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Design For Environment (DFE) ou Projeto para o Meio Ambiente

A.1 Teares (R IBEIRO , 1984)

3.2 Design for X (DFX) ou Projeto para X

3.2.1 Design For Environment (DFE) ou Projeto para o Meio Ambiente

Desenvolvido a partir de uma visão holística, o Design for Environment (DFE), também de- nominado Design Verde (Green Design), Design Ambientalmente Consciente (Environmentally Conscious Design), Design do Ciclo de Vida (Life-Cycle Design) ou Design para Reciclagem (De- sign for Recyclability), tem como diretrizes a redução dos custos de manufatura, redução do des- perdício, satisfação da demanda dos clientes quanto à responsabilidade ambiental, novas fontes de recursos e lucro e estímulo à cultura de mudanças em uma organização (DAS, 2009). Telenko et al.

(2009) complementam com seis princípios da DFE: recursos sustentáveis, recursos limpos, redução de perdas e poluição, minimizar o consumo de recursos e materiais durante o uso, durabilidade dos produtos e componentes e processo end-of-life.

Como ferramenta de metodologia, a DFE auxilia na criação de produtos mais “verdes” du- rante as primeiras etapas de desenvolvimento, permite a integração de aspectos ambientais e gestão organizacional (TELENKO et al., 2009; DAS, 2009).

A aplicação da DFE tem como objetivo suprir os requisitos do fator sustentabilidade am- biental nas metodologias de projeto que não o contemplam. Platchek (2003) analisou diferentes metodologias concluiu que o tema é tratado superficialmente, quando não é totalmente negligenci- ado.

Marques (2008) exemplifica a inserção das variáveis ambientais nas fases de Projetação e Detalhamento, como mostra a figura 3.2.

Das (2009), ao esquematizar as etapas da DFE, permite a visão de três conjuntos comple- mentares de atividades. O principal conjunto parte da manufatura para o uso do produto, declínio e posterior descarte, deposição no ambiente, aquisição e processamento de matéria-prima para no- vamente iniciar o ciclo de manufatura. O segundo conjunto também parte da manufatura, uso e declínio do produto, sendo reciclado e retorna à manufatura. Finalmente, no terceiro conjunto, após a manufatura, uso e declínio têm-se o reuso, como mostrado na figura 3.3.

Figura 3.2: Variáveis ambientais na fase de Projetação e Detalhamento Fonte: Marques (2008)

Figura 3.3: Ciclo de Vida da DFE (adaptado e traduzido de Das (2009))

Nota-se, assim, uma clara referência ao Ciclo de Vida (CV) de um produto. A análise do ciclo de vida de um produto é um método comumente utilizado para quantificar o impacto ambiental que o produto gerará, desde a matéria-prima até o pós-uso (TELENKOet al., 2009).

Conforme afirma Marques (2008), o CV de um produto se inicia com a seleção de materiais, passando pela otimização da produção, que é transportada por um sistema eficiente, preza pela redução do impacto na fase de uso para, finalmente, atingir o fim da vida útil.

Para Baxter (2011), a análise do Ciclo de Vida (CV) é dividida em três etapas principais:

1. Descrição do CV para identificar materiais e energia;

2. Identificação dos custos e valores atribuídos a cada etapa do CV; 3. Identificação das oportunidades para melhoria.

O custo dos materiais e energia despendidos na produção representa uma significante propor- ção do custo total na manufatura. Para tanto, o DFE propõe uma redução na quantidade de materiais utilizados e desperdício dos mesmos ao evitar o redesign, seleção de materiais que possam ser re- ciclados após o descarte, adaptação de processos para menor consumo de energia e incorporação de novas tecnologias na produção.

Na DFE, por princípio, os refugos são considerados como um recurso não utilizado, e por este motivo, devem ser convertidos em outros produtos ou então evitados ao máximo nas etapas de produção.

O Ciclo de Vida (CV) de um produto, segundo Ullman (1997), é agrupado em quatro grandes áreas: desenvolvimento do produto, produção e logística, uso e end-of-life. O desenvolvimento do produto inicia-se com a identificação das necessidades, passa para o planejamento do projeto, desenvolvimento dos requisitos de engenharia, conceitos e produto. Já produção e logística visam à manufatura, montagem, distribuição e instalação.

O uso prioriza as operações para o uso e manutenção. Finalmente, as etapas de retirada do produto do mercado, desmontagem, reuso e reciclagem encerram o CV do produto.

Outra abordagem clássica para ciclo de vida é descrita por Kotler e Keller (2006) e mostrado na figura 3.4. A primeira fase, de introdução do produto, é um período de baixo crescimento de vendas e requer altos investimentos. Na etapa de crescimento, aumentam as vendas e surgem os concorrentes. A maturidade corresponde à estabilização das vendas, uma vez que os consumido- res foram conquistados. Finalmente, o declínio é a etapa de substituição do produto, retirada do mercado ou reposicionamento.

Figura 3.4: Curva do Ciclo de Vida do Produto Fonte: Kotler e Keller (2006))

A ISO 14000 é uma norma que avalia as consequências ambientais das atividades industriais. Baseada em indicadores ambientais, é possível estabelecer políticas e objetivos para um uso oti- mizado dos recursos naturais bem como o tratamento de efluentes gerados no processo produtivo

(MARQUES, 2008).

As normas 14000 têm como objetivos a padronização na abordagem da gestão ambiental a nível internacional, aumento do desempenho ambiental e medição de seus efeitos e favorecer o comércio ao eliminar barreiras dos imperativos ecológicos, como mostra a tabela 3.1.

Na década de 1990 o Conselho Mundial de Negócios para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD − World Business Council for Sustainable Development) emitiu discursou a respeito da conexão entre proteção ambiental, crescimento econômico e satisfação das necessidades humanas que gerou a ISO 14001 (MARQUES, 2008).

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Objeto de Estudo: Trançado Manual

A produção em massa de objetos para consumo imediato e a busca por novos materiais ge- ram impactos perceptíveis e imperceptíveis para o ambiente e sociedade, principalmente àqueles que, diretamente, subsistem de recursos naturais locais (FINKIELSZTEJN, 2006). Essa parcela da sociedade detém conhecimentos específicos sobre manejo, técnicas de transformação de matéria- prima e dinâmica do ecossistema, permitindo o desenvolvimento de sistemas econômicos, sociais e culturais compatíveis com o ambiente em que está inserida.

Estas comunidades apresentam, além do conhecimento e sistemas compatíveis com o am- biente (memória étnica), técnicas manuais passadas entre gerações (memória técnica). Entretanto, elas vêm perdendo progressivamente seu espaço pela substituição do conhecimento tradicional pelo tecnológico, pelo êxodo da população ou por falta de interesse das novas gerações em perpetuar o conhecimento (FINKIELSZTEJN, 2006; MELLO, 2001).

A perda das memórias étnica e técnica implica na extinção da sociedade, uma vez que a transmissão geracional se vê ameaçada pela crescente substituição do conhecimento tradicional pelo científico-tecnológico. Relativos à natureza e suas inter- relações, estes conhecimentos são parte do patrimônio compartilhado entre os indivíduos de uma sociedade, como forma de garantir a qualidade ambiental e preservação da biodiversidade (FINKIELSZTEJN, 2006).

A geração jovem quase sempre busca opções de trabalho fora de sua comunidade, fato que corrobora para a perda da prática artesanal e da tradição (FUNARTE, 1983). A perda, no caso específico do trançado manual, da transmissão do conhecimento sobre a natureza, matéria-prima e técnicas de construção do tecido é consequência da extinção do idioma e/ou do grupo e aculturação. Por este motivo, o resgate de tais técnicas e conhecimentos e posterior incorporação de novos materiais e tecnologias geram parcerias que beneficiam tanto a população local como também a indústria.

O trançado de fibras naturais tem sua origem e tradição indígena, sendo conhecida e praticada em diversas regiões do Brasil, passando pela zona rural, sertão, litoral até grandes centros urbanos. O trançar não se restringe às fibras naturais, utiliza-se qualquer material em fios, lâminas ou tiras.

para uso e conforto doméstico, trançados para caça e pesca, trançado para processamento da man- dioca, trançados para uso e adorno pessoal e trançado específicos para a venda. Nestes grupos são encontrados trançados básicos como mostrados na figura 4.1.

Figura 4.1: Trançado Arqueado (A), Costurado (B), Sarjado (C), Dobrado (D), Enlaçado (E), He- xagonal (F). Fonte: Ribeiro (1988)

A maioria dos trançados indígenas utiliza as folhas da palmeira para a confecção de pe- ças. Cipós, denominação genérica para plantas trepadeiras, bambus, taquaras, palhas de milho e cana-de-açúcar, cascas e entrecascas também são materiais passíveis de utilização no trançado e atividades análogas.

Esta atividade gera uma ampla gama de produtos, como a cestaria, termo que designa certa ordem das tranças. A abundância e facilidade de acesso às matérias- primas aliada à multiplici- dade de objetos utilitários e simbólicos permitiu o desenvolvimento de inúmeros produtos a partir do trançado manual, tais como esteiras, cestos, balaios, móveis, peneiras e abanos (FUNARTE, 1986).

As técnicas artesanais tradicionais que utilizam fibras naturais demonstram potencialidade de emprego em diferentes atividades. Uma das atividades análogas descrita por autores como Palave- cino (1984), Mello (2001), Pezzolo (2012) e Sato Duarte et al. (2012) é a tecelagem. O trançar de fibras naturais foi um dos primeiros recursos para proteção individual, e são raras as civilizações que não desenvolveram a tecelagem manual. Mesmo em civilizações nômades, fibras de origem animal, como a lã, eram base para a produção de tecidos (LAVERet al., 2003).

A técnica artesanal de produzir tecidos é um exemplo de conjunto complexo de serviços e etapas de trabalho. A diversidade de produção, técnicas de tecelagem e comercialização fornecem informações da realidade desta atividade no contexto brasileiro, que subsiste nos redutos familiares ou como forma de acabamento de produtos advindos da cadeia têxtil em geral (FUNARTE, 1983).

Esta técnica segue um modelo secular de trabalho, e partiu da demanda de patrocínio ou encomenda para a manutenção de padrões visuais, estéticos e formais como fundamentos na per- petuação do modelo.

O fio transforma-se em tecido por meio da tecelagem, em um processo similar à produção de esteiras na cestaria, pelo trançado manual. A diferença entre as duas atividades reside no fato de que o tecido é manufaturado com fibras fiadas, ao passo que o trançado manual consiste de material entretecido, de origem natural e flexível (FUNARTE, 1983).

As técnicas do trançado são muito semelhantes à base formal da tecelagem, constituída por trama e urdume, uma vez que no trançado as fibras horizontais e verticais se entrecruzam formando diferentes produtos, por meio da aplicação de técnicas simples ou elaboradas.

A subsistência e sistematização do processo produtivo fizeram com que diversos grupos de artesãos se organizassem de maneira espontânea ou com apoio de entidades públicas e privadas. Além disso, feiras de artesanato, no âmbito nacional, regional, estadual ou municipal, pontos de venda e outras formas de difusão demonstram a importância do tema no tripé sociedade-cultural- economia (FUNARTE, 1983).

4.1 Atividade Têxtil: Tecelagem

A tecelagem tem como objetivo transformar o fio em tecido, por meio de processos manuais e/ou industriais (RIBEIRO, 1984). São características da tecelagem a matéria-prima (fios) e o tear

utilizado (FUNARTE, 1983).

A classificação dos teares determina o tipo de tecido produzido, conforme Anexo A. Os teares podem ser manuais ou mecânicos, estes classificados em subgrupos de acordo com a inserção da trama (RIBEIRO, 1984).

O funcionamento do tear é calcado em quatro elementos essenciais: trama, urdume, cala e pente. Este equipamento permite o entrelaçamento ordenado dos conjuntos de fios a partir da inserção da trama, por meio da cala formada com o movimento alternado dos pentes, entre os fios de urdume, como mostra a representação esquemática da figura 4.2 (PEZZOLO, 2012). O urdume

(A) é colocado através do pente (D) e mantido em tensão constante. O movimento do pente gera a cala (E), uma abertura que permite a inserção (F) da trama (B), entrelaçando urdume e trama par formar o tecido (C).

Figura 4.2: Princípio do tear Fonte: Pezzolo (2012)

O ato de tecer é fazer com a trama passe sob ou sobre o urdume, elementos fundamentais para a formação do tecido plano. Por trama, entende-se os fios posicionados na horizontal, na transversal do tear (figura 4.3A). Já o urdume é caracterizado por um grupo de fios tensionados, posicionados paralelamente na posição vertical, ao logo do comprimento do tear (figura 4.3B). O entrelaçamento da trama e urdume configura a armação de um tecido, como mostrado na figura 4.4, com o ligamento básico, denominado tela ou tafetá (PEZZOLO, 2012).

Figura 4.3: Trama (A) e Urdume (B)

Figura 4.4: Representação gráfica Tela/Tafetá no papel técnico (A) e no tecido (B)

devem ser ou não marcadas de acordo com o desenho têxtil. Quando o urdume passa sobre a trama, tem-se o Ponto Tomado, que deve ser marcado como mostrado na figura 4.5 (RIBEIRO, 1984).

Figura 4.5: Representação do Ponto Tomado

Do contrário, quando o urdume passa sob a trama, não se marca a quadrícula, caracterizando o Ponto Deixado, conforme figura 4.6.

Figura 4.6: Representação do Ponto Deixado

Outras definições da construção do tecido são fundamentais para a presente pesquisa. Evolu- ção é o termo que designa o caminho percorrido por cada urdume ou trama ao se entrelaçar, como mostra a figura 4.7

Figura 4.7: Evolução

Por sua vez, a Base da Evolução apresenta ainda uma representação numérica, sob forma de 44

fração, em que se separam trama de urdume. Tanto na base de trama (b.t.) como na base de urdume (b.u.), a representação obedece à seguinte ordem da figura 4.8.

Figura 4.8: Base de Evolução

A representação do desenho têxtil é denominada Armação, em que são consideradas todas as evoluções da trama e urdume. A repetição do desenho em ambas as direções é denominada Base da Armação. Por fim, a delimitação dos fios de trama e urdume de uma Base de Armação é denominada Curso (BARUQUE-RAMOS, 2007; RIBEIRO, 1984).

Tendo como exemplo o tecido Tela, simplificam-se as definições supracitadas na figura Tabela 4.1: Representação do Tecido Tela

Tecido Tela

b.u = 1 1 b.t = 1 1

Tecido Armação Base da Armação Representação

Numérica

Os teares manuais são usados, principalmente, para produção artesanal e as operações são feitas manualmente ou com auxílio de pedais. Este tipo de tecelagem, no Brasil, assume carac-

terizações fortemente regionais, devido principalmente às tradições locais, organização social do trabalho e acesso à matéria-prima (FUNARTE, 1983).

Os tecidos são produzidos de acordo com suas funções, e por se relacionar diretamente com a tradição e expressão cultural e social de uma localidade, extrapola o caráter utilitário para atingir o simbólico. O processo produtivo e o produto final, estando condicionados a uma função, irão determinar sua ocorrência e possível continuidade (FUNARTE, 1983).

A tecelagem manual brasileira é pautada na tradição, e o ressurgimento desta atividade é fo- mentado por instituições públicas e privadas de cunho assistencial para incorporar a mão-de-obra ao mercado formal de trabalho. O esforço é direcionado para o desenvolvimento de uma atividade fora do eixo dos grandes centros comerciais, que permita a produção doméstica, gerando organi- zações associativas para, enfim, estimular o crescimento da produção sistematizada que sustente o vínculo com o fazer artesanal (FUNARTE, 1983).

No Brasil, esta atividade é encontrada, principalmente, em polos rurais e interioranos e sua comercialização está condicionada às necessidades do uso doméstico ou pelo status sociocultural. Por outro lado, o interesse de feiras, mercados e lojas revela a atuação crescente em mercados antes inexplorados, devido principalmente ao fenômeno da Moda.

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