, estudos em grande escala serão necessários para confirmar a eficiência da estratégia em grandes centros urbanos. Ainda mais, além da necessidade de avaliar a relação de custo-benefício do método, existem questões sobre biossegurança, aspectos legais, éticos e sociais a serem esclarecidas.

Neste sentido, o Programa Especial de Pesquisa e Treinamento em Doenças Tropicais da OMS (WHO/TDR) financiou o projeto MosqGuide, com a finalidade de desenvolver diretrizes para uma possível abordagem de mosquitos modificados geneticamente, aplicados no controle da dengue e da malária (Mumford et al. 2009).

Uma estratégia não biológica de controle vetorial, praticada na década passada com sucesso na América Latina, é baseada no uso de materiais impregnados com inseticidas, como mosquiteiros, cortinas ou coberturas para jarros de armazenamento de água (Kroeger et al. 2006; Lenhart et al. 2008; Vanlerberghe et al. 2011). Entretanto, os resultados promissores do uso de cortinas impregnadas não foram confirmados na Tailândia (Lenhart et al. 2013). Estudos em grande escala ainda não foram conduzidos e questões a respeito da duração do efeito da impregnação em campo, sobre a transmissão da doença e a relação custo/benefício precisam ser respondidas (Vanlerberghe et al. 2011).