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Este estudo analisa, através do geoprocessamento, as APP e, de modo geral, o uso do solo do perímetro urbano de Ouro Preto, destacando-se os parâmetros relacionados às tipologias das áreas verdes (vegetação herbácea, vegetação arbustiva, vegetação arbórea e área reflorestada com eucalipto) e as áreas urbanizadas (solo exposto, arruamento e área construída). Assim, identifica e quantifica as APP e os indicadores sociais e ambientais, como população, densidade populacional, porcentagem de áreas verdes e índice de áreas verdes por setores censitários.

A fotointerpretação das imagens aéreas QuickBird 2003 e 2006 mostra-se útil e eficiente na classificação do uso do solo proposta e, integrada ao sistema de informações geográficas (SIG), possibilita a combinação de vários planos de informações relacionadas ao meio físico, como declividade, hidrografia e geomorfologia, bem como as diferentes tipologias vegetacionais. Além disso, permite identificar, com base na legislação, um total de 19,37 km2 de APP inseridos no perímetro urbano de Ouro Preto, representando 69% da área total.

Com análise das imagens pelo programa Arcgis 9.3, delimitou-se a área estudada (perímetro urbano), que compreende 27,9 km2, dos quais 14,5 km2 estão distribuídos entre os 38 bairros e 13,3 km2 são áreas verdes não ocupadas, localizadas no perímetro urbano, porém situadas fora dos bairros. O perímetro urbano de Ouro Preto apresenta 24% (6,69 km2) de áreas antropizadas e 76% (21,09 km2) de áreas verdes.

O programa Arcgis 9.3 mostra-se eficiente para a realização da fotointerpretação, vetorização e quantificação das tipologias de uso do solo adotadas e para a aplicação de legislação relacionada às APP inseridas no perímetro urbano de Ouro Preto, além de apresentar fácil comunicação com outros programas, facilitando a análise e tratamento dos dados obtidos.

Com relação às APP relacionadas à hidrografia, merecem atenção especial os Bairros Morro de São Sebastião, Morro da Queimada, Santa Cruz, Nossa Senhora do

disciplina na urbanização, é preciso proteger os mananciais de recarga e abastecimento público municipal. Vale destacar que essas drenagens são importantes para formação da Bacia do Rio Doce, de que depende o abastecimento de várias cidades dos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo.

As maiores APP do perímetro urbano de Ouro Preto são as de topos de morro, inseridas nos Bairros Morro de São Sebastião, Morro do Cruzeiro, Vila Itacolomi e Morro da Queimada. No Bairro Morro do Cruzeiro, está praticamente ocupada toda a área da APP. Nos outros bairros citados, é importante projetar melhor a urbanização, evitando problemas, como deslizamento, erosão e assoreamento dos corpos d’água.

As maiores APP relacionadas aos terrenos com declividade superior a 45° localizam-se na Serra de Ouro Preto, nos Bairros Morro de São Sebastião, Morro da Queimada, Santa Cruz e Padre Faria. O Bairro Padre Faria assenta-se quase totalmente nessas áreas, protegidas por lei. Contudo a parte que ainda não foi ocupada deve receber atenção especial do Poder Público municipal, no intuito de preservá-la e/ou recuperá-la, além de acompanhar com mais cautela a urbanização.

Com relação às áreas definidas em outros estudos como propicias à expansão urbana, sugere-se que sejam elaborados projetos de verticalização de algumas delas, para melhorar a utilização dos espaços, principalmente daqueles que não representam impactos na paisagem e no patrimônio histórico e arquitetônico da cidade.

Ainda com relação à expansão urbana, os Bairros Lagoa, Passa Dez de Cima, Passa Dez de Baixo, Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora de Lourdes apresentam áreas mais propícias, porém deve haver planejamento e execução de forma correta, para que a urbanização não degrade as APP que ainda existem.

A região norte do perímetro urbano de Ouro Preto deve ser orientada e disciplinada, por apresentar um risco maior na Serra de Ouro Preto, onde as atividades de antigas minerações foram mais intensas. Além de apresentar vertentes acentuadas, a geologia e geotecnia são desfavoráveis à ocupação em muitos aspectos. Portanto deve também receber atenção especial do Poder Público municipal, priorizando-se a preservação das áreas legalmente protegidas, com o intuito de evitar maiores problemas, principalmente os

A aplicação dos indicadores socioambientais (população, DP, PAV e IAV) mostra- se como mais uma ferramenta para guiar o planejamento urbano, indicando áreas altamente povoadas ou áreas com pouco verde e ajudando, de maneira geral, a visualização as condições de ocupação das APP.

O IAV se mostra eficiente para apresentar as condições ambientais e de vida da população local, principalmente para os setores censitários, porém a falta de consenso em relação ao termo “áreas verdes” e a falta de critérios para categorização prejudicam as comparações com os IAV de outras regiões.

Os piores valores de DP, PAV e IAV encontrados foram para os setores censitários 14, 30, 38 e 39, caracterizados como os mais críticos da cidade. O setor censitário 30 é formado por uma porção do Bairro São Cristóvão e apresenta a maior densidade populacional da cidade, com 17.000 hab./km2, valor que influencia diretamente na disponibilidade de áreas verdes (14,15%) e reflete no baixo IAV, com 9,19 m2 área verde/habitante. O setor censitário 14 representa uma porção do Bairro Alto da Cruz e os setores 38 e 39 estão situados no Bairro Vila Itacolomi, onde se deve intensificar a fiscalização quanto ao uso do solo e planejar melhor o crescimento futuro, uma vez que nele estão os 2 setores censitários com os piores valores de indicadores socioambientais (DP, PAV e IAV).

Ouro Preto deveria efetivamente fazer cumprir a Lei Municipal Complementar n.º 93, que estabelece normas e condições para o parcelamento, a ocupação e o uso do solo, fiscalizando as áreas verdes e cuidando delas. São 19% (3,70 km2) das APP do perímetro urbano. São áreas que, embora, por imposição legal, devam ser mantidas intactas, se encontram antropizadas, demonstrando falta de fiscalização e indisciplina na ocupação e uso do solo.

Observa-se ainda que 40% dos 81% de áreas verdes remanescentes se encontram com vegetação herbácea sinalizadora da alta pressão antrópica que vêm sofrendo. Portanto se apresenta mais um motivo para redobrar a fiscalização quanto ao uso e ocupação do

O Poder Público municipal deve, em caráter de urgência, planejar e orientar a ocupação dos espaços, visto que as áreas construídas representam 18% das APP relativas à declividade, 10% das APP relativas aos topos de morro, 9% das APP relativas a nascentes e rios e 12% das APP relativas a lagoas, o que constitui risco potencial para a população, resultado da negligência e condescendência no que se refere à permissão de ocupação dessas áreas.

A recuperação das áreas verdes inseridas na malha urbana, principalmente as matas ciliares dos rios e córregos, favoreceria o surgimento de pequenos corredores ecológicos, ajudando na preservação da biodiversidade, das paisagens e da água, otimizando o desempenho das funções ecológicas, gerando melhores condições de vida para a população e contribuindo para a melhoria de todo o ecossistema urbano.

O Plano Diretor do Município de Ouro Preto (OURO PRETO, 2006) está coerente com o ponto de vista deste estudo, pois considera em suas diretrizes os elementos do meio físico, como geologia, topografia, recursos hídricos, e os elementos do meio biótico, como a flora e fauna, na política de expansão urbana e de parcelamento, uso e ocupação do solo. A Lei Municipal Complementar n.° 93 (Ouro Preto, 2011) é clara sobre as proibições e permissões no parcelamento de terrenos, principalmente em termos de declividade e hidrografia.

Outros trabalhos poderiam empregar modelos de simulação para ambientes urbanos onde todas essas variáveis e outras poderiam ser utilizadas para a previsão de cenários futuros. Seria interessante o gestor público considerar também aspectos de infraestrutura, como vias de circulação (faixa de domínio das rodovias e ferrovias), abastecimento de água, serviços de esgoto, energia elétrica, coleta de águas pluviais. Com o método utilizado neste trabalho, auxiliado pela modelagem matemática, o planejamento da cidade teria mais um suporte para apoiar as decisões.

Espera-se, pois, que os resultados desta pesquisa possam ser efetivamente utilizados pelo Poder Público municipal, estadual e federal, nas deliberações quanto ao planejamento urbano.