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Em que pese a preocupação com a criação de um ramo do direito exclusivamente voltado ao meio ambiente seja relativamente recente, datando do período pós-Segunda Guerra Mundial 407, a normatização de regras relativas ao meio ambiente é antiga. Desse modo, inobstante haja um Direito Ambiental cuja existência é concomitante às Constituições contemporâneas 408 – o que se deve, em boa parte, à tomada de consciência da humanidade quanto à finitude dos recursos naturais e sua importância para nossa própria subsistência – a disposição de regras protetivas sobre matéria ambiental, ainda que timidamente, remonta à colonização do Brasil.

Desde as Ordenações Manuelinas e Afonsinas já se desenhava uma sutil ideia da imoralidade constante da caça de certos animais (perdizes, lebres e coelhos) e do corte de árvores frutíferas, tipificando-se tais condutas como crime e sujeitando o agente a penas gravíssimas.

José de Castro Meira, em artigo sobre o Direito Ambiental, sintetiza as primeiras nuances positivadas na legislação brasileira, atinentes à preservação de recursos naturais, da fauna e flora brasileira:

A primeira lei de proteção florestal teria sido o Regimento do Pau- Brasil, em 1605: exigia autorização real para o corte dessa árvore. Uma Carta Régia de 13 de março de 1797 preocupava-se com a defesa da fauna, das águas e dos solos. Em 1799, surgiu nosso primeiro Regimento de Cortes de Madeiras que estabelecia rigorosas regras para a derrubada de árvores. Em 1802, por recomendação de José Bonifácio, foram baixadas as primeiras instruções para                                                                                                                          

407

Em consonância com o disposto: “é a crise ambiental, acirrada após a Segunda Guerra, que libertará forças irresistíveis, verdadeiras correntes que levarão à ecologização da Constituição, nos anos 70 e seguintes”. BENJAMIN, Antonio Herman. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato (Org.). Direito Constitucional Ambiental Brasileiro. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p.79.  

408

Em decorrência da Declaração de Estocolmo, elaborada em 1972, durante a Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente.  

reflorestar a costa brasileira. Em 1808, foi criado o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, como uma área de preservação ambiental, considerada nossa primeira unidade de conservação, destinada a preservar espécies e estimular estudos científicos. D. João VI expediu a Ordem de 9 de abril de 1809, que prometia a liberdade aos escravos que denunciassem contrabandistas de pau-brasil, e o Decreto de 3 de agosto de 1817, que proibia o corte de árvores nas áreas circundantes do rio Carioca, no Rio de Janeiro. Ainda José Bonifácio, nomeado Intendente Geral das Minas e Metais do Reino, solicitou à Corte o reflorestamento das costas brasileiras, sendo atendido 409.

Durante o império outras normas advieram reforçando os moldes até então traçados. Nesse sentido, destaca-se a primeira Lei de Terras do Brasil (Lei nº 601/1850), que previa pena de prisão, multa e reparação do dano causado aos posseiros de terras devolutas que as desmatassem, além de sanção de natureza civil, relativa ao despejo e perda de benfeitorias. Avançava a legislação estabelecendo, no parágrafo único do art. 2º, a possibilidade de responsabilização (multa), por negligência, das autoridades encarregadas do conhecimento desses delitos, caso não empreendessem o cuidado esperado no processamento e punição de tais crimes. Ademais, como observa José de Castro Meira, “para a legitimação da posse, exigia-se ‘princípio de cultura’, não se considerando tal os simples roçados, derrubadas ou queimas de matos ou campos” 410.

Art. 2º Os que se apossarem de terras devolutas ou de alheias, e nellas derribarem mattos ou lhes puzerem fogo, serão obrigados a despejo, com perda de bemfeitorias, e de mais soffrerão a pena de dous a seis mezes do prisão e multa de 100$, além da satisfação do damno causado. Esta pena, porém, não terá logar nos actos possessorios entre heréos confinantes.

Paragrapho unico. Os Juizes de Direito nas correições que fizerem na forma das leis e regulamentos, investigarão se as autoridades a quem compete o conhecimento destes delictos põem todo o cuidado em processal-os o punil-os, e farão effectiva a sua responsabilidade, impondo no caso de simples negligencia a multa de 50$ a 200$000 411

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409 MEIRA, José de Castro. Direito Ambiental. Informativo Jurídico da biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v. 19, n. I, p. 11-23, jan./jun. 2008. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/

publicacaoseriada/index.php/informativo/article/download/50/54>. Acesso em: 29 abr. 2013.  

410

E, na sequência: “Como bem observa PEREZ DE MAGALHÃES, esse princípio não foi consagrado na ocupação da Amazônia. Os ocupantes ali promoviam, de imediato, um desmatamento, plantavam alguma coisa e, em seguida, pediam o reconhecimento pelo Governo, na execução do PIN – Programa de Integração Nacional, hoje reconhecido como um dos grandes responsáveis pela devastação da Amazônia. ”Ibidem. Acesso em: 29 abr. 2013.  

411 BRASIL. Presidência da República Federativa do Brasil. Disponível legislação eletrônica Lei de

Terras – Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850, em:

Com o advento do período republicano, em 1889, várias alterações sucederam no sistema jurídico brasileiro. Merecem destaque, dentre os instrumentos e normas criados, inicialmente, o Convênio de Egretes – que garantia a preservação de garças na região da Amazônia – subscrito em Paris pelo Brasil, em 1895; a criação da primeira reserva florestal brasileira, no território que, à época, correspondia ao estado do Acre, adveio por meio do Decreto nº 8.843, de 26 de junho de 1911; em 1921, deu-se a criação do Serviço Florestal do Brasil, que, após algumas alterações, evoluiu para o que conhecemos hoje por Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA 412; além disso, inúmeras leis foram editadas, muitas delas ainda vigentes e, a respeito das quais, comentar- se-á oportunamente.