• Nenhum resultado encontrado

PARA A EXECUÇÃO PENAL

2. Breve histórico

No transcurso do desenvolvimento do Projeto Eurosocial1, no ano de 2004, alguns países Latinos Americanos, membros fundadores do Consórcio EUROsocial/Educação, discutiram a possibilidade de introdução de outras temáticas que melhor pudesse responder suas necessidades e expectativas. O Ministério da Educação do Brasil, por meio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade – SECAD/MEC propôs que se introduzisse a temática da educação no contexto de encarceramento como uma das temáticas substantivas do Consórcio. A participação, o interesse e os esforços do Brasil foram fundamentais para impulsionar essa temática ao longo de um ano e meio no Projeto EUROsocial/Educação.

Como desdobramento dessa proposta, em junho de 2006, teve lugar em Cartagena de Índias (Colômbia), o primeiro encontro de Redes EUROsocial. Dentro deste marco, se organizaram as sessões de trabalho próprias do setor EUROsocial/Educação compostas por sessões plenárias e trabalhos temáticos, modulados ao redor dos cinco temas substantivos do Projeto: justiça, educação, saúde, fiscalização e emprego. Participaram dessa Temática – Educação nas Prisões – os representantes dos Ministérios da Educação da Argentina, Chile, Bolívia, Brasil, Honduras e Nicarágua.

Nesse encontro, as propostas de ações de intercâmbio foram acordadas de maneira consensual pelo conjunto dos participantes, com o objetivo de iniciar um processo reflexivo e estratégico de criação da Rede Latinoamericana

1 Eurosocial é um programa de cooperação técnica da União Européia que objetiva contribuir na promoção da coesão social na América Latina através do fortalecimento de políticas públicas e da capacidade institucional para executá-las. Seu método principal de trabalho é o intercâmbio de experiências, conhecimentos e boas práticas entre administrações públicas européias e latinoamericanas em cinco setores/consórcios prioritários: justiça, educação, saúde, fiscalização e emprego. Esse programa parte do princípio de que é possível contribuir para melhorar a eficácia e a eficiência das políticas públicas como mecanismos geradores de coesão social através da sensibilização dos lideres políticos e dos intercâmbios de experiências entre funcionários públicos europeus e latinoamericanos com capacidade de tomar decisões. A finalidade principal dos intercâmbios de experiência é a introdução de orientações, métodos ou procedimentos inovadores de gestão que têm sido utilizados em outros países.

especializada no tema “Educação nas Prisões”2.

Decidiu-se, como estratégia inicial, uma visita de estudos, no período de 17 a 27 de outubro de 2006, a três países da Europa – França, Grécia e Irlanda – com o objetivo de conhecer suas experiências no contexto da execução penal. Dentre os países representados, estiveram presentes: Brasil, Argentina, Chile, Uruguai, Honduras, México, Colômbia e El Salvador.

2.1. Da visita de Estudos à União Européia

No contexto do Projeto EUROsociAL, as visitas objetivaram subsidiar a organização da Rede Latinoamericana de Educação em Prisões e contou com a articulação, na etapa inicial, da Associação Européia de Educação nas Prisões – EPEA (European Prison Education Association).3

A EPEA é reconhecida pelo Conselho da Europa como uma organização não-governamental que tem como objetivo principal promover a educação nas prisões. Dentre suas principais ações, a cada dois anos, organiza com o Ministério da Justiça Europeu uma conferência internacional sobre o tema4.

A metodologia de trabalho valeu-se das seguintes etapas: (1) conhecer o contexto Europeu de educação em prisões; (2) observar e analisar práticas concretas; (3) formar um grupo de trabalho visando consolidar a Rede Latinoamericana.

Em seqüência, foram realizadas reuniões de trabalhos que permitiram que o grupo tomasse contato com as autoridades do Centro de Investigações Pedagógicas da França – CIEP (coordenador do Projeto EUROsociAL/Educação) para planejamento das seguintes atividades: (a) seminários com o grupo de trabalho da América Latina e distintos atores sociais europeus que atuam com a temática de educação nas prisões, participando, principalmente, representantes da França, Noruega, Irlanda, Grécia e Espanha; (b) visitas às prisões masculinas, femininas e de jovens; (c) encontros com equipes de docentes, servidores penitenciários, funcionários do Ministério da Educação e do Ministério da Justiça, homens e mulheres em situação de privação de liberdade, além de equipes de Organizações Não Governamentais que atuam dentro do Sistema Penitenciário e de Centro de Reinserção Social.

2 A partir das discussões implementadas pelo grupo de trabalho que participou diretamente da implementação da Rede, identificou-se que, a luz do que vem sendo discutido em alguns países da América Latina, seria de fundamental importância que o projeto utilizasse como tema não a educação nas prisões, mas sim “educação de jovens e adultos em espaços de privação de liberdade”. Neste sentido, opta-se por compreender que a Rede amplia sua perspectiva de atendimento, levando-se em consideração não só os jovens encarcerados, mas também os cumprindo medidas socioeducativas. Maiores informações, acessar o site: (www.redlece.org).

3 Associação existente na Europa que congrega 34 países, possuindo mais de 800 (oitocentos) membros. Para maiores detalhes, consultar o site: (www.epea.org.ue).

3. Diagnóstico dos países Europeus5

O Sistema Prisional Francês possui aproximadamente 52 mil presos (sendo 12 mil somente em Paris) distribuídos em 28 (vinte e oito) centros de detenção. Em 1815 é que se iniciam as primeiras experiências educativas no cárcere francês, mas somente a partir 1985, o Ministério da Justiça se associou efetivamente ao Ministério da Educação para promover a educação nas unidades prisionais e em 1995 foram criadas as Unidades Pedagógicas Regionais.

Em 2006, período da visita, o sistema francês atendia cerca de 6 mil internos estudando durante todo o ano em atividades de educação básica e secundária. A formação profissional, ao contrário de outros países, fica a cargo do Ministério do Emprego. Em relação à ocupação pelo trabalho, algumas empresas oferecem atividades nas prisões, contudo, questionam-se os baixos salários pagos aos internos.

O sistema prisional francês inicialmente previa a remição tanto pelo trabalho quanto pelo estudo. Hoje, não acreditando mais no êxito de tais bonificações, extinguiram tal proposta, prevendo a remição seguindo outra orientação. Para efetivamente remir, os internos penitenciários não só precisam estudar e trabalhar, mas também demonstrar comportamento adequado que justifique a recomendação do corpo técnico para a redução da pena. Em linhas gerais, os internos passam por avaliações periódicas que possibilitam ou não a sua remição.

O Sistema Prisional Espanhol possui aproximadamente 63 mil pessoas presas, sendo 92% do sexo masculino e 8% do feminino. A primeira experiência no país com educação nos presídios remonta ao ano de 1864. Hoje no país existem 77 (setenta e sete) centros penitenciários distribuídos nas 52 (cinqüenta e duas) comunidades autônomas da Espanha. A gestão e administração das unidades penais dependem da Direção Geral de Instituições Penitenciárias do Ministério do Interior. As áreas de intervenção educativa compreendem: educação formal, educação não formal6 e oficinas produtivas7.

Na política educacional espanhola para os jovens e adultos privados de liberdade8 estão previstos todos os níveis educativos oficiais: primário, secundário, formação profissional e estudos universitários. Os três primeiros são gratuitos e para os estudos universitários há um sistema de cotas bastante amplo.

É importante salientar que um grande número de projetos educacionais é coordenado por Organizações Não Governamentais9. A Espanha também possui

5 Dados referentes ao ano de 2006 sistematizados a partir das intervenções dos representantes dos países Europeus.

6 Consisti na formação profissional e ocupacional, além de diversos programas educativos e culturais.

7 Além de uma formação para desempenhar atividades produtivas, o interno recebe salário e garantias da Seguridade Social como qualquer outro trabalhador no mundo livre.

8 As unidades educativas no cárcere são consideradas Centro de Educação Permanente de Adultos – CEPAS.

experiências com ensino superior a distancia em algumas unidades prisionais através da Universidade Nacional de Educação a Distância – UNED, oferecendo 26 (vinte e seis) cursos em todas as áreas de conhecimento.

O Sistema prisional Norueguês possui aproximadamente 3 mil internos10

distribuídos em 47 (quarenta e sete) unidades prisionais e 34 (trinta e quatro) escolas com capacidade para 964 alunos. Por não possuir vagas para todos nas escolas, possuem uma grande lista de espera.

Desde 1969 o Ministério da Educação passou a se responsabilizar pela educação nas prisões e mantém cerca de 200 professores atuando dentro do sistema penitenciário. As escolas, ao contrário de alguns países europeus, são da comunidade e mantém a sua administração extra-muros. Por estarem próximas das unidades penais, passam atender também os internos penitenciários nas respectivas unidades.

Os profissionais da educação que atuam nas Unidades Penais passam por um processo de formação e recebem uma remuneração diferenciada. Todos os internos-alunos também recebem uma remuneração de bonificação e incentivo por estarem estudando. A sua ausência às aulas é descontada do valor a receber.

Na experiência norueguesa, os agentes penitenciários são considerados como trabalhadores sociais. Neste sistema, existem 10 (dez) “Centros de Seguimento” responsáveis pelo atendimento dos egressos, principalmente para garantir que tenham um lugar para viver e que continuem a educação nas escolas extramuros após a sua liberdade.

O Sistema Prisional Irlandês possui aproximadamente 3 mil apenados distribuídos em 14 (quatorze) unidades prisionais na República da Irlanda com 13 (treze) escolas instaladas nas prisões11. Possui 210 professores totalmente dedicados a educação no cárcere, sendo, destes, 180 empregados do Departamento de Educação do sistema penitenciário irlandês.

A educação nas prisões na Irlanda é promovida pelos Comitês Locais de Educação, pela Universidade Aberta – com experiências de ensino superior à distância, pelo Conselho de Arte e pelo Colégio Nacional de Arte e Desenho.

A participação dos internos nas atividades educativas é voluntária. Efetivamente, 58% dos presos do sistema participam de atividades educativas. Baseada na filosofia de “educação de adultos” igual a extra-muros, contam também com oficinas de arte (artes visuais, música, teatro, fotografia, pintura) e oficinas de trabalho (carpintaria, serralheria e horticultura). Desenvolvem também atividades educativas especiais para os internos que estão prestes a ganharem a liberdade.

10 Deste total, 5% são do sexo feminino distribuídas em 5 (cinco) unidades específicas.

O Sistema Prisional Grego possui aproximadamente 10 mil internos jovens e adultos distribuídos em 30 (trinta) unidades prisionais. Destas 4 (quatro) escolas se encontram nas unidades para internos adultos, enquanto para os internos jovens, todas as unidades possuem escolas.

No sistema de privação de liberdade grego, possui unidades especiais para jovens na faixa etária de 14 a 21 anos. Caso esteja incorporado a processo educativo, pode ficar na mesma unidade até os 25 anos, não sendo transferido para uma prisão de maiores.

A política educacional intra-muros iniciou-se na Grécia em 1995 e, até então, vem sendo realizada através de convênio entre o Ministério da Educação (responsável pela parte pedagógica) e o Ministério da Justiça (responsável pela infra-estrutura das instalações).

Em 2003 inaugurou-se a escola com ensino secundário para jovens com proposta pedagógica totalmente igual a extra-muros, experiência que anteriormente era realizada por voluntários nas unidades.

Em 2004 foram criadas as “Escolas de Segunda Oportunidade” nas três maiores prisões gregas (escolas específicas fundamentadas em sistema educacional para adultos). Por lei, na Grécia, os adultos podem sair para participar de atividades educativas fora da prisão. O Ministério da Justiça é responsável, nestes casos, por todos os custos de transporte.

O sistema prisional grego também prevê a redução de pena tanto pela educação quanto pelo trabalho e tem valorizado a arte como elemento fundamental no processo educativo.

Os profissionais que atuam nas escolas dentro das unidades não costumam passar por capacitação específica, nem tão pouco recebem gratificações para atuarem no sistema.

Em 2006, iniciou-se a discussão para implementação de um projeto de uma “Mesa Intersetorial” entre Ministério da Educação, Justiça e Trabalho, com o objetivo de viabilizar em 24 Unidades Prisionais, programas de capacitação escolar e profissional em distintas áreas.