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A“Boa Vizinhança” e os Planos Rainbow

7. O movimento e a transformação conduzem à superação e não ao

2.6 A“Boa Vizinhança” e os Planos Rainbow

A política da “boa vizinhança”, à semelhança da Revolução Americana, influenciou decisivamente a história de dois continentes: as Américas e a Europa. Esta inflexão traduz a primeira “globalização” da Doutrina Monroe. Para demonstrar essas assertivas, precisamos analisar os planos que deram suporte ao planejamento americano de guerra desde os anos 20 até o curso da II Guerra Mundial e que consubstanciam de forma direta a formação do sistema mundial de segurança após a II Guerra. Trata-se dos Planos “Vermelho-Laranja”, “Rainbow”, “Dog”, e “ABC-1”.

103 Boesner, D. Relaciones internacionales de América Latina. Montevideo: Nova Sociedad, sd, p. 151. 104 TOTA, Antonio Pedro. O Imperialismo Sedutor. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

Na década de 1920, os EUA designavam seus planos de guerra pelo nome de cores. Para uma guerra no Oceano Pacífico, designaram a cor laranja e, para uma guerra no Oceano Atlântico, designaram a cor vermelha, daí os nomes Plano Laranja e Plano Vermelho.

Desde a descoberta do ouro na Califórnia, em 1848, passando pela Guerra Civil americana, a conquista da Califórnia e do Texas e os corolários da Doutrina Monroe que permitiram o controle da América Central fazem parte de um contínuo, através do qual os EUA unificaram as tarefas de unificação continental e projeção internacional.

O objetivo primário de todo esse processo era uma inserção vantajosa no Pacífico, o que principiou efetivamente com a guerra hispano-americana, que lhes assegurou a posse das Filipinas, Guam e Wake, objetivo que, já havia sido assinalado pela viagem do Comandante Perry ao Japão, em 1851, e confirmada pela participação americana na Guerra dos Boxers, na China105, em 1900.

Como vimos, os corolários sobre América Central estavam fortemente influenciados sobre a percepção do papel do Pacífico, sobretudo, em relação a competição com o Japão. Antes de reprimir os boxers na China, os EUA moveram uma cruenta campanha contra a insurgência filipina106.

Por volta de 1900, a resistência foi vencida, apesar de uma guerrilha endêmica que se seguiu por mais de dez anos. Então, Arthur MacArthur, que de comandante militar havia sido designado governador-geral, foi substituído por William Taft, que mais tarde seria presidente dos EUA e presidente do Supremo Tribunal, único americano a ocupar dois dos mais altos cargos de chefia do país107.

105 Que serviu para ratificar os “tratados injustos” que submetiam aquele país ao domínio estrangeiro e que,

agora, passava a contar com a participação norte-americana.

106 Pouco antes, os EUA haviam derrotado o vasto império espanhol com apenas 25 mil homens e, no final de

1899, havia mais de 50 mil americanos em campanha contra os nacionalistas filipinos, liderados por Aguinaldo. Do lado americano, as tropas eram comandadas por Arthur MacArthur, pai do futuro General MacArthur.

107 MAYER, Sydney L. MacArthur. Rio de Janeiro, Renes, 1975, p. 15. Trata-se do mesmo Taft a que nos

referimos anteriormente, que como secretário e presidente foi um dos elaboradores do corolário segundo o qual “os EUA não tolerariam a transferência de zonas estratégicas das Américas a companhias privadas não- americanas” na América Central, fazendo com que a Doutrina Monroe passasse a vigorar tanto para governos, quanto para empresas.

A melhor síntese sobre o papel do Pacífico para o futuro estadunidense foi feita por MacArthur (filho), após uma viagem feita com seu pai, que fora enviado para despachar informes sobre a guerra russo-japonesa de 1905. Posteriormente, ambos receberam instruções para percorrer o sudeste asiático e a Índia, onde fizeram diversos contatos. Sobre a ocasião, Douglas MacArthur registrou que “foi sem dúvida a coisa mais importante que aconteceu em minha vida. Para mim, estava claro como água que o futuro e, aliás, a própria existência dos EUA estava irrevogavelmente interligada à Ásia e suas ilhas”, opinião que, conforme seu biógrafo, Sydney L. Mayer, MacArthur manteria por toda a vida. 108

Parece bastante compreensível, portanto, que, em função da rivalidade com os japoneses, do empreendimento da conquista da China, da resistência dos nacionalistas filipinos, o Plano Laranja inicialmente ocupasse um lugar destacado no planejamento de guerra norte-americano. Cabe salientar que a princípio o planejamento de guerra considerava o cenário numa guerra no Atlântico e no Pacífico separadamente.

Todavia, alguns acontecimentos se encarregariam de alterar a percepção de ameaça norte-americana. Inicialmente, foram as intervenções européias (França e Alemanha), por ocasião da crise da dívida, que geraram o corolário de Theodore Roosevelt acerca do papel de polícia dos EUA no continente. Ainda antes da I Guerra Mundial começava a ficar claro para o stablishment americano, em função das repetidas incursões de países europeus no Hemisfério, que o maior risco para a segurança estadunidense seria uma guerra no Atlântico e não no Pacífico. No caso de uma guerra contra o Japão, só uma guerra contra a Inglaterra poderia acarretar a invasão do território norte-americano, o que era considerado muito improvável.

Surgiu aí, de forma imperceptível, uma contradição que só afloraria plenamente décadas mais tarde, entre as expectativas de segurança do stablishment de defesa (medida pela vulnerabilidade do território americano à invasão) e a expectativa de segurança dominante no Congresso (medida, nos termos da guerra hispano-americana, pela aquisição de possessões no

Pacífico). Daí em diante, o planejamento de guerra americano passou a considerar a possibilidade simultânea de uma guerra no Atlântico e no Pacífico. Surgiram então os Planos “Vermelho-Laranja”. Dado que a vulnerabilidade do território americano verifica-se, quer em uma luta contra a Inglaterra, quer posteriormente contra a Alemanha, a prioridade do planejamento de guerra deslocou-se do Pacífico para o Atlântico.

Assim, os Planos “Vermelho e Laranja” e seus sucessores “Rainbow” passaram a se relacionar com uma hipótese de guerra que previa a defensiva no Pacífico, mesmo que isso implicasse a perda de posições e a busca de uma definição da guerra no Atlântico. Enquanto permaneceram meros planos, tais perspectivas não causaram maior atrito, o que, todavia, não ocorreu quando tiveram que se materializar em decisões. Como na I Guerra Mundial o Japão ficou ao lado dos EUA, tais decisões ficariam adiadas até a ante-sala da II Guerra Mundial.

Com a eclosão da I Guerra Mundial, por meio do famoso telegrama Zimerman109, do embaixador alemão no México, a Alemanha propunha uma aliança com o México caso este país atacasse os EUA e, com isto, os mantivesse fora da guerra européia. Esta clara violação da Doutrina Monroe serviu de estímulo para que os EUA se transformassem em um dos principais fornecedores de material bélico aos países em guerra da Entente 110, ainda que os EUA nominalmente mantivessem sua neutralidade, até o episódio do torpedeamento do navio hospital Lusitânia111 o qual, no entanto, também carregava armas.

A participação americana na I Guerra Mundial foi decisiva. No entanto, após o Tratado de Versalhes, que dispôs acerca da paz e dos ganhos dos vencedores, seu quinhão no

109 O secretário de Estado alemão Zimmermann prometia ao México as províncias perdidas para os Estados

Unidos na guerra de 1848 se este interviesse militarmente contra os Estados Unidos. O telegrama foi transmitido para o território mexicano a partir do território americano e interceptado pelos serviços ingleses de inteligência que o entregaram ao governo americano. FERRO, Marc. A Grande Guerra: 1914-1918. Lisboa: Edições 70, 2002, p. 155.

110 Assim se denominava a aliança formada pela Inglaterra, França e Rússia, que lutou contra a “Tríplice

Aliança” formada pela Alemanha, Áustria-Hungria e Itália.

111 Lusitania, navio lançado em 1906, foi construído, juntamente com o Mauretania, para competir com outros

navios transatlânticos alemães. O Lusitania e o Mauretania foram por alguns anos após o término de sua construção, os maiores navios do mundo. Sua viagem inaugural, Liverpool – Nova Iorque, iniciou-se em 7 de setembro de 1907. O Lusitania foi torpedeado por um submarino alemão, em 7 de maio de 1915, durante a Primeira Guerra Mundial, deixando um saldo de quase 1.900 mortos.

botim não ficou tão claro. Retrospectivamente, é fácil afirmar que foi na I Guerra Mundial que ocorreu uma “virada” na correlação de forças mundial da qual emergiram dois extremos do globo – os EUA e a União Soviética – como futuras grandes potências: na época, porém, isto não era evidente de modo algum. Os EUA haviam participado na guerra com mais de meio milhão de homens, perdendo quase 10% desse total e, ao contrário da guerra hispano- americana, com que haviam travado com apenas 25 mil homens e pouquíssimas baixas, não anexaram um único centímetro de território ao seu país.

Em boa parte, isso se deveu aos “14 pontos de Wilson” que serviram de base para a rendição alemã e para as negociações preliminares em Versalhes. Os 14 pontos de Wilson eram uma réplica em conteúdo à “paz sem indenizações, nem anexações” dos bolcheviques, proposta por Trotski na Conferência de Brest-Litovski, ainda durante a Guerra, em 1918. Pelos 14 pontos, os EUA se comprometiam genericamente com a aplicação do que parecia ser uma mundialização da Doutrina Monroe.

Foi essa interpretação que levou a Alemanha a render-se, sem que seu território houvesse sido invadido e sem um entendimento prévio com a Entente sobre as condições da paz. Em Versalhes, os alemães iriam perceber que havia uma outra leitura para os 14 pontos, segundo a qual a Alemanha deveria pagar muito caro pela “culpa” de ter deflagrado a guerra, pagamento a ser feito em espécie, em insumos e pelo comprometimento de seus territórios e do trabalho de gerações e gerações, utilizado por décadas para honrar os “compromissos da paz”. Enquanto as potências européias conduziam-se dessa forma rapaz com a Alemanha, Wilson comprometia-se com a “Sociedade das Nações” (SDN) a qual, segundo ele, efetivaria a promessa de fazer da I Guerra Mundial a “guerra que acabaria com todas as guerras”. Mobilizada por esse idealismo kantiano de “paz perpétua”, que Wilson usara para mobilizar a população americana para a guerra, a burguesia americana assistia, agora, estarrecida suas congêneres européias assenhoram-se dos vencidos e de seus despojos (suas colônias), enquanto Wilson movia uma cruzada nacional para a ratificação da adesão dos EUA à SDN. O mais surpreendente foi o motivo que levou a rejeição americana à adesão. O senador Henry Cabot Lodge (o mesmo do corolário) insurgiu-se contra a cláusula segundo a qual, em virtude

dos compromissos assumidos na SDN, os EUA poderiam entrar em guerra sem a autorização prévia do Congresso. Henry Cabot Lodge enumerou “14 objeções”, numa alusão aos 14 pontos de Wilson que, ao fim, não eram tão devastadoras assim. Resumiam-se em reivindicar a aprovação prévia do Congresso para administrar colônias, para retirar os EUA da SDN, para interferir em controvérsias entre diferentes países, ou para salvaguardar algo112. O que, como salienta Dick Morris, acabou sendo aprovado na década de 1970, na esteira da Guerra do Vietnã. Ainda segundo Morris, até hoje permanece um mistério a razão por que Wilson não transigiu. 113

O impasse suscitado por Wilson viria a trazer sérios prejuízos para a condução americana na II Guerra Mundial. Cabe salientar que o processo aí deflagrado provocou uma ferida entre Legislativo e Executivo, entre sociedade política (“stablishment”) e sociedade civil (interesses de proprietários); entre universalismo e particularismo, que permaneceria aberta no curso de toda II Guerra. Toda uma geração de líderes político-militares estadunidense foi formada com olhos postos no Pacífico; participaram de guerras, da administração de colônias e fizeram suas vidas e carreiras dentro desta perspectiva. Foi o caso de Theodore Roosevelt (presidente), Wiliam Taft (presidente), Arthur MacArthur (governador das Filipinas), Douglas MacArthur (comandante das forças americanas no Pacífico durante a II Guerra Mundial), Henry Cabot Lodge (arquiteto do colonialismo americano na América Central e Pacífico) e Knox (secretário de Theodore Roosevelt e Ministro da Marinha). Isso influenciou profundamente a administração pública civil norte-americana, os comandantes de unidades militares que não estavam em contato estreito com a Casa Branca, congressistas, senadores, secretários de Estado; enfim, deixou uma cultura da opção “laranja” arraigada. Em virtude disto, Franklin Delano Roosevelt passaria todo o curso da II Guerra tentando, em vão, provar que não era Wilson; que a hegemonia do mundo (algo que os 14 pontos mal tangenciavam) era mais importante que um enclave colonial no Pacífico; ou ainda que a hegemonia mundial era a única via aberta para obter tal enclave.

112 MORRIS, Dick. Jogos de Poder, Rio de Janeiro-São Paulo: Editora Record, 2004, p. 106. 113 Idem, p. 107.

Engavetados durante muitos anos, os Planos Vermelho e Laranja permaneceram sem grandes alterações, até que, no período entre-guerras, viessem à tona e, a partir de 1939, fossem modificados através de uma rápida sucessão que, em um curto intervalo de tempo, geraria “Rainbow”, Plano Dog e ABC-1,– planos a partir dos quais o contorno básico do planejamento da II Guerra estaria dado.

Os Planos “Rainbow” (arco-íris) surgiram após a formação do Pacto anti-Komintern, firmado inicialmente entre Itália e Alemanha, e contando, posteriormente com a adesão do Japão. Este quadro impôs aos planejadores americanos a formulação de que “os Estados Unidos teriam de enfrentar a ameaça combinada da Alemanha, Itália e Japão114”. Foi assim que, em junho de 1939, surgiram os Planos “Rainbow”. Prevendo a guerra simultânea em dois Oceanos.

As conseqüências de “Rainbow” e seus congêneres (Dog e ABC-1) para o desdobramento da estratégia na II Guerra Mundial e para o advento da Guerra Fria serão objeto de exame no próximo capítulo. Por enquanto, iremos nos ater às implicações desses planos para as relações entre os EUA e os demais países latino-americanos, confrontando a preparação militar proposta por “Rainbow” com as intenções declaradas (isto é, públicas) da política externa norte-americana.

A “política de boa vizinhança” de Roosevelt tinha o propósito de estabelecer um duplo contraponto, interno e externo, às práticas de então. Do ponto de vista interno, estabelecia os termos da superação da política do “big stick” de Theodore Roosevelt e dos corolários das décadas de 10 e 20. Do ponto de vista externo, estabelecia um contraponto à política de conquistas e anexações dos países nazi-fascistas.

Dizia Roosevelt, em seu discurso de posse:

“No campo da política mundial eu dedicarei esta nação à política de boa vizinhança – uma vizinhança que resulte do respeito mútuo e, devido a isto, respeito ao direito

114 MORTON, Louis. Primeiro Alemanha: O conceito básico da estratégia aliada na II Guerra Mundial. In

Diretoria de História Militar US Army. As grandes decisões estratégicas. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército - Editora, 1977, p. 30.

dos outros -, uma vizinhança que respeite suas obrigações e que respeite a santidade de seus acordos para com todos os seus vizinhos do mundo inteiro115”.

Como se depreende, o discurso destina-se ao público latino-americano e, sobretudo, define a postura dos EUA diante do resto do mundo. Já se vislumbra claramente o que pode ser denominado de aperfeiçoamento normativo que, neste caso, ao contrário dos corolários anteriores consistiu em inflectir a Doutrina Monroe sob seu próprio eixo original – o que se traduziu em uma preocupação em fazer frente às ameaças do também recém-eleito chanceler alemão, Adolf Hitler. Por outro lado, também poderia constituir um corolário de certa forma, pois mobiliza a Doutrina Monroe como instrumento de combate ao nazi-fascismo. Ao mesmo tempo, pela própria abrangência de um compromisso dessa natureza, representa a primeira “globalização” da Doutrina Monroe, já que mostra claramente que a idéia de“vizinhança”, nos termos definidos por Roosevelt, aplica-se ao mundo inteiro.

O problema é que, para atender a este compromisso, no âmbito da preparação militar e à revelia das intenções declaradas da “política de boa-vizinhança”, os “Rainbow”, em suas diferentes versões, previam, caso necessário, a invasão do nordeste brasileiro e da Argentina

como prioridade à própria luta no Pacífico. Conforme reconhece Louis Morton: “Os Estados

Unidos não deveriam se envolver com o Japão e deveriam se concentrar para enfrentar a ameaça da penetração do eixo na América do Sul. 116” A segurança de todo o hemisfério,

115 Discurso de posse, 4 de março de 1933, in, SCHILING, Voltaire. Estados Unidos e América Latina: da

Doutrina Monroe à Alca, 5 ed. rv. ampl.. Porto Alegre: Leitura XXI, 2002, p.59.

116 Cf. MORTON, Louis. Primeiro Alemanha: O Conceito Básico da Estratégia Aliada na II Guerra

Mundial. In Diretoria de História Militar US Army. As Grandes Decisões Estratégicas. Rio de Janeiro:

Biblioteca do Exército - Editora, 1977, p. 36. Quanto a prioridade de ação do exército americano ser a América Latina e só depois considerar o envolvimento em outras frentes, ver também MORTON, idem, p. 51. Sobre as relações dos Planos Rainbow com o Nordeste brasileiro, conforme estabelecem CONN e FAIRCHILD: “o Exército e a Marinha haviam concordado, desde os trabalhos iniciais com os planos Rainbow em 1939, que a região mais vital a ser defendida na América do Sul era a área de Natal, no Brasil.” ver: CONN, Stetson e

FAIRCHILD, Byron. A Estrutura de defesa do Hemisfério Ocidental. Rio de Janeiro: Editora Biblioteca do

Exército, 2000, p. 155. Sobre a presença militar estadunidense no Brasil, ver: CONN e FAIRCHILD, Tropas

do Exército Norte-Americano no Brasil, capítulo XII op. cit. p. 367-397. Especificamente sobre o papel do

Brasil na guerra na Ásia, através da ponte aérea para o teatro CBI (China-Birmânia-Índia), ver CONN e

FAIRCHILD, op. cit. p. 382. Aqui encontramos uma das ameaças mais claras à integridade territorial

brasileira, caso o Brasil adotasse a neutralidade. Foi feita pelo próprio secretário Stimson, diretamente ao presidente Vargas: “(...) nós não podemos deixar que o Brasil, que não está em guerra, obstrua nossa linha vital

de comunicações através da África”. Já o exército americano usou um tom mais brando do que o do secretário, “com uma proposta mais generosa de entregas imediatas e futuras, baseadas no empréstimo e arrendamento”. Então, dias depois, foi feito um acordo de abertura dos céus brasileiros, sem qualquer restrição à USAF, e da cedência de bases, materializado num tratado de defesa brasileiro-americano que, no entanto, deveria ser encaminhado aos Estados Unidos como iniciativa brasileira. CONN e FAIRCHILD, idem pp. 382 e 383.

mantendo as três Américas isoladas da cooperação com o Eixo, passou a ser a prioridade da política externa e da preparação militar.

Como resultado, foi feito o deslocamento de tropas e bases norte-americanas para o Nordeste brasileiro, de onde, do ponto de vista imediato, serviriam de plataforma para a invasão da África do Norte e, no curso da guerra, cumpririam a decisiva missão de abastecer as tropas aliadas no teatro da China-Birmânia-Índia (CBI).

A Doutrina Monroe encontrou no TIAR sua principal expressão jurídico-política até aquela data. Com a fundação da Organização dos Estados Americanos (OEA), realizada logo após a II Guerra Mundial, estava firmado o arcabouço jurídico (TIAR) e institucional (a própria OEA) que conformariam, no curso da Guerra Fria até as Malvinas, as bases da integração, através do trinômio segurança, Economia e instituições.