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OS ORGANISMOS ESTUDANTIS NOS JORNAIS TRIANGULINOS

II. 1- Breve contexto histórico educacional da região

Inicialmente é abordado o cenário histórico de criação de importantes escolas secundaristas de Uberaba, Uberlândia e Ituiutaba respectivamente, de acordo com o processo de instalação destas. Em seguida, são apresentados alguns dados sobre o analfabetismo nessas cidades, para uma melhor compreensão do cenário educacional em discussão. Logo, nesta mesma ordem, é traçado um panorama sobre a chegada do ensino superior nesses municípios até o final dos anos de 1960, momento de expansão desse nível de ensino e consequentemente do número de estudantes e de suas entidades representativas.

O primeiro estabelecimento de ensino secundário de Uberaba que se tem registro foi o Colégio Cuiabá de iniciativa privada, fundado no ano de 1854. Em seguida, Des Genettes, pioneiro na fundação da imprensa na região, como foi discutido anteriormente, também atuou no campo educacional com a criação do Colégio Des Genettes em 1859 (MENDONÇA, 1974).

A origem dos colégios nesse município também esteve articulada a congregações religiosas, como a fundação do Colégio Nossa Senhora das Dores, no ano de 1885, ligado à Congregação das Irmãs Dominicanas francesas. Em seguida, no ano de 1903 foi criado o Colégio Marista Diocesano da Congregação dos Irmãos Maristas (GATTI JR.; et. al, 1997). 59

Na década de 1940 destaca-se o empreendimento liderado pelo professor Mário de Ascenção Palmério na instalação de mais um curso secundário no município, voltado para o atendimento de classes médias.

Em 1943 foi instalado no Liceu o ensino secundário, passando a ser denominado como Ginásio do Triângulo Mineiro. No ano de 1944, por meio do Decreto 22.523, o Ginásio do Triângulo Mineiro foi autorizado a funcionar como Colégio, em função da Lei Orgânica do Ensino Secundário e do Decreto Lei 4.245 de 09/04/1942, permaneceu sob o domínio da iniciativa privada até a sua extinção em 1989 (GATTI, 2014).

A Lei Orgânica do Ensino Secundário de 1942 promulgada pelo então ministro da educação Gustavo Capanema reorganizou a estrutura desse nível de ensino proposta pela

59 “Os colégios de ensino secundário no Brasil tiveram antecedentes. O nascimento dessa forma escolar, colégio,

traz como marca o prestígio da universidade. A origem do colégio está nos pensionatos para bolsistas universitários fundados por alguns generosos benfeitores. Os primeiros colégios datam do século XIII [...] O Brasil teve os seus primeiros colégios após a chegada dos jesuítas. A sua instalação nos núcleos povoados espalhados pelo país significou, sobretudo, a introdução de uma cultura letrada num ambiente em que a oralidade predominava. Estabelece-se a partir daí o confronto de tempos históricos, de tecnologias intelectuais e formas culturais a elas relacionadas, de formas de pensamento e expressão das vivências da realidade. O império da fé foi construído através de um agudo conflito cultural, vivido como oposição entre bárbaros e civilizados” (NUNES, 2000, p.36-37).

Reforma de Francisco Campos em 1932, reafirmando a presença do ensino humanístico com ênfase nos conteúdos nacionalistas, por meio de uma visão de educação disciplinar e integral. Tais fatores marcaram a organização dos grêmios estudantis na região (FRANCO, 2014).

Com essas medidas o governo visava um projeto educacional da juventude no ensino secundário comprometido com a formação de uma elite condutora da nação, com base em uma cultura geral de caráter seletivo.

Em relação à nova organização desse nível de ensino, a Reforma de Francisco Campos previa que este tivesse a duração de sete anos, de forma que a primeira etapa seria equivalente ao ensino fundamental de cinco anos e a segunda de dois anos, como fase preparatória para o ingresso ao ensino superior. Após a Reforma Capanema, o ensino secundário passou a se dividir em curso ginasial de quatro anos e o colegial de três anos.

Nesse contexto, o Lavoura e Comércio buscou promover o Colégio Triângulo Mineiro como possibilidade de gerar notoriedade a este estabelecimento de ensino particular, buscando prestígio entre a sociedade uberabense. Fato comum nas relações capitalistas em virtude do interesse econômico, já que tanto o jornal como a instituição escolar eram mantidos por sua clientela.

Em Uberlândia o ensino secundário teve sua gênese no início do século XX. Assim como em nível nacional funcionava como via de ascensão social, pois possibilitaria acesso ao ensino superior. Do mesmo modo que a escola primária nesse período, esse nível de ensino foi permeado pelos ideários republicanos, visando à formação de cidadãos de acordo com os novos princípios necessários ao progresso e desenvolvimento da nação.

A primeira escola a oferecer o ensino secundário na referida cidade foi o Gymnásio de Uberabinha, de caráter privado e não confessional, iniciou suas atividades no ano de 1912. Foi doado ao estado em 1929, passando a ser nomeado como Gymnásio Mineiro de Uberabinha. Após a mudança do nome do município para Uberlândia, ficou conhecido como Gymnásio Mineiro de Uberlândia e atualmente Colégio Estadual de Uberlândia (popularmente conhecido por Museu) (GATTI, 2014).

Em seguida, tem-se o registro de criação da Escola Normal (depois Colégio Brasil Central) e do Liceu de Uberlândia. Muitos estudantes das escolas secundárias locais tiveram destaque na sociedade em geral, fazendo parte da elite uberlandense (OLIVEIRA, 2007).

O Liceu de Uberlândia fundado no ano de 1928 veio a se constituir em verdadeiro complexo educacional, recebendo alunos de todas as partes do Brasil Central. No ano de 1928 incorporou o curso primário, em 1931 a academia de comércio, em 1942 o Ginásio Osvaldo Cruz, além do curso técnico em contabilidade e a Escola Normal Mario Porto.

Em 1932 a Congregação das Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado chegou ao município e fundou o Colégio Nossa Senhora das Lágrimas, o qual funcionou como escola particular confessional feminina. Após três anos de atividade se tornou Escola Normal oficial do estado (INÁCIO FILHO, 2002).

No ano de 1944 ocorreu a vinda da Congregação dos padres salesianos para Uberlândia para assumir a direção do recém-inaugurado Ginásio Cristo Rei, instituição confessional para a escolarização de meninos, que em 1947 iniciou suas atividades para o ensino secundário (TEODORO, 2008).

Em 1959, o Colégio Cristo Rei já tinha conseguido reconhecimento pela sociedade uberlandense, com a utilização de estratégias educacionais que visavam o desenvolvimento do município. Logo ocorreu a chegada das Irmãs da Congregação Salesiana para a fundação do Instituto Teresa Valsé Pantellini, que seria destinado à escolarização das meninas. 60 A abertura dessa instituição contou com a colaboração da imprensa local para a sua divulgação, como indicou a nota “Ao povo de Uberlândia” do jornal O Repórter de 02/02/1959:

As irmãs Salesianas virão à nossa cidade para abrir um educandário para meninas. Iniciarão suas atividades no meado de fevereiro [...] Está aberta a matrícula na portaria do Ginásio Cristo Rei [...]

A formação das alunas no Instituto manteve-se de acordo com a tradição educacional das instituições de ensino confessionais, baseada em princípios de religiosidade. “Com o tempo, o posicionamento educacional desta instituição adaptou-se à realidade moderna, enfatizando, em seus programas, a preocupação em formar a consciência social do aluno [...]” (TEODORO, 2008, p.241).

No Pontal Mineiro, em específico na cidade de Ituiutaba, a educação escolar até a década de 1950 também era marcada pelo domínio da iniciativa privada, principalmente ligada a congregações religiosas. Nesse período o município contava com três instituições privadas e/ou confessionais de ensino secundário com cobranças de mensalidades: o Instituto Marden, Colégio Santa Teresa e o Colégio São José.

A primeira instituição a oferecer ensino secundário no Pontal do Triângulo Mineiro, foi o Instituto Marden, de iniciativa privada. Este foi criado no ano de 1933 pelo advogado Álvaro Brandão de Andrade e sua esposa Alaíde Macedo de Andrade. Em 1934 iniciou as atividades do ensino primário e em 1935 estabeleceu o curso Normal, que só foi reconhecido

60 A denominação do colégio presta uma homenagem a Madre Teresa Valsé Pantellini que teve sua trajetória

marcada pela defesa dos princípios de dedicação, amor e sacrifícios, em suas obras pelos mais necessitados em todas as partes do mundo onde seus seguidores desenvolveram trabalhos (TEODORO, 2008).

pelo decreto nº 941 de 30 de julho de 1937, recebendo a denominação de Colégio Normal Dr. Benedito Valadares. No ano de 1938, iniciou-se nesse estabelecimento o curso ginasial, exercendo grande importância para a educação local até o seu fechamento no ano de 1979 (FRANCO, 2014).

O Colégio São José se originou da iniciativa dos Padres Estigmatinos que chegaram à Ituiutaba no ano de1935 para direcionar a paróquia local. Em 1941 criaram um curso primário, e em 1947, devido ao desenvolvimento econômico do município, passou a ser reconhecido como Ginásio São José. No ano de 1959 se tornou colégio com a instalação dos cursos Científico, Comercial e Técnico em Contabilidade. Destacou-se no meio educacional da região até 1971, atraindo alunos provenientes de setenta e seis municípios e seis estados (PACHECO, 2012).

No ano de 1939 a Congregação das Irmãs Carlistas Scalabrinianas inaugurou o Colégio Santa Teresa em Ituiutaba, para atender as meninas das famílias católicas e tradicionais da cidade e região. Na década de 1950 essa escola já ofertava o ensino primário, secundário e técnico. Assim como as demais instituições de ensino confessionais, esse colégio se tornou referência educacional, neste caso para a formação de futuras mães, boas esposas e professoras (OLIVEIRA, 2003).

Desde a origem das primeiras escolas até a década de 1940 ocorria o predomínio do ensino privado no Triângulo Mineiro principalmente de orientação religiosa. Fator que demonstrava certo descaso do poder público com a educação em geral (GATTI JR; et. al, 1997).

Somente no ano de 1957 foi criado o Educandário Ituiutabano, instituição escolar confessional espírita destinada à escolarização das classes populares. Observa-se o noticiário “Solenidades inaugurais do Educandário Ituiutabano”:

[..] realizaram-se na manhã de domingo p. passado, perante uma multidão calculada em duas mil pessôas, as solenidades inaugurais do Educandário Ituiutabano, estabelecimento de ensino construído pela União da Mocidade Espírita de Ituiutaba [...] (sic) (Folha de Ituiutaba, 15/02/1958).

A criação desse estabelecimento de ensino contou com a iniciativa da União da Mocidade Espírita de Ituiutaba (UMEI) e do então deputado Mário Palmério, o qual se empenhou nesse período na criação de importantes instituições educacionais no Triângulo Mineiro, tendo seu nome constantemente divulgado pela imprensa de toda a região.

Em relação ao índice de alfabetização da população das cidades em questão, observam-se as estatísticas abaixo referentes a 1950:

Quadro 4 – Dados referentes às pessoas com 5 anos ou mais que sabem ler e escrever no município de Uberaba, conforme recenseamento de 1950

Pessoas de 5 anos e mais

Total Sabem ler e escrever Não sabem ler e escrever

Homens Mulheres Homens Mulheres

Uberaba 58.979 16.783 16.043 11.809 14.344 Área urbana 37.071 12.544 13.113 4.401 7.013 Vila Água Comprida 235 90 49 34 62 Quadro Rural 21.673 4.149 2.881 7.374 7.269

Fonte: SOARES, Edilene. Dissertação de mestrado, 2015, p. 94.

Com base nos dados acima, percebe-se que em 1950 a maioria da população de Uberaba vivia na cidade, porém do total de seus habitantes maiores de cinco anos, apenas 32.826, ou seja, 55,6% eram alfabetizados.

No município de Uberlândia em 1950, essa proporção era um pouco maior chegando a 58,31% a população alfabetizada, margem que foi crescendo consideravelmente atingindo o percentual de 68,7% em 1960 e de 75,9% do total de habitantes no ano de 1970.

Quadro 5 - Índices de Alfabetização em Uberlândia entre os anos 1950, 1960 e 1970 de acordo com o IBGE, Censo realizado em 1950 a 1970

Ano Total Populacional Alfabetizados % Não

Alfabetizados %

1950 46.718 27.243 58,31 19.475 41,69

1960 74.741 51.360 68,72 23.381 31,28

1970 109.616 83.223 75,92 26.393 24,08

Fonte: TEODORO, Júlio César. Dissertação de mestrado, 2008, p.12

No Pontal do Triângulo Mineiro o índice de alfabetização da população era mais baixo, comparado aos municípios de Uberaba e Uberlândia, de modo que em Ituiutaba em 1950 a

população de alfabetizados representava somente 42,65 % de seus habitantes maiores de cinco anos, como demonstra o quadro abaixo:

Quadro 6 - Alfabetização em Ituiutaba em 1950

Discriminação

Pessoas presentes, de 5 anos e mais

Números absolutos % sobre o total Total Sabem ler e

escrever Não sabem ler e escrever Sabem ler e escrever Não sabem ler e escrever Quadro urbano Homens 4.032 3.115 917 77,25 22,75 Mulheres 4.445 2.931 1.514 65,93 34,07 Total 8.477 6.046 2.431 71,32 28,68 Quadro rural Homens 18.300 7.116 11.184 38,88 61,12 Mulheres 16.312 5.218 11.094 31,98 68,02 Total 34.612 12.334 22.278 35,63 64,37 Em geral Homens 22.332 10.231 12.101 45,81 54,19 Mulheres 20.757 8.149 12.608 39,25 60,75 Total 43.089 18.380 24.609 42,65 57,35

Fonte: FRATTARI NETO, Nicola. Dissertação de mestrado, 2009, p.65.

De modo geral constata-se que o percentual de alfabetizados em Ituiutaba se igualava a média nacional que era em 1950 de 42,66% para o todo o país e apresentava um número superior em relação ao estado de Minas Gerais como um todo, que correspondia nesse mesmo ano a 38,24% da população (SILVEIRA, 2014). Por outro lado, os municípios de Uberaba e Uberlândia ultrapassavam as estatísticas nacionais e mineiras no mesmo período, com uma proporção mais elevada de habitantes alfabetizados. Tal fator, já apontava o Triângulo Mineiro nesse período, como uma das regiões mais desenvolvidas economicamente e em relação ao índice de desenvolvimento humano do estado.

Considerando o fato de que, grande percentual da população em todo o país nesse período permanecia excluída do ensino referente às primeiras letras, o acesso ao nível secundário estava em sua maioria destinado aos jovens socialmente privilegiados. Do mesmo modo, convém destacar que o público leitor dos jornais analisados em sua grande maioria fazia parte de uma elite letrada.

Nesse contexto de expansão do ensino secundário na região a educação foi considerada área estratégica dos planos governamentais desse período, de forma que a organização e a modernização da escola pública se desenvolveram lentamente durante os anos de 1950, de acordo com os ideais desenvolvimentistas da época. 61

No final dos anos de 1960, durante o governo civil-militar, modernizar a escola significava introduzir métodos novos de racionalização do ensino, de acordo com os interesses de desenvolvimento capitalista, substituir o “aprender a aprender” da Pedagogia Nova pelo “aprender a fazer” da Pedagogia Tecnicista, ambas com raízes no pensamento liberal, mudança essa também perceptível em Minas Gerais (REZENDE, 1993).

A política desenvolvida durante esse governo, que levou o estreitamento das relações do Brasil, como parceiro menor e dependente, com a economia capitalista sob influência norte-americana, ocasionou a aplicação dessa nova filosofia de educação em todos os níveis de ensino. Esta por sua vez, gerou um processo de burocratização e hierarquização dos serviços de ensino, tendo como drástica consequência, principalmente já na década de 1970, a queda na qualidade do ensino brasileiro (SAVIANI, 2007). 62

Além disso, é marcante a influência da Igreja Católica no contexto educacional secundarista no Triângulo Mineiro como produto de um processo internacional de estruturação da Igreja, decorrente da perda de espaços do poder eclesiástico na Europa que vinha ocorrendo desde o século XVI. De forma que grande parte das primeiras escolas nessa localidade era de ensino confessional, com a veiculação de princípios morais cristãos os quais acompanharam a formação de grande parte dos secundaristas durante as décadas de 1950 e 1960.

Em relação às iniciativas de implantação do ensino superior nessa região, ocorreu ainda no século XIX a criação do Instituto Zootécnico em 1896 e sua extinção em 1898 por

61 Em 1956 o governo de Minas Gerais firmou convênio com o Programa Americano Brasileiro de Assistência

ao Ensino Elementar (PABAEE), inaugurando a fase de concretização dos acordos entre Brasil e Estados Unidos na educação. Estes estavam em sintonia com os interesses do capital norte-americano, como forma de evitar que os países subdesenvolvidos se aproximassem do comunismo (REZENDE, 1993).

62 Após a Segunda Guerra Mundial, “[...] os EUA adotaram o discurso que enfatizava a modernização das

sociedades subdesenvolvidas, a partir do impulsionamento da racionalização de todos os aspectos da vida humana nestes países. Nesse momento, de aceleradas transformações políticas, econômicas e sócio-culturais, passou-se a utilizar o conceito de modernização, introduzido pelas ciências sociais ‘para caracterizar os processos de transição que os países e nações ‘atrasados’, ou ‘subdesenvolvidos’, deveriam, esperava-se, passar para alcançar os níveis de renda, educação e produtividade tecnológica característicos dos países industrializados’” (SOUZA, 2000, p.28). Nesse cenário, a educação escolar foi orientada pela valorização da lógica empresarial, visando possibilitar às massas populares capacitação para adquirirem o posto de “operários qualificados”. Assim durante a década de 1960, o processo de escolarização no Brasil deveria contribuir para esse tipo específico de modernização, beneficiando acima de tudo os interesses capitalistas impulsionados pelos Estados Unidos.

falta de recursos financeiros e a Escola de Farmácia e Odontologia de Uberaba, criada em 1927 e extinta em 1936, após formar cinco turmas de profissionais (FERREIRA; GATTI, 2016).

Salienta-se que em Minas Gerais, até a década de 1930, só existiam cursos superiores na capital Belo Horizonte, com a Universidade de Minas Gerais (UMG), depois Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ouro Preto, Lavras, Viçosa (cursos na área agrícola), em Alfenas, Itajubá (áreas de Odontologia e Engenharia) e em Juiz de Fora (PRIETO, 2010).

A influência da Igreja Católica nesse período se deu em todos os níveis de ensino. Assim pode-se destacar a criação em 1944 no município de Uberaba do Instituto Superior de Cultura pelos sacerdotes Monsenhor Juvenal Arduini e Armênio Cruz. Este tinha como base o Instituto Católico de Estudos Superiores, núcleo para disseminar o modelo de organização universitária por todo o país (PAULA, 2007).

Nesse cenário a fundação da Faculdade de Filosofia por iniciativa da Congregação das Irmãs Dominicanas, buscava hegemonia no campo educacional em todos os níveis, já que esta Congregação também era responsável pela direção do Colégio Nossa Senhora das Dores em Uberaba.

No ano de 1949 foi criada no município a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santo Tomás de Aquino (FISTA), sob a inspiração do modelo de organização universitária católica no Brasil, o qual propunha a formação de docentes para o ensino secundário com base na orientação humanista e filosófica (PAULA, 2007).

Logo convém enfatizar que a formação de educadores nessa instituição “[...] possuía uma perspectiva fundamentada nos princípios do humanismo cristão, que orientavam a ação educativa do educandário na perspectiva de uma prática transformadora da pessoa humana e da sociedade” (PAULA, 2007, p.139).

As criações das Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras no país se deram a partir da década de 1930. Estas eram responsáveis pela formação de saberes e competências necessárias aos professores secundaristas. Nesse sentido, a FISTA buscava propagar os princípios educativos cristãos nos diversos níveis.

Em 1947 foi criada em Uberaba a Faculdade de Odontologia do Triângulo Mineiro, por iniciativa de Mário Palmério, para atender as necessidades de todo o Brasil Central. O processo de implantação dessa instituição e o pioneirismo desse professor e político da região sempre foram destacados pelo jornal Lavoura e Comércio.

O curso de Odontologia experimentou um ciclo de crescimento unicamente ascendente no período de 1947 a 1956, trazendo fôlego e entusiasmo para a criação de mais dois cursos: Direito (1951) e Engenharia (1956), que mais tarde viriam a ser unificados para a criação das Faculdades Integradas de Uberaba (Fiube), em 1972, que foi reconhecida como Universidade de Uberaba, pelo Ministério da Educação, em 1988, alguns anos após a fusão com as Faculdades Integradas Santo Tomás de Aquino (Fista), em 1981 (FERREIRA; GATTI, 2016, p. 806).

A implantação do ensino superior se intensificou a partir da década de 1950, como reflexo do projeto desenvolvimentista do país. Assim os municípios de Uberaba e Uberlândia tornaram-se polos nesse processo, devido ao crescimento demográfico e econômico, o que gerou impactos políticos e culturais necessários ao estabelecimento dos cursos superiores.

O movimento pela implantação das faculdades, por meio de iniciativa privada na região, contou com o apoio do então deputado Mário Palmério, em 1951 com a instalação do curso de Direito e em 1956 a Escola de Engenharia. O oferecimento desses cursos aconteceu no mesmo prédio do Colégio Triângulo Mineiro (SOARES, 2015). 63

Mário Palmério reconhecido homem público, educador e político, durante os anos do presente estudo, estabeleceu uma relação de parceria com a imprensa do Triângulo Mineiro, importante aliada para a difusão de sua imagem favorável aos seus interesses políticos.

Nesse sentido, corrobora-se com Chartier (1990) no que se refere ao entendimento de que, a imprensa faz veicular representações que variavam conforme os interesses sociais e políticos presentes em determinado espaço.

É importante sublinhar que nesse cenário de expansão do ensino superior a imprensa da região demonstrou ativa participação, mobilizando a opinião pública em relação à importância da criação de instituições. Como se pode evidenciar na campanha pela implantação da Faculdade de Medicina em Uberlândia. No entanto, a Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro (FMTM) foi criada em Uberaba no ano de 1953.

Os jornais locais com destaque para O Repórter realizaram campanha pela criação da Faculdade, como demonstrava a notícia: “Uberlândia há dias vem sendo agitada por uma onda de entusiastas que querem edificar aqui uma Faculdade de Medicina, aliás uma ótima