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Blair McDougall, o responsável pela campanha Better Together

V. 3 1997, e o referendo na Escócia

VI.3. Como se traduz na prática a análise do discurso?

VII.1.6. Blair McDougall, o responsável pela campanha Better Together

Blair McDougall, num texto publicado no site do governo do Reino Unido, um dia antes do referendo acontecer, impõe um dos discursos mais pessoais. Começar o discurso pelo facto de ser pai e de querer naturalmente o melhor para os seus filhos.

“When I started this campaign two years ago I had no children. At the end of the longest campaign in Scottish history I now have two. I am voting No because it means a better future for my kids. They will have more job opportunities, more secure funding for the schools and hospitals they will rely on63.

O argumento sentimental das gerações futuras surge neste discurso novamente reinventado, retomando a ideia de que não podemos ser egoístas e pensar só em nós, mas

63 “Quando comecei esta campanha há dois anos, não tinha filhos. No fim da campanha mais longa da história

Escocesa, tenho dois. Vou votar não porque isso significa um futuro melhor para os meus filhos. Eles vão ter melhores oportunidades de emprego, um fundo mais seguro para os hospitais e escolas onde pertencemos”.

também na nossa família. Ela, como nós, vai ser afetada com as mudanças que podem ser operadas. Repare-se na subtileza do argumento: quando começou a campanha não tinha filhos. Ora, sendo certo que já começara a campanha pelo “Não”, a referência ao facto de nessa altura ainda não ter filhos, remete para a ideia de alguém ainda inconsciente, livre de grandes compromissos, com a liberdade e ainda a imaturidade de quem vive para si mesmo, sem outros que dependam da sensatez das suas decisões. Nesse contexto, seria até admissível uma mudança de posicionamento face à causa da união. Mas uma vez conhecidas as responsabilidades da paternidade, é como se todas as dúvidas, se alguma houvesse, se tivessem dissipado pela força colossal do seu novo papel, inquestionavelmente um dos maiores que um ser humano pode assumir na sua existência.

Os políticos não têm pois problemas em mostrar a sua parcialidade em relação aos assuntos, é parte daquilo que os torna líderes de opinião e é quando conseguem persuadir com mais eficácia.

McDougall levanta no seu discurso a questão da devolução. E para os que consideram que esta não é suficiente, responde que não só é suficiente como com a maior parte das pessoas com quem falou também acha que “a devolução tem sido um sucesso”. Para quê a independência quando Hollyrood já tem grande parte dos poderes concedidos pelo Reino Unido? A Escócia, na opinião deste dirigente, pode crescer e sem ter para tal de enfrentar “os riscos da separação”.

Neste discurso notamos algo peculiar. McDougall admite que a separação é um risco não só para a Escócia, mas também para o Reino Unido. O dinheiro retirado da Escócia pode fazer com que exista uma rutura económica do Reino Unido.

Há, também, um ataque claro à outra fação. Enquanto nos restantes discursos podemos ouvir alguns argumentos que colocam em causa algumas decisões do Reino Unido, como o ceticismo em relação à União Europeia, até aqui nenhum dos atores ousou falar em nomes e associá-los a uma conotação negativa. McDougall expressa porém que “após dois anos e meio existe o sentimento de que Alex Salmond deixou-nos com mais questões do que respostas. Se o eleitor ainda não ouviu uma resposta convincente sobre o que vai acontecer com as pensões e o que foi pago até agora é porque não tem uma resposta para dar”.

Serve-se, inclusivamente, desses argumentos para fazer o mote do seu apelo:

“The vote you cast will be the most important decision you are asked to make. If you have unanswered questions, if you simply don’t know, then you have to vote no”64.

É claramente uma estratégia que visa chegar aos eleitores indecisos que, no caso de não saberem como vai ser o seu futuro, devem optar pela opção mais confortável e deixar tudo como está. Mais recentemente, nas eleições legislativas ocorridas na Inglaterra em Maio de 2015, que reconduziram Camerom a Downing Street, verificou-se a importância de atender ao eleitorado indeciso, que, no momento de decidir, optou por uma posição conservadora, contra todas as sondagens e expectativas geradas em torno dos resultados eleitorais. No entanto, este poderá não ter sido o caso do referendo escocês. Segundo um artigo do The Guardian, a maioria dos adeptos do “Não”, já teria a sua decisão tomada muito antes da reta final da campanha, ao passo que os indecisos que decidiram nos últimos dias, tenderam a ser mais impulsivos e a votar pelo “Sim”:

“The closest we have to this is a poll carried out by Lord Ashcroft on the day of the vote. There are three interesting trends within this poll. First, 81% of the no vote had made up its mind well before the final month of the campaign (compared with 61% of the yes support), the majority of which (72%) a year (or longer) ago. Polls two months ago were closer to the final result. Two-thirds among those who decided in the final days opted for independence. Some may have dithered – we will never know – but if they did, in the end they went back to their original decision. Second, nearly one in two no supporters voted against independence because they felt the risks on currency, EU membership and jobs were too great. The rest of the no vote was evenly split between attachment to the UK and the belief that a no vote would still mean additional powers to the Scottish parliament.” (The Guardian, 2014)

Podemos aferir que o número de indecisos na reta final da campanha é o suficiente para determinar a vitória de uma das fações, já que durante as sondagens, o “Sim” e o “Não” oscilavam por percentagens mínimas. Como podemos constatar num artigo publicado pelo Jornal Público no dia 12 de setembro: “no estudo YouGov para os jornais The Times e Sun a

64 “O seu voto vai ser a decisão mais importante que foi chamado a tomar. Se tem perguntas por responder, se

diferença entre os dois campos é de quatro pontos. No outro, da ICM para o Guardian, é de apenas dois. O desfecho do referendo continua em aberto numa altura em que, segundo esta última sondagem, 17% dos eleitores ainda não decidiram o sentido de voto” (Público, 2014)