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Idade avançada, herança genética, problemas circulatórios, varizes

4.5 Categoria: representações sobre a ferida causas, tratamentos,

4.5.5 Idade avançada, herança genética, problemas circulatórios, varizes

Os principais fatores predisponentes à insuficiência venosa e consequente desenvolvimento da úlcera venosa incluem: história familiar, idade avançada, obesidade, multiparidade, lesões anteriores, trombose venosa profunda ou tromboflebite, diabetes, falência cardíaca e doença renal (ABREU; OLIVEIRA; MANARTE, 2013; BORGES et al., 2016; WHITE-CHU; CONNER-KERR, 2014).

Os participantes desta pesquisa manifestaram dificuldades em definir precisamente o que é essa ferida que carregam consigo pela vida, mas apresentam representações significativas quanto a alguns fatores de risco de UV, o que justificaria o aparecimento da lesão:

Fico tentando entender o motivo de ter a ferida na perna que não cicatriza. Não tenho diabetes. Fico pensando que poderia ser erro na cirurgia que fiz, porque conheço várias pessoas que também fizeram a cirurgia e estão normais, porém irão fazer de novo porque não gostam de ver as varizes que estão grandes (E1).

Não sei por que tenho isto. Não sei por que a ferida ficou assim, já que não tenho diabetes nem pressão alta. Fiz enxerto e já tiraram a safena, mas não adiantou. Quando a ferida começa a fechar, abre novamente. Fico sem saber se este problema é hereditário. Meu pai morreu com uma ferida assim e minha mãe diz que é hereditário. Penso que é porque usei muito salto alto e as veias eram fracas, estouraram, mas, não sei realmente se isso tem fundamento (E3).

Eu já perguntei até o médico, quando ele falou comigo que era úlcera varicosa. “A ferida da senhora é uma úlcera varicosa. Se fosse ferida comum já teria sarado”. [...] “Tem pessoas diabéticas que não fecham mais”. Mas não tenho diabetes não, graças a Deus! Eu não vou mentir para você não... eu não entendo o que seja uma úlcera varicosa... porque ele não me explicou, e ninguém nunca me explicou (E12).

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O diabetes é uma doença que justifica a existência da úlcera em pessoas com feridas que não cicatrizam. Da mesma forma, a herança genética aparece como uma das representações sobre a origem da situação.

Acredito que as feridas têm a ver com a idade (velhice) e com a herança de pai e de mãe. Minha mãe não tinha esse problema, meu pai eu não sei (não o conheceu) e irmã tem uma ferida na perna como eu (E7).

Além disso, a permanência em pé por longos períodos de tempo, com

calçados justos (E7), como em situações relacionadas ao trabalho, pode favorecer o desenvolvimento de úlceras venosas, o que também é afirmado na literatura (NSCCH, 2008).

Outra causa importante do surgimento da ferida citada por alguns entrevistados é a realização de cirurgia de varizes.

Essa ferida apareceu depois que eu operei as varizes, as benditas varizes. Seu eu não tivesse operado essas varizes eu tinha certeza que ela não apareceria (E7).

Em oposição, para outros entrevistados, a esperança de cura estaria relacionada à realização de cirurgia:

A ferida estava muito grande e queimava muito quando comecei a ir ao médico do posto de saúde. Me mandaram para o especialista dizendo que a solução era cirurgia: “Isso aí é por causa da veia. Tem que tirar a veia para sarar”. E essa foi minha esperança: fazer a cirurgia e voltar a ter uma vida normal. Pensei que depois da cirurgia já voltaria ao trabalho, mas ao final dos 30 dias, voltei ao trabalho com a ferida na perna de novo (E8). A única esperança é pela cirurgia (E6).

E8 acreditava que a cirurgia seria a solução para se conseguir a cura da ferida, mas, mesmo que isso não tenha acontecido, vê na cirurgia, ou na escleroterapia (refere-se a “aplicações”), uma possibilidade de prevenção de varizes e, consequentemente, de úlceras venosas.

Não sei por que tenho isto, já me disseram que é “venosa”, que o problema veio dessa veia que tirou na cirurgia. Não imaginei que uma “pelinha” que saiu pudesse virar uma ferida assim. As pessoas que também têm esse problema sofrem muito e é preciso cuidar das varizes desde cedo fazendo aplicações. Talvez, se tivesse feito aplicações no início, isso não teria

acontecido. Falo sempre para minhas sobrinhas que têm varizes nas pernas que se cuidem enquanto estão novas(E8).

White-chu e Conner-kerr (2014) entendem que as opções de cirurgia vascular para corrigir a função venosa aumentaram na última década, trazendo consigo terapias adjuvantes para a prevenção da recorrência da úlcera venosa. A escleroterapia parece ser promissora para cicatrização de úlceras e está se tornando cada vez mais comum. Pode ser usada tanto como alternativa ao tratamento cirúrgico para tratamento da insuficiência venosa como pode ser associada à reconstrução do sistema venoso profundo (AGUIAR et al., 2005). O tratamento cirúrgico e a escleroterapia com espuma obtiveram altas taxas de cicatrização de úlceras, sem diferença estatisticamente significante (CAMPOS JR. et al., 2015), porém Alder e Lees (2015) afirmam que a evidência atual indica que sua eficácia pode não ser tão alta quanto a cirurgia, embora seja um tratamento minimamente invasivo para varizes de membros inferiores.

Outros entrevistados desconhecem totalmente a causa da ferida e se referem a ela como resultado de alguma culpa ou de comportamentos errados, em geral:

Não sei... eu não sei o que é. Eu não sei o que está acontecendo comigo. Eu não estou fazendo nada de errado. Eu não bebo... não fumo... eu não tenho ciúme... não tenho inveja. Só não gosto de coisa errada. Eu nunca roubo, nunca fumo, nunca bebo, nunca mexi com porcaria, nunca... eu não sei como a minha perna ficou assim... eu não sei o que está acontecendo. Eu não sei... parece uma coisa...(E10).

Não sei por que tenho essa ferida, mas cada pessoa tem um sofrimento na vida, né? (E9).

Representações que relacionam doença à culpa do próprio doente ou da família, a desígnios divinos ou a pagamento de erros cometidos fazem parte do imaginário social desde tempos imemoriais e estão na epistemologia do processo saúde-doença (GRMEK, 2014). Caracteriza-se, muito provavelmente, como uma forma de aceitação de sua condição, como aceitação de punição devido a algo que nem mesmo a pessoa consegue definir (GRMEK, 1995). Tais representações se explicitam de forma mais contundente ao se interpretar o que se espera em relação ao tratamento das feridas, como se explicita mais fortemente na próxima categoria.

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4.6 Categoria: expectativas em relação à cura e tratamento da ferida