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Breve Histórico da Produção Artesanal no Brasil

A.1 Teares (R IBEIRO , 1984)

2.2 Breve Histórico da Produção Artesanal no Brasil

Nos primeiros anos de colonização do Brasil, o estímulo ao desenvolvimento de oficinas artesanais partiu da necessidade de produzir objetos funcionais, e como consequência, a iniciativa se popularizou e multiplicou a presença de comunidades rurais e urbanas (MARTINS, 1973).

O artesanato no Brasil foi reconhecido formalmente a partir da década de 1950. Associado a uma atividade inferior, voltado para programas assistencialistas e de inclusão social e econômico, o artesanato esteve excluído do mercado nacional por um longo período de tempo. Mesmo com a criação de programas voltados para o setor, o pensamento em voga permanecia inalterado.

As primeiras iniciativas para a formalização do setor, a partir dos anos 1950, visavam duas linhas de raciocínio diferentes, porém complementares: educação e estruturação baseada no plane- jamento econômico. O pensamento educativo incentivava o desenvolvimento local, principalmente na zona rural, de forma a complementar a renda familiar. Para estruturar o setor, a capacitação dos produtores em parceria com órgãos públicos e pesquisadores de todo o País permitiram criar um padrão estético refinado (SERAINE, 2009) e, como efeito, impulsionou a conscientização da problemática do artesanato, difundindo suas ideias, abrindo mercados e fortalecendo os produtores elevando, assim, a um patamar de relevância econômica e social (PEREIRA, 1979).

Após esta iniciativa, diversos projetos semelhantes foram desenvolvidos regionalmente, em caráter experimental, de acordo com a atividade realizada. A criação do Instituto de Pesquisas e Treinamento do Artesanato (IPTA) em 1957, pesquisas do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) em 1958, assistência por parte do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Sergipe (CONDESE) nos anos 1960, experiências no Estado do Rio Grande do Norte, criação da ARTENE (Artesanato do Nordeste S/A) em 1961 e o Projeto de Assistência ao Artesanato Brasileiro (PAAB) também do ano de 1961 são amostras das tentativas de resgatar e difundir as técnicas artesanais para o País.

Cabe ressaltar que estes programas estavam concentrados na região Nordeste, e as primeiras manifestações em outros estados brasileiros aconteceram com objetivo de capacitar os artesãos do Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, com Fundação Gaúcha do Trabalho e a Obra Social Leste Um, respectivamente (PEREIRA, 1979).

lização regional, mesmo com limitações, iniciou o processo de delineamento do mercado artesanal brasileiro. Apontou caminhos, saídas, soluções e oportunidades de exploração do “novo” nicho de mercado.

Além de apresentar os produtos, os programas explicitaram as vertentes problemáticas do setor: econômico-financeira, tecnológica, comercial, gerencial e individual. A principal dificuldade no âmbito econômico é o investimento com recurso próprio, já que na maioria das vezes o artesão não possui o capital inicial necessário para o empreendimento. A tecnologia utilizada pelos artesãos ainda é de caráter rudimentar, e o acesso às informações, restrita. A presença de um intermediário e a logística ineficaz dificultam o acesso e distribuição dos produtos, portanto a comercialização se torna exclusivamente local (SERAINE, 2009).

Planejamento, gerenciamento e controle do processo produtivo também são considerados gargalos na produção artesanal. Finalmente, o aspecto psicológico e ambiente externo influenciam o indivíduo produtor, que, em razão dos resultados obtidos, prefere exercer sua atividade de maneira intermitente ao invés de permanente.

A mobilização regional e os objetivos de discutir e criar um planejamento integrado para revitalização das atividades artesanais estimularam o Primeiro Encontro Nacional de Artesanato (I ENA) no ano de 1975. Considerado o divisor de águas sobre o tema, o I ENA estimulou a criação do Programa Nacional de Desenvolvimento do Artesanato (PNDA), dois anos mais tarde (SERAINE,

2009).

O PNDA apresentou o Relatório e Proposta da Comissão Consultiva do Artesanato sobre Conceituação do Artesanato, para Efeito do PNDA e Caracterização Profissional do Artesão. Assim, considera-se artesanato um tipo particular de atividade, apoiado no tripé matéria-prima- processo produtivo-local de trabalho. Desta maneira, o artesanato passou a ser visto como um novo mercado, até então inexplorado, passível de inserção no mercado produtivo nacional e com atribu- tos para vislumbrar o mercado internacional.

Foi então que no ano de 1995, vinte anos após o PNDA e outras tentativas de programas para desenvolvimento do artesanato, surgiu o Programa Comunidade Solidária. Com projetos voltados para diversas áreas do conhecimento, inclusive a produção artesanal, esse programa tinha como objetivo investir em capital humano e social. Para o artesanato, especificamente, propunha a revita- lização do artesanato tradicional, ou seja, aquele ligado diretamente à comunidade e modo de vida

da população local, no qual o conhecimento é transmitido entre gerações e os padrões estéticos adotados são desenvolvidos dentro da comunidade (SERAINE, 2009).

Neste mesmo período, o SEBRAE (Serviço de Apoio à Micro e Pequenas Empresas) cria o Programa SEBRAE de Artesanato (PSA), atuante até os dias de hoje. Na visão do SEBRAE, o artesanato é uma atividade que gera renda e empregos, e como tal, requer tratamento empresarial. Por este motivo, utiliza estratégias como ampliação de oportunidades e acesso ao crédito e capital, formalização do setor, aumento da produção por meio do acesso à tecnologia e incentivo à inovação, formação do pensamento empreendedor dirigido aos artesãos, resgate de cultura e identidade local, educação ambiental e uso racional de recursos naturais e estabelecimento de estratégias, plano de negócios e ferramentas metodológicas para aumentar a competitividade.

Com o intuito principal de promover a ampliação da capacidade produtiva, o SEBRAE visa inserir conceitos de qualidade ao produto de modo a inseri-lo e mantê-lo no mercado. Para tanto, busca no trabalho com equipes interdisciplinares a criação de produtos diferenciados, que contem- pla desde a etapa de planejamento até a pós- venda.

Para o PSA, o artesanato é definido como:

“toda atividade produtiva que resulte em objetos e artefatos acabados, feitos manualmente ou com a utilização de meios tradicionais ou rudimentares, com habilidade, destreza, qualidade e criatividade”

SEBRAE (2004)

Em pesquisa realizada durante o ano de 2009, este setor no Brasil empregou 8.5 milhões de artesãos, com faturamento médio mensal de um salário mínimo, gerando arrecadação bruta de R$ 52 bilhões ao ano. Os dados coletados demonstraram que os artigos utilitários são a principal ca- tegoria da produção artesanal (69%), seguido de roupas (57%), admitindo que cada artesão produz mais de um tipo de produto. O faturamento médio dos últimos seis meses anteriores à pesquisa foi de R$ 10.127,14. Quando comparados dados de 2005 a 2010, é notável o crescimento contínuo da produção de roupas, e a produção de artigos utilitários é a categoria mais relevante do artesanato em geral (VOXPOPULI, 2010).

Esta pesquisa ainda mostrou que a mão-de-obra feminina é maioria (73%), presente majori- tariamente na Região Sudeste (78%), com idade entre 31 a 50 anos e com Ensino Médio completo. Outro dado da pesquisa diz respeito ao grau de associativismo, já que os não associados tendem a investir mais e faturar mais que os artesão associados à alguma entidade (VOXPOPULI, 2010).

No ano de 2007, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) desenvolveu o Sistema de Informações do Artesanato Brasileiro (SICAB), com objetivo de coletar informações necessárias para a implementação de políticas públicas para o setor. Assim, o sistema gera uma base de dados que permite o cadastro único dos artesãos brasileiros, emitindo a Carteira Nacional do Artesão e a Carteira Nacional do Trabalhador Manual para facilitar o acesso a cursos, feiras e eventos do Programa do Artesanato Brasileiro (MDCI/IPEA, 2012).

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