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2.1 Tópicos das experiências brasileiras em colonização

2.1.1 Brasil – Período Colonial – 1500 – 1822

Referindo-se aos primórdios do povoamento em terras brasileiras, Nozoe (2009, p. 4) argumenta que para atrair homens para o povoamento, o Rei de Portugal, D.João III, em “carta de 20 de novembro de 1530 conferisse a Martim Afonso de Souza poderes para dar terras em caráter vitalício”, para início à colonização do Brasil.

Assim, esse governante foi o pioneiro no processo de colonização, com objetivo da implantação de uma política de distribuição de terras neste território novo. Portugal precisava assegurar suas terras no continente americano que eram alvo de cobiças de vários povos da Europa.

A orientação levou o Conselho Del-rei a dividir o Brasil em quinhões... [...]. A distribuição de dádivas territoriais no Brasil tornava-se, destarte,

recompensa a funcionários, assim como suposta frutuosa aplicação de capitais para os que tinham enriquecido no Oriente. No mesmo sentido propiciava aparente generosa mercê a personagens alvos de galadões pelo Paço Real, possuidores de meios para arrotear as glebas que lhes ofereciam. Nesse meio foram procurados os donatários do Brasil. No rol havia pessoas enriquecidas além- mar e favorecido pela proximidade dos degraus do trono (HOLANDA, 2008, p.113).

O que causou a implantação do sistema de capitanias no Brasil? A decisão de dom João III fundamentou-se nas dificuldades financeiras do Estado para promover mais diretamente a colonização, pois as experiências anteriores haviam sido realizadas em escala menor nas ilhas do Atlântico e contaram com a existência de uma nobreza de serviço estreitamente associada à ação da monarquia. Alem disso, a ameaça externa, representada pelos comerciantes franceses de pau- brasil e pelos espanhóis na região do Prata, acelerou a opção colonizadora (WEHLING, WEHLING, 2005, p. 67).

As capitanias hereditárias foram a primeira forma de ocupação das terras do Brasil. Em 1536, a Coroa portuguesa cria no território 14 capitanias, subdivididas em 15 lotes e doadas a 12 donatários. Para gerenciar esses lotes, os donatários eram obrigados a pagar imposto à Coroa. Ficando evidente que, desde o inicio da colonização do Brasil, as terras já eram considerdas propriedade do Estado (SIMAM, 2007).

Com a introdução do regime de sesmarias2, originado de antigo sistema português de concessão de terras, baseados em Lei Regia do século de XIV, a Carta de Sesmaria:

que fazia a concessão de vasta terra, exigia do sesmeiro o efetivo aproveitamento econômico das

2 Sesmaria era o mecanismo jurídico utilizado pelos portugueses para redistribuir, a que

lavrasse e aproveitassem, as terras que não estavam sendo aproveitadas. FASSA, Odemilso Roberto Castro, OLIVEIRA. José Carlos de Oliveira. O regime jurídico da propriedade de

imóvel no Brasil: do descobrimento ao código civil de 2002. Revista jurídica. UNIGRAN.

Dourados, MS. V.4, n.8. jul/|dez. 2002. Disponível em:

http://www.unigran.br/revistas/juridica/ed_anteriores/08/artigos/11.pdf. Acessado em 15 de abril de 2009.

terras recebidas. O não cumprimento desta obrigação implicava a devolução das terras recebidas, o que provavelmente originou a chamada “terra devoluta”, termos com o qual se designa terras públicas não tituladas. O regime das sesmarias durou até o ano 1822, quando foi suspensa pelo Príncipe Regente (VALLE JÚNIOR, 2007, p. 36).

Sendo assim, a Coroa Portuguesa, abre a doação de terras com ênfase aos sistemas de plantation3

, com a cultura de grande plantação de cana-de-açúcar para a produção açucareira em grande escala, incentiva a criação de gado, “onde o trabalho aí empregado provinha de mão-de- obra escrava. O objetivo dessa ocupação era além de garantir a defesa do território, solucionar o problema de abastecimento da metrópole” (SIMAM, 2007, p. 3).

Santos (2001, p. 26) assim se refere a esse momento:

As empresas açucareiras foram os elementos motivadores dos investimentos iniciais com o propósito maior, naquele momento, de garantir a posse da terra pela coroa portuguesa. Esta estratégia de defesa e de apropriação do solo deu resultados econômicos suficientes, e acabou por beneficiar exclusivamente às elites políticas, econômica e social lusa e representou a primeira iniciativa estatal relevante aplicada por Portugal no Brasil.

Este regime de doação de terras nas recentes terras descobertas, vai definitivamente desenhar uma nova cartografia e condicionar uma vocação cultural ao povo brasileiro quanto ao uso do espaço agrário brasileiro, conforme as palavras de Silva:

O regime de concessão de sesmaria foi transportado da metrópole para a colônia e consistia na doação gratuita de terras em abundância a quem possuísse os meios de cultivá- la. Na sua concepção original, a doação de sesmaria objetivava solucionar uma crise de

3 Plantation, a grande propriedade organizada sob forma de empresa, com abundante mão-de-

obra assalariada. MAIA, J. Motta. Estatuto da terra: Comentado. 2ª Edição. Rio de Janeiro – RJ. 1967. 408p.

abastecimento no reino português. Mesmo sendo um regime que favorecia a constituição de grandes propriedades, o sistema sesmarial, teve uma preocupação acentuada com a utilização produtiva da terra, expressa na cláusula de condicionalidade da doação, atrelada ao cultivo da terra. [...]. Apesar da condicionalidade da doação, a metropólis, enquanto durou o regime de concessão de sesmarias, nunca impediu a formação de grandes latifúndios improdutivos. (SILVA, 2009, p. 16).

Laranjeira (1983, p. 6) salienta que as grandes áreas doadas pelo rei de Portugal, as sesmarias:

[...] se converteram no primeiro instituto de Direito Agrário no Brasil, como instrumento jurídico de implantação da propriedade privada no país. Formava substrato legal nas Ordenações do Reino, no Livro IV, as quais passaram a se aplicar aqui por recomendação expressa de D. João III, nas suas Cartas a Martins Afonso de Souza, que mandou apartar capitanias e distribuir terras. Calculada em léguas – grandes línguas de terras, em que cada légua correspondia, hoje, a alguns quilômetros – foram-se assentado as propriedades. Difundiram-se os latifúndios, base em que firmou o sistema colonial, pelo aspecto fundiário. [...]. Colonos pobres, sem facilidade, portanto de acesso à terra própria; para eles a solução era lavrar sesmarias alheias nas partes que, ao longe os sesmeiros deixavam abandonadas, ou lavrá-las nos eitos próximos com consentimento dos proprietários.

Conforme Pessoa:

[...] já no início do Império, José Bonifácio de Andrada e Silva, o chamado Patriarca da Independência, defendia que todos os homens que não tivessem ofício ou condições para sobreviver, recebessem do Estado uma pequena sesmaria para cultivar, além de socorros necessários para se estabelecer, devendo pagá-los no decorrer do tempo (PESSOA, 1990 apud FISCHER, 2008).

No período da chegada da família real ao Brasil, o processo de doação de terras foi intenso. Esta prática de doação legal de terras durou até 1822, porém sob a regência de José Bonifácio de Andrade e Silva essas doações foram suspensas.

Durante o período que vai de 1822 até 1850, “[...] a posse se tornou a única forma de aquisição de domínio sobre as terras, ainda que apenas de fato, e é por isso que na história da apropriação territorial esse período ficou conhecido como a ‘fase áurea do posseiro” (CAVALCANTE, 2007, p. 2).

Somente com a resolução nº 76, de 17 julho de 1822, a qual estabelece a suspenção da concessão de sesmarias futuras até a convocação da Assembléia Geral Constituinte e Legislativa, “e pede ser Conservado na posse das terras àqueles que vivem há mais de 20 anos” (Resolução nº 76, 1822). A partir dessa resolução, S. A. Real o Príncipe Regente, reconhece a posse da terra.