• Nenhum resultado encontrado

OS ORGANISMOS ESTUDANTIS NOS JORNAIS TRIANGULINOS

ANO DE CRIAÇÃO

II. 3 Os Centros e Diretórios Acadêmicos no Triângulo Mineiro

Tendo em vista o fato de que, nessa região o ensino superior se desenvolveu primeiramente no município de Uberaba, destaca-se o pioneirismo local referente ao processo de articulação do movimento estudantil universitário, por meio da organização dos primeiros centros acadêmicos e do Diretório Central dos Estudantes do Triângulo Mineiro (DCETM).

Logo convém sublinhar a importância do referido órgão representativo dos universitários, que durante as décadas de 1950 e 1960 exerceu forte influência e militância política na região. Tal entidade, de acordo com o Relatório da Diretoria da gestão dos anos de 1961 e 1962, apresentava o objetivo maior de defender os principais interesses da classe estudantil, colaborando para uma união “fecunda” e “indestrutível” entre os estudantes do município.

Cada gestão do DCETM atuava durante o período de dois anos, conforme a ocorrência de eleições para a sua diretoria, entre os universitários locais provenientes dos cursos existentes. Esta era composta pelos cargos de presidente, vice-presidente, secretário geral, 1º secretário, 2º secretário, tesoureiro geral, 1º tesoureiro, orador, diretor social e bibliotecário.

Além da existência do Diretório Central dos Estudantes, entidade máxima que representava todos os universitários do município, existiam durante os anos de 1950 e 1960 os Diretórios Acadêmicos de cada curso, os quais defendiam os interesses particulares de determinado grupo. Esses órgãos estudantis, assim como os demais, possuíam diretoria definida por eleições que ocorriam a cada ano letivo e eram sempre divulgadas pela imprensa.

Em sua maioria, as matérias jornalísticas que giraram em torno do movimento estudantil em Uberaba no referido período eram relacionadas a comunicados, convites e notas dos próprios órgãos estudantis direcionados aos estudantes e a população em geral, bem como notícias abordando mobilizações políticas, manifestações, passeatas e polêmicas entre os discentes.

Destaca-se a nota do DCETM ao povo uberabense em 25/09/1951 publicada pelo jornal Lavoura e Comércio:

Este Diretório sente-se no dever de informar a todos, não passar de boatos maldosos as notícias veiculadas de que, sob seus auspícios, seriam promovidos distúrbios e depredações nos cinemas locais em represália a negativa da Empresa Exibidora de Filmes desta cidade em cumprir uma portaria baixada pela CCP. Outrossim, lança o seu protesto enérgico contra certos elementos que, não se sabe com quais intenções, vêm procurando incompatibilizar a classe estudantina, usando mão dos abomináveis recursos de telefonemas e cartas anônimas as autoridades. Os seus dirigentes são de opinião que a obtenção de uma medida reivindicatória deve se procurar unir a Força do Direito e não fazer uso do direito aspérrimo da Força, pelo que conclamam a todo estudante e ao povo em geral, a cerrar fileiras em torno do Diretório, que baseado na lei, lutará em toda e qualquer ocasião pelas prerrogativas de seus filiados.

Por meio da nota acima é possível identificar a existência de conflitos no início da década de 1950 entre universitários e proprietários dos cinemas, em decorrência do direito da “meia-entrada” dos discentes a esses estabelecimentos, assim como ocorria entre os secundaristas.

No cenário relatado pelo Lavoura e Comércio, em pronunciamento de defesa do DCE, se deduz a ocorrência de ataques aos cinemas locais por indivíduos não identificados, motivados possivelmente pelo descumprimento destes ao direito dos discentes pela obtenção de redução no valor dos ingressos. Dessa forma, a juventude estudantil uberabense utilizava a imprensa escrita como veículo privilegiado nesse período para rebater as acusações sobre o envolvimento do DCE em tais acontecimentos.

De modo geral, verifica-se que assim como em nível nacional, à medida que o jovem estudante, a partir da década de 1950, tornava-se ator político influente, surgiam ataques por parte de setores conservadores, que mesmo antes do regime político militar não viam com bons olhos às reivindicações estudantis.

Torna-se importante demarcar a forte representatividade desses Diretórios ou Centros Acadêmicos que participavam ativamente das discussões empreendidas pelo movimento estudantil em nível local e nacional, como abordava a nota “Uberaba irá ao Congresso da UNE”, presente na coluna “No Mundo do Ensino”:

De 26 de Julho a 1º de Agôsto, será realizado em Baurú o 21º Congresso Nacional dos Estudantes, promovido pela UNE. Neste Congresso deverão estar presentes dois representantes dos Diretórios Estudantis de todo o Brasil. Serão discutidos diversos problemas e também será escolhida numa eleição a nova diretoria. Os estudantes de Uberaba que representarão nossa cidade nesse Conclave são os seguintes: Do Centro Acadêmico D. Alexandre, da Faculdade de Filosofia –Sarah Maria Vilaça, presidente e Lilia Bruno. Do DALO, Faculdade de Direito –Salim Nicolau Mina. Do Centro Acadêmico Gaspar Viana – Adroaldo Gil Modesto. Do CAMP – Nilo Magnabosco. Do Conservatório Musical –Hilda Barsan e Sônia Seussel. Da Escola de Enfermagem – Gergina Malaquias. Quanto ao dia do embarque da delegação uberabense, ainda não foi fixado” (sic) (Correio Católico, 21/07/1958).

Por meio desta, percebe-se a participação dos universitários de Uberaba nos debates promovidos pela UNE, com especial destaque para as mulheres que nessa ocasião representavam a maioria da liderança estudantil no ensino superior no município.

É interessante ressaltar que o Correio Católico enfatizava a participação dos universitários uberabenses nas decisões tomadas pela UNE nessa fase de ascensão católica no comando da entidade, compreendida entre o final dos anos de 1950 e início da década de 1960.

Salienta-se a ocorrência das campanhas assistencialistas empreendidas pelos Diretórios Acadêmicos principalmente no início da década de 1960, com o apoio do Correio Católico, assim como a campanha “Ajuda teu irmão” do ano de 1960, para a arrecadação de alimentos em prol de famílias nordestinas, que deveriam ser coletados nos diversos estabelecimentos de ensino do município. Destaca-se também a assistência médica e odontológica desenvolvida pelos alunos da Faculdade de Medicina e Odontologia que passavam por diversas cidades prestando atendimento às famílias carentes.

Tais iniciativas eram saudadas e acompanhadas pelo referido jornal, possivelmente pelo fato deste representar princípios de solidarismo cristão, defendido pela Igreja Católica,

como indicavam as matérias: “Estudantes e nordeste” (Correio Católico, 29/04/1960); “Estudantes levam assistência médica e dentária a várias localidades” (Correio Católico, 10/05/1960); “Estudantes enviam auxílios aos flagelados” (Correio Católico, 15/06/1960), dentre outras. 84

Dentre as principais atividades do DCETM, pode-se ressaltar assim como a UNE, a realização dos Congressos Anuais da entidade a partir do ano de 1959, para a discussão de questões relacionadas à organização do movimento estudantil, bem como as de ordem econômica, política e social enfrentadas pelo país em determinado contexto.

Nesse cenário, é importante lembrar que a juventude estudantil por todo o país, principalmente nos anos de 1960, era influenciada pelo cinema novo, pela arte crítica, pelo engajamento no movimento estudantil e seu interesse pelas causas relacionadas às camadas populares e a democratização da sociedade. De modo que a arte foi muitas vezes utilizada para a denúncia social das desigualdades existentes no país pela exploração capitalista (CARMO, 2010).

Assim como no município de Uberaba, os universitários de Uberlândia se organizavam em associações de classe. Como se pode ressaltar na fundação da “União Universitária” em março de 1961, composta por estudantes do curso de Direito, a qual foi divulgada pelo Correio de Uberlândia em 19 de março de 1961.

Além desse órgão, os alunos do curso de Direito também eram representados por seu Diretório Acadêmico, o qual realizava sempre eleição para a escolha de sua diretoria no início de cada ano letivo, sendo divulgada pelos jornais locais nos anos de 1960.

No mesmo ano de fundação da Faculdade de Direito de Uberlândia, como abordado anteriormente, foi criado o Diretório Acadêmico “21 de Abril” (D. A. 21 de Abril). A denominação de tal órgão homenageava a Inconfidência Mineira e a luta de “Tiradentes”.

Evidencia-se a influência da Faculdade de Direito na formação de líderes políticos, fator comum na região e em nível nacional, principalmente no que se refere aos participantes do movimento estudantil.

Dentre os primeiros diretores do Diretório Acadêmico, encontravam-se Renato de Freitas (primeiro presidente do DA e que foi Prefeito de Uberlândia, em 1967-1969 e 1974-1977); como Vice Presidente André Fonseca Ferreira (vereador e presidente da Câmara Municipal entre 1958 e 1959), Alexandre Fornari, José Carneiro, Maria Bernadette de Oliveira (mais tarde professora da Faculdade de Direito), Fuad Miguel (também professor

84 Durante o período entre 1959 e 1965, inspirados no Concílio Vaticano II, uma parcela do movimento católico

da faculdade), Oscar Mendes de Lima Júnior e Milton Damasceno (PRIETO, 2010, p.392).

Logo era comum a organização de eventos por esses Diretórios Acadêmicos com a realização de importantes conferências entre os alunos da Faculdade de Direito. Ressalta-se a matéria “Capanema em Uberlândia a convite da Faculdade de Direito”:

Está sendo esperado em Uberlândia no próximo 3 de abril o ministro Gustavo Capanema, que a convite da Faculdade de Direito, irá proferir uma palestra versando sobre temas jurídicos. O Sr. Gustavo Capanema é figura de grande gabarito na vida nacional, tendo já ocupado os mais elevados postos nos últimos governos. Jurista de renome, Gustavo Capanema, será certamente homenageado com as honras devidas pela Congregação e alunos da Faculdade de Direito (Correio de Uberlândia, 27/03/1962).

Nesse sentido, salienta-se o entrosamento dos discentes do curso de Direito de Uberlândia com políticos de renome nacional. Lembrando que Gustavo Capanema exerceu importantes cargos na administração pública, sendo o Ministro da Educação que mais tempo ficou no poder de 1934 a 1945, servindo principalmente aos interesses dos grupos que detinham o domínio. 85

É necessário sublinhar mais uma vez que, os universitários desse contexto eram predominantemente integrantes das camadas privilegiadas, o que facilitaria o acesso a carreira política. Já que tradicionalmente, no Brasil, a política sempre foi esfera dos doutores da lei, diplomados em nível superior, o que era um privilégio restrito a alguns poucos brasileiros (SOUZA, 2005).

Desse modo torna-se importante ressaltar que no início da década de 1960, cerca de 3% dos estudantes que ingressavam no primeiro ano da escola primária conseguiam chegar ao ensino superior. O índice de analfabetismo no país nesse período se aproximava a 40% da população, de forma que o acesso ao diploma universitário era bastante restrito (SOUZA, 2005).

85 Durante os anos de 1940, em sua atuação como Ministro da Educação, Gustavo Capanema baixou as leis

orgânicas de ensino, que ficaram conhecidas como “Reformas Capanema”, por meio de oito decretos – leis: “a) Decreto–lei n. 4.048, de 22 de janeiro de 1942, que criou o SENAI; b) Decreto–lei n. 4.073, de 30 de janeiro de 1942: Lei Orgânica do Ensino Industrial; c) Decreto–lei n. 4.244, de 9 de abril de 1942: Lei Orgânica do Ensino Secundário; d) Decreto–lei n. 6.141, de 28 de dezembro de 1943: Lei Orgânica do Ensino Comercial; e) Decreto–lei n. 8.529, de 2 de janeiro de 1946: Lei Orgânica do Ensino Primário; f) Decreto–lei n. 8.530, de 2 de janeiro de 1946: Lei Orgânica do Ensino Normal; g) Decreto–lei n. 8.621, de 10 de janeiro de 1946, que criou o SENAC; h) Decreto–lei n. 9.613, de 20 de agosto de 1946: Lei Orgânica do Ensino Agrícola” (SAVIANI, 2007, p. 268-269). Essas reformas foram marcadas por um caráter dualista, pois aspiravam uma formação diferenciada para os jovens provenientes das camadas populares, que deveriam ser destinados ao ensino profissional para o ingresso no mercado de trabalho, já os filhos da elite deveriam se integrar no ensino secundário, como preparação ao ensino superior, de onde sairia os quadros dirigentes do país.

Nesse cenário foi presente no meio estudantil uberlandense a participação dos universitários em conferências permeadas por discussões de variadas problemáticas, como indicava o comunicado a seguir:

Prossegue com a sua presença, na Rádio Educadora de Uberlândia, as 8 hs dos dias 15, 16 e 17 do corrente, respectivamente, a presença dos ilustres conferencistas: José M. Pimenta (Dazinho) – Assunto: “Operariado e Classe Estudantil”; Jorge Dantas – Assunto: “Cultura Popular”. Moacir Laterza: assunto: “Reforma Universitária” [...] Esta é a “Semana do Calouro”, uma promoção do “Diretório Acadêmico Brasília” (Correio de Uberlândia, 12/04/1963).

É perceptível que esses estudantes estavam alinhados às discussões do movimento estudantil em nível nacional, com destaque para o debate sobre a Reforma Universitária, a relação entre a classe operária e a estudantil e o movimento de cultura popular em alta no início da década de 1960. 86

Assim como a UNE, o Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito de Uberlândia demonstrava apoio ao governo de João Goulart. Como é possível evidenciar, de acordo com Prieto (2010), na ocasião em que os jovens discentes concederam o título de Doutor Honoris Causa ao então Presidente da República, João Goulart, apenas quatro meses antes de sua deposição pelos militares.

No ano de 1961, a UNE criou o Centro Popular de Cultura (CPC), no intuito de possibilitar as classes populares à conscientização crítica da realidade brasileira, por meio da arte revolucionária em uma cultura de protesto às desigualdades e injustiças sociais (POERNER, 1995).

O interesse pela Reforma Universitária teve sua gênese no próprio meio estudantil, desde o surgimento da UNE, no sentido de democratização do ensino. O debate se intensificou na fase da república populista, quando a pauta dessa reforma se incorporou ao discurso pelas “reformas de base” de João Goulart.

De acordo com Cunha (2007) a discussão sobre a necessidade de tal reforma se elevou à medida que a universidade se expandia e com isso o número de diplomados que buscavam emprego, visto que:

86As reivindicações que compunham a agitação pela reforma universitária organizada pelo movimento estudantil

se pautavam pela concepção humanista moderna de educação. Desse modo, os encontros organizados pelos estudantes se embasavam nas características que compunham a concepção pedagógica em efervescência nesse momento no Brasil pelo movimento da Escola Nova (SAVIANI, 2007).

O aumento do número de diplomados, numa situação em que o mercado de trabalho não tinha dinamismo correspondente, conduzia à elevação dos requisitos educacionais, a desvalorização econômica e simbólica do diploma, ao subemprego e ao desemprego. Consequentemente, maior a crise de realização social, levando à frustração do projeto de carreira, induzindo um movimento estudantil voltado para a reforma da universidade, de modo a adequá-la às ‘exigências da sociedade’ e, no limite, para a reforma da própria sociedade (CUNHA, 2007, p.258).

Nessa perspectiva, quanto mais à universidade se expandia durante a década de 1960, mais ampliava a sua crise e as condições objetivas para que os estudantes assumissem uma postura crítica na luta por seus interesses.

Com o golpe civil-militar, o governo ditatorial tentou reprimir a mobilização crítica dos estudantes. Logo a Reforma Universitária de 1968 também veio como forma de conter a universidade crítica, redefinindo seu sentido para mera modernização do ensino superior, de acordo com os interesses econômicos desse governo.

Em relação às diversas atividades promovidas em Uberlândia pelos Diretórios Acadêmicos de cada curso, ressaltam-se as organizações dos trotes aos alunos ingressantes. Esses acontecimentos também eram divulgados pelos jornais locais, como indicava o comunicado “D. A 21 de Abril Programa Trote” (Tribuna de Minas, 13/03/1968).

As eleições para a escolha da direção desses diretórios também eram publicadas anualmente pela imprensa. Fato que demonstrava tanto o empenho dos universitários em terem seus nomes divulgados publicamente, quanto o interesse da sociedade local em conhecer os dirigentes da classe estudantil.

Era comum durante os anos de 1960 a realização de Congressos Regionais dos Universitários, contando com a participação dos Diretórios Acadêmicos existentes nas faculdades da região e de outras partes do país. Observa-se a publicação “Congresso Regional dos Estudantes Universitários”:

[...] O grande conclave a ter por séde a Metrópole do Triângulo Mineiro que deverá estar em funcionamento em junho, terá o patrocínio do Centro Acadêmico XI de Agosto da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco de São Paulo. MINISTROS PRESENTES. Os ministros Almino Afonso e San Tiago Dantas deverão ser presentes no Congresso dos Estudantes. Tôda a vida universitária de nossa terra irá tomar parte, através dos diretórios acadêmicos das faculdades uberlandenses. Estudantes de tôdo o Brasil Central virão para cá, figurando no grande conclave [...] (sic) (Correio de Uberlândia, 07/05/1963).

O referido jornal apresentava o anúncio do importante evento universitário com entusiasmo, exaltando Uberlândia como metrópole do Triângulo Mineiro, adotando uma postura diferente em relação às críticas exercidas contra a UESU.

Nesse período Uberlândia passava por um amplo processo de modernização e desenvolvimento se destacando na região. A partir da década de 1960 esse município tomou a frente da liderança econômica e demográfica do Triângulo Mineiro, antes assumida por Uberaba, Araxá e Araguari, em decorrência dos trilhos da Companhia Mogiana.

Além disso, nota-se o envolvimento maior dos universitários pertencentes ao curso de Direito empenhados na organização e divulgação do referido congresso que deveria contar com a presença de importantes autoridades para a discussão de questões sociais e políticas.

O Congresso dos Estudantes Universitários do ano de 1965 foi realizado em Uberaba e contou com a participação de centenas de discentes da região, além de representantes da União Estadual de Estudantes (UEE) de Minas Gerais. Logo as temáticas discutidas nesse evento foram publicadas pela imprensa.

[...] 1) – Estudo da lei nº 4.464 e a sua respectiva regulamentação. 2) - A UEE e a dinamização do movimento estudantil em Minas Gerais; 3) A criação do movimento universidade do povo, possibilitando o aprimoramento do nível técnico, particularmente do operário que trabalha em construções; 4) questões atuais – criação de faculdade e universidades no interior e intensificação do movimento pró criação das universidades de Formiga, Triângulo e Norte de Minas; federalização das escolas, excluindo a Universidade Católica; redução dos currículos em hora-aulas. De Uberlândia partiram para Uberaba dois representantes de cada diretório, dois da Faculdade de Engenharia e 2 da Faculdade de Ciências Econômicas. O universitário João José de Araújo, das faculdades de Engenharia e Ciências Econômicas e representante do CORREIO DE UBERLÂNDIA está credenciado a cobertura jornalística do conclave, e mais tarde reportará o assunto (Correio de Uberlândia, 22/07/1965).

Nesse sentido, observa-se o protagonismo da juventude estudantil na região no que se refere à discussão sobre as questões então atuais. Além do debate sobre as regras de funcionamento das organizações discentes, através da conhecida Lei Suplicy de Lacerda, a qual visava desarticular o movimento de politização estudantil por todo o Brasil.

Convém destacar que em julho de 1965 tomou conta do país uma grande campanha do movimento estudantil contra a Lei Suplicy. De modo que o 27º Congresso da UNE foi realizado nessa data em São Paulo, onde havia ocorrido grande greve na Universidade de São Paulo (USP) contra tal medida repressiva do governo. Nesse cenário, Poerner (1995) destaca a solidariedade dos estudantes mineiros na campanha contra a destruição da Universidade de

Brasília pelo governo ditador e no Congresso da União Metropolitana dos Estudantes (UME) desse ano de 1965. 87

Salienta-se que no Congresso dos Estudantes Universitários de Uberaba de 1965 ocorreu a reivindicação pela criação e federalização das universidades, temática tratada mais adiante, além de discussões voltadas para a questão curricular dos cursos. Também é possível perceber, mais uma vez, a troca de interesses entre determinados líderes estudantis e órgãos da imprensa. Já que um dos alunos participantes do Congresso seria ao mesmo tempo porta- voz do Correio de Uberlândia.

No que se refere à realização dos Congressos Anuais do Diretório Central dos Estudantes de Uberaba, ressalta-se a constante divulgação destes pela imprensa local, especificando a programação do evento, data, local e atividade a ser realizada. 88

87 “Logo depois da deposição do presidente Goulart, o campus universitário sofreu uma invasão de forças

policiais, assim documentada pela imprensa: ‘Quatrocentos soldados da Polícia Militar de Minas Gerais, fortemente armados [...] cercaram a Universidade de Brasília, prendendo, em massa, professores e estudantes [...]’” (Última Hora, 10 de abril de 1964 apud Poerner, 1995, p.207-208). Tal episódio sucedeu vários acontecimentos, com a perseguição e expulsão de professores e alunos, de forma que no ano de 1965 a Universidade de Brasília que havia sido estruturada nos moldes norte-americanos e europeus, havia sofrido violenta modificação em sua estrutura, retornando a princípios retrógrados e ultrapassados, de acordo com os interesses do novo governo autoritário.