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Cibernética e Controle: Integração e Revolução Nacional

7. O movimento e a transformação conduzem à superação e não ao

1.4 Cibernética e Controle: Integração e Revolução Nacional

Aqui, mais uma vez, vemo-nos diante de uma dualidade cuja oposição é, aparentemente, irredutível: a oposição existente entre as noções de “controle” e de “revolução”. Em termos lógicos, “controle” significa estabilidade e ordem. Do mesmo modo,

76 Como já se comentou, esta dose de ceticismo é o que faz da filosofia de Adelmo Genro Filho uma síntese

entre Heráclito, Hegel e Marx. Mantém intacta a racionalidade da dialética hegeliana-marxista e, ao mesmo tempo, não admite qualquer noção de verdade absoluta, à semelhança de Heráclito. Ao contrário de Hegel, Adelmo não pretende “privar da intimidade” de Deus como faz Hegel, que revela Deus para si mesmo, (a idéia para o conceito). Diferentemente de Marx, Adelmo não acreditava nem em “leis de bronze da história”, nem em um destino para a humanidade (comunismo) ou em qualquer verdade que não fosse provisória. A sua semelhança com Heráclito, assim, é óbvia. Já sua diferença com o pensador grego, é que para este, não havia qualquer possibilidade de conhecimento sobre a essência do mundo, pois tudo estava em permanente movimento e mutação, enquanto Adelmo vê, mesmo na provisoriedade ontológica da verdade, um guia seguro para a ação revolucionária. O que se infere daí é uma tendência à moderação dos métodos para dar consecução à revolução, posto que mesmo nossas premissas mais profundas acerca da transformação social radical podem estar simplesmente erradas.

logicamente pensando, “revolução” significa o cancelamento de toda a estabilidade, a subversão e a derrubada de toda a ordem. Ninguém melhor que o próprio Marx para nos ajudar a desfazer esse impasse.

Já dizia Marx77 que toda a revolução que cancela uma velha sociedade é social; ao derrubar uma “velha ordem”, a revolução social converte-se em revolução política. A isso, podemos acrescentar: para construir uma nova sociedade e uma nova ordem, a revolução erige-se em instituições. Portanto, se toda revolução social é política, toda revolução política é institucional.

É, entretanto, a um revolucionário prático – Lênin, que devemos a “comunicação” entre controle e revolução. Dizia Lênin: “Trata-se de derrubar a ‘ditadura do capital’ e instituir a ‘ditadura do proletariado’.” Nota-se claramente que, para o líder bolchevique, a revolução era a substituição de uma ordem pela outra. Aliás, nada mais “ordeiro” e “controlado” que uma ditadura. Enquanto ainda estalavam disparos nas ruas de Moscou, de Petrogrado e, de resto, em boa parte da Rússia, logo após o início da insurreição, na abertura do congresso pan-russo de todos os soviets, Lênin assoma à tribuna sob forte ovação e diz: “Passamos, agora, a edificar a ordem socialista”. Nitidamente, a violência e a ruptura da ordem representam somente um estágio para a edificação de uma nova ordem e de novas instituições.

Embora pareçam óbvias, essas reflexões geralmente passam despercebidas, porque a institucionalização é o estágio final de uma revolução. No entanto, justamente por isso, constitui seu aspecto crítico. Quanto a isto, há um relativo consenso na sociologia da revolução78 a respeito de que a própria efetividade (perenidade e alcance) da mudança revolucionária depende do contorno institucional da revolução. Quando se trata de uma

77 “Toda revolução cancela a velha sociedade; neste sentido, toda revolução é social. Toda revolução derroca o

poder antigo e, ao fazê-lo, toda revolução é política.” Karl Marx – Sobre os Tecelões da Silésia (1844).

78 Acerca disto ver: CEPIK, Marco Problemas de sociologia da revolução: Tilly e Skopcol. Belo Horizonte:

Dissertação de Mestrado em Ciência Política, UFMG, 1994; HUNTINGTON, Samuel P. A ordem política nas

sociedades em mudança. Rio de Janeiro: Forense/São Paulo, USP, 1975; SKOPCOL, Theda. Estados e revoluções sociais: análise comparativa da França, Rússia e China. Lisboa: Ed. Presença 1985 e TILLY,

revolução presidida pela noção cibernética de controle, isto é, operada através de “interfaces”, que têm como objetivo assegurar a precedência dos fins humanos sobre os meios erigidos para a ação revolucionária, então as instituições deixam de ser o “ponto de chegada” e convertem-se no próprio “ponto de partida”.

Este é o quesito para o controle da revolução, para que seu fundamento ético reproduza, em todos os sistemas e organismos, uma ontologia artificial em que a construção preside a destruição; a consciência preside a realidade; a política orienta a guerra e a Economia.

Claro que, para isso, não só o próprio direito deve ser um código aberto, e as instituições flexíveis para serem o instrumento de sua própria superação. Note-se que, para este tipo de controle social, em que regular a mudança é parte do controle, precisamos salientar o papel da decisão humana. Para mantermos a positividade do direito, sua capacidade de regular e qualificar a vida social e, ao mesmo tempo, operar mudanças de sentido revolucionário, temos de ter na magistratura um papel maior do que, até agora, estivemos dispostos a conceder.

Em qualquer revolução, a consecução satisfatória pode ser aferida a partir de duas variáveis, uma interna e outra externa, as duas dependendo da feição institucional da revolução. O ponto de vista interno diz respeito à organização da participação popular e à qualidade da cidadania, o que inclui, sobretudo, os direitos e garantias individuais. O ponto de vista externo diz respeito ao grau de coesão obtido entre Estado, povo e Forças Armadas, além da capacidade de exercício da soberania frente às condições adversas do Sistema Internacional (SI); em suma, a capacidade em suportar o custo da guerra.

Dessa avaliação é que os competidores externos da nova soberania serão ou não, dissuadidos a fazer-lhe a guerra. Aqui cabe lembrar as palavras milenares de Sun Tzu, vertidas em uma linguagem atual, e adaptadas à nossa realidade, pelo General Alberto

Cardoso, sobre a “Lei Moral” 79; ela depende do grau de coesão entre Estado, povo e Forças Armadas. Naturalmente, a “Lei Moral está submetida à eficácia e eficiência das instituições. Neste ponto, as vitalidades interna e externa da revolução unem-se em um mesmo problema de segurança80, ainda que de natureza não-militar: seu contorno institucional.

No caso de uma revolução que pretenda estar submetida à “estratégia do controle”, isto é, pretenda administrar seus custos e meios, submetendo-os, também no decurso do processo revolucionários, aos fins humanos, as instituições devem nascer da imaginação humana antes mesmo do curso da ação política ou militar. Aqui contamos com dois exemplos, ambos oriundos de mentes dotadas de uma imaginação poderosa, Platão e Moisés. O curioso é que, a despeito de suas notórias diferenças, estes dois “construtores de Estados”, chegam a conclusões quase idênticas. Em Platão, tanto em “A república” 81 como em “As Leis” 82, temos presente a preocupação de que a organização estatal deve ser forjada, simultaneamente, a partir da preocupação com a distribuição da justiça e da capacidade em fazer a guerra. Nessa ordem, como fica claro em “Alcebíades I e II” 83 e também em “As Leis”, a justiça deve presidir a própria guerra, desde seu planejamento (a formulação de hipóteses e alvos), passando pela condução das operações, chegando até o estabelecimento das condições de paz.

79 A “Lei Moral” é considerada o pilar no qual se assenta a “Grande Estratégia”, a esfera da estratégia da qual se

deduzem todas as demais (militar, de guerra e operacional). A “Lei Moral” de Sunt Tsu diz respeito à unidade entre governante, povo e combatente. É considerada o principal instrumento “não-militar” da dissuasão militar, a única garantia realista para que o Estado não seja atacado por competidores estrangeiros. O intervalo de páginas citado abaixo diz respeito, respectivamente, a uma análise acerca do significado, atual e brasileiro, da “Lei Moral” e a um cenário de guerra envolvendo um país hipotético denominado DELTA, que tem que fazer frente à agressão de uma superpotência. Embora o General Cardoso não mencione, é plausível considerar que DELTA é o Brasil, o cenário de guerra é a Amazônia, e a potência agressora são os Estados Unidos. Cf. CARDOSO, Alberto. Os 13 Momentos da arte da guerra: Uma visão brasileira da obra de Sun Tzu. Rio de Janeiro: Ed. Record, 2005, p.p. 43-58, 60-61.

80 Este assunto, do ponto de vista da mudança revolucionaria, é abordado por Cohan. E, do ponto de vista interno

e externo, ou seja, sobre a vitória do estado soberano territorial contra seus competidores institucionais (internos e externos), é abordado por Spruyt. Nas duas obras, embora não seja este o tema central, fica muito claro o papel das instituições como fiadoras, seja da mudança interna (organização da participação política e liberdade e garantias individuais), seja, do ponto de vista da competição externa (a construção efetiva da soberania).

COHAN. A.S. Teorias da revolução. Brasília: Ed. UnB, 1981; SPRUYT, Hendrik. The sovereign State and its

competitors, New Jersey: Princeton University Press, sd.

81 PLATÃO. A república, São Paulo: Ed. Nova Cultura, sd.

82 PLATÃO. As Leis (incluindo Epinomis). São Paulo: Ed. Edipro, 1999. 83 PLATÃO. Alcebíades I e II, Lisboa: Ed. Inquérito Ltda., s/d.

Moisés, o primeiro “construtor de Estado” por meios revolucionários, bem sucedido, seguiu o conselho de Jetro84, seu sogro, e agiu de forma semelhante. Tomou como ponto de partida para a organização do Estado a institucionalização da justiça e do exército, ou seja, da Magistratura e das Forças Armadas, tarefas que desempenhou de forma simultânea.

À Guisa de Conclusão: Controle Social Como Realização da Justiça

O propósito deste capítulo não foi o de fazer um resumo dos principais conceitos de cibernética ou de suas principais correntes. Procuramos em alguma medida fazer isso a partir da delimitação analítica do tema que perpassa todo o capítulo: a relação entre cibernética e soberania.

Desse modo, os comentários referentes aos termos na introdução fazem mais as vezes de um “glossário” que, propriamente, de uma introdução exaustiva e sistemática às categorias cibernéticas.

Não obstante, de certa forma, isto também foi realizado. Porém, ao invés de uma exposição descritiva, que pode ser encontrada com melhor qualidade nos livros que compõem a bibliografia, procuramos ir desenvolvendo os conceitos à medida que integram a construção da problemática do trabalho. É o que fizemos na primeira parte deste capítulo. As relações entre os três grandes sistemas (política, Economia e a guerra) servem tanto como ilustração do que está em jogo em um processo de integração, quanto como recurso analítico para descrever o conteúdo que atribuímos à “realimentação” e ao “controle”. Ao mesmo tempo, serviu para fazermos uma demarcação necessária em relação ao conceito de “sistema fechado”, pois a própria noção de sistemas (no plural) e de uma interação cujo contorno final é aberto refuta em conteúdo a proposição contida no funcionalismo, a qual pretende delimitar o sistema aprioristicamente e delinear suas fronteiras de modo rígido, isto é, fechado.

Esta questão relativa à natureza aberta ou fechada do sistema, a seguir, é mais uma vez retomada, mas em outro enfoque. É o que fizemos quando confrontamos a vocação, presente

na cibernética tradicional e na Filosofia, de constituírem sínteses fechadas, estabelecendo uma equiparação com o tema anterior dos sistemas fechados. Mais uma vez, o propósito da crítica é determinado na medida dos interesses do desenvolvimento do problema: a integração sul- americana. Aqui procuramos discutir como as sínteses fechadas na Filosofia e a concepção cibernética de sistema fechado contribuem para uma percepção reificada (a-histórica) de soberania que serve como obstáculo político, lingüístico e até psicológico à idéia de integração. Naturalmente, o propósito foi o de demonstrar que a lógica, a dialética e a Cibernética são esferas do pensamento que se determinam reciprocamente e erigem “verdades” que, embora válidas para orientar a ação estratégica, não são “absolutas”.

Desse modo, procuramos demonstrar que a aparente incongruência entre a afirmação da soberania através do seu compartilhamento diz respeito a uma contradição dialética que é sustentável do ponto de vista prático (histórico) na medida em que não se desfizeram (a contradição) em nenhum de seus pólos. Isto é, os Estados-membros originários nem se diluem e nem se engolfam na nova união. Desse modo, o Estado multinacional deve ser uma síntese histórica aberta, dividida entre a afirmação de uma nova soberania (que é efetiva) e as salvaguardas aos Estados-membros das prerrogativas do exercício de sua própria soberania.

É aqui que retomamos os fundamentos da própria idéia de soberania: como realização da soberania popular (democracia) que opera por meio de instituições (o Tribunal e outras). Nesta altura, foi preciso retomar o dilema básico presente na construção dos Estados sul- americanos: a constatação de que as revoluções nacionais foram interrompidas. Isto está plasmado na própria Constituição Federal brasileira, a qual afirma que os “fins” maiores do Estado são justamente a soberania e a cidadania. Ilustra-se que o aporte cibernético traz um novo enfoque às concepções de revolução a partir da idéia estratégica de que as revoluções, para serem feitas presididas por seus fins (soberania e cidadania), devem ser regidas pelo “controle”. Neste sentido, há um aporte original à própria concepção de integração regional: a noção de que os processos de integração regional representam, também, a continuidade das revoluções nacionais interrompidas, porém em outra forma. Essa perspectiva da integração é usualmente ignorada; com isto, em termos práticos, deixa-se de perceber que os processos de

integração regional são, como as revoluções, presididos por seus custos, e que a presença deste custos é parte integrante e ineliminável85 da integração.

É justamente esta nova forma, a integração de sistemas complexos (Estados e sociedades), que autoriza um processo revolucionário regido “do fim para o começo”, isto é, das instituições para a mobilização de massas (e a guerra). Afinal, como procuramos demonstrar, as instituições são o elemento a partir do qual a mudança revolucionária se realiza de forma efetiva ou não. Este ponto é importante para assinalar a opção pelo exame da Revolução Americana (feito adiante) e constatar os motivos de sua vitória sobre as revoluções que a sucederam (francesa, russa e chinesa). A revolução americana, por ter sido presidida por instituições, permitiu que os custos do processo de construção dos Estados Unidos em um Estado continental fosse metabolizado socialmente.

Estamos falando de democracia. Seu papel como instrumento de controle do poder é bastante óbvio e já está contido expressamente no “Senso Comum” de Thomas Paine, no qual faz uma defesa da Constituição dos Estados Unidos da América em oposição à Constituição inglesa. O critério de Paine é que nos Estados Unidos, ao contrário da Inglaterra, a soberania advém do povo e não do monarca. Não tão óbvia é a função da democracia em permitir a dissipação dos custos da mudança revolucionária e sua metabolização social através de instituições que, recorrentemente, “consultam” e são “informadas” pela soberania popular ao efetivar as políticas públicas. Aqui está o fundamento do desenho institucional (“framework”) do Tribunal Sul-Americano. Trata-se de um dispositivo complexo que permite relacionar entre si outros sistemas complexos; Estados e sociedades, através de uma grande “interface” (que é o próprio Tribunal), constituindo um sistema que integra organismos (cidadãos) e sistemas (Estados) de forma aberta. Ao constituir-se como sistema que regula a “entrada” e a

85 Afinal, ao integrar países sem um processo prévio de administração da hegemonia em termos coletivos, isto é

sem instituições especializadas em regular e qualificar o processo de integração, o que a espontaneidade acaba fazendo é estabelecer um processo de homogeneização (tentando equiparar o que é ontologicamente diferente), que torna insuportáveis as pequenas diferenças residuais. O resultado, como vimos na história recente das relações entre Brasil e Argentina, os dois parceiros que deram inicio à integração, é a erupção de conflitos a partir de temas com pouca ou nenhuma relevância estratégica (trigo, linha branca, regime automotivo) que, no entanto, emperram a integração.

“saída”, que altera e dispõe sobre os sistemas originários, o Tribunal permite uma realimentação da democracia e da justiça com a manutenção de um sistema estável.

Este é o propósito maior do Tribunal Sul-Americano: constituir-se em um instrumento, uma interface, uma mediação orgânica, que permita controlar a própria mudança (a integração dos Estados) mantendo, contudo, os sistemas globalmente estáveis. Este artifício é o que permite realizar a revolução “do fim para o início”, ou das instituições para a guerra, com os fins humanos presidindo os meios para dar-lhes consecução. Em suma, a função do Tribunal Sul-Americano é efetivar, em bases legais e legítimas, o controle social na integração sul- americana, através da distribuição da justiça.

Este capítulo trata da construção histórica do conceito de “hemisfério” , suas contradições e possibilidades.

O conceito de Hemisfério Ocidental surgiu na II Guerra Mundial e foi alimentado durante a Guerra Fria, sugerindo uma oposição das Américas à Ásia ou à Europa. Atualmente, é instrumentalizado sob a ótica da integração das três Américas em uma mesma zona de livre comércio.

A idéia da integração americana remonta ao surgimento dos Estados politicamente emancipados na região. Neste capítulo, vamos examinar as condições que envolvem o trinômio segurança (guerra), instituições (política)e Economia, o qual conforma as estratégias de integração desde as emancipações políticas até os dias de hoje. Como não poderia deixar de ser, a Doutrina Monroe e o “Destino Manifesto” são seu centro; são responsáveis por sua evolução estratégica e por seus desdobramentos contraditórios.

O capítulo tem como ponto de partida o lugar da Doutrina Monroe frente às emancipações políticas e aos intentos recolonizadores da Santa Aliança e culmina com a formulação do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR). Passa pela “Iniciativa para as Américas”, do presidente Kennedy, que se desdobra no Tlatelolco (que estipulou ser a região “livre de armas nucleares”). Inclui também a Guerra das Malvinas, quando todo o mecanismo de segurança hemisférico (Doutrina Monroe, TIAR e Tlatelolco) entrou em crise. Os desdobramentos contraditórios consistem, de um lado, na assinatura do PICAB, que dispunha sobre cooperação nuclear entre Brasil e Argentina e serviu de suporte estratégico para a assinatura do Tratado de Assunção, que por sua vez originou o Mercosul. De outro lado, na criação da Comunidade Andina de Nações (desdobramento prático tanto da

86 Hemisfério é a divisão de uma esfera por um plano que a corta em duas metades. Aqui, trata-se do globo

terrestre, que, partido por uma linha imaginária, coloca as três Américas na mesma porção do globo. O conceito de Hemisfério Ocidental surgiu na II Guerra Mundial e foi alimentado durante a Guerra Fria, sugerindo uma oposição das Américas à Ásia ou à Europa. Atualmente, é instrumentalizado sob a ótica da integração das três Américas em uma mesma zona de livre comércio.

“Iniciativa para as Américas” de Kennedy, quanto da Guerrilha de Guevara87) e, já nos anos 90, na adesão dos países da região ao Tratado de não-proliferação (TNP) e na ALCA – Área de Livre Comércio das Américas – como centro da agenda de integração regional.

Aqui, verifica-se a contradição entre o desejo de autonomia, expresso na criação do Mercosul, e de segurança, traduzido na adesão ao TNP88. Curiosamente, no entanto, a iniciativa norte-americana de uma integração econômica mais efetiva do continente vem acompanhada de um desengajamento expresso em matéria de segurança, posto que os EUA preparam-se para denunciar o TIAR, ou seja, descompromissarem-se com a segurança dos países latino-americanos. Parece não ter sido mero acaso que o México (único país latino- americano que integra o NAFTA) foi o primeiro país latino-americano a deixar de fazer parte do TIAR.

As contradições que envolvem o trinômio Economia, guerra e a política na América Latina desdobram-se em três projetos de integração: ALCA, ALBA (iniciativa bolivariana) e Comunidade Sul-Americana de Nações (CSA), a seguir abordadas.

Ainda no início dos anos 90, o Presidente Bush (pai) dispôs sobre a criação de uma zona de livre comércio que unisse o Alasca à Terra do Fogo, mais comumente conhecida como área de livre comércio das Américas – ALCA. Por outro lado, a iniciativa bolivariana quer criar um mercado comum da América Latina e Caribe, unindo o continente desde o México até a Argentina. Por fim, o Brasil capitaneou o processo de formação da Comunidade Sul-Americana de Nações, dando conseqüência a sua proposição de uma integração sul- americana que teria como ponto de partida uma Área de Livre Comércio da América do Sul (ALCSA).

87Ernesto Guevara de la Serna, nascido argentino, tornou-se um dos principais líderes da revolução cubana que

chegou ao poder em 1959. Seguindo o modelo da luta armada cubana, onde a guerrilha instalou suas bases em uma elevação denominada “Sierra Maestra”, pretendia que a Cordilheira dos Andes fosse “a Sierra Maestra das Américas”. Foi morto na Bolívia, em 1968, tentando levar à prática sua tese sobre os Andes.

88 Sobre este assunto, ver: GUIMARÃES, Márcio Azevedo. As alterações da política externa brasileira nos