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4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA ESTUDADA

4.1 Breve histórico de ocupação da área urbana de Ouro Preto

A ocupação da região de Ouro Preto teve inicio nas primeiras décadas do século XVIII, coincidindo com o auge da corrida do ouro. Foi rápida, principalmente junto aos córregos de exploração de aluvião e nos morros de maior ocorrência aurífera (SOBREIRA & FONSECA, 2001).

Dados da Fundação João Pinheiro (1975) mostram que o período de 1730 a 1765 foi marcado por início do declínio do ouro, consolidação e expansão da malha urbana e implantação do centro administrativo na atual Praça Tiradentes. Na mesma época, foram implantados a Casa de Câmara e Cadeia, atual Museu dos Inconfidentes, e o Palácio dos Governadores, onde atualmente funciona a Escola de Minas da UFOP. De 1765 a 1900 a cidade passou por um período de declínio e de estagnação econômica.

De acordo com Pinheiro et al. (2003), no início do século XVIII, Ouro Preto já enfrentava problemas com deslizamentos de encostas na região urbana, devido à má utilização do meio físico, principalmente pela atividade predatória da mineração. No início da ocupação, a população se estabeleceu nos poucos espaços planos existentes, como o topo das colinas a meia encosta, cume dos morros e vales mais largos, onde está situada a maioria das igrejas e construções históricas da cidade (CARVALHO, 1982).

Em 12 de dezembro de 1897, a capital do Estado de Minas Gerais foi transferida para Belo Horizonte. Com o continuo declínio das atividades auríferas devido à exaustão das reservas de ouro economicamente lavrável e a falta de tecnologias para extração do minério, gerou-se um esvaziamento da cidade. A principal consequência foi a evasão da população da periferia e a preservação da paisagem e das características básicas do conjunto arquitetônico colonial, que inclui várias igrejas, capelas, prédios civis e militares de grande porte e instalações urbanas de outras épocas (SOBREIRA e FONSECA 2001).

Pela Figura 4.2, pode-se observar a evolução da ocupação urbana de Ouro Preto de 1698 a 1940, destacando a presença de antigas capelas representadas atualmente pela Igreja de Nossa Senhora do Pilar, Igreja de Nossa Senhora da Conceição e Capela de

Figura 4.2: Ocupação urbana em Ouro Preto (MG) entre 1698 e 1940. Fonte: Oliveira (2010).

A partir de 1900, iniciou-se a ocupação em direção ao Ribeirão do Funil, no entorno da estação ferroviária e nas encostas do Morro do Cruzeiro. Em meados de 1940, Ouro Preto iniciou uma fase de recuperação econômica impulsionado pela Fábrica de Alumínio da Alcan (Alumínio do Brasil) que trouxe consigo mudanças significativas no espaço físico da cidade, recebendo, principalmente, trabalhadores de baixa renda, que contribuíram para o aumento populacional na cidade. De acordo com Cifelli (2005), essas pessoas começaram a ocupar áreas adjacentes ao núcleo urbano, que se encontrava praticamente todo ocupado. A conseqüência foi o aumento no número de movimentos gravitacionais de massa com a perda de vidas humanas em alguns casos (BONUCCELI & ZUQUETTE, 1999).

(REZENDE, 2011). O aumento da população total girou em torno de 35%, sendo caracterizado por acréscimo de 60% na concentração urbana (FJP, 2003).

Buscando melhor visualização da ocupação urbana e da dinâmica populacional de Ouro Preto, Oliveira (2010) realizou a análise temporal de fotografias aéreas, ortofotos e imagens de satélite. Como resultado de seu trabalho, apresentou graficamente a dinâmica populacional, de 1698 a 2004. Pela Figura 4.3, pode-se observar a dinâmica populacional e o uso e ocupação do solo de Ouro Preto, a partir da década de 50.

De acordo com Oliveira (2010), a área urbana, em 2004, correspondia a um total de 687 hectares. Devido ao esgotamento de áreas para ocupação, a expansão da cidade ocorreu principalmente nas margens da MG-356, com os Bairros Novo Horizonte, Nossa Senhora do Carmo e Lagoa, como se observa na Figura 4.4.

As transformações sofridas pela cidade, o aumento da população, os assentamentos urbanos crescentes e a falta de políticas públicas interferiram de maneira acelerada e intensa na estabilidade das encostas, causando graves problemas de movimentos de massa, principalmente escorregamentos nos períodos chuvosos, como os ocorridos em 1967, 1979, 1989, 1995 e 1997, com registro de vítimas fatais (SOBREIRA & FONSECA, 2001).

Devido à carência de planejamento e fiscalização urbana e ambiental que a cidade de Ouro Preto apresenta, vêm sendo suprimidas importantes áreas verdes, algumas das quais protegidas. Rezende (2011) relata que algumas áreas urbanas estão localizadas bem próximas às unidades de conservação, ocupando boa parte da zona de amortecimento dessas áreas protegidas, como o Parque Estadual do Itacolomi, a Estação Ecológica do Tripuí e a Área de Proteção Ambiental da Cachoeira das Andorinhas.

Ocupação urbana em antigas áreas de mineração.

Os levantamentos e estudos das características da mineração do ouro nos séculos XVIII e XIX, na Serra de Ouro Preto, apontam que essas áreas guardam registros das atividades passadas, como ruínas, escavações subterrâneas, buracos de sarilho, mundéus, canais de condução de água e até artefatos usados no processo de extração do ouro (CAVALCANTI et al., 1997). Segundo Oliveira (2010), esses sítios históricos vêm sofrendo grande pressão por causa da ocupação urbana desordenada, acarretando degradação do patrimônio arqueológico e, sobretudo, instabilidade dos terrenos já alterados pela mineração e favorecendo inúmeros riscos para as populações instaladas.

Na maioria das vezes, essas áreas de ocupação, em consequência da utilização passada, apresentam características morfológicas e geotécnicas desfavoráveis, gerando um quadro problemático no que se refere à segurança da população e das estruturas presentes (PINHEIRO et al., 2003).

De acordo com Oliveira (2010), somente 0,29% das áreas mineradas, em 1950, se encontravam ocupadas. Em 2004, a área ocupada pela população passou a representar 15,7% das antigas áreas de mineração, como se pode observar pela Figura 4.5, a seguir.

As consequências da urbanização desordenada são notadas até hoje, com alterações nas formas das encostas, alteração da rede de drenagem, formação de grandes depósitos de detritos e blocos rochosos a meia encosta, criação de taludes íngremes e instáveis e desencadeamento de processos erosivos acelerados (SOBREIRA, 1990).