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Victor Andrade Costa Teixeira OAB/GO 33

I – BREVE ESCORÇO FÁTICO

O presente recurso decorre do processo de Recuperação Judicial da empresa Agravante, em face da necessidade de auxílio para a superação da crise econômico-financeira por ela enfrentada depois de mais de 20 anos em atividade na cidade de Primavera do Leste – MT, tendo sido distribuído o feito perante o r.juízo da 2ª Vara Cível da Comarca de Primavera do Leste – MT, que, em 05/04/2016, DEFERIU o processamento da recuperação judicial (Doc.5).

Neste ponto, considerando que os bens apontados no processo de recuperação judicial nº1980-29.2016.811.0037 tanto da empresa Agravante, quanto os da pessoa física do Sr. Altair Piovezan, único sócio, são destinados e, de uso específico da aludida atividade empresaria, mormente porque compreendem os lotes urbanos onde se encontra estabelecida a sede de empresa, fora requerido já na petição inicial do processo que durante a recuperação judicial fossem resguardados à Agravante e, ao seu único sócio, Sr. Altair Piovezan, os meios mínimos e essenciais para manter o desempenho da atividade empresarial, com a manutenção de todos os bens em suas respectivas posses, independentemente das naturezas creditícias ou classificatórias.

Consigna-se que r. juízo da 2ª Vara Cível da Comarca de Primavera/MT (Cód. 163543) na oportunidade em que deferiu o processamento da recuperação, igualmente deferiu o pleito da empresa Agravante. Veja:

(...)

"Declaro suspensas, nos moldes do artigo 6º da Lei n. 11.101/05, e pelo prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias (artigo 6º, parágrafo 4º), as ações e execuções promovidas contra as requerentes, por créditos sujeitos aos efeitos da presente recuperação judicial, ressalvadas as ações previstas nos parágrafos 1º, 2º e 7º do artigo 6º, relativas a créditos excetuados na forma dos parágrafos 3º e 4º do artigo 49, todos da citada lei, permanecendo os respectivos autos, porém, nos Juízos onde se processam, cabendo às requerentes comunicarem a suspensão aos Juízos competentes.

Determino que durante o período de “blindagem” os bens essenciais às empresas permaneçam na posse desta, não podendo ser retirados e/ou alienados sem autorização deste Juízo. Dentre esses bens a serem

mantidos na posse da empresa durante o período de “blindagem”

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incluo os bens da pessoa física do sócio Sr. Altair Piovezan, relacionados às fls. 189/190, pois esses bens embora estejam em nome da

pessoa física do único sócio, são utilizados diretamente pelas empresas requerentes, a exemplo do imóvel do item 4 de fl. 189, que é onde se localiza a sede da empresa em Primavera do Leste. Eventual liberação dos referidos bens para serem constritados ou expropriados em ações autônomas será analisada por este Juízo conforme o caso, para evitar prejuízo à recuperação judicial."

Pois bem. Em que pese a decisão acima proferida, que ADMITIU A CONFUSÃO PATRIMONIAL entre a empresa recuperanda/Agravante e seu único titular, Sr. Altair Piovezan, à luz do interesse social que permeia o feito recuperacional, a Agravada, detentora do crédito aproximado de R$3.275.865,78 (três milhões, duzentos e setenta e cinco mil, oitocentos e sessenta e cinco reais e setenta e oito centavos), consoante Cédulas de Créditos anexas (Doc. 16), garantidas por alienação fiduciária de 10 (dez) imóveis pertencentes à pessoa física do sócio da Recuperanda – matrículas anexas (Doc. 11), tentou, em 20/10/2016, consolidar os imóveis matriculados sob os números 1.590, 1.592, 1.409, 471, 20.341, 1.879, 11.115, 2.000 do Cartório de Registro de Imóveis de Primavera do Leste (MT) e as matrículas números 84.145 e 84.144 do Cartório de Registro de Imóveis de Cuiabá (MT), objetos de alienação fiduciária, tendo esta Agravante apresentado medida acautelatória para obstar a alienação, expropriação e a consolidação da propriedade em favor da Agravada.

Tem-se que a pretensão acima aduzida, perpetrada pelo banco Agravado, restou inexitosa, mediante decisão do r.juízo da 2ª Vara Cível da Comarca de Primavera do Leste – MT, proferida em 18/11/2016 (Doc. 18), que acertadamente DEFERIU os pleitos acautelatórios da empresa Agravante à época, no sentido de que fossem obstadas a alienação, expropriação e a consolidação da propriedade em favor da Caixa Econômica Federal/Agravada dos imóveis matriculados sob os números 1.590, 1.592, 1.409, 471, 20.341, 1.879, 11.115, 2.000 do Cartório de Registro de Imóveis de Primavera do Leste (MT) e as matrículas números 84.145 e 84.144 do Cartório de Registro de Imóveis de Cuiabá (MT). Ainda, mais a frente da marcha processual, apreciando-se Embargos de Declaração opostos pelo banco Agravado, o r.juízo da 2ª Vara Cível da Comarca de Primavera do Leste – MT, assim consignou (Doc. 7): determino se aguarde a conclusão dos trabalhos periciais para análise dos pedidos respectivos.”

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Diante, pois, das decisões supramencionadas, notadamente do fato de que delas não decorreram demais recursos, verifica-se que o assunto e a pretensão do banco Agravado de expropriação patrimonial em desfavor da empresa Agravante restaram superados e, inequivocamente rechaçados pelo Poder Judiciário!!!

ACONTECE QUE, o banco Agravado, em completo desrespeito as ordens judiciais, deu continuidade aos atos de execução extrajudicial, tanto que em petição datada de 09 de setembro de 2019 (DOC. 8), a Recuperanda, ora Agravante, requereu junto ao juízo recuperacional, como medida acautelatória, que fosse determinado o sobrestamento do procedimento extrajudicial promovido, para suspender a cobrança do débito referente aos empréstimos, bem como proibir a consolidação dos imóveis inscritos nas matrículas n° 20.341, 1.590, 1.592, 11.115, 1.879, 2.000, 1.409 e 471 (Doc. 11), sobre o que o Juízo singular determinou a intimação do Administrador Judicial para manifestação sobre a essencialidade dos bens.

Na data de 06/03/2020 o Administrador Judicial apresentou seu parecer (Doc. 10), informando a essencialidade das matrículas 20.341, 1409 e 1879, e devido a necessidade da perícia técnica para elucidação da confusão patrimonial entre a Pessoa Jurídica da Recuperanda e a Pessoa Física do sócio, manifestou no sentido de preservar o acervo patrimonial da devedora até a homologação da perícia.

Entretanto, Eminente Desembargador, antes que o r. juízo da 2ª Vara Cível da Comarca de Primavera do Leste – MT proferisse decisão sobre o pleito da empresa Agravante e manifestação da Administração Judicial, a Agravada Caixa Econômica Federal CONSOLIDOU os imóveis de matrículas 1.590, 1.592, 11.115, 1.879, 2.000, 1.409, 471, 84.144 e 84.145, conforme certidões de inteiro teor anexadas (Doc. 11) o que, por sua vez, ensejou novo peticionamento, em 23/04/2020 (Doc. 12) por parte da empresa Agravante, no sentido de que o r.juízo primevo determinasse o escorreito CANCELAMENTO das medidas abusivas!

Inexistindo decisão judicial, em tempo, acerca das consolidações efetivadas, sobre as quais pretendeu-se o cancelamento, na data de 23/06/2020, a Agravante foi surpreendida com 09 (nove) notificações (Doc. 9), informando que os

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imóveis estão à venda por meio de LEILÃO PÚBLICO 0032/2020/MT, a ser realizado no dia 17/07/2020.

Veja-se, Eminente Desembargador, levados todos esses acontecimentos ao crivo do r. juízo da 2ª Vara Cível da Comarca de Primavera do Leste – MT, este, mais uma vez, requereu a manifestação da Administração Judicial do feito recuperacional, que, por sua vez, novamente, assim se pronunciou: (...) as

melhores práticas do Bom Direito autorizam a suspensão dos procedimentos extrajudiciais correlacionados aos bens citados, no estado em que se encontram.

ATÉ QUE, na data de 14/07/2020, o r.juízo a quo proferiu decisão, reconhecendo parcialmente a essencialidade dos bens, notadamente quanto aos imóveis de matrícula nº 1.409 e 1.879, obstando, pois, qualquer prática de consolidação da propriedade dos mesmos pelo banco Agravado e, não reconheceu a essencialidade dos imóveis de matrícula nº 471, 11115, 2000, 1592, 84.144, 84.145 e 1.590, estando esses sujeitos a sequência dos atos de expropriação, inclusive, ao leilão designado para o dia 17/07/2020, o que, pois, não merece prosperar!!

Veja a decisão agravada:

“(...)

É A SÍNTESE. FUNDAMENTO. DECIDO.

DO PEDIDO DE CANCELAMENTO DA CONSOLIDAÇÃO DA PROPRIEDADE E SUSPENSÃO DE LEILÃO EXTRAJUDICIAL

A recuperanda pugna pelo cancelamento da consolidação da propriedade em relação aos imóveis objeto das matrículas imobiliárias nº 1.590, 1.592, 11.115, 1.879, 2.000, 1.409, 471, 84.144 e 84.145, bem como suspensão do leilão sobre a matrícula imobiliária nº 20.341.

É de se notar que o primeiro requerimento não se relaciona com a mera suspensão do leilão, mas o cancelamento da consolidação da propriedade de bens imóveis, cujo provimento exige absoluta cognição das causas e fundamentos que eventualmente ensejam tal resposta judicial.

Sobre esse particular, imperativo registrar, ab initio, a exclusão de crédito e consequente autorização de expropriação de bens decorrente do julgamento da impugnação nº 5114-64.2016.811.0037 (Código 169723), em relação aos

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imóveis objeto das matrículas nº 1.590, 1.592 e 20.341, cuja essencialidade não foi reconhecida.

Trata-se de decisão de mérito, sobre a qual, ademais, não foi verificada a atribuição de efeito suspensivo, restando impertinente o cancelamento da consolidação da propriedade e suspensão de leilão sobre os respectivos imóveis.

Outrossim, em relação aos bens essenciais, convêm registrar que a consolidação da propriedade já havia sido obstada pelo deferimento da providência acautelatória postulada pela recuperanda (fls.1.782/1/.783), cujos embargos de declaração opostos pelo credor pendem de apreciação.

Assim, no que tange à possibilidade de suspensão de atos expropriatórios sobre bens considerados essenciais para o soerguimento da empresa, bem assim deliberando sobre os embargos de declaração, convém registrar que a jurisprudência do STJ, que tem por base a limitação prevista na parte final do § 3º do art. 49 - que impede a venda ou a retirada do estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais à sua atividade empresarial - e inspirada no princípio da preservação da empresa, acabou por estabelecer hipóteses em que se abre exceção à regra da não submissão do crédito garantido por alienação fiduciária ao procedimento da recuperação judicial. De acordo com a linha seguida pelo STJ, a exceção somente é aplicada a casos que revelam peculiaridades que recomendem tratamento diferenciado visando à preservação da atividade empresarial, como, por exemplo, no caso em que o bem dado em alienação fiduciária componha o estoque da sociedade, ou no caso de o bem alienado ser o imóvel no qual se situa a sede da empresa. Em suma, justifica-se a exceção quando se verificar, pelos elementos constantes dos autos, que a retirada dos bens prejudique de alguma forma a atividade produtiva da sociedade.

Assim, conforme jurisprudência do Tribunal Cidadão (CC 131.656-PE e Informativo STJ nº 550), a interpretação do dispositivo permite a flexibilização do comando normativo quando se tratar de bem essencial ao funcionamento da empresa em recuperação judicial, permitindo-se a manutenção na posse em favor da sociedade empresária, sendo a análise conferida ao juízo recuperacional.

Nessa linha de intelecção, em relação aos bens objetos das matrículas nº 1.409 e 1.879, os quais constituem o próprio espaço de funcionamento da empresa, bem como depósito de materiais de construção, conforme conclusão do Administrador Judicial, devem ser reconhecidos como essenciais e, por

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conseguinte, insuscetíveis de desapropriação, enquanto durar os efeitos da recuperação judicial.

Os efeitos, a toda evidência, abarcam os prazos necessários à realização da assembleia geral de credores, bem como o período de acompanhamento judicial.

Posto isso, em relação aos imóveis respectivos, defiro o pedido de cancelamento do registro da consolidação da propriedade.

Por outro lado, não é possível reputar a essencialidade de bens subutilizados, baldios, ou com finalidade meramente recreativa, assim como verificado pelo Administrador Judicial, em relação aos bens representados pelas matrículas nº 471, 11115, 2000, 1592, 84.144, 84.145 e 1.590, motivo pelo qual indefiro o pedido correlato.

(...)”

Em que pese a r. decisão proferida, merece acolhimento o presente recurso de Agravo de Instrumento com pedido de Tutela de Urgência, tendo em vista a necessidade de se garantir a efetividade do provimento jurisdicional restando imperioso o reconhecimento e a concessão da medida pleiteada.

É o breve relatório.