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A JUVENTUDE E A IMPRENSA NA HISTÓRIA DO BRASIL

I. 2 A imprensa periódica no Brasil

Nesse tópico buscou-se construir uma breve contextualização sobre a história da imprensa no país, por meio de literatura especializada e análise de conteúdos de jornais utilizados nessa pesquisa. Visto que, para o estudo das matérias jornalísticas partiu-se da premissa de que: “[...] o conteúdo em si não pode ser dissociado do lugar ocupado pela publicação na história da imprensa, tarefa primeira e passo essencial das pesquisas com fontes periódicas” (LUCA, 2011, p.139). Além disso, realizou-se uma breve discussão sobre a importância dos jornais para a escrita da História da Educação.

O surgimento da imprensa no Brasil, tal qual é conhecida atualmente, enquanto publicação regular e seriada, ocorreu com a circulação do jornal Correio Braziliense, órgão independente e liberado pela censura política existente, que era publicado em Londres. 34 Foi criado em 1808, após a transferência da Corte portuguesa para o Brasil, que fugia das tropas de Napoleão. Esse periódico foi idealizado e produzido por Hipólito da Costa, de caráter crítico e politizado, atravessava o Oceano Atlântico para discutir os problemas da Colônia.35

Após o estabelecimento da família real no Brasil, foi organizada a Impressão Régia, órgão responsável pela criação de inúmeros periódicos espalhados por todo o país. Logo convém destacar que:

A nação brasileira nasce e cresce com a imprensa. Uma explica a outra. Amadurecem juntas. Os primeiros periódicos iriam assistir à transformação da Colônia em Império e participar intensamente do processo. A imprensa é, a um só tempo, objeto e sujeito da história brasileira. Tem certidão de nascimento lavrada em 1808, mas também é veiculo para a reconstrução do passado (MARTINS; LUCA, 2015, p. 8).

34 As primeiras tentativas de introduzir a tipografia no Brasil foram realizadas pelos holandeses, quando estes

ocuparam o Nordeste entre 1630 e 1655. Após sessenta anos da expulsão destes do país, acredita-se que teria ocorrido em Recife a primeira impressão em terras brasileiras, no entanto não há provas concretas. É certo que o tipógrafo português Antônio Isidoro da Fonseca instalou em 1746 no Rio de Janeiro uma oficina completa de tipografia e imprimiu vários folhetos e talvez livros. No ano seguinte, tal oficina foi fechada pelo governo, já que no período colonial qualquer texto escrito deveria ser impresso na Europa, ou permaneceria na forma de manuscrito (ROMANICINI; LAGO, 2007).

35 O jornal Correio Braziliense obteve tal denominação pelo fato de que “[...] Brazilienses eram os portugueses

nascidos ou estabelecidos no Brasil e que se sentiam vinculados ao Brasil como à sua verdadeira pátria. Ao dar a seu jornal o nome de braziliense, Hipólito demonstrava que queria enviar sua mensagem preferencialmente aos leitores do Brasil” (LUSTOSA, 2004, p.14).

Dessa forma, ressalta-se a importância dos jornais na história do Brasil e também no processo de reconstrução desta, de modo que a história da imprensa brasileira está intrinsecamente ligada aos acontecimentos políticos, econômicos, sociais e culturais do país.

A Gazeta do Rio de Janeiro foi o primeiro jornal a ser impresso em terras brasileiras em setembro de 1808, seguindo o modelo da Gazeta de Lisboa, sendo uma espécie de periódico oficial para a publicação de decretos, acontecimentos e comunicados relacionados à corte portuguesa e a política internacional.36

No entanto, esses importantes impressos de circulação no país no início do século XIX, Correio Braziliense e Gazeta do Rio de Janeiro não poderiam realizar oposição ao poder monárquico estabelecido, defendendo a dinastia Bragança, além de apoiarem o projeto de união luso-brasileira e manifestar repúdio às ideias propagadas pela Revolução Francesa e sua memória histórica (MARTINS; LUCA, 2015).

Durante o período da Regência (1831-1840) teve êxito uma grande expansão dos periódicos por todo o país, de forma que a imprensa se constituiu como veiculadora de distintos projetos de nação. Já no período do Segundo Reinado, a palavra imprensa se caracterizou por representar os anseios, posições e lutas políticas de seus grupos de origem.

No final do século XIX ocorreu o uso exaustivo da imprensa brasileira, marcado pela crítica ao regime monárquico e pela defesa da Proclamação da República e da abolição da escravatura, envolvendo diversos setores da sociedade como o meio estudantil, representantes das camadas médias urbanas e líderes representantes da população negra.37 Destaca-se que nesse período, imprensa e literatura ainda se confundiam. 38

Na fase da Primeira República (1889-1930), os jornais no país se diversificaram, o processo de urbanização favoreceu discursos em prol da civilização e do progresso, além desses desfrutarem de melhoramentos que privilegiaram a sua circulação.

36 “Grassava o analfabetismo no Brasil colonial, não só entre os grupos populares, mas em boa parte da pequena

burguesia, da nobreza e mesmo da família real portuguesa. A escrita era quase um privilégio da classe religiosa e da alta administração pública” (ROMANICINI; LAGO, 2007, p. 20). O Brasil nesse período era um país agrário e de analfabetos, portanto, a imprensa tinha circulação em grupos seletos e era restrita a elite letrada. Mesmo assim, acredita-se que suas representações expressaram certa concretude do mundo real, apesar de conter muitas contradições.

37 “Entre os estudantes, o jovem Castro Alves, assíduo na imprensa da Academia, foi a voz apaixonada da causa

que traduziu no poema Navio Negreiro a luta de uma raça” (MARTINS, 2015, p.75).

38 “No Brasil, durante muito tempo, jornalismo e literatura se confundiam. Até a segunda metade do século XX,

o jornalismo era considerado um subproduto das belas artes. Alceu Amoroso Lima o definia como ‘literatura sob pressão’. Muitos jornalistas eram também ficcionistas. Devido à ausência de mercado editorial forte, os escritores tinham que trabalhar em outras ocupações para garantir sua sobrevivência. O jornalismo, como a atividade mais próxima - que nesse momento permitia o livre desenvolvimento dos estilos pessoais -, era uma escolha natural para muitos deles” (RIBEIRO, 2003, p.147).

Nesse período de transformações, a imprensa conheceu múltiplos processos de inovação tecnológica que permitiram o uso de ilustração diversificada – charge, caricatura, fotografia – assim, como aumento das tiragens, melhor qualidade de impressão, menor custo do impresso, propiciando o ensaio da comunicação de massa (ELEUTÉRIO, 2015, p.83).

Nesse sentido, a inovação das fotografias nos jornais diários também foi utilizada como espaço de representação privilegiada do processo de urbanização e industrialização do país, momento em que se buscavam alternativas para a escolarização das massas, tais como a criação e implantação dos grupos escolares por todos os estados federativos.39

Na primeira metade do século XX, vislumbra-se a expansão da “grande imprensa” brasileira, através de jornais presentes nos principais centros econômicos e políticos do país, em que suas notícias e artigos gozavam de ampla circulação em território nacional. Em relação a tal denominação observa-se que:

A expressão grande imprensa, apesar de consagrada, é bastante vaga e imprecisa, além de adquirir sentidos e significados peculiares em função do momento histórico em que é empregada. De forma genérica designa o conjunto de títulos que, num dado contexto, compõe a porção mais significativa dos periódicos em termos de circulação, perenidade, aparelhamento técnico, organizacional e financeiro (LUCA, 2015, p. 149).

Assim as empresas jornalísticas foram vistas como negócio lucrativo, envolvido por um processo de modernização, com a adoção de métodos racionais de produção e gerenciamento, tornando-se mais exigentes as funções de proprietários, redatores, editores e impressores.

No ano de 1930 ocorreu uma revolução que finalizou a fase denominada Primeira República, ocasião em que militares comandados por Getúlio Vargas depuseram o governo de Washington Luiz (1926-1930), impossibilitando a posse de Julio Prestes que havia derrotado Vargas nas eleições para presidente do país. Nesse desfecho salienta-se a importância política da imprensa, que em grande parte contribuiu para que esse processo acontecesse:

O apoio emprestado por importantes órgãos da imprensa a Aliança Liberal, pode ser tomado como um índice do desgaste do sistema político vigente. Ao se instalar no palácio do Catete, o líder do movimento que depôs Washington Luiz contava com os aplausos dos vários jornais de Assis

39 “O leitor do Jornal do Brasil dos 1900, contido nas narrativas do jornal, certamente sabe identificar o texto

‘escrito’ através de desenhos que são colocados lado a lado. Olhando as imagens em sequência decodificam a mensagem: trata-se de um jornal moderno, que usa mais inovadora tecnologia para difundir com rapidez as informações” (BARBOSA, 2007, p.32).

Chateaubriand, do Correio da Manhã, O Globo, Jornal do Commercio,

Diário Carioca, Diário de Notícias, O Estado de S. Paulo, A Platéia e Diário Nacional, para mencionar alguns dos títulos mais importantes do

país. Já os periódicos identificados com a chamada ‘velha ordem’ foram alvos da fúria popular e tiveram suas sedes invadidas e depredadas. A título de exemplo menciona-se na capital federal, O País, Gazeta de Notícias, A

Noite e o Jornal do Brasil e, em São Paulo, com o Correio Paulistano, A Gazeta e as Folhas da Manhã e da Noite (LUCA, 2015, p.166).

Após a tomada do poder, Vargas foi adotando medidas para que aumentasse cada vez mais o seu poder e tempo de atuação política, com a implantação do processo de industrialização do país, através do modelo de substituição das importações.40 Nesse cenário ocorreram deslocamentos na grande imprensa, com o cerceamento da liberdade de expressão. Alguns jornais perderam a importância e desapareceram outros foram vendidos e/ou alteraram seus editores. 41

Na Era Vargas, manifestou-se no país a ideologia do nacional-desenvolvimentismo, a qual pode ser caracterizada da seguinte forma: “O nacionalismo presente no desenvolvimentismo era a ideologia da formação do Estado nacional; era a afirmação de que, para se desenvolver o país precisa definir, ele próprio, suas políticas e suas instituições, sua estratégia nacional de desenvolvimento” (PEREIRA, 2008, p. 63). Esse clima de exaltação dos símbolos e valores nacionais foi propagado em todos os setores da sociedade brasileira, inclusive na imprensa e no meio estudantil.

O governo provisório de Vargas (1930-1934) foi sucedido por sua eleição em voto indireto (1934-1937) e posteriormente pela ditadura do Estado Novo (1937-1945), período em que ocorreu séria censura a imprensa. Já que tal liderança almejava utilizar os veículos informativos como importantes veiculadores de representações positivas sobre as suas medidas políticas. Nesse momento, também surgiram jornais clandestinos como forma de combater as medidas autoritárias da ditadura.

Nesse contexto, as empresas jornalísticas foram vigiadas de perto pelo governo autoritário, por meio da instalação de censores nas redações dos principais jornais de circulação do país, controlados pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) criado em 1939, este possibilitava a punição dos infratores que contrariassem os interesses do

40 Até o fim da Primeira República (1889 -1930) os jornais representavam o grande veículo de comunicação do

país, depois passaria a ser o rádio, a partir da década de 1960 foi se consolidando a televisão e nos dias atuais presenciamos o grande alcance, velocidade das informações e o poder da internet.

41 Durante as décadas de 1930 e 1940 o rádio se expandiu por todo o território nacional, assumindo grande

importância no país que convivia com altas taxas de analfabetismo. Neste cenário, o programa radiofônico “Hora do Brasil”, transmitido então pelas modernas ondas curtas a todo o país, seria encarregado de difundir a imagem e a ideologia do Estado Novo (LUCA, 2015).

governo. “Em nome de se garantir a paz, a ordem e a segurança pública, justificava-se a censura prévia à imprensa, teatro, cinema e radiodifusão [...]” (LUCA, 2015, p.171). Tal censura permaneceu em vigor até o fim do Estado Novo, quando a Assembleia Constituinte de 1946 restabeleceu a liberdade de manifestação do pensamento. No entanto, não se pode afirmar que toda a grande imprensa sofreu negativamente com as ações desse governo.

Mesmo com toda a censura instituída, a partir de 1942, parte dos diários matutinos foi responsável pelo processo que gerou o desgaste do governo e a deposição de Vargas no ano de 1945.

Até a década de 1940 os jornais brasileiros seguiram o modelo francês, em que a técnica de escrita era bem próxima ao estilo literário. Além de se apresentarem essencialmente como instrumento político. “A imprensa era ainda essencialmente de opinião e a linguagem da maioria dos jornais era em geral agressiva e virulenta, marcada pela paixão dos debates e das polêmicas” (RIBEIRO, 2003, p.148). Tal situação só começou a mudar a partir da década seguinte.

Em 1950 Vargas retornou ao poder, quando foi eleito presidente da República. Devido a sua estratégia política de se aproximar da classe trabalhadora sofreu ataques das forças conservadoras.

No início dos anos de 1950, ocorreu de acordo com Luca (2015, p.187) um fato inédito na história do Brasil, “[...] uma briga de imprensa mata um presidente da República”. Já que o conflito que resultou no suicídio de Vargas em agosto de 1954 foi desencadeado entre o jornal Última Hora, lançado por Samuel Wainer em 1951 e o jornal Tribuna da Imprensa, de propriedade de Carlos Lacerda, criado em 1949. 42

O suicídio de Vargas gerou comoção nacional, O Globo, A Tribuna da Imprensa e a Rádio Globo foram depredados, sendo considerados, por parte da população, como culpados pela morte do presidente, pois realizaram severas críticas contra este, pedindo sua renúncia.

No governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960) ocorreu importante processo de industrialização e modernização nacional associado ao crescimento econômico e aumento da dependência em relação ao capital externo. Durante seu mandato acelerou-se a reforma da grande imprensa, com destaque para o Jornal do Brasil e Diário Carioca, pioneiros na melhoria do padrão gráfico. A produção em massa dos jornais permitiu apressar a circulação e reduzir os custos de sua produção.

42 Em um atentado ao jornalista Carlos Lacerda, morreu o major da Aeronáutica Rubem Florentino Vaz, que na

ocasião fazia sua guarda pessoal. Em seguida, as investigações apontaram que o mandante do crime era Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal do presidente Vargas. Tal escândalo repercutiu nos principais jornais brasileiros, ocasionando na pressão pela renúncia de Vargas que logo cometeu suicídio.

O slogan desse governo “cinquenta anos em cinco”, em prol da modernização do país, tomou conta das redações dos principais jornais brasileiros, que logo passaram por um processo de transformação gráfica, editorial, empresarial e linguística, surgindo assim uma nova imprensa no país. Nessa perspectiva, o progresso e o desenvolvimento seriam integrados à modernização brasileira.

Em 1956 aconteceram intensos debates em torno do projeto de lei apresentado pelo governo de Juscelino ao Congresso Nacional sobre mudanças na imprensa brasileira. A justificativa de tal proposta, segundo o presidente era baseada no princípio liberal que vislumbrava “[...] na imprensa livre um pilar básico da democracia, mas segundo princípios ‘mais concretos e menos individualistas’ do que aqueles ‘tradicionais e clássicos princípios de liberdade de imprensa’ do século XIX" (BIROLI, 2004, s/p).

Tal projeto, que não chegou a ser votado, agitou as páginas da grande imprensa e também de jornais interioranos que compravam as suas matérias, como demonstrou o artigo “Jânio Quadros se define: Em São Paulo a Imprensa Continuará Livre”publicado no jornal Correio Católico de Uberaba.

Questão aberta ao PTB a lei de imprensa. São Paulo, 3 (ASAPRESS) – De fontes bem informadas apurou-se que o governador Jânio Quadros é totalmente contrário as anunciadas modificações da lei de imprensa. Afirma- se ser ele desfavorável a qualquer alteração que importasse no cerceamento da liberdade de imprensa, Jânio já teria mesmo definido, antecipadamente sua posição em termos inequívocos, chegando a afirmar que, o seu governo jamais lançaria mão de dispositivos coercitivos. Em São Paulo, a imprensa continuará inteiramente livre (Correio Católico, 03/09/1956).

Essa discussão mobilizou diversos setores da sociedade brasileira, inclusive parte do movimento estudantil que via na restrição da liberdade de imprensa um ataque à democracia, já que a liberdade de expressão é um de seus valores. Mereceu destaque o artigo: “Classe Estudantil Contrária”.

São Paulo, 3 (ASAPRESS) – Os grêmios estudantis de várias faculdades de São Paulo divulgaram os seus pontos de vistas contrários as alterações que pretendem fazer na legislação que regula os crimes de imprensa, havendo a União Estadual dos Estudantes programada para os próximos dias, uma proclamação ao povo nesse sentido (Correio Católico, 03/09/1956).

Nesse sentido, observa-se que a movimentação gerada em torno de tal proposta contribuiu para que não acontecessem restrições da liberdade de imprensa nesse período.

As inovações no Diário Carioca, no ano de 1950, e do Jornal do Brasil, em 1956, bem como o surgimento de Tribuna da Imprensa, em 1949, e a Última Hora, em 1951, são considerados marcos centrais de uma nova fase da imprensa brasileira (RIBEIRO, 2001).

Esse novo jornalismo moderno se baseou no modelo norte-americano, provocando além da modernização na forma de abordagem das notícias e das empresas, a profissionalização dos jornalistas e a construção de novo ideário sobre a identidade do jornalismo e a sua função na sociedade.

O movimento de profissionalização do jornalismo aumentou as exigências em relação ao trabalho do jornalista, envolvido em uma rotina de aceleração do tempo, como declarou Alberto Dines, ativo na profissão durante o final dos anos 1950 e de 1960, ocupando importantes cargos em grandes jornais cariocas.

O jornalista trabalha com rapidez para completar cada edição, mas aquela edição se completa com as seguintes até o infinito. Esta noção do tempo distendido, intercalada com o tempo sincopado, faz parte do comportamento físico e psíquico do jornalista. A paciência dentro da periodicidade é como o processo de conta-gotas: cada porção é minúscula, mas todas são importantes para atingir a imagem final (DINES, 1986, p.45).

Salienta-se a extensa carga de trabalho do jornalista, pois os acontecimentos do cotidiano ocorrem em ritmo acelerado, exigindo uma rotina rígida desse profissional, provocada pela necessidade de veicular as informações na sociedade.

Assim ocorreu na década de 1950 o processo de modernização da imprensa, com crescimento da autonomia do campo jornalístico em relação ao literário. Nesse clima o jornal assumiu o discurso de imparcialidade e neutralidade, uma de suas principais bandeiras. No entanto, se deve considerar o fato de que:

[...] a imparcialidade não passava, e não passa ainda hoje, de mera retórica, sendo usada para preservar os discursos e os interesses do próprio veículo. A neutralidade jornalística é um mito cotidianamente desfeito nas relações, a partir da elaboração da pauta que determina a forma de se buscar os fatos, o conteúdo pretendido e, eventualmente, indica os propósitos da editora (LUSTOSA, 1996. p.22).

Nesse sentido, entende-se que as informações veiculadas pela imprensa, desde seus primórdios estão carregadas de ideologias, aspirações e intencionalidades, assim como

qualquer outra atividade humana, que variam conforme as tendências políticas, sociais e culturais dos grupos a que estas se encontram relacionadas.

O jornalismo moderno intensificado na segunda metade do século XX entrou em uma nova fase diferente dos tempos anteriores. Visto que, seu discurso ganhou maior credibilidade do público, passando a ser considerado veículo informativo que enuncia os acontecimentos de forma oficializada, se constituindo como registro factual por excelência, sendo muitas vezes na história do país “[...] força dirigente superior mesmo aos partidos e as facções políticas” (BARBOSA, 2007, p.151). 43

Nessa perspectiva é possível afirmar que a imprensa sempre teve uma relação intensa com a política, de forma que contribuiu para a construção de importantes acontecimentos no cenário nacional. Assim o discurso produzido pelos jornais se constitui em relevante arma política, por possuir a capacidade de induzir as preferências de seus leitores através das representações produzidas, influenciando os comportamentos e conduzindo a uniformidade de opinião.

Nesse sentido, o jornalismo não se revela como um contrapoder, mas como um poder instituído. Nas décadas de 1950 e 1960, esse papel pode ser claramente observado através das longas campanhas empreendidas pela imprensa para ampliar a voz das facções políticas” (BARBOSA, 2007, p.163).

O processo de implantação do jornalismo moderno no Brasil nos anos de 1950 se deu de forma heterogênea, marcado por uma série de conflitos, jogos de interesses e ambiguidades.

A adaptação ao modelo moderno de jornalismo norte-americano encontrou barreiras no que diz respeito às especificidades do contexto histórico-cultural e empresarial brasileiro. Logo o ideário e as regras de conduta importados dos Estados Unidos tiveram que ser redefinidos de acordo com a realidade do país (RIBEIRO, 2001).

Durante o governo de João Goulart (1961-1964), como já destacado anteriormente, a maioria da grande imprensa brasileira, com exceção do jornal Última Hora, fez oposição às suas medidas políticas.

Após a sua deposição da presidência do país e a chegada dos militares ao poder, a