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O Acordo de Edimburgo com vista ao referendo de 2014

“Foi quase como se a Escócia se tivesse tornado independente” (Torrance 2013).

Após mais de um ano em luta, o primeiro-ministro David Cameron acordou que os escoceses pudessem votar a independência num referendo. Seria executado em finais de 2014. O evento aconteceu a 15 de Outubro de 2012.

“Os dois governos estão comprometidos a continuar a trabalhar juntos para alcançar um objectivo, qualquer que ele seja, no melhor interesse para as pessoas da Escócia e para o resto do Reino Unido” (Torrance 2013).

Torrance (2013) faz destacar dois signatários do Acordo, como “jogadores notáveis na cena política” do referendo: o na altura secretário de estado para a Escócia, democrata liberal Michael Moore e Nicola Sturgeon - neste momento, primeira-ministra da Escócia, depois da demissão de Alex Salmond, no rescaldo da vitória dos unionistas - que concluíram as negociações sobre o referendo dias antes de Salmond e David Cameron assinarem o acordo. O Partido Nacionalista Escocês vence, na altura, as eleições com maioria absoluta e é ainda brindado com a possibilidade da realização de um referendo rumo à independência. Foi um período de grande prosperidade, uma injeção de confiança na causa nacionalista.

O Acordo de Edimburgo foi efetivamente um passo extraordinário na luta pela independência da Escócia. Tem uma única questão, simples, sem espaço para interpretações ambíguas. “Should Scotland be an Independent Country?” [Deve a Escócia ser um país independente?].

A cerimónia de formalização do acordo com vista ao referendo aconteceu na Casa de Santo André, no coração da Capital da Escócia.

Sobre o referendo, Alex Salmond dirá:

"Este será um referendo projetado e emitido pelo parlamento escocês. O acordo marca o entendimento sobre o processo e o respeito pelo resultado do referendo, por ambos os lados. Na minha opinião, abre o caminho para uma nova parceria nestas ilhas”28.

28Palavras de Alex Salmond sobre o Acordo de Edimburgo, disponíveis em: http://wayback.archive-

O que é que diz o Acordo de Edimburgo? (ver anexo I) Os governos concordaram em promover uma Ordem do Conselho nos termos do Artigo 30 da Lei da Escócia de 1998 (ver anexo II). É o Parlamento Escocês que vai legislar este referendo.

“A ordem permite que o parlamento escocês legisle um referendo que deverá ocorrer em qualquer ponto antes do final de 2014. A data da votação será o parlamento escocês a determinar e será estabelecido no referendo a ser introduzido pelo governo escocês. A Ordem exige a votação para este referendo a ser realizado num dia com nenhum outro evento previsto pela legislação do parlamento escocês.29

Os governos concordam que os princípios em que assenta o referendo são realizados de acordo com as leis do Parlamento do Reino Unido. O Ato de 2000 dos Partidos Políticos, Eleições e Referendos (PPERA) (ver anexo III) vai incluir as regras sobre o financiamento da campanha, a regulamentação do referendo, a supervisão e a conduta. Por outro lado, é esta também a base para a criação de um Conselho de Administração Eleitoral e Comissão Eleitoral, isto inserido nas circunstâncias particulares escocesas.

Sobre a pergunta a colocar, o acordo diz-nos que deverá ser justa, fácil de entender e capaz de produzir um resultado aceitável e de confiança. É revista pela Comissão Eleitoral, no sentido de apurar se respeita todos estes requisitos. É, assim, explicada a simplicidade da pergunta sobre a independência da Escócia30.

O Acordo de Edimburgo explica que os governos interessados nesta questão concordam sobre a importância de assegurar que a campanha do referendo esteja sujeita a uma regulamentação que garanta que o referendo é justo e que, por outro lado, sirva o debate e os propósitos dos dois lados da questão. É um acordo que convida à diplomacia e à aceitação mútua das partes interessadas.

29 O Acordo de Edimburgo: http://www.gov.scot/Resource/0040/00404789.pdf.

30 “Em conformidade com o disposto no PPERA, o Governo escocês irá referir-se à questão do referendo proposto e

qualquer declaração anterior à Comissão Eleitoral para a revisão de sua inteligibilidade. As partes interessadas poderão apresentar os seus pontos de vista sobre a redação proposta para a Comissão Eleitoral como parte do processo de revisão da Comissão de uma forma normal. A Comissão Eleitoral apresentará um relatório sobre a questão e este relatório será apresentado ao Parlamento escocês. Por sua vez, o Governo escocês irá responder ao relatório, indicando a sua resposta a quaisquer recomendações que a Comissão Eleitoral pode fazer.”

Uma questão primordial que se coloca em qualquer situação desta dimensão é o financiamento. Por isso, o Acordo salvaguarda que é importante que as regras sejam justas e proporcionem condições de concorrência equitativas, isto para impedir que o poder económico se sobreponha ao político. Afinal, o financiamento é o que vai permitir realizar a campanha e dar a conhecer aos eleitores as diferentes partes em confronto. O financiamento é legislado pelo mesmo documento que regula o referendo – o PPERA. O acordo salvaguarda ainda a possibilidade de doações para os participantes no referendo que não sejam geridos por partidos políticos, ainda que não possam existir doações anónimas ou de organizações que existam fora do Reino Unido.

Ainda antes de prosseguir com a análise do referendo sobre a independência da Escócia, ocorrido em 2014, iremos no próximo capítulo fazer uma breve análise e reflexão sobre a figura do referendo em democracia, e em particular no contexto político britânico.

CAPÍTULO V

OS REFERENDOS