• Nenhum resultado encontrado

As boas relações sociais são fundamentais para trazer alegria,

4.3 Categoria: contexto de vida

4.3.1 As boas relações sociais são fundamentais para trazer alegria,

Crenças espirituais: tratamento e cura Os médicos, principal- mente o angiologista, são os que detêm o conhecimento neces- sário para o tratamen- to de úlceras venosas.

Fonte: elaborado pela autora.

4.3 Categoria: contexto de vida

4.3.1 As boas relações sociais são fundamentais para trazer alegria, apesar da ferida

Os relacionamentos sociais são interações que abrangem sentimentos positivos e negativos, percepção de si e do outro e diferentes graus de envolvimento afetivo (ERBOLATO, 2001). As relações sociais também contribuem para dar sentido à vida, favorecendo a organização da identidade por meio da inter- relação entre as pessoas, portanto, os contatos sociais são uma forma de vivenciar

o desenvolvimento, na idade adulta, de maneira bem-sucedida (ANDRADE; VAITSMAN, 2002). Nogueira (2001) afirma que as relações sociais significativas dão sentido às experiências e podem oferecer apoio, importantes elementos no processo de adaptação, principalmente em momentos de transição. O contato com outras pessoas mantém-se imprescindível em qualquer época da vida (RESENDE et al., 2006).

A representação acerca das relações sociais é marcada nos discursos dos entrevistados (E1, E2, E3, E4, E5, E8, E12). Ir à igreja, a festas, viagens, visitar amigos e parentes, participar de grupos comunitários e de eventos familiares, almoçar com a família, estar na companhia de alguém, conversar sobre a vida e até mesmo ter autonomia para fazer algo para agradar uma pessoa são situações que estão relacionadas à sensação de alegria e bem-estar. Everardet al. (2000) afirmam que o engajamento em atividades sociais tem sido associado ao aumento do sentimento de bem-estar em adultos.

A partir da existência da ferida crônica, os entrevistados informam que houve redução das interações sociais, sobretudo pela dificuldade em sair de casa:

Sair de casa seria uma distração. Para participar novamente do grupo de idosos, da associação de bairro, ir à igreja e em festas, dependo da boa vontade dos filhos. Como não tenho, não consigo sair de casa [pela dificuldade de locomoção e transporte]. É bom quando as pessoas vêm me visitar, porque não consigo mais sair de casa. Gosto de conversar com as pessoas. Isso é sinal de amizade e afeto (E1).

Ah, eu tinha mais alegria de almoçar com a família, comia o que fizessem, hoje não, hoje tem muita coisa que eu não posso comer. Saía mais, né? [Saía para comer com a família] (E2).

Antes era maravilhoso! Antes eu fazia tudo o que eu podia fazer... eu ia para festa... eu viajava e tudo... agora eu não saio de casa mais, não vou na casa da minha mãe, não viajo para lugar nenhum, não vou em festa, não saio para lugar nenhum. O único lugar que eu vou: venho aqui, faço o curativo e volto. Agora parece que eu morri. Muita gente me chama de defunta morta (E3).

Eu desejo arrumar um velho para eu viver com ele. Para nós dois sermos felizes. Inteirar uns dois mil reais para ele comprar um carro para nós irmos na igreja, passear, ver nossos amigos, sorrir junto, não tem coisa melhor na vida da gente, não! (E4). [Vive sozinha com o filho adotivo que é quem cuida e faz tudo o que ela precisa].

Dançava muito, mas hoje não tem mais jeito... sair para andar um pouco é o que alivia o sofrimento. Não dá para ficar somente dentro de casa porque fica “abafado”. É preciso sair e encontrar pessoas para brincar um pouquinho e sorrir (E5).

53

Mas, assim, mudou muita coisa mesmo, né? Porque eu gostava às vezes de sair... porque... olha para você ver.… eu largar de ir em um casamento do meu sobrinho, e na formatura dele... a família dele estava longe... Então, ele queria todo mundo. E de todas as sobrinhas que formaram, eu também não fui (E8).

Eu não vou a lugar nenhum. Eu não vou na casa de ninguém. Só vou na igreja. [Começa a chorar]. Não vou passear nem nada. Eu sou sozinha e Deus. Sabe, tem oito anos que o meu marido morreu. A única coisa que eu distraio, é assim, quando eu recebo uma pessoa, sabe? Aí a pessoa conversa, né? Nós conversamos... distrai... aí eu esqueço daquilo (E12). Nesse contexto, Aguiar et al. (2016) também reportam que a ocorrência de uma UV provoca dificuldades na vida social dos indivíduos acometidos, que passam a conviver muitas vezes com sentimentos de isolamento social. Os indivíduos precisam adaptar-se a uma nova condição de vida que, além de afetar seu bem-estar físico e mental, compromete as relações sociais.

Somente uma entrevistada fez referência a ganhos secundários afetivos pela existência da ferida crônica:

Meu marido era bem pior do que hoje... Hoje, ele é um anjo... Depois que eu arrumei a ferida ele é bom demais (E3).

As relações sociais também são expressas dentro das instituições de saúde, conforme explicitado nos relatos de E2, E3, E9, E10, E11, E12:

Lá no posto o que eles podem fazer pela gente, eles fazem (E2).

Eu me distraio com as meninas do curativo. Eu converso muito com elas [risos]. [...] tem uma aqui agora que é uma gracinha... ela é ótima...ela conversa..., ela ri...ela conta caso...então quando eu estou ali fazendo curativo eu não sinto dor, eu não sinto nada. [...] ela fala comigo: “Eu tenho uma hora para ficar com você”. Então, é onde eu distraio demais! (E3). Não é qualquer pessoa que faz isso que ele faz para mim, não! Aqui em casa ele é tratado como se fosse igual um filho da casa [refere-se ao enfermeiro que faz o curativo no domicílio] (E9).

Hoje eu estou vendo a menina aqui fazer curativo para mim e eu fiquei alegre, fiquei satisfeito porque ela fez isso para mim! Eu não senti dor. Foi a primeira vez que eu não senti dor (E10).

Os enfermeiros do centro de saúde me tratam muito bem, mas o meu “anjo da guarda” não “bate” com o do médico que me atende. Ele não sabe cumprimentar e não atende bem. Gosto de conversar com as meninas do “posto” [as agentes comunitárias de saúde], sejam elas quais forem. Elas nunca perguntam apenas: “como é que a senhora está?” (E12).

Fávero, Pagliuca e Lacerda (2013) trazem importante contribuição ao discutirem a Teoria do Cuidado Humano, proposta por Jean Watson. Para as autoras, a teoria vem contribuindo para o desenvolvimento do conhecimento na enfermagem e o cuidado pode ser eficazmente praticado de modo transpessoal, no qual a consciência deste vai além da dimensão biológica e material e é capaz de transcender o tempo, o espaço e o corpo físico. As teóricas entendem que uma relação transpessoal de cuidar sugere uma forma especial da relação de cuidado, sendo caracterizada como uma união com o outro, elevando a consideração por esse ser e pelo seu estar no mundo.

Por essas análises, nota-se que as pessoas que apresentam mais satisfação com a vida são aquelas que recebem mais suporte afetivo e podem contar com outras para suporte instrumental. Pesquisa realizada em 2006 em Uberlândia, Minas Gerais, sobre rede de relações sociais e satisfação com a vida, mostrou que as relações sociais e o suporte social, seja ele qual for (emocional, instrumental ou informacional), são de grande importância em todos os momentos da vida. Sendo assim, os comportamentos se alteram de acordo com as mudanças de metas, de objetivos e com as motivações implementadas pelas tarefas evolutivas. As redes de relações são importantes fontes de suporte social e estão relacionadas ao senso de bem-estar (RESENDE et al., 2006).