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2.1 Tópicos das experiências brasileiras em colonização

2.1.2 Brasil – Período Imperial – 1822 – 1889

Em 17 de julho de 1822, o príncipe regente baixou uma resolução que pôs fim ao regime de sesmarial [...]. Após a extinção das sesmarias, o Brasil ficou 28 anos sem nenhuma lei específica que regulamentasse a aquisição de terras. [...]. A Lei de Terras foi elaborada pelos grandes latifundiários da época, com o objetivo de impedir que eventuais escravos libertos e imigrantes pobres se tornassem donos de terras (STRAZZACAPPA, 2006, p. 31)

Após intensos debates parlamentares, iniciados com um projeto apresentado em 1842 na câmara dos deputados,foi promulgada em 18 de setembro de 1850 a lei 601, que ficou conhecida como "lei de terras” (FONSECA, 2007).

A Lei de Terras de 1850 somente interessava aos fazendeiros, a Lei era um instrumento legal em defesa da classe, ao mesmo tempo em que regulamentava a compra de terras, puniam os que dela se apossasem, a pena restringia-se a multa e prisão. No entanto, a Lei favorecia as posses de terras confrontantes com outra nação, estas sim, seriam passíveis de ocupação.

Portela e Fernandes (2005, p.39) afirmam que a restrição à terra tinha por objetivo impedir que escravos libertos tivessem acesso a um lugar para plantar e garantir a sobrevivência, assim como todos os

trabalhadores imigrantes que chegasem ao país. Com issso perpetuavam-se os latifúndios.

Segundo Taglietti (2007, p. 3):

A Lei de Terras de 1850 e seu respectivo regulamento de 1854 possibilitaram as normalizações agrárias que o Brasil precisava, embora, se conteste o seu caráter de expropriação das camadas menos favorecidas. Essa lei de 1850 foi o resultado de toda uma reorganização agrária brasileira, buscando adaptarem-se as exigências do avanço do capitalismo, juntamente com a necessidade de promover um ordenamento jurídico das propriedades da terra no Brasil, já que desde os tempos das colônias a situação era confusa.

Com relação à lei de terras de 1850, Fonseca (2007, p. 9-10), destaca sua relevância quanto à questão de colonização humana e criação de um estabelecimento para gerenciar esta atividade. Segundo o autor, os:

artigos 18-20 visavam um dos pontos fulcrais dessa lei, que era a colonização: ali havia a autorização do governo para financiar a imigração de mão de obra livre para as fazendas particulares, colônias e serviços públicos, financiamento esse que deveria ser feito com o dinheiro obtido com a venda das terras devolutas (e parte dessa verba também deveria ser destinada à medição dos terrenos). Por fim, no artigo 21, a lei cria um órgão de registro das terras (Repartição Geral das Terras Públicas), encarregada de dirigir a medição, divisão e descrição das terras devolutas, bem como fiscalizar a sua venda e distribuição, além de promover a colonização estrangeira. É patente mencionar que a Constituição de 1891 trazia em seu Art. 35, § 2° uma menção que estimulava o processo de migração no território brasileiro, e que as terras devolutas passariam a ser domínio do Estado quando dentro dos seus limites, com a proclamação da República, em 1889.

Segundo o texto da Constituição de 1891, está explicitado em seu artigo 35, “§2º animar no País o desenvolvimento das letras, artes e

ciências, bem como a imigração, a agricultura, a indústria e comércio, sem privilégios que tolham a ação dos Governos locais” (BRASIL - CONSTITUIÇÃO, 1891)

Em razão disso, o Estado brasileiro toma a iniciativa de promover a distribuição de terras devolutas com a finalidade de fixar os colonos, tendo como meta o povoamento das localidades desabitadas existente no país.

Sobre esta abordagem, que trata dos fatos que determinaram o término das doações de terras pelo processo de sesmaria e, logo em seguida, a consolidação da Lei de Terra, Silva (2009, p. 17) enfatiza que:

A lei de 1850 não atingiu um dos seus objetivos básicos, a demarcação das terras devolutas, ou como se dizia na época, a discriminação das terras públicas e privadas, primeiro passo para a implementação de uma política de terras. E isto ocorreu principalmente por dois motivos: em primeiro lugar, a regulamentação da lei deixou a cargo dos ocupantes das terras a iniciativa do processo de delimitação e demarcação, sendo que somente depois que os particulares informassem ao Estado os limites das terras que ocupavam é que este poderia deduzir o que lhe restara para promover a colonização; em segundo, a lei não foi suficientemente clara na proibição da posse, embora isto estivesse contido no artigo 1º, outros artigos levam a supor que ”cultura efetivae a moradi habitula” garantiriam a permanência de qualquer posseiro, em qualquer época, nas terras ocupadas.

Nos primeiros tempos de Brasil Império, nada muda, o país passa por um período de neutralidade atinente à agricultura. Entretanto, em 1888 foi marcada, com a extinção do trabalho escravo no Brasil, a quebra da cultura da cana-de-açúcar e avanço da cultura do café, principalmente em parte da região sudeste. Diante dessa realidade, as elites brasileiras são forçadas a aplicarem a teoria wakefieldiano4

,

4 Wakefieldiano: teoria econômica que baseava no princípio de que, “ a terra, para ser elemento

de colonização, não tem apenas de ser inculta; tem de ser também propriedade pública, passível de ser convertida em propriedade privada”. SMITH, Roberto. Wakefild e a colonização

sistematica. Disponível em <http://www.sep.org.br/artigo/vicongresso9.pdf?PHPSESSID

direcionada para caminhos que permitem a estabilidade de capital sobre o trabalho (SANTOS 2001).

Diante desse quadro, a elite e o Estado brasileiro adotam os princípios da teoria da colonização sistemática5

, formulada por Edward Gibbon Wakefield (1834). Estes princípios básicos têm como premissa a valorização do homem pelo próprio homem. Sua base está calcada na situação mercadológica das terras e o estímulo para que o colono adquirisse a mesma a custa de seu próprio trabalho assalariado. E quando as terras fossem vendidas, parte delas seria constituída em um fundo. “Destinado a custear a transferência de colonos sem condições de adquirir terras que iria submeter-se a trabalhar nas terras vendidas em troca de salários” (SMITH, 1990, p. 277 apud SANTOS, 2001, p. 36- 37).

Nesse sentido, a libertação dos escravos faz surgir um fato novo, pela primeira vez em solo brasileiro, surge à agricultura familiar. Libertados os escravos, muitos permaneceram nos núcleos urbanos; entretanto, uma parte se interioriza, e dedica-se à agricultura de subsistência.

Referindo-se aos primórdios da questão de terras no Brasil, Santos (2001, p. 35) em seu trabalho enfatiza que:

Em linhas gerais, é possível assinalar que o surgimento da propriedade familiar no Brasil está associado aos intrusos e posseiros do período colonial, aos agregados dos engenhos, aos quilombos, ao fim do regime de sesmaria, à lei de terras, à chegada dos imigrantes e ao fim da escravidão.

Nesse período, o Estado Brasileiro procurando minimizar ações negativas na agricultura e visando ao beneficiamento da prestação de serviços nas fazendas de produção de café, passa por cima das normas, fazendo com que em:

5 Colonização sistemática: consistia em estabelecer um preço artificial para a terra, ou seja, um

preço determinado sem levar em consideração os critériso da oferta e procura, próprios para a fixação de preços de mercado. RIBEIRO, Ana Maria Marques. Ocupações de terra do

movimento dos trabalhadores rurais sem terra (MST): Desobediência civil (re) definindo o estado ”democrático” de direiro no Brasil. Disponível em <http://docs.google.com/

gview?a=v&q=cache:I01DeIYr8k4J:www.alasru.org/cdalasru2006/10%2520GT%2520Ana%2 520Maria%2520Marques%2520Ribeiro.pdf+coloniza%C3%A7%C3%A3o+sistematica&hl=pt BR&gl=br&sig=AFQjCNFVn7D_GSFOLar9pKFpVfzOxEFGVA >Acessado em 20 de setembro de 2009, p.9.

[...] algumas áreas do território nacional, durante o Império se desenvolveu, como exceção, a concessão de pequenos lotes de terra, as datas, a grupo estrangeiro que vieram formando colônias, como os italianos e os alemães no Espírito Santos, em Santa Catarina, no Paraná e no Rio Grande do Sul, em áreas isoladas e muitas vezes localizadas nas proximidades de terras indígenas [...] (ANDRADE, 1995, p. 56).

2.1.3 Brasil – Período República Velha – 1889 - 1930

Diante da mudança da relação de trabalho no século XIX, o Estado brasileiro passa a ter controle sobre a força de trabalho. “Caberia ao Estado legitimar a propriedade da terra, dotando-a a partir daí de titulagem segura, que lhe desse valor mercantil e ao mesmo tempo impedisse a proliferação de propriedades dispersas” (SMITH, 1990, p. 275 apud SANTOS, 2001, p. 36).

As divisões de terras geram, portanto, o surgimento de propriedades pequenas, porém diferente dos núcleos coloniais.

Prado Junior faz uma colocação sobre a subdivisão das terras como uma solução para a questão financeira do fazendeiro, e argumenta que:

o retalhamento das fazendas e sua venda em lotes de custo acessível aos trabalhadores rurais representarão, muitas vezes, a única solução para as dificuldades financeiras dos seus proprietários. Nas épocas da crise aguda (sobretudo depois de 1930) o progresso da pequena propriedade será particularmente ativo. (PRADO JUNIOR, 1967, p. 251 apud SILVA, 1980, p. 20)

Esse processo serviu para assegurar uma massa de trabalhadores rurais, garantido dessa maneira mão de obra para atender as grandes propriedades em sistemas de grandes plantações. Segundo (SILVA, 1989, p. 20)

Deve ser lembrado, porém, que esse processo de retalhamento não significou, de forma alguma, uma democratização da propriedade da terra. Muito pelo contrário, serviu para manter a pequena produção como um apêndice da grande,