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Foto 67 Lobisomem na TV (Bartira)

4 TEMPO DO BRINCAR INFANTIL

4.3 OS PERSONAGENS INFANTIS TÊM ENDEREÇO

Afinal, quem são os personagens infantis? Quando e onde eles nasceram? Onde eles moram? Por que atraem tanto a atenção das crianças? Qual a história que contam esses seres inanimados? Do que é alimentada a sua existência?

Não é raro encontrarmos crianças em companhia de seus brinquedos preferidos, os quais, muitas vezes, podem ser bonecos, personagens infantis, que acompanham seus donos no estudo, no lazer, nos momentos alegres ou tristes. Os brinquedos são objetos que, de certa forma, são inerentes à criança, fazem parte da sua vida. Quem já não foi convidado a presentear esses pequenos sujeitos com um brinquedo? Desde quando podemos encontrar cenas das crianças e seus brinquedos?

Manson (2002, p. 9) contribui para a análise da história dos brinquedos, ao afirmar:

A maioria dos brinquedos que hoje nos parecem indispensáveis ao desenvolvimento da criança existe desde há séculos, mas sob outras formas e designações: antigamente, os pequenos veículos chamavam-se carroças e os robôs da guerra das estrelas eram simples soldadinhos de chumbo. Na Antiguidade, os pais já podiam oferecer uma vasta gama de objetos lúdicos aos filhos; rocas e outros brinquedos sonoros para os mais pequenos, brinquedos de locomoção, para aprenderem a andar ou a robustecer os

joelhos, brinquedos afetivos e, finalmente modelos reduzidos, isto é, utensílios domésticos, figurinhas e veículos em miniatura, graças aos quais as crianças descobrem o mundo dos adultos.

Dessa forma, podemos constatar que a existência desses objetos na vida das crianças, já acontece desde muito tempo atrás. Não é de hoje que esses pequenos sujeitos contam com esses objetos para fazer parte da sua história, os quais, de alguma forma, ocupam lugares significativos no entendimento da sua realidade.

Por outro lado, também fica claro, tomando por base a citação anterior, que os brinquedos, de certa forma, carregam as marcas do seu tempo, a sua origem familiar e a sua ancestralidade. Desse modo, podemos constatar que esses objetos passam por mudanças, mesmo que haja prevalência de um ou outro aspecto. O que será que move essas mudanças? Como será que as crianças escolhem os brinquedos que fazem parte da sua infância, hoje?

Sabemos que as crianças se interessam por determinados personagens infantis e seus respectivos enredos, de acordo com o que estão buscando compreender sobre a sua realidade. Com base nesta explicação, é possível acreditar que, por razões subjetivas, esses pequenos sujeitos mergulham no universo imaginário vestidos da pele das bruxas, dos lobos, dos super- heróis, dos bonecos, para responder perguntas básicas sobre a sexualidade ou relacionadas à filiação, identificação, dentre outras. Sabemos, ainda, que, através da fantasia, esses sujeitos encontram possibilidades na compreensão de determinados conceitos.

Mas o que mais podemos dizer sobre as escolhas dos personagens no brincar das crianças? Ainda sustentados pela citação anterior, diríamos que o aspecto cultural marca a existência, a modificação, a evolução dos diversos seres inanimados, como se eles sofressem alterações e avanços, ganhassem/perdessem características, de acordo com as transformações culturais em curso na sociedade. Na brincadeira com seus personagens, que dizem sobre o seu tempo histórico e cultural, as crianças, de alguma forma, elaboram conteúdos específicos de uma época. Seu brincar seria a expressão da vivência desse processo de elaboração que, muitas vezes, não é sem sofrimento, o que talvez nos obrigue a fazer uma pequena incursão sobre o sintoma.

Não é difícil saber, através das crianças, quais são os seus ídolos ou personagens infantis favoritos e também não é surpresa admitir que estes, provavelmente, são escolhidos a partir do que se oferece na cultura. Para poder responder a nossa questão, nesse estudo, foi necessário investigar também a respeito desses heróis que, com certeza, nos esclarece muito sobre as crianças da nossa pesquisa.

Dessa forma, torna-se necessário revelar algumas informações que julgamos significativas, sobre determinados personagens que se destacaram como heróis das crianças da nossa investigação, que em primeira instância, já nos permitiu construir algumas suposições e constatar outras referentes à relação da criança com os personagens infantis sob a influência das mutações culturais. Vejamos o que foi possível articular ainda que, nesse tempo, sem os dados da pesquisa de campo.

O primeiro herói do nosso estudo é conhecido como Ben 10, uma série de desenho animado, uma franquia americana criada por Mano of action e produzida pelo Cartoon Network Studios. Ben Tennyson é um menino de dez anos que encontrou um relógio alienígena, Omnitrix, capaz de transformá-lo em dez criaturas com poderes únicos. Ben 10 tem um avô, chamado, Max e uma prima que atende pelo nome de Gwen Tennyson. Hutchison (2010, p. 4-5) apresenta uma ilustração que nos esclarece sobre esse personagem:

Figura 1 - Conheça os personagens

Fonte: Hutchison (2010, p. 4-5)

A boneca Barbie também foi muito comentada pelas garotas da nossa pesquisa e, certamente, um sucesso com o público feminino. Em relação ao Ben 10, logo de início, apresenta uma diferença significativa para nosso estudo, pois a Barbie já conta com várias décadas de existência. Vejamos o que conseguimos refletir a partir da sua história.

A ideia da criação da boneca Barbie foi de Ruth Handler, esposa de Eliot Handler, fundador da empresa norte-americana Mattel, e mãe de Ken, Skipper e Bárbara. Jack Ryan foi o designer da famosa boneca que foi lançada na Feira Anual de Brinquedos de Nova York no ano de 1959 e, desde essa época, já trazia consigo seus vários modelos e acessórios para serem manuseados pelas crianças. “A moda dos últimos 40 anos pode ser contada através da Barbie e sua coleção de estilos e modelos. Sempre na última moda, ela reflete as mudanças do mundo feminino”. (GARCIA, 2009) Dessa forma, estamos compreendendo que apesar da Barbie contar com anos de criação ela não foi esquecida pelas crianças, muito pelo contrário, na nossa pesquisa foi frequentemente mencionada.

O que é interessante destacar para o nosso estudo é que a Barbie acompanha as mudanças ocorridas na sociedade, através da moda e com isso, acreditamos que, de alguma forma, sofre e denuncia as influências da cultura a qual pertence. Nos anos 50, por exemplo, a boneca, traz consigo os vestidos rodados, as calças cigarretes, as luvas, nos anos 60, veste twuin-set de lã, faixas no cabelo, perucas e “[...] fechando a década, roupas floridas, estampas psicodélicas, grandes óculos e uma nova amiga, a primeira boneca negra, Christie” (GARCIA, 2009)

Já a partir dos anos 80, a Barbie arrasa em seus modelos com mangas bufantes e blusas transparentes, assim como é possível notar a maquiagem fazer parte do conjunto do seus acessórios e ,na década de 90, um outro acessório é acrescentado a sua imagem, o automóvel. Em 2000, a Barbie assume a vida de uma mulher que trabalha e ganha o computador e o celular.

É fato que alguns brinquedos se fizeram mais presentes durante a nossa pesquisa e sabemos que essas escolhas, certamente, passam pelo desejo das crianças, porém, há algo interessante, atualmente, observado por nós, e que nos interroga em relação a essa escolha. O que estamos dizendo é que os brinquedos encontrados por nós, esses personagens que estamos nos dedicando a compreender possuem uma nacionalidade estrangeira o que nos fazem considerar que as escolhas das crianças em relação a seus personagens, sofrem uma influência outra, que não a da nossa cultura. Ou será que a nossa cultura já estaria contaminada pela cultura de outros países?

Não é nosso objetivo nos aprofundar nessa discussão, mas ressaltar o que interessa à nossa pesquisa. De fato, esses personagens são estrangeiros e conseguem chegar até as nossas crianças brasileiras com relativa importância. É nesse ponto, inclusive, que destacamos a televisão como um dos principais veículos responsáveis por esse acesso. Sem dúvida, a

televisão e os desenhos animados transmitidos por ela, ocupam um lugar significativo nesse contexto.