• Nenhum resultado encontrado

Fotógrafa: A autora Fotógrafa: A autora

Durante o tempo em que permanecemos na loja, foi possível obter informações a respeito dos brinquedos da atualidade e também de outros disponíveis no local e observar, no caso dos pedidos feitos pelas crianças, a sua relação com esses objetos. Na loja, também

encontramos algumas respostas sobre as possíveis influências, na escolha realizada por parte desses pequenos sujeitos, pelos seus brinquedos e jogos, o que nos fez avançar em relação ao nosso pressuposto de que a relação sujeito-objeto, no brincar de fazer de conta da criança, muda, sob a influência de mutações culturais. Com efeito, os brinquedos presentes no discurso social, e vinculados pela mídia, apresentavam índices de preferência extremamente significativos.

Ou seja, os dados coletados na loja pareciam indicar que a televisão mantinha uma interferência significativa na escolha dos objetos representativos do brincar infantil, veículo de mídia, sem dúvida, presente na cultura, com força suficiente para aparecer como instrumento capaz de influenciar no pensar, no saber, nas escolhas das crianças.

Nesse momento, uma questão ganhou destaque para nós, e pudemos formulá-la assim: Será que a televisão, reconhecida ali como referência para esses pequenos sujeitos, ao escolherem seus brinquedos, cumpririam a mesma função que os pais, quando colocados no lugar de referência para seus filhos? Sabemos que a história contada pelos pais é o que permite às crianças que elas possam construir novos enredos, garantindo-lhes, desse modo, o necessário lugar de referência, capaz de sustentá-las no tempo futuro e, consequentemente, nas escolhas futuras. Não estando sustentada pela tradição, como a referência paterna, mas pela importância que lhe é atribuída pelo avanço tecnológico conquistado na contemporaneidade, qual o mecanismo de sustentação dessa forma de referência demonstrada pela televisão? Vejamos o que foi possível articular como o que estamos dizendo, através de um elemento surpresa encontrado por nós, numa de nossas visitas à Zastras.

Numa certa manhã, ao passar pelas estantes em que estão organizados os livros infantis, nos deparamos com um, em especial, intitulado “Como virar princesa em até 7 dias”. Então pensamos: o que seria “virar uma princesa em até sete dias”? Seria de um tempo cronológico que se trataria e da mesma quantidade de dias que toda criança precisa para mergulhar no universo imaginário? E mais: quem estaria propondo essa garantia? Quem seria esse terceiro, que funcionaria do lugar de promessa garantida entre a criança e o seu brincar? E foi, em meio a tantas interrogações, folheando o livro, que, de repente, lemos: Espelho, espelho meu, existe quarto mais bonito do que o meu? (SOARES, 2012).

Figura 8 - Capa do livro Como virar Princesa em 7 dias

É importante dizer, antes de prosseguirmos com as considerações suscitadas por essa referência literária que, apesar de a literatura infantil não ser o objeto de nosso estudo, decidimos trazer esse dado coletado na história referida porque ela nos mostra elementos esclarecedores e ilustrativos sobre a relação sujeito-objeto no brincar de fazer de conta da criança.

Dessa forma, as considerações feitas, anteriormente, sobre a televisão levaram- nos a supor que, quando a criança se deixa nortear pelo que é transmitido por esse veículo de mídia, ela estaria submetida a um mecanismo similar àquele que a submete, no momento em que se interroga ao espelho sobre quem tem um quarto melhor do que o dela, pois em ambos os casos quem tem o poder de resposta sustenta-se pela via do discurso da ciência, que assegura tudo poder. A televisão informa à criança sobre os tipos de brinquedos, onde adquiri-los, e as encanta com a certeza de que é possível obter todos aqueles objetos; por outro lado, a criança que indaga sobre quem tem o quarto melhor do que o dela espera, talvez, encontrar a resposta que apenas confirme a certeza antecipada: a de que os objetos que a cercam lhes dão a garantia de que tudo podem ter. Não seria esta a mutação cultural com a qual nos confrontamos hoje: da referência do SER à referência do TER?

5.2.5 Hora da Vitrine

A Hora da Vitrine é um espaço dedicado a flagrar acontecimentos no social que guardam relação com nosso objeto de estudo, mas que não foram contemplados, até então. Durante a investigação, além de encontrarmos lugares que, de certa forma, já nos indicam, previamente, a presença de crianças, o que observamos também foi a existência de outros

espaços, contendo outras ofertas, outros apelos, outras programações destinadas a elas. Somos levados a pensar que, pelo fato de esses pequenos sujeitos já estarem posicionadas na cultura como produtores ou produzidos por esta, há um reflexo disso no social que, por sua vez, faz- se vitrine disso.

A ideia quanto ao uso da palavra vitrine acontece em virtude do significado de “vidraça atrás da qual ficam expostos objetos destinados à venda ou a serem vistos”. (FERREIRA, 2010, p. 787). Não é o que se pode constatar em relação à criança, hoje? Ela conquistou um espaço, isto é, ganhou sua vitrine. Mas não se pode negar que, por tal conquista, ela vem pagando um preço: o modo como está exposta, a forma como pode ser vista ─ ela própria transformada em objeto.

Na cidade de Salvador, no dia 17 de março de 2013, flagramos a Exposição: Brinquedos que moram nos sonhos: o brinquedo popular brasileiro (ANEXO C), Coleção David Glat, no Museu de Arte da Bahia. Esta exposição acontece, pela primeira vez, na Bahia, reunindo, aproximadamente, mil e quinhentos brinquedos artesanais, distribuídos em espaços, cuidadosamente organizados, com o objetivo de proporcionar uma valorização dos objetos expostos, assim como a criação popular dos artesãos brasileiros.