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2. O LIBERALISMO DE JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADA E SILVA

2.3. Breve esboço sobre a Imprensa Nacional e a contribuição de José Bonifácio

“Nos momentos de crise e convulsão política,

todo meio de expressão escrita é tanto como veículo peculiar de comunicação, quanto como

poderosa arma de combate” 429

.

A imprensa brasileira, apesar de desenvolvida apenas após a vinda da família real em 1808, desempenhou relevante papel no cenário político nacional. Segundo relatos,

“só com a viagem da família real para o Brasil é que chega aqui a primeira prensa

legal – que não é outra senão o artefato de impressão dos papéis governamentais. Tudo que se imprime nela é oficial: o primeiro periódico, os primeiros livros, as primeiras comunicações. Isso não significa a liberdade de imprensa: o poder central requer para seu funcionamento algum mecanismo de comunicação, assim como exigira a abertura dos portos e a criação de fábricas” 430.

Com o movimento da Independência e a incerteza sobre a destinação do Brasil, deu-se uma frenética utilização dos jornais como meio de discussão política entre as facções existentes. Na primeira metade do século XIX a imprensa significava um “mecanismo de

participação política” com um espaço de interação entre as diversas camadas da sociedade,

inclusive o governo. O ano de 1821 marcou, no Brasil, o período de exagerada circulação de periódicos, gerando intensos debates no Rio de Janeiro, Bahia, Pará, Maranhão, Pernambuco e São Paulo, formando a opinião pública sob a égide da doutrina das luzes. Em virtude do baixo preço, os jornais possuíam maior assimilação que os livros, tornando fonte de interessantes debates políticos, além de conterem muitas traduções de partes de livros, destacando, neste contexto, a atuação de Hipólito da Costa nas tergiversações sobre os escritos do Abade De Pradt acerca da Independência do Brasil; aquele defendendo a independência entre os reinos, sem considerar a efetiva ruptura entre ambos, este considerando a união algo impossível. 431

429

NEVES, Lúcia Maria Bastos Pereira das. Os panfletos políticos e a cultura política da Independência do

Brasil. In: História e Historiografia. Org: István Jancsó. São Paulo: Hucitec:Fapesp,2005.p. 637. 430

Informação extraída do site: http://www.obrabonifacio.com.br/az/verbete/68/, consultado em 06 de maio de 2013.

431.De acordo com Marco Morel, durante o ano de 1822 “a linha política do Revérbero e do Gazeta (e também do

Correio Braziliense) era afinada neste momento: defesa da união entre o Brasil e Portugal; conceituar independência como instância de autonomia e de liberdade constitucional e comercial, não de separação; e temor de que a perda total ou parcial dessas prerrogativas levasse à quebra dos laços”. MOREL, Marco.

Independência no papel: a imprensa periódica. In: História e Historiografia. Org: István Jancsó. São Paulo:

O Tamoyo, periódico de cunho liberal criado por Antônio Menezes Vasconcelos de Drummond, 432 serviu de porta-voz da família Andrada, cuja primeira tiragem circulou em 12

de agosto de 1823. “Fundado depois da demissão de José Bonifácio do Ministério do Reino e

Negócios Estrangeiros, e de seu irmão Martim Francisco, do Ministério da Fazenda, tem forte teor oposicionista em relação ao governo de D. Pedro I” 433.

Em entrevista concedida ao referido periódico na edição de 02 de setembro de 1823, Bonifácio relata sua participação na Independência, na construção do império brasileiro e na Constituinte de 1823, sentindo-se perseguido pelos sequazes contrários à família Andrada434. Essas manifestações levaram à dissolução da Assembleia, ao degredo da família e à apreciação de uma severa lei versando sobre a liberdade de imprensa, conforme veremos mais adiante.

Acreditamos ser justo abrir um espaço neste trabalho para o jornalista Hipólito da Costa435, escritor do Correio Brasiliense 436 e defensor dos ideais Andradinos, considerado expressivo liberal nacional.

Therezinha Costa relata que a circulação do Correio Brasiliense teve início na mesma época em que a família real se instalou no Brasil, tornando-se árduo defensor, ao lado de

Bonifácio, da união entre os dois países por meio da monarquia. “Temia que a volta de D.

João VI para Lisboa apressasse o processo de separação dos dois Reinos, e, naquela época,

uma independência prematura poderia vir a esfacelar o Brasil” 437

.

432“O nome do periódico tem como referência a tribo indígena que mais lutou contra a dominação portuguesa.”

Informação extraída do site: http://www.obrabonifacio.com.br/az/verbete/56/, consultado em 06 de maio de 2013.

433

Informação extraída do site: http://www.obrabonifacio.com.br/az/verbete/56/, consultado em 06 de maio de 2013.

434

Informação extraída do site: http://www.obrabonifacio.com.br/colecao/obra/65/digitalizacao/, consultado em 06 de maio de 2013.

435

O português Hipólito da Costa, cujo pai era brasileiro, passou sua infância no Rio Grande do Sul. Possuía no seu sangue as laços progenitores luso-brasileiros, defendendo essa aliança também sob a ótica política. Filiado à maçonaria azul inglesa, chegou a ser perseguido e preso pela Inquisição Portuguesa pelos ideais esposados. Segundo Therezinha de Castro “O processo e prisão que sofrera Hipólito da Costa em Portugal azedaram - lhe o caráter. Assim, o seu Correio Brasiliense lhe serviria como válvula de escape, como veículo para seu desabafo

público como divulgador de suas ideais em torno de um ideal”. CASTRO, Therezinha. Hipólito da Costa –

Ideias e Ideais. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1985. p. 27. 436

O Correio Brasiliense tinha sede na Inglaterra em virtude das leis de imprensa que ali existiam. Sendo perseguido em Portugal, não poderia ali se alojar sem, tampouco, exorcizar suas mágoas com a mãe pátria portuguesa. A censura à imprensa em território brasileiro também não facilitaria sua atuação, escolhendo, desta forma, fazer seus escritos de um país que lhe oferecia proteção às impressões pessoais.

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Sua observação sobre o desmoronamento da América Espanhola, então sob a égide de um governo republicano, apenas reforçava a sua teoria. Seu sentimento liberal, tal qual o Andrada, não o aproximava do republicanismo, considerado pelo jornalista fonte de ambições,438 mas tão somente o afastava do absolutismo, o que o levou a ser veementemente contrário às Revoluções de 1817, Portuguesa e Pernambucana.

Outro ponto de identificação com Bonifácio era o conceito da necessidade de transferência da Capital do Rio de Janeiro, cidade litorânea e mais sujeita a ataques marítimos, para outra localização mais interiorana, próximo a um eixo fluviário em que fosse possível a comunicação.

Por apresentarem posicionamentos tão próximos e inclusive fazerem parte da mesma facção da maçonaria azul, Hipólito da Costa foi um grande propagador das ideias liberais do Andrada, também exercendo soberba influência ao pensamento político do império.

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