• Nenhum resultado encontrado

O SNP e o nacionalismo pós-moderno da Escócia

Feita a resenha histórica do partido, importa questionar ainda quais os seus objetivos. Nos seus documentos internos encontramos a resposta:

“(a) A independência da Escócia, que é a restauração da soberania nacional escocesa pela restauração de plenos poderes ao parlamento escocês, de modo a que a sua autoridade seja limitada apenas pelo poder soberano do povo escocês para vinculá-lo a uma constituição escrita e aos acordos nos quais possa entrar livremente com outras nações, estados ou organizações internacionais com o propósito de promover a cooperação internacional, a paz mundial e a proteção do ambiente;

(b) o adiantamento de todos os interesses escoceses”25.

Falar em partidos nacionalistas ou mesmo em nacionalismo não é, como explica Greer (2007), fornecer uma explicação para o fenómeno da regionalização26. No entanto, a presença

O parlamento escocês compreende todos os membros eleitos do parlamento escocês e é a lei elaborar conteúdos para assuntos autónomos. Considera a legislação proposta e verifica as atividades e políticas do governo escocês, através de debates, perguntas parlamentares e trabalho das comissões.

25Constituição do SNP:

http://www.snp.org/sites/default/files/assets/documents/constitutionofthescottishnationalparty.pdf

26 “A regionalização ocorreu na sequência da expansão da esfera pública, mais precisamente na sequência do

alargamento das funções sociais do Estado-providência, a partir da Segunda Guerra Mundial. Foi a crescente incapacidade das instituições e das estruturas tradicionais do Estado-nação — que era um Estado fortemente centralizado — de fazer face às exigências decorrentes da complexificação funcional do Estado social que levou à distribuição de funções entre governo central e governo local para garantir maior eficácia de resposta aos novos problemas das sociedades (…) A regionalização surge como uma imposição, tanto por motivos de eficácia como de legitimidade, como exigência estratégica de mobilização social e de participação política. Mais: o regionalismo surge

de um partido como o Partido Nacionalista Escocês veio trazer a identidade nacional e as políticas territoriais para primeiro plano. O surgimento e a afirmação de um partido como o SNP acaba por ser fundamental para chamar a atenção de outros partidos, nomeadamente o Partido Trabalhista, que esteve no governo durante vários anos, para os assuntos escoceses. Foi abrir os olhos para uma realidade aparentemente esquecida.

Prosseguimos com Greer, que sublinha:

“Há evidências de que a erupção e força dos partidos nacionalistas mudou a política regional. A presença dos partidos nacionalistas como concorrentes eleitorais obriga os partidos estaduais estabelecidos a criar governos regionais a fim de derrotar os nacionalistas” (2007: 27-28).

Veja-se o caso da Escócia e da Catalunha. Ambas ganharam autonomia jurídica quando o Partido Socialista detinha a maioria de assentos parlamentares, ao mesmo tempo que conseguiram nacionalistas na arena política. Ainda que o processo não seja fácil, movimentos nacionalistas são um ótimo pretexto para criar mudanças, e ainda que ao início o nacionalismo pareça silencioso, há um ponto em que os resultados se começam a fazer sentir e fazem tremer a tradição.

Greer (2007) lembra que existem duas formas de os partidos conseguirem recursos. Uma delas está relacionada com as parcerias estabelecidas com outras instituições, que habitualmente não têm de lidar com questões de auto preservação como é o caso dos bancos ou das universidades; outra verifica-se através de ativistas que dão o seu tempo e recursos na busca de recompensas por pertencer a um partido ou movimento com determinados princípios de indução e ação. De uma maneira geral, todos os partidos recorrem a este tipo de estratégias. O que varia é a forma e a importância da mobilização desses recursos para cada um. Há, assim, partidos onde a dependência da mobilização é substituída pelos membros que a constituem, o que leva a ser-lhes atribuído o nome de “movimento-partido”. São partidos que acabam por ser

como nova expressão do patriotismo, com a progressiva transferência do conceito de pátria da nação para a região. Neste sentido, o regionalismo, assim entendido como «patriotismo regional», surge como consequência lógica da cosmopolitização. Quanto mais aberto ao mundo se é, quanto mais cosmopolita, tanto maior é a necessidade de pertença regional. A consistência do grande espaço radica na intensidade da pertença ao pequeno espaço” (Cruz 1992: 838), disponível em http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1223055071N2vGE0kx0Er83BB8.pdf

constrangidos e impulsionados pelas metas dos seus membros, mais do que pelas instituições afetas. Greer defende que o Partido Nacionalista Escocês é um desses casos27.

São partidos com necessidade de manter uma ação coletiva, ou seja, encontrar uma forma de dar incentivos para vencer as dinâmicas culturais vigentes. São, portanto, partidos considerados de índole mais fraca, embora tenham um propósito positivo. Acabam por não ter também grandes recursos económicos de legitimação como dinheiro, imprensa, forte infraestrutura e, por isso, são apetecíveis aos eleitores de protesto e líderes carismáticos. Esta situação constitui um problema, como ilustra Greer (2007). Ainda que o SNP seja um partido de governo, os seus propósitos de independência fazem com que seja mais fácil ir contra a sua causa do que propriamente motivar cidadãos a votar em seu favor. É mais fácil trazer uma coesão social contra pois “excede a sua capacidade de reunir os seus próprios ativistas e apoio público a favor da independência” (Greer 2007: 13). Do mesmo modo, não é fácil intercetar também um voto de protesto, já que o eleitor poderá tanto optar pelo Partido Nacionalista, como pelos Verdes ou pelo Partido Socialista Escocês.

O Partido Nacionalista Escocês tem ainda mostrado que o nacionalismo multicultural tem mais do que um lado.

“Pode-se ser nacionalista sem ser desagradável, sem ser xenófobo, ou ter qualquer conceito de exclusividade étnica. Ele [o Partido Nacionalista Escocês] define uma pessoa escocesa como aquela que passa a viver na Escócia e celebra a imigração de uma forma positiva. (…) O nacionalismo escocês é um nacionalismo pós-moderno em que ser internacionalista e multicultural é uma celebração da identidade nacional escocesa. O SNP é o único partido nacionalista europeu que tem mais votos de não-nacionalistas do que nacionalistas” (Macwhirter 2014: 30).

Em paralelo, o mesmo autor entende que,

“os escoceses percebem que estão numa jornada onde o destino é opaco. Os escoceses não são claramente nacionalistas apaixonados que sentem que a sua identidade está a ser esmagada (…) os escoceses são conservadores constitucionais. Tiveram uma história muito longa e muito sangrenta para não enveredar por uma mudança radical quando se pode evitar” (Macwhirter 2014: 41).

27 A Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) foi também, até 2003, um dos partidos com as mesmas