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A JUVENTUDE E A IMPRENSA NA HISTÓRIA DO BRASIL

Mapa 1- Principais Rotas de Integração de Minas Gerais no Século

Fonte: GUIMARÃES, Eduardo Nunes. A influência paulista na formação econômica e social

do Triângulo Mineiro, 2004, p.8.

O povoamento das terras férteis que deram origem ao município de Uberaba por migrantes que vieram principalmente de outras partes do estado se expandiu a partir das primeiras décadas dos anos de 1800, juntamente com a disseminação da fé católica nessa localidade, antes habitada por aldeias indígenas, com destaque para a paróquia criada em 1820 sob a invocação de Santo Antônio e de São Sebastião. 48

Em 1831 foi criada a Vila de Araxá. Já em 22 de fevereiro de 1836 a Lei Provincial Mineira nº 28 elevou esse arraial a município desligando-se de Araxá e criando a Vila de Santo Antonio de Uberaba, fixando somente a grafia Uberaba, passando a ter autonomia política e administrativa.

48 “[...] fundada a povoação e correndo a fama de fertilidade das terras, da exuberância das pastagens para a

criação de gado, da suavidade do clima, numerosas famílias vindas de Oliveira, Itapecirica, Formiga, Bagagem e de outros pontos, transportaram-se para Uberaba com todos os seus haveres” (MENDONÇA, 1974, p.26).

Julgado de Desemboque Goiás Julgado de Araxá Diamantina Área da miner a ção Estrada de São Paulo

Estrad a de MG Rio de Janeiro Rota Fluvial São Paulo

No que se refere à criação do atual município de Uberlândia, em 1863 foi inaugurada a primeira agência postal que daria origem a este. Em 1889 esta foi elevada a condição de Vila, e em 31 de agosto do mesmo ano passou a município pelo decreto nº 4643. Por fim, em 1892 instalou-se a Câmara Municipal de São Pedro de Uberabinha. Em seguida, essa cidade sofreu um crescente processo de desenvolvimento:

No final do século XIX e início do XX, o município alcançou um estágio de crescimento substancial. O mês de janeiro de 1897 via surgir “A Reforma”, o primeiro de uma série de jornais que circularam na cidade. Em 1889 chegava o Telégrafo Nacional, e em 1910, o presidente da Câmara Municipal assinava contrato com Carmindo Coelho para exploração de serviços telefônicos. A conjunção dessa rede de comunicações, além de colocar o município em contato com as principais transformações, em nível nacional e internacional, fomentava também, cada vez mais, a vinda de imigrantes de vários estados da federação (CARVALHO, 2004, p.64).

Ainda de acordo com o mesmo autor, a política, a imprensa e a polícia formaram a base para impulsionar o desenvolvimento e o progresso do município. A política era controlada por fazendeiros, comerciantes e empresários, originários das primeiras famílias que povoaram essa terra. Já a imprensa seria a grande responsável pela veiculação dos ideários de ordem e progresso e a polícia cumpriria o papel de mantenedora da ordem e da disciplina.

Somente no ano de 1929, por determinação da Lei estadual número 1.128, essa cidade recebeu a denominação Uberlândia, Uber - proveniente do latim no sentido de fértil e Land- de origem germânica, significa terra, portanto Uberlândia se refere a “terra fértil” (TEIXEIRA, 1970).

Em relação à microrregião do Pontal do Triângulo Mineiro, merece destaque a origem de Ituiutaba, seu município pólo. Tal área presenciou a chegada dos primeiros bandeirantes, vindos do Sul de Minas ainda no início do século XIX, os quais denominaram essas terras de “Campanhas do Tijuco”, em decorrência de sua localização às margens do Rio Tijuco. 49

A região foi habitada pelos índios “Caiapós” do grupo “Ge” ou “Tapuia” da tribo “Panariá”. Após a entrada dos bandeirantes foi se desenvolvendo um povoado em torno da

49 O Rio Tijuco nascente em Minas Gerais, é afluente em sua margem esquerda do Rio Paranaíba, abrange uma

área de aproximadamente 27% do Triângulo Mineiro, compreendendo partes dos municípios de Ituiutaba, Uberlândia, Uberaba, Veríssimo, Prata, Monte Alegre de Minas e Campina Verde. A área está localizada nos “Chapadões Tropicais do Brasil Central” de AB’SABER (1971) (SANTOS; BACCARO, 2004).

construção da “Capela de São José do Tijuco” no ano de 1832 (MARTINS; MEDEIROS, 2001).

Tal povoado passou por diversas denominações: “Distrito de São José do Tijuco” em 1839; “Curato de São José” em 1845; e “Freguesia de São José do Tijuco” pela primeira vez em 1839 e pela segunda vez em 1866. Somente no ano de 1901 foi emancipado como município, sendo conhecido como “Vila Platina” e finalmente Ituiutaba em 1915. O topônimo Ituiutaba criado pelo senador Camilo Chaves, de origem tupi guarani, significa povoação do Rio Tijuco, assim decomposto: I (rio), TUIU (tijuco) TABA (povoação) (BRANT, 1953).

Destaca-se o fato de que, a criação de vários municípios do Triângulo Mineiro associada ao povoamento em torno dos locais onde eram fundadas as capelas, foi fenômeno comum no Brasil desde o período colonial, em que os homens brancos em prol da dita “civilização”, utilizavam a doutrina católica como justificativa para dominar os indígenas.

O processo de urbanização e municipalização na região de modo geral, intensificou-se na primeira metade do século XIX. Já no final desse século essa localidade veio ganhando espaço agrário e comercial, principalmente com a instalação da estrada de ferro Mogiana, de forma que os municípios de Uberaba e Uberlândia já eram reconhecidos no grande centro econômico de São Paulo (ARAUJO; INÁCIO FILHO, 2005, p. 182).

Durante a Primeira República o crescimento da região foi incentivado pela agricultura e pecuária, sendo o município de Uberaba considerado de importância central para o Triângulo.

Também merece destaque o crescimento do Triângulo ativado pelo ‘boom’ do arroz nas terras mais altas após 1910 e pela integração com o mercado de São Paulo. Próximos a Uberaba no índice estavam Uberlândia (1923) e Araguari (1937), esta última um ponto de abastecimento das ferrovias para o sul de Goiás e a nova capital em Goiânia (WIRTH, 1982, p.64).

Nesse sentido, salienta-se que a produção de grãos em parceria com a criação de gado (como a raça Zebu) representou nesse período importante meio de desenvolvimento e crescimento econômico atrelado à expansão das ferrovias e rodovias associada à localização geográfica privilegiada que permitia a circulação dos bens produzidos.

A principal influência cultural exercida nessas terras deve-se ao interior do estado de São Paulo, em relação ao volume das transações comerciais e localidade geográfica e facilidade de comunicação (GONÇALVES NETO, 2007).

O Triângulo [...] era muito bem integrado ao mercado paulista. Por falta de transportes para Belo Horizonte, essa ‘região extensa e rica se comporta como se pertencesse a São Paulo e não a Minas; a troca de produtos é dificultada, as relações comerciais e mesmo os vínculos de polícia e rotina administrativa são atenuados’. Estimava-se que 95% de todos os bens vendidos no Triângulo em 1935 viessem de São Paulo, assim como 95% de seus produtos fossem para o mercado paulista (WIRTH, 1982, p.107). Desse modo, entrou em evidência a influência do estado de São Paulo no Triângulo Mineiro durante o período de urbanização dessa região. Logo, a expansão econômica gerada pelo desenvolvimento da agricultura, pecuária e comércio, intensificados a partir da segunda metade do século XIX, abriu espaço para o desenvolvimento da imprensa. 50

O surgimento da imprensa escrita nessa localidade aconteceu ainda no século XIX, tendo como precursor o médico francês Henrique Raimundo Des Genettes com a colaboração de Borges Sampaio. Des Genettes já vinha desde o ano de 1853 registrando e divulgando os acontecimentos da região, mantendo correspondências com jornais do Rio de Janeiro e Niterói e acompanhando durante quarenta e sete anos as atividades de um dos maiores jornais brasileiros da época, Jornal do Comércio (PONTES, 1976). Tal fato demonstra que o surgimento da imprensa triangulina sofreu influências da grande imprensa carioca nesse período.

Des Genettes chegou ao Brasil no ano de 1840 passando pelas cidades do Rio de Janeiro, Ouro Preto, Oliveira e Araxá para se dedicar a atividade de exploração de diamantes. Logo depois em 1853 fixou residência em Uberaba, filiando-se ao Partido Liberal.

Em setembro de 1874 foi fundado por Des Genettes o primeiro jornal do “Sertão da Farinha Podre”, O Paranahyba, em homenagem ao então jovem José Paranaíba.

50 O primeiro jornal de Minas Gerais que se tem registro foi o Compilador Mineiro, que surgiu no ano de 1823,

por iniciativa do frei José Mariano da Conceição Veloso, naturalista mineiro que se transferiu para Lisboa em 1820 e que logo improvisou uma tipografia para a impressão desse periódico (ROMANCINI; LAGO, 2007).

Figura 1: Fac- símile da primeira página da primeira edição do jornal O Paranahyba do dia 1º de outubro de 1874

Fonte: BILHARINHO, 2007, p.112.

O primeiro jornal a ser impresso no Triângulo Mineiro também circulou nos estados de Goiás e Mato Grosso, dedicado aos interesses de uma elite aristocrática, veiculando notícias relacionadas à agricultura, comércio e indústria no sertão. 51

O hebdomadário O Paranaíba só publicou 15 edições, sendo a 16ª tirada como nome de Eco do Sertão em janeiro de 1875. Era impresso em um modesto prelo manual que, mais tarde serviu para nele ser impressa a Gazetinha, de J. A. de Paiva Teixeira. O auspicioso acontecimento veio assinalar nas páginas da história do Triângulo um passo duplamente dado na vanguarda do seu progresso e o povo de Uberaba, com autoridade deve orgulhar-se de ter sido esta cidade o foco brilhante, onde pela primeira, irradiou a luz do progresso nas asas da sua imprensa própria (PONTES,

grifos do autor, 1976, p. 125).

Assim ressalta-se que tais periódicos criados ainda no século XIX utilizavam-se das tipografias como agentes políticos e culturais de sociabilidade e difusão cultural no meio em

51 “A tipografia tinha sido adquirida no Rio de Janeiro, por João Modesto Batista, que a vendeu ao Dr. dês

Genettes [...] o prelo era manual, com alavancas e pesos. A oficina ficou entregue à direção de José Alexandre de Paiva Teixeira que veio de Moji-Mirim, a chamado do Dr. Genettes. No mesmo prelo foram impressos: O Eco do Sertão, O Beija-Flor, a primeira Gazeta de Uberaba, O Uberabense e O Relâmpago” (MENDONÇA, 1974, p.27).

que circulavam de forma que “[...] os redatores, tinham nome e rosto na sociedade que buscava se efetivar como nação brasileira. Eram com frequência, construtores do Estado nacional” (MARTINS; LUCA, 2015, p.39).

Nessa perspectiva, o termo “Sertão da Farinha Pobre” usado para designar a região, começou a cair em desuso pouco antes da chegada dos trilhos da ferrovia Mogiana e da Proclamação da República.

A denominação Triângulo Mineiro foi utilizada e divulgada pela primeira vez através da imprensa escrita, primeiramente pelo jornal O Jaguara de Sacramento, seguido de O Uberabense em 1884 e em 1887 com a criação do jornal O Triângulo Mineiro. A nova denominação surgiu em um contexto que evocava a “civilização dos povos”, buscando a “ordem e o progresso” (LOURENÇO, 2010).

Em 2 de julho de 1896 criou-se em Uberaba sob a direção do Cônego Aurélio Elias de Sousa o Jornal de Uberaba, tendo vários colaboradores políticos. Tal periódico quando atingiu seu nº 79 em 10 de outubro de 1897 foi transferido para a propriedade dos padres dominicanos locais, recebendo a denominação de Correio Católico. Logo passou a ser publicado diariamente sob o comando do Padre Armênio Cruz (PONTES, 1976).

A criação desse jornal, no final do século XIX, aconteceu em um momento de expansão da imprensa católica e de jornalistas eclesiásticos, movimento incentivado após a publicação pelo papa Leão XIII da Carta, de 25 de janeiro de 1882, a qual versava sobre a Imprensa Católica, mobilizando os intelectuais católicos e eclesiásticos para a utilização dos jornais como veículo de condução dos princípios morais religiosos.

Numa sociedade que caminhava para o distanciamento do modelo medieval cristão, a imprensa católica, inicialmente de iniciativa particular e depois organizada pela Igreja, tornou-se um dos principais elementos utilizados na evangelização dos povos na sociedade moderna (REMÉDIOS, 2003).

Tal periódico foi comercializado até o início da década de 1970, sendo durante os anos de 1950 e 1960 publicado diariamente em edições compostas por seis a oito páginas, sob a direção de padres e outros membros ligados à Igreja. Este trabalhou arduamente no intuito de persuadir a sociedade triangulina à valorização dos princípios cristãos católicos.

Logo é preciso compreender que as representações de imprensa que circulavam em determinado contexto também aglutinavam parte do imaginário social e de elementos culturais presentes na sociedade em questão.

O jornal Lavoura e Comércio publicado até o início dos anos 2000 foi fundado em 6 de julho de 1899 em Uberaba pelo então Agente Executivo do município Antonio Garcia

Adjunto, o qual permaneceu neste até o ano de 1903, quando foi vendido a Francisco Jardim, ocupando o posto de redator-chefe seu irmão Quintiliano Jardim até o seu falecimento ocorrido em outubro de 1966.

Como seu próprio título indicava, Lavoura e Comércio foi fundado para atender inicialmente aos anseios dos fazendeiros da região, se constituindo em marco histórico na imprensa uberabense. De início tinha o objetivo de realizar um protesto contra o imposto territorial rural considerado abusivo na época (PONTES, 1976). 52

Enfatiza-se a importância da influência política para a expansão da imprensa no município de Uberaba. Já que os jornais locais, assim como os regionais e nacionais, eram utilizados para a divulgação e defesa de determinados anseios políticos. 53

A partir de 1929 o Lavoura e Comércio passou a ter publicações diárias, atravessando desde seus primórdios várias dificuldades em sua confecção. Pois não havia eletricidade e o maquinário era tocado à mão. Para se formar uma palavra era necessário manusear letra por letra. Somente no ano de 1944 Quintiliano Jardim adquiriu a primeira máquina rotativa para impressão e dobra do interior de Minas Gerais, passando a circular em oito páginas.

Merece destaque o grande poder de difusão desse impresso, que no início da década de 1950 já publicava em média cinco mil e seiscentos exemplares, atingindo, segundo Pontes (1976), a maior venda do interior do país, sendo considerado órgão oficial de trinta e dois municípios do estado de Goiás, trabalhando com o slogan “Se o Lavoura não deu, em Uberaba não aconteceu”. 54

A ocasião do falecimento de seu redator Quintiliano Jardim em outubro de 1966, gerou comoção em toda a sociedade uberabense e nas localidades por onde tal impresso circulava, incluindo entidades de classe como os Centros Acadêmicos da Faculdade do Triângulo Mineiro e parte da imprensa regional, como o Correio de Uberlândia, os quais prestaram homenagens ao referido jornalista por ter dedicado sua vida a imprensa. Fato que indicava reconhecimento social desse periódico e de um de seus principais idealizadores.

52 “Iniciou como bi-semanário, aos domingos e quintas-feiras até 1903; passou a semanário desta data até 1907;

de 1907 até 6 de julho de 1913 voltou a publicar-se duas vezes por semana; em 6 de julho de 1913 iniciou sua publicação tri-semanal, circulando a tarde nos domingos e às quartas e sextas-feiras; retornando a base bi- semanal em 6 de julho de 1916” (PONTES, 1976 p. 131-132).

53 O primeiro jornal de caráter propriamente político criado em Uberaba foi o Beija-Flor e, em seguida o Correio

Uberabense, órgão do Partido Liberal,fundado em maio de 1880. Entre os anos de 1880 a 1945, circularam nesse

município em média 130 periódicos articulados a partidos políticos ou as associações de classe existentes na região (PONTES, 1976).

54 “O jornal Lavoura e Comércio foi escrito com sangue, suor e lágrimas. Perderam dois redatores assassinados.

O primeiro foi João Camelo em 1915 e Moisés Santana em 1922. Neste ano além do assassinato de Moisés Santana o Lavoura e Comércio sofreu um atentado. Elementos não identificados atearam fogo na sede do jornal” (PONTES, 1976, s.p).

Em relação aos dois diários que circularam em Uberaba durante as décadas de 1950 e 1960, Correio Católico e Lavoura e Comércio, foi evidente tentativas de parcerias entre esses, no que se refere às decisões tomadas quanto ao custo repassado ao público leitor. Como indicava a nota “Correio Católico e Lavoura e Comércio”, publicada no Correio Católico em 31 de julho de 1956, a qual mencionava o possível acordo entre estes, estabelecendo preço comum para os dois impressos.

Figura 2: Nota esclarecedora sobre o aumento repassado ao público leitor do preço dos jornais

Correio Católico e Lavoura e Comércio

A longevidade do Lavoura e Comércio, o qual circulou por mais de um século, demonstra sua importância jornalística, política e histórica, bem como seu reconhecimento social na região. De modo que, este através de sua ótica, registrou, acompanhou e participou de importantes acontecimentos sociais, econômicos e políticos de Uberaba e do Triângulo Mineiro durante todo o século XX.

Em 17 de janeiro de 1897 foi criado A Reforma, primeiro jornal do município de São Pedro do Uberabinha, atual Uberlândia, pelo professor João Luiz da Silva, conhecido como fundador da imprensa neste. No ano seguinte, a tipografia foi comprada pela Câmara Municipal, que atuou a frente dessa por nove anos, permitindo a impressão dos periódicos Gazeta de Uberabinha, Cidade de Uberabinha e A Semana (SANTOS, 2009).

Ainda de acordo com Santos (2009), os primeiros jornais criados em São Pedro do Uberabinha contribuíram para a emancipação política do município em relação à cidade de Uberaba. Fato que demonstrava o engajamento político desses veículos impressos, sinalizando a parceria entre imprensa e política, importantes para a formação intelectual dessa cidade.

Durante a Primeira República (1889-1930), se observa na imprensa da região a difusão dos ideários republicanos de civilização, progresso, pátria e liberdade, caminhando lado a lado com as concepções tradicionais da Igreja Católica (CARVALHO; INÁCIO FILHO, 2007).

Tais ideários foram amplamente difundidos pela elite letrada nos periódicos do Triângulo Mineiro durante toda a primeira metade do século XX. De modo que, a educação foi considerada mola propulsora para o desenvolvimento nacional.

Desse modo, o seu discurso vinha ao encontro da necessidade das elites locais de organizar a cidade de Uberlândia, dentro da urbanidade e civilidade, pois a sociedade evoluiria naturalmente e a cidade deveria acompanhar essa evolução, enquadrando-se às novas exigências econômicas e sociais, em decorrência do crescente processo de urbanização vivenciado pelo país. E a educação foi utilizada como instrumento para se promover esse ajustamento social (CARVALHO; et. al, 2002, p.80).

Foi comum nesse período a veiculação de matérias jornalísticas com um forte apelo à criação de escolas para atender a necessidade de mão de obra qualificada para o progresso econômico dos municípios.

Ressalta-se que a criação dos primeiros grupos escolares no Triângulo Mineiro ocorreu no início do século XX, após a aprovação em 1906 da “Reforma João Pinheiro” em Minas Gerais. Tais instituições se tornaram núcleos de propagação de preceitos de civilidade

e moralidade, compatíveis com os ideários republicanos divulgados na época (ARAÚJO; SOUZA, 2012).

No entanto, a expansão da escola primária no formato de grupos escolares não atendeu a população de forma efetiva, de modo que ainda ocorria a prevalência do analfabetismo até a década de 1930. Nos anos de 1940 havia a supremacia do ensino privado na região. Somente a partir da segunda metade do século XX que o poder público começou a investir na extensão das escolas públicas. Ação esta amplamente noticiada pela imprensa regional e acompanhada da precariedade de condições físicas e materiais.

A incitação ao processo de escolarização de jovens e adultos veiculado nos jornais escritos desse contexto funcionava como importante meio de “[...] assegurar a estabilidade das instituições através da integração das massas marginalizadas ao processo político em um instrumento para a preservação da paz social, tendo na imprensa um elemento importante de propagação desse pensamento [...]” (CARVALHO; et. al, 2002, p.84). Desse modo, para o desvendamento da história deve-se atentar aos interesses e as obscuridades presentes nos periódicos, já que estes funcionaram como eficazes instrumentos de propagação de imaginários pertencentes a uma elite letrada.

No ano de 1925 foi criado o jornal O Repórter, impresso utilizado nesse estudo que circulou em Uberlândia até o ano de 1963. Este se apresentava como diário vespertino independente e tinha como diretor e sócio proprietário João de Oliveira.

Em 5 de agosto de 1963 O Repórter lançou sua nova equipe noticiosa, devido ao fato deste ter sido vendido a Gráfica Editora OVD de São Paulo, passando a ser propriedade de João Vinicius de Carvalho Daher e dirigido por Glan Franco Bolzon, como destacou a manchete da referida data.

Figura 3: Manchete divulgando a nova equipe de produção do jornal Fonte: O Repórter, 05/08/1963.

No entanto, a troca de proprietário e equipe redatora não foi bem sucedida, por motivos ainda desconhecidos nesse estudo, e no dia 29 de outubro de 1963 saiu o último número desse jornal, que encerrou suas edições.

O Correio de Uberlândia, também pertencente ao município de Uberlândia, foi fundado em 1938 pelo produtor rural de Ribeirão Preto, José Honório Junqueira, proprietário de outros sete jornais, o qual concedeu a seu filho Luiz Nelson Junqueira a responsabilidade com esse impresso, que logo tratou de contratar Abelardo Teixeira como seu redator-chefe.