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Breve histórico acerca da luta pela redução da jornada de trabalho

No documento adrianaimaculadafernandes (páginas 139-176)

CAPÍTULO III A luta pela redução da jornada de trabalho

3.1 Breve histórico acerca da luta pela redução da jornada de trabalho

Como apontado anteriormente, para Marx, a luta pela redução da jornada de trabalho é o resultado de uma disputa histórica entre trabalhadores e capitalistas, representando uma forma de resistência à exploração da força de trabalho para acumulação de mais-valia. Dessa forma, entendo não ser possível iniciar um histórico acerca da luta pela redução da jornada de trabalho sem se tratar a própria luta dos trabalhadores em resistência à sua exploração. Sendo assim, iniciarei com os primórdios da luta operária até chegar ao atual contexto do novo sindicalismo, menos combativo e mais situado no âmbito da negociação em relação ao conflito entre capital e trabalho.

Com a Revolução Industrial iniciada na Inglaterra ainda no século XVIII, é possível apontar o recrudescimento da opressão sobre os trabalhadores assalariados que, com o sistema fabril mecanizado, foram perdendo autonomia em relação à organização do trabalho. As alternativas para aqueles que não detinham outro meio de subsistência que não a venda de sua força de trabalho eram três, basicamente: integrar-se à sociedade burguesa, lutando por ingressar nas camadas médias da sociedade, resignar-se à exploração, ou, por fim, rebelar-se.

Marx, ao tratar da jornada de trabalho no capítulo oitavo de “O Capital”, relata a situação de trabalhadores atuando sem qualquer regulamentação ou limites legais à exploração da força de trabalho, em fábricas têxteis e de cerâmica. Passa, então a relatar

casos de exploração infantil e os prejuízos físicos causados pela intensa jornada de trabalho, que poderia até mesmo ultrapassar 18 horas diárias. Relata o caso de uma fábrica de fósforos na Escócia, onde os trabalhadores (incluindo crianças), chegavam a trabalhar 84 horas por semana em trabalho manual e também em máquinas, que não podiam ser paradas nem mesmo para as refeições dos trabalhadores: havia um pai que alimentava seu filho de apenas sete anos na boca enquanto ele continuava operando a máquina de fósforos. Pausa para refeições era vista como perda de tempo e, consequentemente, de lucro.

Descreve, ainda, o caso dos empregados de padarias, os quais tinham uma rotina desgastante, chegando a dormitar em cima da própria mesa onde a massa do pão era amassada. Os trabalhadores chegavam a trabalhar de domingo a domingo e em trabalho noturno, recebendo um salário de 12 horas por uma jornada que poderia chegar a 18 horas por dia. Uma comissão do governo inglês de 1863 apontou, além dos abusos relacionados à jornada de trabalho, a falsificação do pão, que continha, além dos ingredientes, restos de saibro, suor e fluidos humanos, além de outras impurezas. Esse mesmo relatório aponta que os trabalhadores dessa indústria raramente chegavam aos 42 anos.

Os salários não garantiam nem mesmo as condições de subsistência e reprodução da força de trabalho; os trabalhadores viviam em cortiços imundos, sujeitos ao frio e à fome e ao contágio de inúmeras doenças. Além disso, eram altos os índices de criminalidade e de violações sociais. Eram poucos aqueles que conquistavam algum tipo de ascensão, tornando-se gerentes, inspetores, mecânicos e mesmo comerciantes (YACOUB, 2004).

De acordo com Marx:

O capital levou séculos, antes de surgir a indústria moderna, para prolongar a jornada de trabalho até seu limite máximo normal e, ultrapassando-o, até o limite do dia natural de 12 horas. A partir do nascimento da indústria moderna, no último terço do século XVIII (...) todas as fronteiras estabelecidas pela moral e pela natureza, pela idade ou pelo sexo, pelo dia e pela noite foram destruídas (MARX, 2013, p. 320).

Com o aprimoramento e incorporação das inovações mecânicas à produção houve uma importante deterioração das condições de trabalho, com a contratação de força de trabalho não qualificada, principalmente mulheres e crianças, e o desemprego de muitos

trabalhadores considerados supérfluos à produção. Na Inglaterra, o departamento de assistência aos pobres também era fornecedor de mão de obra, inclusive de órfãos e crianças internados nas workhouses24.

Os trabalhadores, ao perceberem que individualmente não tinham meios de resistência ao impulso do capital pela sua máxima exploração, se associam e se organizam:

A história da regulamentação da jornada de trabalho em alguns ramos da produção e a luta que ainda prossegue em outros para se obter essa regulamentação demonstram palpavelmente que o trabalhador isolado, o trabalhador como vendedor ‘livre’ de sua força de trabalho, sucumbe sem qualquer resistência a certo nível de desenvolvimento da produção capitalista (MARX, 2013, p. 342).

As associações sindicais existiam na Inglaterra desde, pelo menos, meados do século XVIII (sua origem remonta ao início da Revolução Industrial, com a introdução do sistema de maquinaria), mas eram reprimidas de forma violenta pelo Estado, atendendo a interesses da burguesia, autorizada a ser organizar por meio da livre associação. Em 1824, o Parlamento inglês finalmente aprovou uma lei que estendeu o direito à livre associação a todos, inclusive aos trabalhadores, fortalecendo as trade-

unions, as associações sindicais inglesas, que se desenvolveram e se espalharam por

todo o país.

As trade-unions tiveram papel fundamental na conquista de direitos pelos trabalhadores ingleses, organizando a luta por melhores salários (para que acompanhassem o aumento da produtividade), por melhores condições de trabalho e atuando na resistência à extensão e intensificação da jornada de trabalho:

As trade-unions negociavam com os capitalistas a criação de uma escala de salários, forçando a sua aceitação, e deflagravam greve sempre que esses salários eram rejeitados. Ante as constantes manobras dos capitalistas, as

trade-unions auxiliavam financeiramente os operários em greve ou

desempregados, através das “Caixas de Resistência”, o que aumentava sobremaneira a capacidade de luta da classe operária e tornava arriscado para o capitalista diminuir os salários ou aumentar as horas de trabalho (ANTUNES, 1981, p. 18).

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As workhouses eram locais onde pessoas muito miseráveis viviam em regime de internato, trocando sua subsistência por trabalho. Ainda que as condições de vida em uma workhouse fossem intencionalmente duras para garantir que apenas os realmente necessitados as procurassem, seus assistidos gozavam de uma vantagem sobre a maioria da população pobre da Inglaterra, já que contavam com assistência médica gratuita e educação infantil, o que só seria garantido pelo Estado inglês à população no início do século XX (Fonte: http://www.workhouses.org.uk/ Acesso em 14/07/2018).

Com a intenção de unir diversas categorias de uma mesma região, em 1830 foi constituída uma federação de operários, a “Associação Nacional para a Proteção do Trabalho”, atuando como uma central sindical, reunindo sindicatos de operários da área têxtil, mecânicos, trabalhadores das fundições, ferreiros, mineiros, entre outras. Diante do aumento no número de associações operárias, e de sua força em construir mobilizações e greves em torno de direitos, os patrões passaram a exigir dos operários a renúncia formal em participar da vida sindical, sob pena de demissão. Esse foi o principal fator no enfraquecimento e posterior extinção de diversas associações sindicais, “o que demonstrou quão árdua foi a luta dos operários pela sua organização nos sindicatos” (ANTUNES, 1981, p. 19):

Se a história dessas Associações é caracterizada por momentos de vitórias e derrotas, é inegável que elas constituíram a primeira tentativa efetiva de organização dos trabalhadores na luta contra os capitalistas. Ao conseguirem abater a concorrência existente entre os operários, unindo-os e tornando-os solidários em sua luta, ao utilizarem-se das greves como a principal arma contra os capitalistas, os operários conseguiram dar os primeiros passos na luta pela emancipação de toda a classe operária (Idem, p. 21).

Antunes (1981), ao tratar do movimento sindical inglês, destaca a figura de Robert Owen, industrial e teórico do chamado socialismo utópico. Graças aos esforços de Owen, que foi alijado pela sua classe burguesa e perseguido por capitalistas e pelo Estado, “(...) em 1819, após cinco anos de grandes esforços, conseguiu que fosse votada a primeira lei limitando o trabalho da mulher e das crianças nas fábricas” (Idem, p. 20). Owen foi um socialista utópico por não enxergar que a transformação da sociedade capitalista, com a ruptura das relações de exploração de classe, não seria possível por meio de reformas e de um processo pacífico de negociação, mas sim a partir da luta e mesmo de violentas disputas entre as classes, como demonstrado por Marx e Engels no “Manifesto Comunista” de 1848 (ANTUNES, 1981).

Voltando à questão da redução da jornada de trabalho, uma lei aprovada em 1833 normatizou na Inglaterra, pela primeira vez, a jornada de trabalho para a indústria moderna, estabelecida em 15 horas compreendidas entre cinco e meia da manhã e oito e meia da noite. Limitava o trabalho infantil durante o dia de acordo com faixas etárias e vedava o trabalho noturno para menores. Essa lei não sofreu alterações até junho de 1844, mas os proprietários do capital deram um jeito de burlar as regras, e os inspetores não conseguiam fiscalizar. Os trabalhadores fabris, a partir de 1838, passaram a lutar pela jornada de 10 horas e, como os representantes da classe industrial na política

necessitavam dar concessão aos trabalhadores em troca de fortalecer o comércio de produtos agrícolas, entra em vigor a lei fabril de 1844, colocando as mulheres maiores entre os amparados pela lei.

Em 1847, uma nova lei fabril determinou a redução da jornada para adolescentes de 13 a 18 anos e para todas as mulheres, sendo de 11 horas a partir de 1º de julho daquele ano e de 10 horas a partir de 1º de maio de 1848, definitivamente. Porém, como reação a isso, os capitalistas foram reduzindo os salários alegando queda de produção decorrente de uma crise entre os anos de 1846 e 1847. Essa redução chegou a, pelo menos, 25% do salário, mas, mesmo assim, os trabalhadores preferiam trabalhar 10 horas, conforme foi apurado pelos inspetores de fábrica.

Os fabricantes começaram, aqui e ali, a despedir uma parte, frequentemente a metade dos adolescentes e mulheres empregados, e restauraram, para os trabalhadores adultos do sexo masculino, o trabalho noturno que quase não se usava mais. A lei das 10 horas, bradaram eles, não lhes deixava outra saída (MARX, 2013, p. 329).

Marx relata que, mesmo com o amparo legal, limitando a jornada de trabalho para crianças, adolescentes e mulheres, os patrões conseguiam armar esquemas de burla a essa lei das mais diversas formas, tornando o trabalho de fiscalização praticamente impossível. Trabalhadores eram deslocados entre várias fábricas, trabalhavam em diversos turnos menores, entre outras medidas. Diversas petições foram feitas ao ministro do Interior de forma que o próprio ministro determinou a não intervenção da fiscalização em caso de descumprimento da lei, salvo em caso de “abuso manifesto no sistema” (MARX, 2013, p. 332). Ora, o descumprimento da lei caracteriza, por si só, flagrante e manifesto abuso.

Até a metade do século XIX, são relativamente poucos os sindicatos e partidos estabelecidos pelos trabalhadores, realidade que muda radicalmente após as Revoluções de 1848, também conhecidas como “Primavera dos Povos”, quando os trabalhadores pauperizados das cidades se insurgem contra sua exploração e reivindicam o estabelecimento de uma nova sociedade, sem divisão de classes. As condições de vida haviam piorado muito em decorrência da crise mundial de 1847, o que fomentou a luta contra os privilégios de classe:

Embora não se tratasse de uma revolução contra a burguesia, vislumbrava que a democracia permitia à classe trabalhadora colocar em questão os fundamentos sociais da sociedade burguesa, trazendo à luz o confronto entre

esta e o proletariado, criando uma república democrática e, posteriormente, a transição para uma revolução proletária-popular e, finalmente, uma ditadura do proletariado (YACOUB, 2004, p. 31).

Entretanto, suas intenções fracassaram e abalaram organizações operárias como a Liga Comunista, encerrada em 1852, e o movimento cartista. O período de expansão econômica que se seguiu, caracterizando um verdadeiro boom econômico arrefeceu ainda mais o ímpeto revolucionário por parte do movimento operário, que viu os sindicatos e movimentos grevistas serem proibidos na Europa.

De fato, explosões simultâneas continentais ou mundiais [foram] (...) extremamente raras. 1848 na Europa foi a única a afetar tanto as partes “desenvolvidas” quanto as atrasadas do continente. Foi ao mesmo tempo a mais ampla e a menos bem sucedida deste tipo de revoluções. No breve período de seis meses de sua explosão, sua derrota universal era seguramente previsível; dezoito meses depois, todos os regimes que derrubara foram restaurados, com exceção da República Francesa (HOBSBAWN, 1982, p. 30).

Tal contexto só foi revertido a partir da crise de 1857, principalmente a partir de 1864, com a formação da Primeira Internacional (Associação Internacional dos Trabalhadores – AIT), que intentou reunir diversas correntes do movimento trabalhista europeu na busca por objetivos como a melhoria das condições de trabalho e dos salários, e proteção dos trabalhadores em caso de doença, invalidez e velhice. Mas, para além de lutas na esfera econômica, havia o norte maior da luta política, buscando a democratização do poder político e a transformação da sociedade capitalista com a abolição da divisão de classe.

Os trabalhadores organizados em partidos e sindicatos organizavam greves e pressionavam os Estados para que atuassem na mediação do conflito entre capital e trabalho por meio das políticas sociais e ampliação de direitos. No Congresso de 1866, foi defendida, entre outras exigências, a limitação da jornada de trabalho em oito horas diárias, além da criação de medidas sócio-políticas em favor das mulheres e crianças:

Alguns governos e estratos da burguesia mostraram-se apreensivos com o crescimento do movimento trabalhista a partir de 1860 e, prevenindo-se contra o emergir de uma força política independente ou mesmo revolucionária, a legislação foi modificada para possibilitar uma limitada organização trabalhista (inclusive greve em alguns países europeus), permitindo uma certa barganha livre e coletiva dos trabalhadores num mercado livre (YACOUB, 2004, p. 34).

Em 1871, os trabalhadores têm sua primeira experiência de governo, com o estabelecimento da Comuna de Paris que, não obstante sua curta duração de pouco mais de dois meses, foi vista por Marx como uma experiência histórica bastante relevante, trazendo a proposta de formação de cooperativas e também de uma reforma da educação, a fim de torná-la universal, obrigatória, gratuita e laica. Muitos dos operários que exerceram papel de governantes na Comuna faziam parte da I Internacional. A Comuna foi um passo importante no sentido da democratização da política nos Estados europeus, com a ampliação da população apta a votar e escolher seus representantes, apesar do verdadeiro massacre das forças conservadoras sobre os parisienses, que levou à destruição da Comuna e restauração do regime.

A I Internacional, ainda que tenha obtido importante avanço em aglutinar tanto ideias de diferentes correntes de pensamento quanto a representação de diversos sindicatos e partidos do movimento operário europeu, teve sua história marcada pelos conflitos, inicialmente entre ideias marxistas e proudhonianas25, posteriormente, entre marxistas e anarquistas26. Esses conflitos levaram à sua extinção em 1876.

No período que seguiu à dissolução da I Internacional, especificamente entre os anos de 1876 a 1889, o movimento trabalhista, de uma forma geral, foi crescendo de forma praticamente independente em cada país, mantendo pouco contato entre si, salvo por alguns congressos internacionais convocados por diferentes entidades.

Ao final do século XIX, o capitalismo adentra sua fase imperialista, numa tentativa de minorar os reflexos da crise de superprodução ocorrida entre os anos de 1873 e 1896 e que atingiu os países industrializados da Europa e aos Estados Unidos. Assim, iniciou-se uma tendência de concentração e centralização do capital, com a quebra de pequenas empresas e a participação de capital financeiro, representado pelos bancos de investimento, nos diversos ramos da economia.

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Pierre-Joseph Proudhon (1806-1865) foi um dos mais importantes teóricos do anarquismo, sendo considerado por Marx, porém, como um socialista utópico, pois acreditava não em uma revolução como meio de transformar a sociedade, mas sim em uma reforma social que seria viabilizada, necessariamente, por meio da organização sindical, negando a luta política e o enfrentamento violento entre as classes (ANTUNES, 1981).

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Representados por Mikhail Bakunin (1814-1876) e Piotr Kropotkin (1842-1921), o movimento anarquista abrangia diferentes tendências em seu interior, mas, podemos defini-lo, grosso modo, como um movimento que via os sindicatos como meio exclusivo para a emancipação social e o único instrumento capaz de levar à construção de uma sociedade anarquista, baseada na autogestão e na ausência de qualquer forma de administração de Estado (ANTUNES, 1981).

A expansão da produção demandava a busca por novos mercados, e o imperialismo (não restrito à esfera econômica, tendo forte caráter político e cultural) aparece como meio de obter não somente matérias-primas e insumos para a produção, mas também mercados consumidores para a produção industrial, proporcionando uma rápida e significativa expansão econômica na Europa, principalmente na Inglaterra, país responsável pela exportação de grande parte dos bens de produção, além de carvão, ferro e aço, para os demais países industriais, como França, Alemanha e Itália, além dos Estados Unidos. Prevalecia o capitalismo de livre concorrência, o laissez-faire, livre trânsito de capitais, sem qualquer interferência ou regulação externa, e as nações desenvolvidas repartiram entre si grandes porções do continente africano e asiático, fatores que, ainda que impulsionassem suas economias, geraram animosidade e conflitos que, mais tarde, culminariam em duas guerras mundiais.

Em 1889, em congresso realizado em Paris, as lideranças presentes decidiram estabelecer que a realização de congressos internacionais seria periódica e, não obstante esse fato ser o marco que estabeleceu a II Internacional, somente em 1900, durante um congresso realizado também em Paris, seria estabelecida uma constituição para a Nova Internacional Socialista, que iniciou uma campanha de alcance internacional pelo estabelecimento de uma jornada de trabalho de oito horas.

Duas datas importantes, declaradas em 1889 pela II Internacional e comemoradas ainda hoje, decorrem da luta pela redução do tempo de trabalho: o 1º de maio (dia do trabalho) e o dia 8 de março (dia internacional da mulher). Em 1º de março de 1886, milhares de trabalhadores foram às ruas em Chicago (EUA) para reivindicar melhores condições de trabalho, dentre elas, a redução da jornada de trabalho de treze para oito horas diárias e, nesse mesmo dia, houve uma greve geral dos trabalhadores americanos. As manifestações foram duramente reprimidas pela polícia: houve prisões, feridos e mortos em decorrência de conflitos com os manifestantes27. No dia 8 de março se comemora a luta das organizações femininas operárias da Europa e Estados Unidos que tinham entre suas bandeiras a redução da jornada de trabalho e o fim do trabalho infantil nas fábricas.

Miranda (2004), ao tratar do 1º de maio, aponta quão importante é lembrar-se daqueles que foram mortos, condenados à forca, pelo fato de estarem lutando pela

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redução da jornada de trabalho. Foram cinco trabalhadores grevistas: August Spies, Adolph Fischer, Albert Parsons, George Engel e Louis Lingg. Para o autor,

A princípio seria desnecessário lembrar o nome dos cinco operários condenados à forca, bastaria a referência ao fato que deu origem ao primeiro de maio (...).Operários condenados à morte; já foram tantos, assassinados em greves, deportados, massacres de camponeses... Em cada canto do mundo podemos encontrar exemplos semelhantes e dificilmente saberemos os nomes deles. (...) A classe pode ser referenciada no coletivo, mas é preciso conhecer

as pessoas que compõem a classe, seus gostos, desejos; essas pessoas têm nome e sobrenome. (...) É preciso conhecer suas motivações. Antes que a

memória de August Spies, Adolph Fischer, Albert Parsons, George Engel e Louis Lingg se perca, melhor repetir seus nomes, saber o porquê. Do contrário, o dia do trabalhador vai se transmudando para dia do trabalho, um feriado que as pessoas não sabem muito bem qual a origem (MIRANDA, 2004, p. 49, destaque nosso).

Na II Internacional, ainda que houvesse uma ideia comum central em torno do marxismo, havia divergências acerca do caminho a ser tomado para a transformação da sociedade capitalista burguesa, bem como da luta e participação políticas do proletariado no seu interior. Diferentes correntes divergiam sobre os efeitos da democracia burguesa na organização e luta da classe trabalhadora. Para Marx e Engels, a democracia seria uma etapa no processo de transformação social, caracterizando uma possível tensão na correlação de força em favor dos trabalhadores; sendo assim, a formação de um partido político operário seria importante para a mobilização e organização da classe:

Marx e Engels haviam sempre considerado a república democrática, ainda que claramente burguesa, como a antecâmara do socialismo, desde que permitia e até estimulava a mobilização política do proletariado como classe

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