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Capítulo I. O Direito Europeu dos Contratos Públicos: breve evolução histórica

D. O Livro Branco e o Acto Único Europeu

Na década de 80, a construção europeia presencia dois passos fulcrais, a aprovação do Livro Branco de 1985326 e a entrada em vigor, a 1 de Julho de 1987, do Acto Único Europeu

(AUE)327.

O Livro Branco pretendia consolidar as condições para a criação do mercado interno europeu, a 31 de Dezembro de 1992, e o Acto Único Europeu pretendia o relançamento do processo de construção europeia com vista a concluir a realização do mercado interno, cuja execução se previa difícil com base nos tratados existentes, nomeadamente devido ao processo

324 Os números revelavam que os contratos públicos adjudicados a empresas não nacionais representavam apenas 0,14 do PIB. Ver ainda

sobre esta atitude proteccionistas dos Estados – Membros, C. Viana, op. cit., Parte I, Capítulo I e II.

325 Cfr. CCCCOMISSÃOOMISSÃOOMISSÃOOMISSÃO, Comunicação ao Conselho: Contratos Públicos realizados por entidades públicas..., cit., de 1986.

326 Cfr. CCCCOMISSÃOOMISSÃOOMISSÃOOMISSÃO, Livro Branco: A Realização do Mercado Interno, COM (85) 310 finalCOM (85) 310 finalCOM (85) 310 finalCOM (85) 310 final, de 09/09/1985.

327 O Acto Único Europeu, assinado no Luxemburgo em 17 de Fevereiro de 1986 por nove Estados - Membros e, em 28 de Fevereiro de

1986, pela Dinamarca, Itália e Grécia, constitui a primeira alteração de grande envergadura do Tratado que institui a Comunidade Económica Europeia (CEE). Entrou em vigor em 1 de Julho de 1987 e foi publicado in JO L 169 de 29.6.1987.

As principais etapas que conduziram à sua assinatura foram as seguintes:

▪ Declaração Solene de Estugarda de 19Declaração Solene de Estugarda de 19Declaração Solene de Estugarda de 19Declaração Solene de Estugarda de 19 de Junho de 1983:de Junho de 1983:de Junho de 1983:de Junho de 1983: documento, elaborado com base nos planos dos Ministros dos Negócios Estrangeiros alemão e italiano. Foi acompanhado de declarações dos Estados-Membros sobre os objectivos a alcançar em termos de relações interinstitucionais, de competências comunitárias e de cooperação política. Os Chefes de Estado e de Governo comprometem-se a reexaminar os progressos registados nestes domínios e a decidir se se justificava incorporá-los num Tratado da União Europeia.

▪Projecto de Tratado que institui a União EuropeiaProjecto de Tratado que institui a União EuropeiaProjecto de Tratado que institui a União Europeia: por iniciativa do deputado italiano Altiero Spinelli, é criada a Comissão Parlamentar dos Projecto de Tratado que institui a União Europeia Assuntos Institucionais com o fito de elaborar um tratado que substitua as Comunidades existentes por uma União Europeia. O Parlamento Europeu adoptou o projecto de Tratado em 14 de Fevereiro de 1984.

▪Conselho Europeu de Fontainebleau de 25Conselho Europeu de Fontainebleau de 25Conselho Europeu de Fontainebleau de 25 ---- 26Conselho Europeu de Fontainebleau de 25 262626 de Junho de 1984:de Junho de 1984:de Junho de 1984:de Junho de 1984: com base no projecto de Tratado do Parlamento, as questões institucionais são analisadas por um comité "ad hoc" composto por representantes pessoais dos Chefes de Estados e de Governo e presidido pelo senador irlandês Dooge. O relatório do Comité Dooge insta o Conselho Europeu a convocar uma Conferência Intergovernamental para negociar o Tratado da União Europeia.

▪Livro Branco deLivro Branco deLivro Branco de 1985 sobre o mercado internoLivro Branco de1985 sobre o mercado interno1985 sobre o mercado interno: a Comissão, por iniciativa do seu presidente, Jacques Delors, publicou um Livro Branco 1985 sobre o mercado interno em que identifica 279 medidas legislativas necessárias para que se realizasse o mercado interno, propondo um calendário e a data-limite de 31 de Dezembro de 1992 para a realização desse objectivo.

Por último, o Conselho Europeu de Milão ,de 28 e 29 de Junho de 1985, propôs a convocação de uma Conferência Intergovernamental (CIG) que foi iniciada sob a presidência luxemburguesa, em 9 de Setembro de 1985, e encerrada em Haia, em 28 de Fevereiro de 1986.

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de tomada de decisão a nível do Conselho, requerendo-se a unanimidade para a harmonização legislativa. Daí que a Conferência Intergovernamental, que conduziu ao Acto Único Europeu, dispunha de um duplo mandato (concluir um tratado em matéria de política externa e segurança comum e alterar o Tratado CEE, nomeadamente a nível do processo de tomada de decisão do Conselho, das competências da Comissão, dos poderes do Parlamento Europeu, e do alargamento das competências das Comunidades). O Acto Único Europeu é composto por um preâmbulo e por quatro títulos328 e incluía uma série de declarações adoptadas pela Conferência,

no preâmbulo estão apresentados os objectivos fundamentais do tratado e expressa a vontade dos Estados - Membros de transformarem as suas relações com vista à criação de uma União Europeia.

Também agrupou disposições comuns à cooperação em matéria de política estrangeira e às Comunidades Europeias, destacando, de igual modo, dois objectivos da revisão dos tratados, ou seja, promover a melhoria da situação económico - social, através de políticas comuns, com o intuito de atingir novos objectivos e garantir um melhor funcionamento das “Comunidades”.

Com a finalidade de realizar do mercado interno, o Acto Único previa um aumento do número de casos em que o Conselho pode deliberar por maioria qualificada e não por unanimidade, facilitando-se, assim, a tomada de decisões, evitando bloqueios inerentes à procura de obtenção de um acordo unânime por parte de todos os Estados-Membros. A unanimidade deixou de ser necessária para as medidas com vista ao estabelecimento do mercado interno, exceptuando-se as medidas relativas à fiscalidade, à livre circulação das pessoas e aos direitos e interesses dos trabalhadores assalariados.

O Acto Único Europeu institui o Conselho Europeu, oficializando as conferências ou cimeiras dos Chefes de Estado e de Governo, contudo, não especificou as competências desse órgão. O Conselho Europeu não tem poderes de decisão, nem poderes de coacção em relação às outras instituições. Quanto ao Parlamento Europeu e seus poderes, estes foram reforçados pela exigência de um parecer favorável do Parlamento aquando da conclusão de um acordo de associação. Além disso, o Acto Único Europeu institui o procedimento de cooperação, que reforça a posição do Parlamento Europeu no diálogo interinstitucional conferindo-lhe a possibilidade de uma segunda leitura da legislação proposta, continuando o seu âmbito de

328 O Título I prevê as disposições comuns à cooperação política e às Comunidades Europeias. O Título II é consagrado às alterações dos

Tratados que instituem as Comunidades Europeias e o Título III abrange a cooperação europeia em matéria de política externa. O Título IV inclui as disposições gerais e finais.

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aplicação a restringir-se aos casos em que o Conselho delibera por maioria qualificada, com excepção do domínio ambiental. Também esclareceu as disposições vigentes relativas aos poderes de execução (o artigo 10º altera o artigo 145º do Tratado CEE ao prever, como regra geral, que o Conselho atribua à Comissão as competências de execução dos actos), contudo, em casos específicos o Conselho pode reservar-se o direito de exercer essas competências. Mais, estabeleceu as bases que tornam possível a criação do Tribunal de Primeira Instância (TPI), podendo todos os processos ser transferidos para esse tribunal, excepto os processos a título prejudicial introduzidos pelos Estados-Membros ou pelas instituições e as questões prejudiciais.

O artigo 8º- A define muito claramente o seu objectivo, de "estabelecer progressivamente o mercado interno durante um período que termina em 31 de Dezembro de 1992". O mercado interno foi definido como "um espaço sem fronteiras internas, no qual a livre circulação das mercadorias, das pessoas, dos serviços e dos capitais é assegurada de acordo com as disposições do presente Tratado". Relativamente à capacidade monetária, não permite a aplicação de uma nova política, embora inclua disposições sobre essa capacidade. A convergência das políticas económicas e monetárias já é contemplada no âmbito das competências existentes. Quanto á política social era regida pelo Tratado CEE, embora o Acto Único Europeu tenha introduzido dois novos artigos nesse domínio. O artigo 118º- A do Tratado CE autoriza o Conselho, deliberando por maioria qualificada no âmbito do procedimento de cooperação, a adoptar as prescrições mínimas para melhorar as condições laborais, e a segurança e saúde no trabalho. Nos termos do artigo 118º- B do Tratado CE, cabe à Comissão desenvolver o diálogo social a nível europeu, prevendo uma política comunitária de coesão económica e social que equilibre os efeitos da realização do mercado interno nos Estados- Membros menos desenvolvidos e de atenuar as discrepâncias de desenvolvimento entre as regiões. A intervenção comunitária faz-se através do Fundo Europeu de Orientação e Garantia Agrícola (FEOGA) e do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).

O artigo 130º- F do Tratado CE previa o reforço das bases científicas e tecnológicas da indústria comunitária e fomento do desenvolvimento da sua capacidade concorrencial internacional. Para o efeito, o Acto Único Europeu prevê a aplicação de programas - quadro plurianuais adoptados pelo Conselho por unanimidade. Quanto à questão ambiental, para além das disposições previstas no Tratado de Roma, o Acto Único Europeu previa três artigos novos (artigos 130º-R, 130º-S e 130º-T do Tratado CE) que admitem à Comunidade preservar, proteger e melhorar a qualidade do ambiente cooperando para a protecção da saúde das pessoas e

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assegurar uma utilização prudente e racional dos recursos naturais. A Comunidade só intervém em matéria de ambiente quando essa acção puder ser melhor realizada a nível comunitário do que a nível dos Estados-Membros (subsidiariedade). O artigo 30º prevê que os Estados - Membros se invistam na formulação e aplicação de uma política externa europeia comum, assumindo o compromisso de se consultarem mutuamente sobre qualquer questão de política externa que possa ter interesse para a segurança dos Estados-Membros. Neste domínio, a presidência do Conselho é responsável pela iniciativa, coordenação e representação dos Estados- Membros junto dos países terceiros.

A título conclusivo, o Acto Único Europeu permitiu a transformação do mercado comum num mercado único, em 1 de Janeiro de 1993, a criação de novas competências comunitárias e a reforma das instituições preparando o espaço europeu para a integração política e para a União Económica e Monetária, posteriormente instituídas pelo Tratado de Maastricht ou Tratado da União Europeia.

E. E. E.